terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Hoshana Rabbah

“No último dia da festa, Hoshana Rabbah [grande hosana], Yeshua [Jesus] se levantou e disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba! Quem deposita a confiança em mim, como dizem as Escrituras, rios de água viva fluirão de seu interior!’. (Ele estava falando sobre o Espírito, a quem os que confiavam nele haveriam de receber mais tarde – o Espírito ainda não fora concedido porque Yeshua não tinha sido glorificado.)”
(Yochanan [João] 7.37 – 39 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            A festa de Sucot é uma das festas instituídas ao povo judeu pelo Senhor na Torah. Também conhecida como festa das cabanas (tabernáculos) ou ainda festa da colheita, possui duração de sete dias e tem como intuito lembrar o povo de Deus das peregrinações dos filhos de Yisra’el no deserto após a libertação do Egito. É uma festa realizada no fim do ano agrícola marcada por muita alegria.
            O último dia de Sucot é chamado de Hoshana Rabbah (a grande hosana). Hosana significa: “Salva-nos!”. Neste dia eram feitas orações por chuva. Sendo o povo judeu do primeiro século um povo agrícola, o sucesso de suas colheitas dependia da chuva, e no fim de Sucot era a Deus que pediam pela provisão.
            Estas orações eram feitas em meio a muita música e alegria. “Centenas de candelabros que ardiam no Monte do Templo, iluminavam a cidade de Jerusalém. Os músicos e coros dos Levitas, postados nos quinze degraus do Santuário, reforçados por milhares de vozes do povo, tocavam e cantavam os louvores de Deus. Perante eles dançavam, com grande júbilo, os sábios e líderes do povo. O Talmud declara que quem não viu a alegria desta Festa, nunca viu uma verdadeira alegria em sua vida.”. (FRIDLIN, Jairo, Sidur Completo, p.483).
            Entre os louvores e as danças, o kohen gadol [sumo-sacerdote] pegava um cântaro de ouro com água tirada do Tanque de Siloé (Shiloach) e derramava esta água numa bacia aos pés do altar.
            Naquele ano Yeshua, o Messias estava em meio a esta alegria. Ele desceu para Yerushalayim [Jerusalém] secretamente, sem atender aos conselhos de seus irmãos que queriam que fizesse milagres durante a festa para ganhar talmidim [discípulos] (Jo 7). No meio da festa que apareceu em público para ensinar no Templo.
            Fico tentando criar toda esta cena em minha mente: o majestoso templo construído por Z’rubavel [Zorobabel] e reformado por Herodes iluminado pelos candelabros, o coro dos Levitas entoando os louvores a Deus junto com todo povo, as danças ao Senhor, a água sendo derramada do cântaro de ouro para o altar, e Yeshua declarando a todos: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”.


            Quando todo o cenário se desenha a nossa frente, as palavras de Yeshua que já eram belas tornam-se maravilhosas.
            Em primeiro lugar, o apelo do Messias é direcionado àqueles que têm sede, ou seja, aqueles que precisam de água. De certo modo todos os que estavam clamando pela chuva estavam com sede, pois precisavam da água na medida certa para que a próxima colheita fosse abençoada. Mais do que isto, diante deles naquele momento estava o Filho de David, o Messias esperado, aquele que traria não apenas mais um ano de colheitas bem sucedidas, mas a presenta real do Eterno em meio ao Seu povo. Para todas as dificuldades que o povo estava enfrentando existia uma única solução: Yeshua.
            Yeshua é a resposta para as nossas perguntas. Ele é a solução para os nossos problemas. Não importa pelo que você esteja passando, a vitória virá através de Yeshua. Não estou falando de prosperidade e de tantas outras bobagens que têm sido anunciadas usando o nome de Deus. Estou falando a respeito de nossas reais necessidades que só podem ser satisfeitas pelo Senhor.
            A benção material que você tanto busca é passageira: seu carro, sua casa, seu emprego, até mesmo sua saúde, tudo isto vai passar. Mas Deus não passará. Ele é o grande “Yud-Heh-Vav-Heh” (Ex 3.15), Ele é ADONAI, o Deus imutável. E quando tudo aquilo que você busca passar, como é que você estará diante do seu Deus?
            O que temos dado valor? O convite inicial de Yeshua em Hoshana Rabbah nos leva a busca-lo antes de buscar as demais coisas. Ensinamento que foi reforçado por suas palavras no sermão da montanha: “Entretanto, busquem em primeiro lugar seu Reino e sua justiça, e todas estas coisas também lhes serão dadas.” (Mattityahu [Mateus] 6.33 BJC).
“Se alguém tem sede” diz respeito a todos nós e a todas as nossas necessidades. Diz respeito a nossos clamores, nossas angustias. “venha a mim e beba!” diz respeito ao que realmente precisamos: a presença do Senhor dentro de nós. Com esta presença tudo o mais será insignificante. Seremos capazes de seguir o conselho bíblico: “Considerem motivo de alegria, meus irmãos, quando vocês enfrentarem diversas tentações, porque sabem que o teste de sua confiança produz perseverança. Deixem a perseverança completar sua tarefa, para que vocês se tornem maduros e íntegros, faltosos em nada.” (Ya’akov [Tiago] 1.2-4 BJC).
Não que vamos ficar gargalhando por passar dificuldades, mas se estivermos na presença de nosso Deus, as provas não vão nos derrubar. Em meio a grande alegria daquele dia festivo, Yeshua estava ensinando que Ele é a fonte da verdadeira alegria.
Mas o discurso não parou neste convite. Yeshua continua sua fala dizendo: “Quem deposita a sua confiança em mim, como dizem as Escrituras, rios de água viva fluirão de seu interior!”. É interessante o momento desta condicional, pois na festa de Sucot os judeus costumavam dar voltas em torno do altar com o Lulav em suas mãos. O Lulav consiste de quatro espécies de plantas diferentes: o Etrog – uma fruta nobre, parecida com o limão, com um aroma muito agradável, o Lulav – um galho de tamareira, o Hadas – uma haste de murta e a Aravá – arbusto encontrado na beira do rio.
Os sábios judeus comparam estas quatro espécies de plantas aos quatro tipos de pessoas. O Etrog é uma fruta comestível que tem aroma, e representa a pessoa que tem erudição e pratica o bem. O Lulav tem fruta, mas não tem cheiro, e representa os que têm conhecimentos, mas não os põem em prática. O Hadas tem cheiro, mas não é comestível, e representa os praticantes, embora não sejam eruditos. A Aravá não tem nem fruta nem cheiro, e representa os que possuem nem teoria nem prática.
Nosso relacionamento com o Senhor através da busca diária, leitura da Palavra e orações, nos tornam conhecedores dos preceitos do Senhor. Mas somente o conhecer não vale nada. A fé genuína implica em atitudes, conforme Ya’akov ensina: “Da mesma forma, a fé por si mesma, se não for acompanhada de ações, está morta.” (Ya’akov 2.17 BJC).
Olhar para as quatro espécies deve nos levar a um autoexame (1 Co 11.28). Que tipo de pessoa temos sido? A condicional falada por Yeshua nos mostra o que acontecerá com aqueles que possuírem a fé genuína, ou seja, a verdadeira confiança: estes terão um rio de águas vivas fluindo de seu interior.
Possuir esta fonte nos traz duas implicações. A primeira delas é que jamais teremos sede novamente. Não estou falando em jamais passar por problemas, mas assim como comentei acima, enfrentar as dificuldades sem permitir que as mesmas o derrube. É a confiança que nosso Deus é maior que todas as coisas. Conforme diz Sha’ul [Paulo]: “Passamos por todo tipo de dificuldades, mas não somos esmagados; estamos perplexos, mas não nos desesperamos; somos perseguidos, mas não estamos abandonados; nocauteados, mas não destruídos. Sempre carregamos em nosso corpo a morte de Yeshua, para que a vida dele também se manifeste no corpo de cada um de nós.” (2 Coríntios 4.8-10 BJC).
A segunda implicação está em notar que uma fonte de águas produz por assim dizer uma quantidade infinita. Logo, a água que fluirá de nosso interior não atingirá apenas a nós. Mas irá saciar a todos os sedentos que estão ao nosso redor.
Lendo a interpretação de Yochanan sobre a fala de Yeshua, mencionando que isto foi falado a respeito do Espírito nos revela dois aspectos da obra do Ruach HaKodesh [Espírito Santo] em nós: nos consolar (Jo 14.16) e nos usar na vida daqueles que o Senhor colocou ao nosso lado (1 Co 12.4-7).

Busquemos a cada dia o conhecimento de nosso senhor Yeshua, e o beber da sua fonte, para que possamos viver e dar vida.

domingo, 17 de novembro de 2013

A Expiação, Ressurreição e Ascensão do Messias Yeshua [Jesus]

“Mas agora, à parte da Torah [Ensino, Lei, Pentateuco], o jeito de Deus de tornar as pessoas justas à sua vista foi esclarecido – ainda que a Torah e os Profetas também testemunhem a respeito dele –: trata-se da justiça que procede de Deus, mediante a fidelidade de Yeshua, o Messias, para todos os que confiam. Não há diferença se alguém é judeu ou gentio, porque todos pecaram e não são capazes de merecer o louvor de Deus. Mediante a graça divina, sem merecê-la, todos recebem a condição de serem considerados justos diante dele, por meio do ato que nos redime de nossa escravização ao pecado, realizado pelo Messias Yeshua. Deus ofereceu Yeshua como kapparah [satisfação, expiação, propiciação] pelo pecado, mediante sua fidelidade no tocante ao sangue da sua morte sacrificial. Isto vindicou a justiça de Deus; porque, em sua tolerância, não havia passado por cima [sem punir nem redimir] os pecados que as pessoas cometeram no passado; e ela vindica sua justiça na era presente ao demonstrar que ele é justo e também aquele que torna pessoas justas por causa da fidelidade de Yeshua.”
(Romanos 3.21-26 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Podemos definir como expiação a obra realizada por Yeshua em sua vida e morte para obter nossa salvação. Para compreendermos esta obra, precisamos nos lembrar de duas características de Deus inseparáveis: Seu amor e Sua justiça.
            É inegável o amor de nosso Deus por nós. João 3.16 diz que foi devido ao grande amor de Deus que este enviou Yeshua. Romanos 5.8 diz que este amor fez com que Yeshua viesse morrer em nosso lugar, sendo nós ainda pecadores. Mas foi a justiça de Deus que requereu a vinda de Yeshua. Devido a esta justiça, estávamos mortos pelos nossos pecados (Ef 2.1), mortos não apenas como impossibilitados de nos livrar da situação de pecadores, mas também condenados devido ao pecado que praticamos (Rm 6.23).
            Se devido o amor para conosco Deus ignorasse nosso pecado, Ele não seria melhor que juízes corruptos que inocentam os réus tendo em vista aquilo que recebeu.
            Quando penso no amor e na justiça de Deus em ação lembro-me de uma parábola:

“Era uma vez um rei que era forte, corajoso e tinha todas as outras boas qualidades. Ele governava seu país com justiça, amava seu povo e era amado por ele. Por essa razão, não havia crime em seu reinado - até que, um dia, descobriu-se que havia um ladrão solto na terra.
Sabendo que a conduta criminosa se multiplicaria, a menos que tomasse posição firme contra ela, o rei decretou que, quando pego, o ladrão receberia vinte chicotadas. Contudo, os roubos continuaram. Ele aumentou o castigo para quarenta chicotadas, na esperança de evitar outros crimes, mas foi em vão. Finalmente, ele anunciou que o criminoso seria castigado com sessenta chicotadas, sabendo que ninguém no país poderia sobreviver às sessenta chi­cotadas, exceto ele. No final, o ladrão foi pego: era a mãe do rei.
O rei viu-se diante de um dilema. Ele amava sua mãe mais do que qualquer pessoa no mundo, mas a justiça exigia que o castigo fosse cumprido. Além disso, se seus súditos vissem que era possível cometer um crime e não ser castigado por ele, a ordem social, no final, estaria completamente destruída. Ao mesmo tempo, ele sabia que, se tivesse de sujeitar sua própria mãe a um castigo que iria matá-la, o amor do povo se converteria em revolta e ódio para com um homem sem compaixão e afeto comum, e ele seria incapaz de governar. Toda a nação se perguntava o que ele iria fazer.
Chegou o dia de aplicar o castigo imposto. O rei montou uma plataforma na praça central da capital, e o açoitador do rei assumiu seu lugar. Então, a mãe do rei, frágil e tremula, foi apresentada. Ao ver seu filho, o rei, ela desabou a chorar. "Estou... tão arrependida... do que fiz!", ela lamentou, entre soluços. Então, recompondo-se, a mulher arqueada e de cabelos brancos seguiu em direção ao chicote.
As pessoas levaram um susto quando o açoitador levantou seu braço musculoso com o chicote de couro na mão. Assim que o chicote estava prestes a descer com força sobre as costas expostas da mulher que havia dado à luz o rei, o rei gritou: "Pare!" O braço ficou suspenso no ar e o chicote veio abaixo sem força. O rei levantou-se de seu assento, tirou seu manto, andou em direção ao chicote, abraçou a mãe e, com seu corpo protegendo a mãe e com as costas expostas para o açoitador, ordenou-lhe: “Execute a sentença!" As sessenta chicotadas foram dadas nas costas do rei.”.

            Quando nosso Deus nos viu pecadores, a sua justiça decretou sobre nós a nossa culpa, e junto com a mesma veio a sentença: a morte (Gn 2.16 e 17), sendo esta não a morte física, mas o afastamento completo da presença de Deus. Ao mesmo tempo em que sua justiça nos condenava, o amor de Deus fez com que Ele decidisse pagar esta pena em nosso lugar.  
            Esta obra pode ser descrita em dois aspectos.
            O primeiro deles refere-se ao sofrimento de Yeshua por nós, chamado de obediência passiva. Neste podemos entender que “Deus fez desse homem sem pecado a oferta pelo pecado – a nosso favor –, para que unidos a ele possamos participar de forma plena da justiça de Deus.” (2 Coríntios 5.21 BJC). Ao morrer na estaca de execução, Yeshua estava levando sobre si todos os nossos pecados, estava assumindo a culpa por cada um deles mesmo não tendo cometido nenhum. E tendo assumido esta culpa, ele se sujeitou a ira de Deus. Este é o sentido da propiciação, um sacrifício que recebe a ira de Deus até o fim e, uma vez realizado, muda a ira de Deus para conosco em favor.
            Se a expiação promovida por Yeshua apenas tivesse este aspecto, após a mesma seriamos como Adão e Eva logo após a sua criação, sem pecado, porém tendo a comunhão com Deus assegurada para sempre após a obediência perfeita durante certo período de tempo. E é aí que entra o segundo aspecto da expiação: Yeshua viveu uma vida de obediência perfeita a fim de obter retidão para nós, a obediência ativa. “Em outras palavras: da mesma forma que por meio de uma ofensa todas as pessoas incorreram na condenação, também é por meio de um ato de justiça que todas as pessoas são consideradas justas. Também se, por meio da desobediência de um homem, muitos foram feitos pecadores, da mesma forma, por meio da obediência de outro homem, muitos foram feitos justos.” (Romanos 5.18 e 19 BJC).
            É por isto que classificamos a expiação como obra realizada por Yeshua em sua vida e morte. Ele viveu uma vida de obediência perfeita que será atribuída a nós e em sua morte levou nossos pecados sobre si. Por isto que Sha’ul [Paulo] diz: “Porque vocês foram libertados pela graça, por meio da confiança, e mesmo esta não é sua realização, mas um presente de Deus. Vocês não foram libertos por suas ações; portanto, não têm de que se gloriar.” (Efésios 2.8 e 9 BJC).
            E ao morrer Yeshua declara: “Está consumado!” (Jo 19.30), ou seja, tudo foi concluído. E embora tenha sido um penoso trabalho, Yesha’yahu [Isaías] declara que ele ficou satisfeito com este (Is 53.11). O trabalho é de Yeshua, a obra é dele, nosso papel é confiar, ter fé e se posicionar debaixo de tão maravilhosa obra redentora.
            Após sua morte, sabemos que Ele ressuscitou.

“Contudo, as palavras ‘creditadas em sua conta’ não foram escritas apenas para ele. Elas foram escritas também para nós, que com certeza temos a conta creditada, porque confiamos naquele que ressuscitou Yeshua, nosso Senhor, dentre os mortos – Yeshua, que foi entregue à morte por causa de nossas ofensas e ressuscitado à vida a fim de nos tornar justos.”
(Romanos 4.23-25 BJC)

            Na ressurreição Deus estava dizendo ao Messias: “Eu aprovo o que você fez e você encontra agora favor aos meus olhos.”. Se Yeshua tivesse permanecido naquele túmulo, poderíamos duvidar se a obra realizada realmente era divina e se foi aceita. Mas sua ressurreição nos assegura que tudo o que foi feito era verdadeiramente a vontade do Pai (Lc 22.42), e quando declara: “Está consumado!” nos assegura que mais uma vez a vontade de nosso Deus prevaleceu.
            Mais do que isto, sua ressurreição nos garante que Deus nos ressuscitará, pois Yeshua é as primícias entre os mortos (I Co 15.20), ou seja, o primeiro que foi ressuscitado, e após ele seremos todos nós (I Co 6.14, 2 Co 4.14). Ressuscitados com corpos glorificados (I Co 15.50-54) para estarmos na presença de Deus eternamente.
            Hoje Yeshua se encontra nos céus, à destra de Deus (Mc 16.19). Yochanan [João] nos ensina: “Meus filhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos Yeshua, o Messias, o Tzaddik [pessoa justa], que intercede por nossa causa junto ao Pai. Ele é também a kapparah pelos nossos pecados – e não apenas pelos nossos, mas também pelos do mundo todo.” (1 Yochanan [1 João] 2.1 e 2 BJC).
            Deste modo, se aceitarmos o sacrifício vicário de Yeshua, e com base nesta fé nos posicionarmos, teremos não apenas o perdão pelos nossos pecados, mas a atribuição de toda obediência praticada por ele em sua vida terrena. Junto de tudo isto, a garantia de ressuscitarmos com Ele para vivermos diante de Deus para todo sempre.

            Nosso Senhor, nosso Messias, nosso único Intercessor junto ao Pai, Yeshua.

domingo, 13 de outubro de 2013

A Superioridade de Yeshua [Jesus]

“No passado, Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas. Mas agora, no acharit-hayamim [o fim dos dias, últimos dias], ele nos falou por meio do seu Filho, a quem concedeu a propriedade de todas as coisas e por meio de quem criou o Universo.”
(Judeus messiânicos [Hebreus] 1.1 e 2 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            A epístola escrita a um grupo de judeus messiânicos [Hebreus] é a única epístola que encontramos no B’rit Hadashah [Novo Testamento] que não sabemos quem a escreveu. Ela foi claramente inspirada por Deus, mas sua autoria humana já foi atribuída a Sha’ul [Paulo], Bar-Nabba [Barnabé], Apolo e diversos outros.
            Independente de quem foi o escritor desta epístola é evidente que podemos escutar a voz do Senhor nos ensinando através de suas mensagens. Gostaria de tratar de uma destas mensagens: a que diz respeito à superioridade do Messias Yeshua [Jesus].

“Este Filho é o resplendor da Sh’khinah [a presença divina, a manifestação da glória de Deus aos homens], a expressão exata da essência de Deus, sustentando tudo o que existe por sua palavra poderosa. Depois de ele mesmo ter realizado a purificação dos pecados, assentou-se à mão direita de HaG’dulah BaM’romim [A Grandeza nas Alturas].”
(Judeus messiânicos 1.3 BJC)

            As Escrituras nos ensina que Yeshua é a maior revelação de Deus a nós. Por muitas ocasiões o Eterno se comunicou com a humanidade. Logo após a saída do Egito o Senhor falou a todo Yisra’el [Israel], o que fez todo o povo tremer e pedir a Mosheh [Moisés] que falasse no lugar de Deus (Ex 20.15-18 [18-21 na Bíblia comum]). Após este momento, o Criador revelou-se à Sua criação através dos profetas, cujo último foi Yochanan, o Imersor [João Batista].
            O autor da epístola aos Judeus messiânicos ensina que no acharit-hayamim Deus se revelou através de Yeshua. Isto faz parte da revelação progressiva do Senhor, onde partimos dos tipos para os antítipos, das sombras para a revelação plena.
            Deste modo, Yeshua é superior a todos os seres humanos que existiram antes e todos que existirão depois dele.

“Yeshua, porém, merece mais honra que Mosheh, da mesma forma que o construtor de uma casa tem mais honra do que a própria casa. Pois a casa é construída por alguém, mas Deus construiu todas as coisas. Mosheh foi fiel na casa de Deus, como o servo dá testemunho das coisas que Deus mais tarde tornaria públicas. Entretanto, o Messias, como Filho, foi fiel sobre a casa de Deus. E nós somos essa casa pertencente a ele, contanto que sustentemos com firmeza a coragem e a confiança inspiradas na esperança que temos.”
(Judeus messiânicos 3.3-6 BJC)

            A revelação de Deus através de Yeshua é superior a qualquer outra revelação. Somente Ele nos leva ao Pai, pois é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.5). Sendo assim somente através dele temos acesso ao Eterno, “pois Deus é único, e há um só mediador entre Deus e a humanidade: Yeshua, o Messias, um ser humano, o qual se entregou como resgate a favor de todos, provendo, deste modo, o testemunho do propósito de Deus no tempo exato” (1 Timóteo 2.5 e 6 BJC).
            Assim sendo, é Yeshua a quem devemos procurar a cada instante, e é dele que precisa vir nossa orientação. Muitas pessoas têm eleito profetas para si e buscam destes a revelação do propósito do Senhor. É evidente que o nosso Deus usa profetas até os dias de hoje (Ef 4.11), mas a maior revelação é obtida mediante o Messias. Já presenciei muitas pessoas não concordarem com o posicionamento de um pastor a respeito de um tema específico, por exemplo: divórcio, uso de tatuagens, ou até mesmo sobre permanecer em pecado, e devido a esta discordância mudarem de congregação a procura de outra revelação. Mas o que parece que ninguém procura é o que Yeshua diz a respeito destes temas. A opinião de um homem, não importa qual seja seu cargo ou chamado, é irrelevante se comparada a de Deus, revelada através de Yeshua e de Sua Palavra.
            Portanto, se desejamos viver de acordo com a revelação do Senhor precisamos nos submeter ao Messias, estando dispostos a renunciar tudo o que em nós não está de acordo com Sua vontade.

“Deste modo, ele se tornou muito melhor que os anjos, e o nome que Deus lhe deu é superior ao deles.”
(Judeus messiânicos 1.4 BJC)

            O autor da epístola continua dizendo que Yeshua é superior inclusive aos anjos. Isto nos leva a uma importante reflexão: se Yeshua é superior aos anjos, e Ele está sempre conosco (Mt 28.20), então não há nada o que temer.
            Muitos passam tanto tempo clamando ao Senhor que envie Seus anjos para libertar, proteger, responder a uma oração, que se esquecem que ao lado deles está alguém superior ao anjos. Muito temem os demônios, anjos caídos (Ap 12.9), mas sendo eles anjos, mesmo que caídos, são inferiores à Yeshua, por isso os seguidores de Yeshua possuem poder para expulsar demônios (Mc 16.17). Logo, podemos nos juntar a Sha’ul dizendo que nada “será capaz de nos separar do amor de Deus que procede mediante o Messias Yeshua, nosso Senhor” (Romanos 8.39 BJC).
           
“Aqui está o aspecto mais importante de tudo o que dissemos: temos um kohen hagadol [o sumo sacerdote] como esse. E ele está assentado à direita de HaG’gulah [A Grandeza, a Majestade] no céu. Lá ele serve no Lugar Sagrado, isto é, na verdadeira Tenda do Encontro, não erigida por mãos humanas, mas por ADONAI. Se ele estivesse na terra, nem seria kohen [sacerdote], visto que já existem kohanim [sacerdotes] que apresentam as ofertas requeridas pela Torah. Agora, porém, a obra dada a Yeshua é muito superior à deles, assim como a aliança por ele mediada é melhor.”
(Judeus messiânicos 8.1,2,4 e 6 BJC)

            Um dos principais papéis do kohen [sacerdote] no Tanakh [Antigo Testamento] era interceder a Deus em favor do povo. Ele oferecia sacrifícios para expiação de pecados e o kohen gadol [sumo sacerdote] uma vez por ano, no Yom-Kippur [Dia do Perdão], entrava no Santo dos Santos, na presença de Deus, para interceder a Deus em favor do povo.
            Hoje, após o sacrifício perfeito de Yeshua, ele se tornou nosso kohen gadol e está continuamente na presença do Senhor intercedendo por nós. “Porque não temos um kohen gadol incapaz de se compadecer de nossas fraquezas; ele mesmo foi tentado em todas as áreas, como nós, com a diferença de que nunca pecou. Assim, que nos aproximemos confiantes do trono a partir do qual Deus concede sua graça, para recebermos misericórdia e encontrarmos graça no momento de necessidade.” (Judeus messiânicos 4.15 e 16 BJC).
            Através dele temos acesso ao Pai, ele é nosso intercessor, através do Seu sacrifício recebemos o perdão pelos nossos pecados. “Porque dele, por meio dele e para ele são todas as coisas.” (Romanos 11.36 BJC).
            Nosso chamado para sermos seguidores de Yeshua significa a compreensão da superioridade de nosso Messias em todos os aspectos de nossas vidas. A superioridade na revelação de Deus a nós, a superioridade no cuidado, a superioridade na intercessão e perdão.

            Devemos compreender que tudo já foi feito por Yeshua, restando a nós a fé na sua obra. Fé que deve gerar em nós novas atitudes, atitudes coerentes com a obra realizada pelo Messias.

domingo, 29 de setembro de 2013

Adoração Inútil

“Então Adonai disse: ‘Uma vez que essas pessoas se aproximam de mim com palavras vazias, e a honra que me conferem não é verdadeira; pois, de fato, mantêm o coração longe de mim, e o ‘temor de mim’ é apenas uma mitzvah [ordem, mandamento, princípio geral para a vida, boas ações] de origem humana – portanto, continuarei atordoando essas pessoas com coisas espantosas e maravilhosas, até que a ‘sabedoria’ dos ‘sábios’ se desvaneça, e o ‘discernimento’ de seus ‘entendidos’ seja ocultado’.”.
(Yesha’yahu [Isaías] 29. 13 e 14 BJC [Bíblia Judaica Completa]).

            Gosto muito de falar sobre adoração e considero este um tema fundamental para todos que desejam aproximar-se do Criador. Sempre que penso a respeito deste assunto, lembro-me de quando tinha aproximadamente 10 anos de idade e frequentava a “salinha dos juniores” com o professor João Maria. Naquele tempo comecei a aprender a adorar com ele colocando todas as crianças ajoelhadas e com seu violão ministrando uma canção, ensinando-nos a nos derramar diante do Senhor. Aprendi que, figuradamente, a adoração é estar no colo de Deus, envolvido em Seus braços, acariciando a Sua barba.
            Hoje, com meus 32 anos e abençoado com dois filhos maravilhosos, ao contemplar esta cena, lembro-me de quando pego meu filho de três anos no colo. Ele tem o costume de olhar para mim e contornar meu rosto com suas mãozinhas. Passa a mão na minha testa, meus olhos, meu bigode e minha barba. Certa vez, após ele contornar meu rosto como o de costume, eu o peguei contornando o seu próprio rosto e dizendo que quando crescer terá uma barba e um bigode igual ao pai.
            Quando penso em adoração diante de toda esta cena consigo entender o profeta Yesha’yahu [Isaías] em passagens como a que abri esta mensagem. Quando me coloco em adoração ao Senhor, contemplo suas características e passo a deseja-las em mim. Passo a buscar o caráter de Deus, a santidade do Senhor, e isso passa a fazer parte de todas as áreas de minha vida. A adoração verdadeira do Criador abrange todo o aspecto da vida da pessoa.
            Eugene Peterson em sua tradução da Bíblia escreve o texto acima da seguinte maneira: “O Senhor disse: ‘Esse povo faz um grande show, dizendo as coisas certas, mas o coração deles não está nem aí para o que dizem. Fazem de conta que me adoram, mas é tudo encenação. ’” (Isaías 29.13 A Mensagem). Desta maneira fica claro que adoração é muito mais que um conjunto de ações praticadas mecanicamente. Não é um show, uma canção, nem tampouco palavras proferidas. Adoração implica em apresentar-se integralmente ao Senhor. A palavra traduzida por coração no original é לב (leb) que representa não apenas o coração, mas a mente humana, e figuradamente representa nossos desejos ou vontades mais intimas. É disso que o Senhor esta falando através da boca do profeta, a busca pela intimidade com o Senhor através de nossa vida.
            Yesha’yahu trata de uma nação que embora continuasse praticando os rituais da Torah [ensino, Lei do Senhor, o Pentateuco], mantinha sua vida distante do Criador. Ele inclusive se aprofunda neste assunto no primeiro capítulo do livro que leva seu nome:
“Ouçam o que ADONAI diz, governantes de S’dom! Ouça a Torah de Deus, povo de ‘Amorah! ‘Por que são oferecidos a mim todos aqueles sacrifícios? ’, pergunta ADONAI. ‘Estou farto de ofertas queimadas de carneiros e da gordura de animais engordados! Não me agrado do sangue de touros, cordeiros e bodes! Sim, vocês comparecem à minha presença; mas quem pediu que pisoteassem meus pátios? Parem de trazer ofertas de grãos inúteis! Elas são como incenso repugnante para mim! Rosh-Hodesh [início do mês lunar], shabbat [sábado], convocações solenes – não suporto a perversidade das suas assembleias! Tudo em mim odeia seus Rosh-Hodesh e seus festivais; eles são um fardo para mim – estou cansado de suportá-los! Quando estenderem as mãos, esconderei meus olhos de vocês; não importa quanto orem, não serão ouvidos, pois suas mãos estão cobertas de sangue. Lavem-se! Afastem seu mau procedimento da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Procurem a justiça, aliviem os oprimidos, defendam os órfãos, pleiteiem pela viúva. ’”.
(Yesha’yahu 1.10 – 17 BJC)
            A mensagem é pesada. O próprio Deus está falando que culto sem vida com Ele é inútil e desprezível. E esta vida com Deus deve ser uma vida completa em Sua presença: corpo, alma e espírito diante do Criador. Não consigo olhar este texto sem pensar em Iyov [Jó]. O Tanakh [Antigo Testamento] ensina que o Eterno ao olhar para Iyov diz: “Você reparou em meu servo Iyov, pois não há ninguém como ele na terra, um homem irrepreensível e reto, que teme a Deus e se afasta do mal?” (Iyov 1.8 BJC). O próprio Deus testemunha a respeito de Iyov, enquanto ao se dirigir para o povo de Y’hudah [Judá] nos tempos de Yesha’yahu diz: “Quem te chamou à minha presença?”.
            Isto me leva a refletir que tipo de vida com Deus eu tenho tido. É tolice de minha parte acreditar que o fato de frequentar a igreja, dar meu dízimo, levantar as mãos e cantar durante o louvor produza um relacionamento com Deus. O próprio Sha’ul [Paulo] diz que todos estes costumes “[...] têm aparência de sabedoria, com suas observâncias religiosas autoimpostas, falsa humildade e ascetismo, mas não têm valor algum refrear as pessoas de agir de acordo com a velha natureza.” (Colossenses 2.23 BJC). Yeshua [Jesus] nos ensina que muitos chegaram diante dEle apontando tudo aquilo que realizaram e ouvirão de Sua boca: “Afastem-se de mim!” (Mt 7.21-23).
            Adoração verdadeira é uma vida diante do Senhor. É uma constante auto avaliação, seguida de uma tomada de decisão: quero parecer com meu Pai. É um relacionamento diário com o Criador, comparado por Sha’ul como um relacionamento entre um casal (Ef 5.25-33).
            Não adianta eu simplesmente morar debaixo de um mesmo teto que minha esposa. Não adianta somente prover o seu sustento, dar presentes. Eu preciso ter um tempo de qualidade com ela, um tempo onde estou realmente e integralmente presente. Naquele momento minha única preocupação é ela, não as contas ou afazeres. Com o passar do tempo a presença dela começa a me mudar. Passo a me interessar pelo que ela se interessa, rejeitar em mim aquilo que a desagrada. Tudo em busca de um relacionamento cada vez mais intenso.
            Assim começa um relacionamento de qualidade com Deus. Eu deixo de lado os afazeres de meu dia a dia e me coloco diante do Senhor. Naquele momento não estou preocupado com o cheque que preciso cobrir, nem em pedir ao Eterno uma benção necessária. Somente desfruto a sua presença. Com o tempo este relacionamento ira gerar em mim mudança: primeiramente uma mudança interior onde passo a desejar ser diferente. Clamo: “Examina-me, Deus, e conhece meu coração; testa-me, e conhece meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho danoso e guia-me pelo caminho eterno.” (Tehillim [Salmos] 139. 23 e 34 BJC). Busco a ter em mim o caráter de Yeshua, que demonstrou o proceder do homem criado por Deus.
            Depois disto começa uma mudança exterior: minhas atitudes passam a ser diferentes. Passo a me preocupar com aquilo que Deus verdadeiramente se preocupa: pessoas. E me dedico mais a elas do que a mim mesmo.
Gastamos muita energia com nós mesmos e nenhuma com nosso próximo. Corremos atrás do sustento dia após dia, e muitas vezes na igreja queremos estabelecer aquilo que nos faz bem. Brigamos pela visão que “Deus nos deu” e esquecemos que “a observância religiosa que Deus, o Pai, considera pura e irrepreensível é [...] cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar contaminar pelo mundo.” (Ya’akov [Tiago] 1.27 BJC).

            Que possamos a nos tornar verdadeiros adoradores: homens e mulheres que compreendem que precisam possuir o caráter de Yeshua, e se esforçam para isto, e que se preocupam com aqueles a quem nosso Senhor se preocupa. 

sábado, 28 de setembro de 2013

Libertando-se das coisas do passado

“O amor do Messias nos une; estamos convictos de que um homem morreu a favor de toda humanidade (a implicação é que toda a humanidade já estava morta), e que ele morreu a favor de todos, para que quem vive não o fizesse mais para si mesmo, mas para aquele que morreu e ressuscitou a seu favor. Portanto, a partir de agora, não avaliamos ninguém mais segundo os conceitos do mundo. Mesmo que tenhamos considerado o Messias de acordo com os padrões mundanos, não o fazemos mais. Dessa forma, se alguém estiver unido ao Messias, é uma nova criação – a antiga já passou, vejam: o que há agora é diferente e novo! E tudo procede de Deus, que, por meio do Messias nos reconciliou consigo e nos outorgou a obra da reconciliação – Deus, no Messias, estava reconciliando a humanidade consigo, sem lhe imputar os pecados, e nos confiando a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores do Messias; de fato, Deus chama à reconciliação por nosso intermédio. Nossa tarefa é dizer por ordem do Messias: ‘Reconciliem-se com Deus! ’. Deus fez desse homem sem pecado a oferta pelo pecado – a nosso favor –, para que unidos a ele possamos participar de forma plena da justiça de Deus.”
(2 Coríntios 5.14 – 21 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Tanto Yeshua [Jesus] quanto Sha’ul [Paulo] enfatizam em suas mensagens a nova vida que precisamos ter no Senhor, uma vida para aquele que morreu e ressuscitou em nosso favor. Nosso Deus não é um gênio da lâmpada mágica para que nosso relacionamento com Ele se baseie nos pedidos que fazemos. Muitas vezes nossa vida com Deus tem se resumido ao suprimento de todas as nossas necessidades, e olha que quando falamos em necessidades conseguimos criar muitas.
            Deixamos de apenas nos preocupar com o que comer e vestir, e passamos a desejar carros, casas, empregos, dinheiro, viagens, e a lista vai aumentando cada vez mais. Não é errado desejar tudo isto, mas o problema começa quando estes desejos ocupam toda nossa mente e energia, incluindo o tempo que deveríamos ter com o Senhor.
            Nosso encontro com o Senhor deve produzir em nós uma nova vida. “Preste atenção: a não ser que alguém nasça do alto, não é possível ver aquilo que estou apresentando – o Reino de Deus.” (João 3.3 Bíblia A Mensagem) disse Yeshua a Nicodemos. Este novo nascimento nos faz seres espirituais, ou seja, pessoas ligadas com aquilo que é de Deus. Sha’ul disse isto no texto que abri a mensagem. Em outra tradução do mesmo texto encontramos: “Agora olhamos para dentro, e o que vemos é que qualquer um, unido ao Messias, tem a chance de um novo começo e é criado de novo. A velha vida se foi. Uma nova vida floresce! É demais! Tudo vem de Deus, que nos quer em relacionamento com ele e nos chamou para viver relacionamentos com nossos semelhantes.” (2 Coríntios 5.17 e 18 Bíblia A Mensagem).
            O encontro que tivemos com o Senhor precisa produzir em nós novidade de vida. Se não somos pessoas diferentes, então não tivemos um encontro com Deus. E para que esta diferença possa começar a ser gerada em nós, precisamos nos desapegar das coisas passadas. Seguindo o conselho de Sha’ul aos filipenses, “esquecendo-me do que ficou para trás de mim e me esforçando para obter o que está à minha frente, continuo à procura do objetivo para ganhar o prêmio oferecido pelo chamado celestial de Deus no Messias Yeshua.” (Filipenses 3.13 e 14 BJC).
            Este conselho é interessante, pois demonstra que o desapego ao passado e a busca pelo novo de Deus é um esforço constante que precisa existir em cada um. Nossa tendência é permanecer da maneira que estamos, numa posição de inércia. Muitas vezes chegamos a declarar que se Deus desejar que sejamos diferentes, Ele deve nos mudar. Mas a mudança começa com nossa decisão de mudar, e quando trazemos sobre nós mesmos esta responsabilidade.
            Ao longo de nossa vida acumulamos muito lixo emocional dentro de nós mesmos, e nos apegamos a este lixo ao ponto de não desejarmos nos livrar deles. Criamos mágoas, feridas, velhos hábitos como se fossem animais de estimação. Alimentamos para que continuem vivos em nosso interior e dói quando levantamos a hipótese de nos livrar deles, afinal são parte da família.
            Mas o que a Bíblia nos ensina é nos desapegarmos deste lixo interior e permitir que o Senhor realize uma limpeza dentro de nós. Esta limpeza precisa começar com nossos velhos hábitos.
Crescemos em uma sociedade corrompida, pois a humanidade está muito longe daquela criada pelo Senhor. Durante nosso crescimento adotamos muitos dos comportamentos desta sociedade. Para uns é o linguajar vulgar, para outros a forma de tocar os negócios. Nosso relacionamento familiar, nossos passatempos, nossa alimentação, tudo foi influenciado pela sociedade onde crescemos e precisamos estar dispostos a abrir mão de qualquer um destes costumes para experimentar a novidade do Senhor.
            Isto significa dizer que nos abriremos para o que realmente que Deus deseja de nós. Muitas vezes chegamos à Palavra com tantos pré-conceitos daquilo que desejamos continuar vivendo, que não aceitamos a vontade do Senhor para nossas vidas. Precisamos nos libertar dos costumes de nossa velha natureza. Como diz Sha’ul: “Todos conhecem o tipo de vida de uma pessoa que quer fazer o que bem entende: sexo barato e frequente, mas sem nenhum amor; vida emocional e mental detonada; busca frenética por felicidade, sem satisfação; deuses que não passam de peças decorativas; religião de espetáculos; solidão paranoica; competição selvagem; consumismo insaciável; temperamento descontrolado; incapacidade de amar e de ser amado; lares e vidas divididos; coração egoísta e insatisfação constante; costume de desprezar o próximo, vendo todos como rivais; vícios incontroláveis; tristes paródias de vida em comunidade. E, se eu fosse continuar, a lista seria enorme. Essa não é a primeira vez que venho advertir vocês: se usarem a liberdade desse modo, não herdarão o Reino de Deus.” (Gálatas 5.19-21 Bíblia A Mensagem).
            Após abrir mão de nossos velhos hábitos, nossa velha natureza, precisamos abrir mão das feridas que foram causadas em nós e das mágoas que carregamos. Somos especialistas em cultivar feridas. Uma pessoa nos marcou há décadas atrás e decidimos não esquecer. Realmente esta é uma decisão, não queremos esquecer o que foi nos causado.
            Certa vez ouvi uma mulher comentar que escrevia em um caderno aquilo que causaram a ela para que não se esquecesse de nada. Isto é uma atitude diabólica. Precisamos abrir mão de toda esta carga que carregamos, e, para isto precisamos declarar perdão.
            O perdão não é um sentimento, caso contrário a Bíblia não iria nos ordenar a perdoar. Perdão é uma decisão, eu decido perdoar e me esforço neste sentido. Perdoar não é esquecer, mas liberar a pessoa desta dívida, e trata-la do mesmo modo que anteriormente.
            Yeshua nos ensina que somente seremos perdoados pelo Senhor, se nós perdoarmos aqueles que nos ofenderam (Mt 6.14 e 15). Assim, o perdão é algo sério. Faz parte do perdão “não avaliar ninguém mais de acordo com os conceitos deste mundo”. O conceito deste mundo é: ele me feriu, me traiu, me decepcionou, deste modo não merece mais minha amizade, confiança e amor. O conceito divino é somos todos pecadores e imerecedores de qualquer coisa, mas Deus pelo Seu infinito amor nos reconciliou consigo mesmo e com nossos irmãos através do Messias. O mesmo perdão que eu recebi de Deus concedo ao meu irmão.

            Deus está pronto para nos tornar novas criaturas, mas precisamos desejar este renovo. Desejar com pensamentos, sentimentos e ação. Que possamos nos desprender de nosso passado em todos os aspectos e avançar para o maravilhoso futuro que o Senhor tem para cada um de nós.

domingo, 1 de setembro de 2013

"Avinu Malkeinu" de Barbra Streisand (tradução)


Nosso Pai e nosso Rei: escute nossa voz.
Nosso Pai e nosso Rei: pecamos diante de Ti.
Nosso Pai e nosso Rei:: tenha piedade de nós, de nosso bebês e de nossas crianças.
Nosso Pai e nosso Rei: afasta a peste, a espada e a fome.
Nosso Pai e nosso Rei: afasta de nós todo opressor e adversário.
Nosso Pai e nosso Rei: inscreve-nos no Livro da vida boa.
Nosso Pai e nosso Rei: um novo para nós, um novo bom ano novo para nós.
Escute nossa voz, escute nossa voz, escute nossa voz.
Nosso Pai e nosso Rei: um novo bom ano novo para nós.
Nosso Pai e nosso Rei: escute nossa voz, escute nossa voz, escute nossa voz, escute nossa voz.

domingo, 11 de agosto de 2013

O que fazer para ser salvo?

“Contudo, Deus é tão rico em misericórdia e nos ama com um amor tão intenso que, mesmo quando estávamos mortos por causa de nossos atos de desobediência, ele nos trouxe à vida com o Messias – é por meio da graça que vocês foram libertados. Isto é, Deus nos ressuscitou com o Messias Yeshua [Jesus] e nos fez sentar com ele no céu, com o intuito de demonstrar nas eras futuras quão infinitamente rica é sua graça, quão grande é sua bondade para conosco – que estamos unidos ao Messias Yeshua. Porque vocês foram libertados pela graça, por meio da confiança, e mesmo esta não é sua realização, mas um presente de Deus. Vocês não foram libertados por suas ações; portanto, não têm de que se gloriar. Porque somos  feitos por Deus, criados em união com o Messias Yeshua para a vida de boas ações já preparadas por Deus para serem realizadas por nós.”
(Efésios 2.4-10 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Considero salvação um tema muito interessante de falar, principalmente porque no meio evangélico é uma expressão muito utilizada, mas pouco compreendida. Vejo muitas pessoas falarem de boca cheia que são salvas, mas não são capazes de explicar salva do que.
            Neste texto a palavra utilizada por Sha’ul [Paulo] no grego é σωζω, traduzida na BJC como “libertos”, e, em outras versões da Bíblia como “salvos”. Mas ao pé da letra ela significa resgatar do perigo ou destruição, e sob este aspecto o entendimento bíblico de salvação é melhor.
            Em sua carta aos romanos Sha’ul declara: “porque todos pecaram e não são capazes de merecer o louvor de Deus.” (Romanos 3.23 BJC). Foi a conclusão do apóstolo a declaração de David [Davi] de Tehillim [Salmos] 14.3: “Mas todos se desviaram, todos são igualmente corruptos; ninguém faz o que é certo, nem mesmo uma única pessoa.” (BJC). Não existe ninguém correto na face da Terra. A humanidade pelos seus próprios atos está condenada a uma vida distante daquela planejada e criada pelo Senhor. São as palavras do salmista: somos seres corrompidos pelo pecado e corruptores. Somos influenciados a pecar pela natureza pecaminosa que existe em nós e influenciamos aqueles que nos cercam a fazer a mesma coisa.
            Debaixo desta natureza pecadora só existe um destino: “O que as pessoas merecem com o pecado é a morte; mas a vida eterna é o que se recebe como presente gratuito da parte de Deus, em união com o Messias Yeshua, nosso Senhor.” (Rm 6.23 BJC). Existem duas características em Deus que são inseparáveis: sua justiça e seu amor. Assim sendo, quando pecamos, ou seja, quando transgredimos o que foi estabelecido por Deus no início de tudo, a justiça de Deus declara que somos culpados. E como num tribunal, é lançada sobre nós uma sentença: a morte. A morte num sentido bíblico é mais do que sessar a vida, é o afastamento permanente do Senhor. Yochanan [João] expressa em seu evangelho que “[...] a vida eterna é esta: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a quem enviaste, Yeshua, o Messias.” (17.3 BJC). Se a morte é o antônimo de vida, e a vida é o conhecimento de Deus, a morte é estar longe deste conhecimento.
            Mas neste instante a segunda característica do Senhor entra em ação. “Deus, porém, demonstra seu amor por nós no fato de o Messias ter morrido a nosso favor enquanto ainda éramos pecadores.” (Romanos 5.8 BJC). Nos enxergando mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1) Deus decidiu cumprir a sentença em nosso lugar.
            Certa vez ouvi uma história de um reino onde começaram a ocorrer muitos roubos. Sem conseguir encontrar o culpado e desejando contornar a situação o rei promulgou um decreto dizendo que quando o culpado fosse encontrado este receberia 40 chibatadas como castigo. E mesmo assim os roubos continuaram. Com os soldados do reino de guarda todas as noites o ladrão finalmente foi encontrado e para a surpresa de todos era a mãe do rei, uma senhora de oitenta anos de idade. Neste momento, os olhos de todos voltaram-se para o rei. Deixaria ele sua mãe livre do castigo decretado, mostrando que a família do rei está acima da lei, ou aplicaria a lei e condenaria a morte certa aquela pobre senhora. Todos se espantaram quando o rei deu o seu veredito: sua mãe era culpada dos crimes e, portanto, deveria pagar a pena recebendo as chibatadas. O carrasco pegou o chicote e pouco antes de iniciar a seção de chibatadas o rei pediu uma pausa, abraçou sua mãe e disse: “Que comecem as chibatadas.” Assim ele recebeu cada um dos açoites destinados a sua mãe. A lei foi cumprida, e a vida de sua mãe estava salva.
            Foi deste modo que o Senhor fez conosco. Somos considerados culpados pelos nossos pecados, mas Ele pagou a pena por nós, morrendo em nosso lugar. Esta libertação da sentença de morte que estava decretada sobre nós só foi possível mediante Yeshua, que decidiu pagar nossa pena. Isto nos ensina uma grande lição: dizer que somos salvos não significa que somos melhores que ninguém. Apenas indica que mesmo imerecedores o Senhor decidiu nos salvar (assim como decidiu salvar a toda humanidade Jo 3.16). O que faz alguns salvos e outros não é o fato de aceitar ou não a salvação oferecida por Deus através de Yeshua.
“T’oma [Tomé] lhe disse: Senhor, não sabemos para onde você vai; então como podemos saber o caminho?”. Yeshua disse: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. Pelo fato de vocês terem me conhecido, também conhecerão meu Pai; de agora em diante, vocês o conhecem – de fato, vocês o viram”.
(Yochanan 14.5-7 BJC)
            Yeshua, através de seu sacrifício, pagou a nossa pena, e nos ligou ao Pai. No que diz respeito a nossa salvação, tudo foi feito por Ele. Só nos resta aceitar este sacrifício, e confiar que tudo já foi feito. A isto chamamos nossa fé salvífica. Mas existe algo muito importante a respeito de nossa fé, observe um trecho da carta de Ya’akov [Tiago]:
“De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tiver ações que a comprovem? Esse tipo de “fé” é capaz de salvar? Suponham que um irmão ou uma irmã não disponha de roupas e do alimento diário e alguém lhe diga: “Shalom [Paz]! Aqueça-se e se alimente bem!”, sem lhe dar nada do que necessita. Que bem há nisso? Da mesma forma, a fé por si mesma, se não for acompanhada de ações, está morta.
“Mas alguém dirá que você tem fé e eu tenho ações concretas. Mostre-me essa sua fé sem atos, e eu lhe mostrarei minha fé por intermédio de minhas ações! Você crê que “Deus é um”? Que vantagem há nisso? Os demônios creem nisso também – esse pensamento os faz tremer de medo!”
(Ya’akov [Tiago] 2.12-19 BJC)
            A fé que temos no Senhor precisa produzir em nós ações. Não é a ação que irá nos salvar, é Yeshua que já nos salvou. Mas aquilo que fazemos nos mostra que tipo de fé temos. E tratando-se de nossa salvação, existem alguns elementos que precisam ser encontra por Deus em nós que evidenciam nossa fé genuína.
            O primeiro desses elementos é o arrependimento. Em uma de suas pregações, Yochanan o imersor [João Batista] disse: “Se vocês se arrependeram verdadeiramente de seus pecados, produzam frutos que comprovem isso! E não comecem a dizer a si mesmos: ‘Avraham [Abraão] é nosso pai!’, pois eu lhes digo que Deus pode, destas pedras, fazer filhos para Avraham! O machado já está posto a raíz das árvores, pronto para cortar; toda árvore que não produz bom fruto será derrubada e lançada ao fogo!”. (Lucas 3. 8 e 9 BJC).
            Arrependimento é mais que remorso. Ele pode ser melhor compreendido como conversão. É você deixar para trás o caminho que estava seguindo, e rumar para outra direção. Dizer que estamos arrependidos significa que compreendemos que estávamos andando no caminho errado e que nos esforçaremos, buscando ajuda em Deus, a caminhar de modo correto. É o início de uma batalha constante entre nosso espírito renovado por Deus e nossas velhas vontades.
            Diante desta guerra observamos o segundo elemento: uma vida de cruz. O próprio Yeshua nos ensina: “Se alguém quiser me seguir, deve dizer ‘não’ a si mesmo, tomar sua estaca de execução e vir atrás de mim. Porque que quiser salvar a própria vida, a destruirá, mas quem destruir sua vida por minha causa, a encontrará.” (Mattityahu [Mateus] 16.24 e 25 BJC). Isto significa que precisamos aprender a dizer não a nossas velhas vontades. Nossa natureza deseja continuar a praticar aquilo que não se adequa aos padrões do Senhor, e precisamos mortifica-la. Obviamente, não literalmente, mas não a alimentando, ou seja, não praticando suas vontades.
            Esta decisão gera em nós uma vida de renuncia, como aquela que Yeshua ensina a um dos líderes do povo judeu, que conhecemos como o “jovem rico” (Lc 18.18 – 30). Precisamos nos desapegar das coisas desta terra, pois nosso coração está junto com nosso tesouro (Mt 9.21). Isto não significa que não teremos casa, carro e um bom emprego. Significa que estes elementos são serão prioridades em nossas vidas.
            Tendo o Senhor como prioridade em nossas vidas, passamos a correr atrás da santidade. “Esforcem-se pela manutenção da shalom com todos e pela santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (Judeus messiânicos [Hebreus] 12.14 BJC). Reparem que o autor do texto inicia com “esforcem-se”. Isto mostra que uma vida em santidade não é algo natural para nós, afinal somos pecadores. A vida em santidade é a vida ideal que dia a pós dia perseguimos. Dizendo não às vontades de nossa velha natureza, e alimentando o espírito de Deus que habita em nós passamos progressivamente a viver mais parecidos com o ser humano que o Senhor criou.
            Mais uma vez, estes elementos não vão conquistar nossa salvação, mas servirão como uma evidência da mesma. É para eles que devemos olhar para saber se realmente estamos salvos.

Resumindo: nenhuma obra de nossas mãos poderá nos salvar. Somos salvos porque Deus resolveu nos salvar. Porém aceitar este posicionamento do Senhor implica em confiarmos nele, ou seja, implica em fé. A verdadeira natureza de nossa fé é evidenciada através daquilo que fazemos.

domingo, 28 de julho de 2013

O lar cristão e os deveres domésticos

“Se parece mal a vocês servir a ADONAI, então escolham hoje a quem servirão! Servirão aos deuses a quem seus antepassados serviram dalém do rio? Ou talvez os deuses do emori, de quem vocês tomaram a terra em que estão vivendo? Quanto a mim e minha casa, nós serviremos a ADONAI!”
(Y’hoshua [Josué] 24.15 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Gosto muito desta fala de Y’hoshua [Josué]. Ela é usada em praticamente todas as mensagens sobre vida familiar e encarada por muito como uma promessa bíblica a respeito da salvação de nossa família. Porém, o contexto em que a mesma foi dita acaba passando despercebido e perdemos ricos detalhes deste acontecimento.
            Vemos nesta passagem um Y’hoshua idoso e um povo de Yisra’el [Israel] já descansado das batalhas de conquistas da terra prometida. Nem tudo havia sido conquistado; o livro de Shof’tim [Juízes] no primeiro capítulo narra tudo aquilo que ainda devia ser conquistado numa segunda etapa conforme o ordena pelo Senhor (Dt 7.22). Mas terminada a primeira etapa, Y’hoshua convoca todo o povo a reafirmar a aliança com o Senhor. E no seu longo discurso narrado nos dois últimos capítulos do livro que leva seu nome, Y’hoshua diz que não importa qual seja a escolha do povo, ele iria servir ao Senhor.
            Esta fala não é uma promessa que o Senhor salvaria a família de Josué. Refletia a determinação de Josué em, no que dependesse dele, toda a sua casa estaria aos pés do verdadeiro Deus. Ele não estava pedindo ao Senhor dos Exércitos que o guiara até aquele momento para converter seus filhos. Estava assumindo um compromisso perante seu Criador que através de suas atitudes levaria todos os seus aos caminhos do Senhor.
            Em nossa vida temos o costume de empurrar a responsabilidade para alguém. É aquele ditado: “A culpa é minha e ponho em quem eu quiser!”. Oramos e jejuamos pela nossa família. Pedimos salvação, libertação, a paz do Senhor para dar fim às contendas em algumas de nossas orações. Depois sentamos e esperamos que o Senhor faça o que pedimos. Chamamos os pastores e obreiros, às vezes até nossos irmãos da Comunidade para falar com nossos parentes, e esperamos que eles encontrem a solução para os problemas de nossa casa.
            Tenho a certeza absoluta que Deus irá fazer a parte dele, mas precisamos fazer a nossa. Assim como Y’hoshua precisamos assumir a responsabilidade sobre nosso lar, e cumprir o nosso papel em nossa casa. Precisamos cumprir nossos deveres independente do que os outros estão fazendo. Vejo Sha’ul falando neste sentido quando diz que “o marido incrédulo foi separado por Deus pela mulher, e a mulher incrédula foi separada por Deus pelo irmão” (1 Coríntios 7.14 BJC). Ele não está falando na salvação destas pessoas apenas por possuir um cônjuge seguidor do Messias, mas indicando que nossas ações, mesmo solitárias, em meio a nossa família irão servir de sementes para gerar nos nossos um comportamento diferente.
            Deste modo, antes mesmo de continuar lendo está mensagem eu te convido a elevar seus pensamentos a Deus e a orar com sinceridade: “Senhor, ensina-me a ser um semeador. Ensina-me a agir conforme a Tua orientação dentro de meu lar sem esperar uma mudança imediata. Comece a obra que Tu tens para meu lar a partir de minha vida, e depois me use para alcançar a vida de meus parentes. Todos nós precisamos ser mudados por Ti. Amém”.
            A partir de agora, se abra para o que a Palavra do Senhor diz. Desarme-se para que o teu Deus possa iniciar a obra em tua vida. Entenda o que a Bíblia diz a respeito de seu dever em seu lar.

Maridos: a primeira mensagem de Deus aos maridos diz respeito ao casamento. Casamento é um compromisso assumido que jamais perde a validade. O próprio Yeshua [Jesus] diz isto: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher e disse: ‘Por esta razão, o homem deverá deixar pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Portanto, eles já não são dois, mas um só. Dessa forma, ninguém deve separar o que Deus uniu.” (Mattityahu [Mateus] 19.4-6 BJC).
            Este alerta de Yeshua deve servir primeiramente para que não desistamos de nosso matrimonio. Ele é sagrado. Foi constituído por Deus, e não temos o direito de destruí-lo. Em segundo lugar, está mensagem de Yeshua nos leva a assumirmos a responsabilidade da vida espiritual de nossa família. É evidente que não forçaremos ninguém, mas serviremos de exemplo, de intercessores, assim como Y’hoshua no texto que lemos anteriormente.
           
“Com relação aos maridos: ame cada um sua mulher, como o Messias amou a comunidade messiânica e, de fato, entregou-se a favor dela, a fim de separá-la para Deus, como que purificando-a mediante a imersão na mikveh [banheira ou piscina com um influxo de água, usado no judaísmo ortodoxo até o dia de hoje para rituais de purificação], com o objetivo de apresentar a comunidade messiânica a si mesmo como noiva da qual se orgulha, sem mancha, ruga ou qualquer coisa semelhante, mas anta e sem defeito. É deste modo que cada marido deve amar sua mulher – como ao próprio corpo; porque o homem que ama sua mulher ama a si mesmo. Ninguém jamais odiou a própria carne! Ao contrário, alimenta-a e cuida bem dela, do mesmo modo que o Messias faz com a comunidade messiânica, porque somos partes de seu corpo. “Portanto, o homem deixará pai e mãe e permanecerá com sua mulher, e os dois se tornarão um”. Há uma verdade profunda oculta aqui; o que digo concerne ao Messias e à comunidade messiânica. Entretanto, o texto também se aplica de modo individual a vocês: que cada homem ame sua mulher como a si mesmo, e que a mulher respeite o marido.”
(Efésios 5.25-33 BJC)

            Marido, você deve amar sua esposa do mesmo modo que o Messias amou a Comunidade Messiânica, ou seja, entregando sua própria vida por ela. Você precisa entender que precisa servi-la, cuidar dela. Você precisa agir do como Yeshua, ser um representante dele na vida de sua esposa. Trate-a respeitosamente, sem mau humor (Cl 3.19).
            Um texto que tanto Yeshua quanto Sha’ul [Paulo] citaram nestas passagens é Gênesis 2.24, e é interessante notar que ele diz que o homem deve deixar pai e mãe. Isto indica que depois do casamento o homem passa a ter a sua casa. Pai continua sendo pai, mãe continua sendo mãe. Ambos continuam merecendo sua honra, mas você não deve exigir que a sua casa funcione como a casa de seu pai. Deixe as comparações de mora.

Esposas: Do mesmo modo que o marido, a esposa deve deixar seus interesses de lado para se preocupar com os de seu esposo.

“Submetam-se uns aos outros no temor ao Messias. As mulheres devem se submeter ao marido como fazem em relação ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, da mesma forma que o Messias – como cabeça da comunidade messiânica – mantém o corpo seguro. Da mesma forma que a comunidade messiânica se submete ao Messias, também as mulheres devem se submeter aos maridos em tudo.”
(Efésios 5.21-24 BJC)

            Este texto já gerou muitas discussões por não ser visto dentro de seu contexto. A palavra submissa usada por Sha’ul vem do grego hupotasso que representa uma atitude voluntária de ceder, cooperar, assumir responsabilidade e levar uma carga. Isto acaba tendo muito mais sentido quando recordamos de Gênesis 2.18. Outra tradução de Efésios 5.21 diz: “Esposa, entenda e dê apoio ao seu marido” (Bíblia A Mensagem – Ed. Vida).
            A intensão não é mostrar quem manda, mas aprender a viver sob os cuidados do marido. Com maridos descrentes a esposa cumpre o exemplo de Cristo em submissão, mansidão (atitude de cooperação) e tranquilidade.

Pais:

“Ensine a criança no caminho em que ela deve seguir; e, mesmo quando ficar velha, não se desviará dele.”
(Mishlei [Provérbios] 22.6 BJC)

Ensinar é uma responsabilidade dos pais perante o Senhor, e junto com a mesma recebemos a promessa que se realizarmos nosso papel, nossos filhos irão permanecer no que ensinamos. Ensinamos mediante o que praticamos não o que mandamos.

“Pais, não irritem seus filhos nem façam deles pessoas ressentidas; em vez disso, eduquem-nos com o tipo de disciplina e instrução proveniente do Senhor.”
(Efésios 6.4 BJC)

Encontrei duas traduções deste mesmo versículo que considerei muito interessante: “Pais, não provoquem seus filhos, sendo duros demais com eles. Tratem de segurá-los pela mão para guiá-los no caminho do Senhor.” (Bíblia A Mensagem – Ed. Vida) e “E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas educai-os com correções e advertências que se inspirem no Senhor.” (Bíblia de Jerusalém Ed. Paulus).
Guiá-los pela mão mostra caminhar juntos. Mostra ensinar através das atitudes. Se inspirar no Senhor é agir como Deus age conosco, servir de representante de Deus para nossos filhos. Seu filho irá se relacionar com Deus mais facilmente se o seu relacionamento com ele o inspirar a isto. Educar é sinal de amor.

Filhos:

“Filhos, o que vocês devem fazer em união ao Senhor é obedecer a seus pais, porque isso é correto. “Honre seu pai e sua mãe” – este é o primeiro mandamento que incorpora uma promessa – “para que você vá bem e possa viver bastante na terra”.
(Efésios 6.1-3 BJC)

Obediência é um dever que agrada ao Senhor a atrai suas bênçãos. Aprenda a escutar seus pais. Você pode não acreditar, mas eles são mais sábios que você. Eles possuem a experiência. Escute e guarde aquilo que ouviu.

            A vida em família é uma constante entrega. Vivemos não para nós mesmos, mas em função daqueles que estão ao nosso lado. Procuramos não os nossos próprios interesses, mas fazemos a nossa parte para suprir as necessidades daqueles que nos cercam. Não tentamos provar que somos melhores, mas valorizamos a cada um, reconhecendo a sua importância. Todos foram criados por Deus, à imagem do Pai.  
A família é um projeto do Senhor, mas, como todo projeto, só será bem sucedido se seguirmos a risca as orientações do Engenheiro. Só Ele possui toda a sabedoria para nos conduzir a perfeita edificação de nosso lar. Precisamos escutá-lo e agir sob sua orientação.