“No
último dia da festa, Hoshana Rabbah
[grande hosana], Yeshua [Jesus] se levantou e disse em alta voz: ‘Se alguém tem
sede, venha a mim e beba! Quem deposita a confiança em mim, como dizem as
Escrituras, rios de água viva fluirão de seu interior!’. (Ele estava falando
sobre o Espírito, a quem os que confiavam nele haveriam de receber mais tarde –
o Espírito ainda não fora concedido porque Yeshua não tinha sido glorificado.)”
(Yochanan [João] 7.37
– 39 BJC [Bíblia Judaica Completa])
A festa de Sucot é uma das festas instituídas ao povo
judeu pelo Senhor na Torah. Também conhecida como festa das cabanas
(tabernáculos) ou ainda festa da colheita, possui duração de sete dias e tem
como intuito lembrar o povo de Deus das peregrinações dos filhos de Yisra’el no
deserto após a libertação do Egito. É uma festa realizada no fim do ano
agrícola marcada por muita alegria.
O último dia de Sucot é chamado de Hoshana Rabbah (a
grande hosana). Hosana significa: “Salva-nos!”. Neste dia eram feitas orações
por chuva. Sendo o povo judeu do primeiro século um povo agrícola, o sucesso de
suas colheitas dependia da chuva, e no fim de Sucot era a Deus que pediam pela
provisão.
Estas orações eram feitas em meio a muita música e
alegria. “Centenas de candelabros que ardiam no Monte do Templo, iluminavam a
cidade de Jerusalém. Os músicos e coros dos Levitas, postados nos quinze
degraus do Santuário, reforçados por milhares de vozes do povo, tocavam e
cantavam os louvores de Deus. Perante eles dançavam, com grande júbilo, os
sábios e líderes do povo. O Talmud declara que quem não viu a alegria desta
Festa, nunca viu uma verdadeira alegria em sua vida.”. (FRIDLIN, Jairo, Sidur
Completo, p.483).
Entre os louvores e as danças, o kohen gadol [sumo-sacerdote] pegava um cântaro de ouro com água
tirada do Tanque de Siloé (Shiloach) e derramava esta água numa bacia aos pés
do altar.
Naquele ano Yeshua, o Messias estava em meio a esta
alegria. Ele desceu para Yerushalayim [Jerusalém] secretamente, sem atender aos
conselhos de seus irmãos que queriam que fizesse milagres durante a festa para
ganhar talmidim [discípulos] (Jo 7). No
meio da festa que apareceu em público para ensinar no Templo.
Fico tentando criar toda esta cena em minha mente: o
majestoso templo construído por Z’rubavel [Zorobabel] e reformado por Herodes
iluminado pelos candelabros, o coro dos Levitas entoando os louvores a Deus
junto com todo povo, as danças ao Senhor, a água sendo derramada do cântaro de
ouro para o altar, e Yeshua declarando a todos: “Se alguém tem sede, venha a
mim e beba!”.
Quando todo o cenário se desenha a nossa frente, as
palavras de Yeshua que já eram belas tornam-se maravilhosas.
Em primeiro lugar, o apelo do Messias é direcionado
àqueles que têm sede, ou seja, aqueles que precisam de água. De certo modo
todos os que estavam clamando pela chuva estavam com sede, pois precisavam da
água na medida certa para que a próxima colheita fosse abençoada. Mais do que
isto, diante deles naquele momento estava o Filho de David, o Messias esperado,
aquele que traria não apenas mais um ano de colheitas bem sucedidas, mas a
presenta real do Eterno em meio ao Seu povo. Para todas as dificuldades que o
povo estava enfrentando existia uma única solução: Yeshua.
Yeshua é a resposta para as nossas perguntas. Ele é a
solução para os nossos problemas. Não importa pelo que você esteja passando, a
vitória virá através de Yeshua. Não estou falando de prosperidade e de tantas
outras bobagens que têm sido anunciadas usando o nome de Deus. Estou falando a
respeito de nossas reais necessidades que só podem ser satisfeitas pelo Senhor.
A benção material que você tanto busca é passageira: seu
carro, sua casa, seu emprego, até mesmo sua saúde, tudo isto vai passar. Mas
Deus não passará. Ele é o grande “Yud-Heh-Vav-Heh”
(Ex 3.15), Ele é ADONAI, o Deus imutável. E quando tudo aquilo que você busca
passar, como é que você estará diante do seu Deus?
O que temos dado valor? O convite inicial de Yeshua em
Hoshana Rabbah nos leva a busca-lo antes de buscar as demais coisas.
Ensinamento que foi reforçado por suas palavras no sermão da montanha: “Entretanto,
busquem em primeiro lugar seu Reino e sua justiça, e todas estas coisas também
lhes serão dadas.” (Mattityahu [Mateus] 6.33 BJC).
“Se
alguém tem sede” diz respeito a todos nós e a todas as nossas necessidades. Diz
respeito a nossos clamores, nossas angustias. “venha a mim e beba!” diz
respeito ao que realmente precisamos: a presença do Senhor dentro de nós. Com
esta presença tudo o mais será insignificante. Seremos capazes de seguir o
conselho bíblico: “Considerem motivo de alegria, meus irmãos, quando vocês
enfrentarem diversas tentações, porque sabem que o teste de sua confiança
produz perseverança. Deixem a perseverança completar sua tarefa, para que vocês
se tornem maduros e íntegros, faltosos em nada.” (Ya’akov [Tiago] 1.2-4 BJC).
Não
que vamos ficar gargalhando por passar dificuldades, mas se estivermos na
presença de nosso Deus, as provas não vão nos derrubar. Em meio a grande
alegria daquele dia festivo, Yeshua estava ensinando que Ele é a fonte da
verdadeira alegria.
Mas
o discurso não parou neste convite. Yeshua continua sua fala dizendo: “Quem
deposita a sua confiança em mim, como dizem as Escrituras, rios de água viva
fluirão de seu interior!”. É interessante o momento desta condicional, pois na
festa de Sucot os judeus costumavam dar voltas em torno do altar com o Lulav em
suas mãos. O Lulav consiste de quatro espécies de plantas diferentes: o Etrog –
uma fruta nobre, parecida com o limão, com um aroma muito agradável, o Lulav –
um galho de tamareira, o Hadas – uma haste de murta e a Aravá – arbusto
encontrado na beira do rio.
Os
sábios judeus comparam estas quatro espécies de plantas aos quatro tipos de
pessoas. O Etrog é uma fruta comestível que tem aroma, e representa a pessoa
que tem erudição e pratica o bem. O Lulav tem fruta, mas não tem cheiro, e
representa os que têm conhecimentos, mas não os põem em prática. O Hadas tem cheiro,
mas não é comestível, e representa os praticantes, embora não sejam eruditos. A
Aravá não tem nem fruta nem cheiro, e representa os que possuem nem teoria nem
prática.
Nosso
relacionamento com o Senhor através da busca diária, leitura da Palavra e orações,
nos tornam conhecedores dos preceitos do Senhor. Mas somente o conhecer não
vale nada. A fé genuína implica em atitudes, conforme Ya’akov ensina: “Da mesma
forma, a fé por si mesma, se não for acompanhada de ações, está morta.”
(Ya’akov 2.17 BJC).
Olhar
para as quatro espécies deve nos levar a um autoexame (1 Co 11.28). Que tipo de
pessoa temos sido? A condicional falada por Yeshua nos mostra o que acontecerá
com aqueles que possuírem a fé genuína, ou seja, a verdadeira confiança: estes
terão um rio de águas vivas fluindo de seu interior.
Possuir
esta fonte nos traz duas implicações. A primeira delas é que jamais teremos
sede novamente. Não estou falando em jamais passar por problemas, mas assim
como comentei acima, enfrentar as dificuldades sem permitir que as mesmas o
derrube. É a confiança que nosso Deus é maior que todas as coisas. Conforme diz
Sha’ul [Paulo]: “Passamos por todo tipo de dificuldades, mas não somos
esmagados; estamos perplexos, mas não nos desesperamos; somos perseguidos, mas
não estamos abandonados; nocauteados, mas não destruídos. Sempre carregamos em
nosso corpo a morte de Yeshua, para que a vida dele também se manifeste no
corpo de cada um de nós.” (2 Coríntios 4.8-10 BJC).
A
segunda implicação está em notar que uma fonte de águas produz por assim dizer
uma quantidade infinita. Logo, a água que fluirá de nosso interior não atingirá
apenas a nós. Mas irá saciar a todos os sedentos que estão ao nosso redor.
Lendo
a interpretação de Yochanan sobre a fala de Yeshua, mencionando que isto foi
falado a respeito do Espírito nos revela dois aspectos da obra do Ruach
HaKodesh [Espírito Santo] em nós: nos consolar (Jo 14.16) e nos usar na vida
daqueles que o Senhor colocou ao nosso lado (1 Co 12.4-7).
Busquemos
a cada dia o conhecimento de nosso senhor Yeshua, e o beber da sua fonte, para
que possamos viver e dar vida.