terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Hoshana Rabbah

“No último dia da festa, Hoshana Rabbah [grande hosana], Yeshua [Jesus] se levantou e disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba! Quem deposita a confiança em mim, como dizem as Escrituras, rios de água viva fluirão de seu interior!’. (Ele estava falando sobre o Espírito, a quem os que confiavam nele haveriam de receber mais tarde – o Espírito ainda não fora concedido porque Yeshua não tinha sido glorificado.)”
(Yochanan [João] 7.37 – 39 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            A festa de Sucot é uma das festas instituídas ao povo judeu pelo Senhor na Torah. Também conhecida como festa das cabanas (tabernáculos) ou ainda festa da colheita, possui duração de sete dias e tem como intuito lembrar o povo de Deus das peregrinações dos filhos de Yisra’el no deserto após a libertação do Egito. É uma festa realizada no fim do ano agrícola marcada por muita alegria.
            O último dia de Sucot é chamado de Hoshana Rabbah (a grande hosana). Hosana significa: “Salva-nos!”. Neste dia eram feitas orações por chuva. Sendo o povo judeu do primeiro século um povo agrícola, o sucesso de suas colheitas dependia da chuva, e no fim de Sucot era a Deus que pediam pela provisão.
            Estas orações eram feitas em meio a muita música e alegria. “Centenas de candelabros que ardiam no Monte do Templo, iluminavam a cidade de Jerusalém. Os músicos e coros dos Levitas, postados nos quinze degraus do Santuário, reforçados por milhares de vozes do povo, tocavam e cantavam os louvores de Deus. Perante eles dançavam, com grande júbilo, os sábios e líderes do povo. O Talmud declara que quem não viu a alegria desta Festa, nunca viu uma verdadeira alegria em sua vida.”. (FRIDLIN, Jairo, Sidur Completo, p.483).
            Entre os louvores e as danças, o kohen gadol [sumo-sacerdote] pegava um cântaro de ouro com água tirada do Tanque de Siloé (Shiloach) e derramava esta água numa bacia aos pés do altar.
            Naquele ano Yeshua, o Messias estava em meio a esta alegria. Ele desceu para Yerushalayim [Jerusalém] secretamente, sem atender aos conselhos de seus irmãos que queriam que fizesse milagres durante a festa para ganhar talmidim [discípulos] (Jo 7). No meio da festa que apareceu em público para ensinar no Templo.
            Fico tentando criar toda esta cena em minha mente: o majestoso templo construído por Z’rubavel [Zorobabel] e reformado por Herodes iluminado pelos candelabros, o coro dos Levitas entoando os louvores a Deus junto com todo povo, as danças ao Senhor, a água sendo derramada do cântaro de ouro para o altar, e Yeshua declarando a todos: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”.


            Quando todo o cenário se desenha a nossa frente, as palavras de Yeshua que já eram belas tornam-se maravilhosas.
            Em primeiro lugar, o apelo do Messias é direcionado àqueles que têm sede, ou seja, aqueles que precisam de água. De certo modo todos os que estavam clamando pela chuva estavam com sede, pois precisavam da água na medida certa para que a próxima colheita fosse abençoada. Mais do que isto, diante deles naquele momento estava o Filho de David, o Messias esperado, aquele que traria não apenas mais um ano de colheitas bem sucedidas, mas a presenta real do Eterno em meio ao Seu povo. Para todas as dificuldades que o povo estava enfrentando existia uma única solução: Yeshua.
            Yeshua é a resposta para as nossas perguntas. Ele é a solução para os nossos problemas. Não importa pelo que você esteja passando, a vitória virá através de Yeshua. Não estou falando de prosperidade e de tantas outras bobagens que têm sido anunciadas usando o nome de Deus. Estou falando a respeito de nossas reais necessidades que só podem ser satisfeitas pelo Senhor.
            A benção material que você tanto busca é passageira: seu carro, sua casa, seu emprego, até mesmo sua saúde, tudo isto vai passar. Mas Deus não passará. Ele é o grande “Yud-Heh-Vav-Heh” (Ex 3.15), Ele é ADONAI, o Deus imutável. E quando tudo aquilo que você busca passar, como é que você estará diante do seu Deus?
            O que temos dado valor? O convite inicial de Yeshua em Hoshana Rabbah nos leva a busca-lo antes de buscar as demais coisas. Ensinamento que foi reforçado por suas palavras no sermão da montanha: “Entretanto, busquem em primeiro lugar seu Reino e sua justiça, e todas estas coisas também lhes serão dadas.” (Mattityahu [Mateus] 6.33 BJC).
“Se alguém tem sede” diz respeito a todos nós e a todas as nossas necessidades. Diz respeito a nossos clamores, nossas angustias. “venha a mim e beba!” diz respeito ao que realmente precisamos: a presença do Senhor dentro de nós. Com esta presença tudo o mais será insignificante. Seremos capazes de seguir o conselho bíblico: “Considerem motivo de alegria, meus irmãos, quando vocês enfrentarem diversas tentações, porque sabem que o teste de sua confiança produz perseverança. Deixem a perseverança completar sua tarefa, para que vocês se tornem maduros e íntegros, faltosos em nada.” (Ya’akov [Tiago] 1.2-4 BJC).
Não que vamos ficar gargalhando por passar dificuldades, mas se estivermos na presença de nosso Deus, as provas não vão nos derrubar. Em meio a grande alegria daquele dia festivo, Yeshua estava ensinando que Ele é a fonte da verdadeira alegria.
Mas o discurso não parou neste convite. Yeshua continua sua fala dizendo: “Quem deposita a sua confiança em mim, como dizem as Escrituras, rios de água viva fluirão de seu interior!”. É interessante o momento desta condicional, pois na festa de Sucot os judeus costumavam dar voltas em torno do altar com o Lulav em suas mãos. O Lulav consiste de quatro espécies de plantas diferentes: o Etrog – uma fruta nobre, parecida com o limão, com um aroma muito agradável, o Lulav – um galho de tamareira, o Hadas – uma haste de murta e a Aravá – arbusto encontrado na beira do rio.
Os sábios judeus comparam estas quatro espécies de plantas aos quatro tipos de pessoas. O Etrog é uma fruta comestível que tem aroma, e representa a pessoa que tem erudição e pratica o bem. O Lulav tem fruta, mas não tem cheiro, e representa os que têm conhecimentos, mas não os põem em prática. O Hadas tem cheiro, mas não é comestível, e representa os praticantes, embora não sejam eruditos. A Aravá não tem nem fruta nem cheiro, e representa os que possuem nem teoria nem prática.
Nosso relacionamento com o Senhor através da busca diária, leitura da Palavra e orações, nos tornam conhecedores dos preceitos do Senhor. Mas somente o conhecer não vale nada. A fé genuína implica em atitudes, conforme Ya’akov ensina: “Da mesma forma, a fé por si mesma, se não for acompanhada de ações, está morta.” (Ya’akov 2.17 BJC).
Olhar para as quatro espécies deve nos levar a um autoexame (1 Co 11.28). Que tipo de pessoa temos sido? A condicional falada por Yeshua nos mostra o que acontecerá com aqueles que possuírem a fé genuína, ou seja, a verdadeira confiança: estes terão um rio de águas vivas fluindo de seu interior.
Possuir esta fonte nos traz duas implicações. A primeira delas é que jamais teremos sede novamente. Não estou falando em jamais passar por problemas, mas assim como comentei acima, enfrentar as dificuldades sem permitir que as mesmas o derrube. É a confiança que nosso Deus é maior que todas as coisas. Conforme diz Sha’ul [Paulo]: “Passamos por todo tipo de dificuldades, mas não somos esmagados; estamos perplexos, mas não nos desesperamos; somos perseguidos, mas não estamos abandonados; nocauteados, mas não destruídos. Sempre carregamos em nosso corpo a morte de Yeshua, para que a vida dele também se manifeste no corpo de cada um de nós.” (2 Coríntios 4.8-10 BJC).
A segunda implicação está em notar que uma fonte de águas produz por assim dizer uma quantidade infinita. Logo, a água que fluirá de nosso interior não atingirá apenas a nós. Mas irá saciar a todos os sedentos que estão ao nosso redor.
Lendo a interpretação de Yochanan sobre a fala de Yeshua, mencionando que isto foi falado a respeito do Espírito nos revela dois aspectos da obra do Ruach HaKodesh [Espírito Santo] em nós: nos consolar (Jo 14.16) e nos usar na vida daqueles que o Senhor colocou ao nosso lado (1 Co 12.4-7).

Busquemos a cada dia o conhecimento de nosso senhor Yeshua, e o beber da sua fonte, para que possamos viver e dar vida.