sábado, 27 de dezembro de 2014

Ser conhecido por Deus

“Cuidado com os falsos profetas! Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos famintos! Vocês os reconhecerão pelo fruto. Pode alguém colher uvas de espinheiros ou figos de plantas espinhosas? Semelhantemente, toda árvore saudável produz bom fruto, mas a árvore doente produz fruto mau. A árvore saudável não pode dar fruto mau, nem a árvore doente produzir fruto bom. Toda árvore que não produz fruto bom é cortada e lançada ao fogo! Assim, vocês os reconhecerão pelo fruto.”
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor! ’ entrará no Reino do Céu, mas apenas quem faz o que meu Pai celestial deseja. Naquele dia, muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor! Não profetizamos em seu nome? Em seu nome não expulsamos demônios? Não realizamos muitos milagres em seu nome? ’ Então eu lhes direi na cara: ‘Nunca os conheci! Afastem-se de mim, praticantes do que é contra a lei! ’.”
(Mattityahu [Mateus] 7.15 a 23 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Entre os capítulos 5 e 7 das boas-novas sobre Yeshua [Jesus], o Messias, contadas por Mattityahu [Mateus], lemos diversos ensinos de Yeshua a seus talmidim [discípulos], ditos sobre um monte, chamados por muitos de “O Sermão do Monte” ou “O Sermão da Montanha”. Nestes ensinos vemos nosso Mestre interpretar a Torah [Ensino, Lei, Pentateuco] como era o costume de diversos Rabis [Mestres] naquele tempo.
            Os versículos que lemos acima se encontram no final desta seção e servirão como base daquilo que desejo transmitir a você, onde procuraremos responder a nós mesmos a pergunta: “Deus nos conhece?”.
            É muito interessante notar que nos primeiros versículos (15 a 20), Yeshua está tratando dos falsos profetas, pessoas que tentarão aproveitar-se da fé dos seguidores do Messias para benefício próprio. Em uma curta mensagem que me lembra da mensagem do profeta Yechezk’el [Ezequiel] aos pastores de Yisra’el [Israel] (Yechezk’el 34), que se alimentam a si mesmos ao invés de alimentar o rebanho, Yeshua diz que os reconheceremos pelo fruto, ou seja, por aquilo que realmente produzem. Em segunda instância, nosso Mestre continua o mesmo discurso nos mostrando que assim como podemos conhecer as pessoas por aquilo que elas fazem, nosso Pai conhece aqueles que fazem o que Ele deseja.
            Talvez para aqueles que pouco conhecem da Bíblia, esta pareça ser uma declaração de um deus autoritário e manipulador, porém ao analisarmos todo o sermão chegamos a conclusão que fazer o que o Senhor deseja significa promover o bem, a justiça e viver plenamente independentemente das diversidades, buscando o que há de melhor em nosso interior.
            Desta forma, gostaria mais uma vez, fazer com que você responda a si mesmo: Será que Deus te conhece? Você é o tipo de pessoa com quem Deus andaria? Após responder a estas perguntas, tente dizer a si mesmo o porquê de sua afirmação ou negação.
            Normalmente nossos motivos são baseados naquilo que fazemos, porém observe no texto que muitos tentarão provar que são conhecidos por meio de suas obras: profetizar, expulsar demônios e realizar milagres, mas a resposta do Senhor será a mesma: “Nunca os conheci!”. Deste modo, podemos até levar as pessoas que nos rodeiam a possuírem uma falsa impressão daquilo que somos, através de ações, mas nosso Deus conhece quem realmente somos, ou seja, o fruto que é gerado em nós.

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, humildade, autocontrole. Não existe nada na Torah contra essas coisas.”
(Gálatas 5.22 e 23 BJC)

            Algo muito importante e conhecido neste texto é que Sha’ul [Paulo] diz o fruto do Espírito, não os frutos do Espírito. Sendo assim só existe um fruto evidenciado por nove características. Todas aparecem juntas. Há quem diga que o fruto do Espírito é o amor, somente ele, e a alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, humildade e autocontrole são características deste amor. Sem defender uma ou outra opinião, o fato é que este fruto não é gerado através de esforços próprios, mas cresce de forma natural a partir do momento que decidimos viver pelo Espírito, deixando de lado tudo o que nos afasta do alvo estabelecido por Deus.
            Sendo assim, nosso Deus está interessado em quem realmente somos, e não apenas no que fazemos. E aquilo que somos é avaliado mediante o:
Amor: é uma ligação, uma decisão de colocar o outro acima de si mesmo, deixando muitas vezes seus interesses de lado, para promover o bem. Yeshua exemplifica o mandamento “ame o seu próximo como a si mesmo” (Vayikra [Levítico] 19.18) contando a parábola que conhecemos como a do “Bom Samaritano” onde um homem de Shomron [Samaria] ao avistar um ferido desviou de seu caminho para cuidar do mesmo, e pagou uma hospedaria para que este pudesse se recuperar (Lc 10.30-37).
Alegria: onde está a tua alegria? A alegria como fruto do Espírito é aquela que vem do Senhor. Ou seja, não depende das circunstancias que estou vivendo. Evidentemente, posso até me abater momentaneamente por aquilo que acontece ao meu redor, mas não fico nesta situação, pois sei que ao meu lado tenho um Deus maior que tudo.
Paz: Do mesmo modo que a alegria, é o “shalom [paz, tranquilidade, segurança, bem-estar, saúde, contentamento, sucesso, conforto, plenitude e integridade] de Deus, que ultrapassa todo entendimento” (Filipenses 4.7 BJC). Mesmo tendo motivos para estar preocupados, estaremos em paz.
Paciência: Saber contar até dez. Dar uma outra chance. Saber esperar.
Afabilidade: contrário de grosseria. É uma brandura no tato, uma delicadeza. Ser amável, procurar agradar.
Bondade: Praticar o bem. “Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado.” (Ya’akov [Tiago] 4.17 BJC). Desta forma, não praticar o bem é pecado.
Fidelidade: ser fiel, mesmo que isto esteja fora de moda. Aquele que cumpre o que se obriga. Lealdade.
Humildade: É uma demonstração de respeito ao outro. Ser modesto.
Autocontrole: Aprender a se controlar. Não da para culparmos nosso gênio.
            Este é fruto do Espírito, e são estas características que o Senhor procura em nós. É interessante notar que ao descrever os dons do Espírito em 1 Coríntios 12, Sha’ul cita nove dons. Vejo isto como um sinal do equilíbrio que precisamos ter em nossas vidas entre os dons espirituais e o fruto do Espírito, e um alerta ao que deve ser o nosso alvo: precisamos nos preocupar mais com o fruto do Espírito em nós do que com os dons espirituais. É mais importante aquilo que somos do que aquilo que fazemos. Nossas ações devem ser fundamentadas no que realmente somos.

“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se assentará no trono glorioso. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ‘ovelhas’ à sua direita, e os ‘bodes’, à esquerda.”
“Então o Rei dirá aos que estiverem à direita: ‘Venham, benditos de meu Pai, recebam sua herança, o Reino preparado para vocês desde a criação do mundo! Porque eu tive fome, e vocês me deram comida; tive sede, e me deram algo para beber; fui estrangeiro, e me trataram como alguém convidado; necessitei de roupas, e vocês as providenciaram; estive doente, e cuidaram de mim; estive preso, e me visitaram’. Então as pessoas que realizaram a vontade de Deus responderão: ‘Senhor, quando o vimos com fome e o alimentamos, ou com sede e lhe demos algo para beber? Quando o vimos como estrangeiro e o recebemos, ou necessitado de roupas e lhe demos o que vestir? Quando o vimos doente ou preso e fomos visita-lo? ’. O Rei lhes responderá: ‘Eu lhes digo que todas as vezes que vocês fizeram essas coisas a algum destes meus irmãos menos destacados, o fizeram a mim’.”
“Então ele também dirá aos que estiverem à esquerda: ‘Afastem-se de mim, malditos! Vão para o fogo preparado para o Adversário e seus anjos! Porque tive fome, e vocês não me deram comida; tive sede, e não me deram nada para beber; fui estrangeiro, e vocês não me receberam; necessitei de roupas, e não me deram nenhuma; estive doente e preso, e não me visitaram’. Então eles também responderão: ‘Senhor, quando o vimos com fome, sede, estrangeiro ou necessitado de roupas, doente ou preso, e não ajudamos? ’. Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: todas as vezes que vocês se recusaram a fazê-lo a estas pessoas menos destacadas, também se recusaram a fazê-lo por mim’. Eles irão para o castigo eterno, mas os que fizeram o que Deus deseja irão para a vida eterna”.
(Mattityahu 25.31 a 46 BJC)

            Repare que Yeshua relaciona o dar de comer, de beber, de vestir, o visitar com realizar o que Deus deseja, e perceba que são atitudes daqueles que possuem o fruto do Espírito. É interessante notar também que tais obras foram realizadas de modo natural, não forçado ou religioso, pois foram feitas às pessoas menos destacadas, àqueles que ninguém vai notar. Inclusive o grupo daqueles que fizeram a vontade do Pai, não sabia que estava fazendo-a.
            Deste modo enquanto muitos se esforçam para fazer uma obra e serem aceitos por Deus, criando uma religião de ajuda ao próximo, e até mesmo possuem uma coleção de boas ações como se fossem medalhas de escoteiros, outros procuram ficar em evidência ajudando aqueles que atraem atenção. Mas para Deus nada disso importa.
            A vontade do Senhor é que sejamos seres humanos genuínos, que movidos pelo fruto do Espírito promovamos o bem a todos que cruzarem nosso caminho. A falta de ação indica que há algo errado em nosso interior, e é esta mudança que precisamos buscar.

            Qual é a sua preocupação maior: seu ministério ou as vidas? Suas realizações ou a verdadeira obra de Deus? Quanto você está disposto a deixar Deus fazer através de você? Estaria disposto a largar tudo?