domingo, 19 de abril de 2015

Você é o que adora

“Não a nós, ADONAI, não a nós, mas a teu nome seja a glória, por causa de tua graça e de tua verdade.”
“Por que as nações perguntam: ‘Onde está o Deus deles?’. Nosso Deus está no céu; faz o que lhe agrada.”
“Os ídolos deles são apenas prata e ouro, feito por mãos humanas. Têm boca, mas não podem falar; têm olhos, mas não podem ver; têm ouvidos, mas não podem ouvir; têm nariz, mas não podem cheirar; têm mãos, mas não podem sentir; têm pés, mas não podem andar; com sua garganta, não podem emitir som. Os povos que os fazem se tornarão como eles, juntamente com todos aqueles que neles confiam.”
“Yisra’el, confie em ADONAI! Ele é seu auxílio e escudo. Casa de Aharon, confie em ADONAI! Ele é seu auxílio e escudo. Vocês, que temem ADONAI, confiem em ADONAI. Ele é seu auxílio e escudo. ADONAI se lembra de nós e nos abençoará. Abençoará a casa de Yisra’el; abençoará a casa de Aharon; abençoará todos os que temem ADONAI, tanto grandes quanto pequenos.”
“Que ADONAI aumente o seu número, tanto de vocês quanto de seus filhos. Que vocês sejam abençoados por ADONAI, o criador do céu e da terra. O céu pertence a ADONAI, mas a terra ele deu à humanidade.”
“Os mortos não podem louvar ADONAI, nem aqueles que descem ao silêncio. Mas nós bendiremos ADONAI desde agora e para sempre. Halleluyah!”
(Tehillim [Salmos] 115 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            O salmo acima pertence ao grupo de salmos conhecidos como Halel [louvores] Egípcio, Tehillim [Salmos] 113 a 118, devido à sua associação com o livramento de Yisra’el [Israel] da servidão egípcia. Estes Tehillim são entoados em Pessach [Páscoa], louvando ao Senhor pelo grande livramento. Os últimos quatro, Tehillim 115 a 118, são chamados de o Grande Halel e entoados no Seder de Pessach após a refeição, entoados inclusive por Yeshua [Jesus] no final do último Seder ministrado por ele (Mt 26.29 e 30).
            O texto inicia atribuindo glória a Deus, e não aos homens. Glória no hebraico é כבוד (kabhodh) que literalmente representa peso. Quando o texto fala da glória dada ao Senhor, ele fala do peso que atribuímos a Deus, ou seja, a importância que Ele recebe em nossas vidas. Assim, o autor do salmo já inicia sua mensagem dizendo que a maior importância deve ser dada ao Eterno e não a nós mesmos. Isto não é simplesmente o mandamento de um deus egocêntrico que ordena que o consideremos importante, mas o concelho de um homem que experimentou a intimidade deste Deus. E este homem justifica a razão deste conselho: a graça e a verdade de Deus.
A graça (hesedh) é a benevolência, benignidade, misericórdia, bondade, fidelidade, amor e beneficência de Deus colocados em ação. É mais do que somente o favor imerecido que muitas vezes utilizamos para explicar tal palavra. É o fundamento para os atos do Senhor e seu caráter. O Salmo 136 é um ótimo exemplo disto, onde vemos que é a graça do Senhor que fez com que Ele agisse. E Ele faz porque assim o deseja, e não porque é obrigado, como muitas vezes nós agimos. Muitas vezes o bem que fazemos é devido a uma promessa que fizemos e precisamos cumprir, ou porque sabemos que precisamos agir deste modo. Mas nosso Deus é diferente, Ele age deste modo porque Ele é deste modo. O salmista, tendo experimentado tal característica do Senhor, pode dizer com propriedade que o melhor é confiarmos, darmos importância para um Deus como este, e não confiarmos em nossas próprias mãos.
Repare que confiança é fé, ou seja, em nossa vida com Deus dar glória, dar peso, confiar e ter fé acabam se misturando. E assim o primeiro versículo deste salmo é um alerta contra a fé em um falso deus, um deus procurado pelos homens, um deus que é visível e faz a vontade do homem. É neste sentido que “as nações” do versículo 2 perguntam: “Onde está o Deus deles?”. As nações procuram um deus que está sempre disposto a agradar seus seguidores, um deus que é na verdade um escravo. A humanidade deseja ser tratada como deus, e procura alguém que a sirva, que atenda aos seus caprichos. Muitos de nós queremos impor nossos desejos, nossas necessidades, e para isto estamos dispostos inclusive a adulterar o texto bíblico de modo que este defenda o nosso ponto de vista. Criamos um deus que nos agrada e assim muitos acabam se transformando, mesmo sem ter consciência disto, em henoteístas, ou seja, pessoas que acreditam em vários deuses, mas um possui qualidade suprema, como os habitantes do reino de Yisra’el [Israel] na época do profeta Eliyahu [Elias] que acreditavam no Senhor mas também serviam a Ba’al [Baal] para receberem o que desejavam (1 Rs 18).
Mas mesmo reconhecendo que o Criador é um Deus verdadeiro, se esculpimos um deus que está de acordo com nossos interesses somos idolatras, pois, conforme o próprio texto bíblico ensina, “Nosso Deus está no céu; faz o que lhe agrada.” Ele não pode ser manipulado por nós. Não importa se eu me agrado ou não com os seu agir, Ele vai agir de acordo com Sua vontade. Não importa se eu concordo com ou não com a Bíblia, ela continua sendo a Palavra de Deus, e qualquer tentativa de muda-la só me transforma num “estuprador” que “violenta” textos bíblicos para que eles satisfaçam o meu desejo, independente do seu propósito original.
Repare na descrição do salmista dos ídolos: têm boca, olhos, ouvidos, nariz, mãos, pés, garganta. Eles são criados de modo a terem a aparência do homem racional. Eles, por assim dizer, falam a nós tudo aquilo que desejamos ouvir; veem e se agradam daquilo que mostramos em nosso viver; ouvem e concordar com tudo o que falamos; cheiram e se agradar do cheiro real de nossas vidas, muitas vezes podres por dentro; tocam-nos com suas mãos, nos sentem e nos acariciam mostrando que aceitam tudo aquilo que fazemos; andam e nos guiam pelo caminho que desejamos traçar. Esculpimos deuses que nos mostram que podemos ser e fazer tudo o que realmente queremos, mas no lugar de sermos aceitos verdadeiramente, nos transformamos nestas esculturas: não podemos falar com Deus, ver a Deus, ouvir o que Ele tem a nos dizer, sentir o seu bom cheiro, toca-lo, senti-lo e muito menos caminhar com Ele. E ao invés de estarmos diante de nosso Deus, estamos diante de um espelho e enxergamos a nós mesmos como deuses, numa autoidolatria, pois acreditamos que somos melhores do que os demais, e que sabemos mais do que todos, e que não devemos nada a ninguém. E isto é o que mais nos afasta da Presença Divina.
Contra este sentimento o salmo nos ensina a confiarmos no Senhor. O verbo confiar, no original hebraico batah, literalmente é correr em busca de refúgio. E observe que o convite a esta corrida é a Yisra’el, a Casa de Aharon [Aarão] e a todos os temem ADONAI [o Senhor]. Vemos neste convite que “nenhuma descendência física (Yisra’el) e nenhuma ordenação sacerdotal (casa de Aharon) é suficiente para uma pessoa pertencer a este último grupo (todos os que temem ADONAI), que adora a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.24).” (SHEDD, Russel P. Bíblia Shedd, São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 882).
E, da mesma forma que já conversamos antes, a confiança no Senhor, não é simplesmente o fruto de um mandamento, mas um concelho daquele que já desfrutou de tudo o que o Senhor é: auxílio, escudo, aquele que se lembra de nós e nos abençoa. Não é confiar para buscar os benefícios de um deus/escravo, mas a confiança em um Deus que já nos abençoou. É interessante notar que inclusive a palavra bênção no hebraico é barakh, que significa ajoelhar-se, sugerindo o dobrar do joelho durante a benção. Este dobrar mostra uma sujeição, um reconhecimento de autoridade. Deste modo ser abençoado não significa simplesmente ser premiado com aquilo que desejo, mas um reconhecimento de quem verdadeiramente é Deus, e uma sujeição à Sua vontade, e esta vontade, colocada em prática em minha vida, é que irá me beneficiar.
Por muito tempo justificamos nossa má conduta dizendo que na sociedade em que vivemos é difícil agir de acordo com a Palavra. Realmente é difícil, mas não é impossível. Tudo é uma questão de prioridades, de importância, de peso. Se me preocupo primeiramente com a maneira que desejo me sentir, com a turma que desejo andar, com a música que desejo ouvir, criarei um ídolo para mim e me tornarei como ele.
Não quero fazer a famosa distinção entre música secular e música gospel, pois acredito que esta não corresponda a atualidade. O fato é que quem compõe músicas coloca nas mesmas o que ele sente, e estes sentimentos são gerados em nossos corações ao ouvirmos. Assim, quando ouvimos uma música que fala de depressão, nos sentimos deprimidos, quando ouvimos uma música que fala de violência, ficamos violentos. E isto ocorre também com filmes, com livros, e assim por diante com as informações que recebemos de diversas mídias. O sentimento que estava no coração dos autores é gerado dentro de nós. Isto mostra os cuidados que precisamos ter com aquilo que assistimos e ouvimos, e, infelizmente, hoje em dia este cuidado não é só observar se o escritor/compositor se converteu ou não, até porque somente Deus pode dizer se alguém realmente converteu os seus caminhos ao Senhor. Vemos diversos cantores “gospel” incentivar em suas músicas somente o pedir para Deus e um relacionamento baseado em lucro pessoal, o ser melhor que os outros, e diversos outros tipos de sentimentos destrutivos. O cuidado é analisar realmente o tipo de mensagem e de sentimento que está por trás daquilo que assistimos e ouvimos e baseado nesta análise, a decisão: isto é para mim?
Semelhantemente preciso tomar cuidado com o tipo de lugar que tenho frequentado, e com quem tenho andado. Isto não é para se tornar uma acepção de pessoas, mas um convite para que eu seja o homem/mulher que Deus realmente criou, com ações condizentes com a de um filho de Deus, e não a pessoa que eu me torno para ser aceito em determinada turma. Assim, se um lugar é estabelecido para que as pessoas se prostituam, não é um lugar para mim, se um lugar é estabelecido para que os bons costumes não sejam praticados, não é um lugar para mim. Muitos dizem terem liberdade para escolher aonde ir, e isto de certa forma é uma verdade. Nosso Messias nos libertou, e deste modo temos liberdade de escolha entre estar com Deus e não estar com Deus. As minhas decisões tomadas diante desta liberdade definirão que deus realmente escolhi: o verdadeiro Deus, ou qualquer um outro.
E não se engane, somos mais fortes que o sistema. Recentemente li uma matéria que me chamou muita atenção. Embora não goste de novelas li alguma coisa a respeito de uma recente novela da Rede Globo que mostrava basicamente a má conduta governando. Esta emissora é conhecida por ditar moda entre o povo brasileiro, porém esta novela teve um alto índice de rejeição primeiramente pelos evangélicos que a boicotaram e por diversas famílias brasileiras que preferiram uma programação mais familiar oferecida por outras emissoras. Com baixíssimos níveis de audiência, o roteiro da novela foi alterado para que a mesma não fosse cancelada.
Assim não preciso me corromper para ser como o sistema, posso permanecer em Deus e ser a diferença. Só temos uma oportunidade de viver, e com isto apenas uma oportunidade de escolher louvar ao Senhor com nossa vida. Temos diante de nós uma escolha, e temos a oportunidade de escolher conquistada por Yeshua, e a força para escolher mediante o Ruach HaKodesh [Espírito Santo]. Mas ninguém irá escolher por nós, somente eu poderei dizer a que deus eu estou disposto a servir, e mais do que uma frase dita em um dia em que minhas emoções foram tocadas, esta escolha é feita a cada dia mediante as minhas atitudes.

“Não a nós, ADONAI, não a nós, mas a teu nome seja a glória” é a oração sincera de alguém que já fez a sua escolha. A escolha de quebrar o espelho que está a sua frente e o ídolo que está ao nosso lado para servir o verdadeiro Deus.