Existiam dois momentos importantes no ano agrícola do
antigo Israel: a colheita da cevada e a colheita do trigo e cada uma destas
datas ficaram marcadas por festividades perante o Eterno. A primeira
festividade era a Festa das Primícias que acontecia três dias depois do Pesach
[Páscoa] e era marcada pela entrega de um feixe de cevada.
“ADONAI
disse a Mosheh [Moisés]: ‘Fale ao povo de Yisra’el [Israel]: ‘Depois de
entrarem na terra que dou a vocês e colherem os grãos maduros, tragam um feixe
de primícias da colheita ao kohen
[sacerdote]. Ele moverá o feixe diante de ADONAI, para que vocês sejam aceitos;
o kohen o moverá no dia seguinte ao shabbat [sábado]. No dia em que moverem
o feixe, ofereçam um cordeiro sem defeito, de 1 ano, como oferta queimada a
ADONAI. A oferta de grãos será de 4 litros de farinha pura amassada com azeite
de oliva, uma oferta feita pelo fogo para ADONAI como aroma fragrante; a oferta
de bebida será de vinho, 1 litro. Não comam pão, grão seco ou grão verde até o
dia em que levarem uma oferta para seu Deus; este é um regulamento permanente
por todas as suas gerações, não importa onde vocês vivam.’”
(Vayikra [Levítico]
23.9-14 BJC [Bíblia Judaica Completa])
Este primeiro momento me faz refletir a respeito da
alegria no Senhor por tudo aquilo que temos recebido. Temos a tendência de
exigirmos cada vez mais, e não nos contentamos com aquilo que temos. Antes de
recebermos mais, precisamos primeiramente nos contentar com o que já recebemos.
A primeira colheita realizada era a colheita da cevada, que geralmente era
usada como ração animal. Ou seja, eles estavam festejando por algo que
receberam de Deus que não era exatamente o que precisavam para o seu próprio
sustento. E assim mesmo eram gratos.
É um sentimento semelhante a este que vemos em Sha’ul
[Paulo] quando escreve aos filipenses: “[...] aprendi a me contentar
independentemente das circunstâncias. Sei o que é passar necessidade e sei o
que é ter mais que o suficiente – em tudo e de todas as formas aprendi o
segredo de estar bem alimentado, com fome, ter abundância, ou passar
necessidade. Posso todas essas coisas naquele que me dá poder.” (Filipenses
4.11-13 BJC). Isto não significa que devemos ficar felizes em meio à
dificuldade, mas permanecermos firmes no Senhor, sabendo que é Ele quem nos dá
forças para enfrentarmos qualquer dificuldade que nos atinja.
Observe que a indicação do Senhor é que antes de
ofertarem ao Senhor, eles não poderiam comer o pão ou os grãos. Isto pode ser
comparado a nossa gratidão diária. Não temos o direito de desfrutar de nada sem
um coração grato ao Senhor. Precisamos aprender com David [Davi] que escreve:
“Bendirei ADONAI o tempo todo; Seu louvor estará sempre em meus lábios.”
(Tehillim [Salmos] 34.2(1) BJC).
Após esta oferta inicia-se o período conhecido como
Sefirat HaOmer, a Contagem do Omer, onde os filhos de Yisra’el contam 50 dias
até o início de Shavu’ot, a segunda destas festividades.
“Desde
o dia seguinte ao dia de descanso – isto é, desde o dia em que levarem o feixe
para ser movido – contem sete semanas completas, até o dia seguinte à sétima
semana; contém cinquenta dias; e então apresentem uma nova oferta de grãos a
ADONAI.”
(Vayikra 23.15-16
BJC)
Se na primeira festividade pensamos a respeito do
sentimento de gratidão, vejo neste período a confiança na provisão do Senhor. O
trigo ainda não havia sido colhido. Eles olhavam para os campos e viam sua
plantação crescendo, mas sabiam que a qualquer momento poderia vir sobre ela
pragas, ou alguma tempestade e destruir tudo. Porém, ao invés de dar lugar a
preocupação e a ansiedade, eles contavam os dias até a próxima oportunidade de,
entrando na presença do Senhor, agradecer ao Deus Todo-poderoso pela colheita.
Era uma contagem profética, pois mesmo sem terem colhido,
já planejavam entregar parte da mesma ao Senhor.
Isto nos leva a sondarmos nosso coração. Será que temos
tal confiança no Senhor? Será que podemos firmar com Deus um propósito e
confiarmos que Ele mesmo nos capacitará a cumprir o assumido? Deus é fiel e
tudo aquilo que prometeu ira se cumprir em nossas vidas.
Após estes 50 dias de contagem, chega a segunda
festividade.
“Levem pão de seus lares para o movimento –
dois pães feitos com 4 litros de farinha pura, assados com fermento – como
primícias para ADONAI. Com os pães, apresentem sete cordeiros de 1 ano sem
defeito, um novilho e dois carneiros; esses constituirão a oferta queimada para
ADONAI com seus grãos e oferta de bebida, uma oferta feita pelo fogo, como um
aroma fragrante para ADONAI. Ofereçam um bode, como oferta pelo pecado, e dois
cordeiros de 1 ano, como sacrifício de ofertas de paz. O kohen o moverá com o pão das primícias como oferta movida perante
ADONAI, com os dois cordeiros; esses serão sagrados a ADONAI para o kohen. No mesmo dia, façam uma
convocação sagrada; não realizem nenhum tipo de trabalho comum; este é um
regulamento permanente por todas as suas gerações, não importa onde vocês
vivam.”
(Vayikra 23.17-21
BJC)
A festa do Shavu’ot, ou festa das semanas marca a
colheita do trigo, que era o alimento humano básico. Esta festa, conhecida
também pelo nome grego de Pentecostes reunia mais uma vez os judeus de toda a
parte no templo para agradecerem a Deus pelo cumprimento de suas promessas.
Para o judeu de hoje, Shavu’ot também se comemora a
outorga da Torah [Lei, Pentateuco]. E
isto mais uma vez nos leva a algumas reflexões muito importantes.
Observe que diferente das ofertas da Festa das Primícias,
nesta segunda festa temos uma oferta pelo pecado e uma oferta de paz. Aliada à
recordação da outorga da Torah,
podemos aprender que para que a melhor maneira de desfrutar de tudo o que o
Senhor tem para nós é através de uma vida com o coração quebrantado diante de
Deus.
Todos somos pecadores. Este é um fato pregado por toda a
Bíblia. A diferença está em como lidamos com isto. Alguns preferem ignorar ou
simplesmente continuar vivendo e praticando tudo o que sempre fez. O que Deus
espera de nós, é o reconhecimento do pecado praticado e de nossas limitações, o
clamor pelo perdão e a busca por uma vida de acordo com os preceitos entregues
por Ele. É evidente que com nossas próprias forças jamais seremos capazes de
uma vida integra, mas precisamos sinceramente desejar esta vida e buscar no Ruach HaKodesh [Espírito Santo]
capacitação para sermos a cada dia mais parecidos com o que Deus planejou para
nós, sabendo que “o caminho da retidão é como a luz da aurora, reluzindo cada
vez mais até o amanhecer completo.” (Mishlei [Provérbios] 4.18 BJC).
Esta busca genuína gera em nós o fruto do Espírito,
conforme Sha’ul escreve aos romanos: “Sabemos que, até agora, toda a criação
geme, como se sentisse dores de parto; e não só isso, mas nós mesmos, que temos
os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente enquanto continuamos
esperando com ardor para sermos feitos filhos – isto é, termos o corpo redimido
e libertado.” (Romanos 8.22 e 23 BJC).
Deste modo, nossa vida é uma contagem do Omer. Ele começa
com o Pesach, a morte do cordeiro pascal, seguida pelas primícias. Neste
momento lembramo-nos do Messias que derramou seu sangue para que a morte não
tivesse domínio sobre nós, mas no terceiro dia ressuscitou como as primícias de
todos.
“Entretanto
a verdade é que o Messias ressuscitou dos mortos, as primícias dentre os
mortos. Pois a morte procedeu de um homem, e também a ressurreição dentre os
mortos proveio de um homem. Em conexão com a morte de Adam [Adão], todos
morrem; então, em conexão com o Messias, todos serão vivificados. No entanto, cada
um em sua ordem: o Messias é as primícias; a seguir os que pertencem ao
Messias, no tempo de sua vinda; então, na culminação, quando ele entregar o
Reino a Deus Pai, depois de ter dado fim a todo governo, sim, a toda autoridade
e poder.”
(1 Coríntions 15.20-24
BJC)
E a
partir do momento que nos entregamos ao Messias, contamos os dias para a
remição e libertação de nosso corpo. Neste processo de frutificação precisamos
ter a consciência que ao mesmo tempo em que o próprio Deus irá nos sustentar,
provendo a nós o que necessitamos, devemos abençoar aos nossos irmãos com
aquilo que o Senhor tem nos entregue e principalmente sem nos esquecer dos dons
e do fruto do Espírito, plantados em nossas vidas para sustentar aqueles que
nos cercam.