domingo, 30 de outubro de 2016

A mesa de Pessach [Páscoa] e a B’rit-Milah [Circuncisão]

“ADONAI disse a Mosheh [Moisés] e Aharon [Arão]: ‘Este é o regulamento acerca do cordeiro de Pessach [Páscoa]: nenhum estrangeiro deve comê-lo. No entanto, se alguém possui um escravo comprado com dinheiro, quando vocês o circuncidarem, ele poderá comer. Nem um viajante nem um servo contratado poderão comê-lo. Ele deve ser comido em uma casa. Vocês não devem levar nenhuma parte da carne para o lado de fora da casa, e não quebrem nenhum de seus ossos. Toda a comunidade de Yisra’el [Israel] deve guardar este regulamento. Se um estrangeiro que estiver com vocês desejar guardar a [festa de] Pessach de ADONAI, todos os seus homens deverão circuncidar-se. Assim, poderá tomar parte e guardá-la; ele será considerado um natural da terra. No entanto, nenhum incircunciso deve comê-lo. O mesmo ensino aplica-se de maneira idêntica ao natural e ao estrangeiro que vive entre vocês’. ”
(Sh’mot [Êxodo] 12.43 a 49 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Nesta mensagem quero falar sobre dois elementos da religião judaica: a mesa de Pessach e a b’rit-milah. É sempre difícil falar abertamente sobre a cultura e a religião judaicas, pois corremos o risco de ser mal interpretados. Isto ocorre devido ao número crescente de pessoas que buscam rituais religiosos, no lugar de uma verdadeira vida com Deus. Deste modo, antes mesmo de iniciarmos o estudo da passagem transcrita acima, quero deixar bem claro que não quero defender nem atacar aqueles que praticam a circuncisão. Antes, desejo ir a fundo no texto bíblico buscando o verdadeiro sentido desta prática.
            O texto que lemos acima é um dos inúmeros relatos entregues pelo Eterno a Mosheh [Moisés] a respeito de Pessach. Neste, ao invés de observar os sacrifícios ou o próprio Sêder [jantar de Pessach], o Senhor fala a respeito daqueles que se sentarão à mesa. Participar de Pessach implicava comer do cordeiro. E desde este fato, a simbologia começa a fazer sentido.
            Yochanan [João], ao ver Yeshua [Jesus], antes de imergi-lo [batizá-lo] diz: “Vejam! O Cordeiro de Deus! Aquele que tira o pecado do mundo! ” (Yochanan 1.29 BJC). Além disto, o texto que lemos indica que os ossos do cordeiro não poderiam ser quebrados, e Yeshua também não teve seus ossos quebrados durante seu sacrifício (Jo 19.33). Assim o cordeiro é o próprio Yeshua e assim, participar do Sêder de Pessach significa comer do próprio Yeshua, e, mesmo que isto soe um pouco estranho, foi ele mesmo quem falou enquanto ensinava na sinagoga de K’far-Nachum [Cafarnaum]: “Sim, eu lhes digo: a menos que comam a carne do Filho do Homem e bebam seu sangue, vocês não têm vida em si mesmos. Quem come minha carne e bebe meu sangue possui vida eterna – isto é, eu o ressuscitarei no último dia. Porque minha carne é verdadeira comida, e meu sangue, verdadeira bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue vive em mim, e eu vivo nele. Da mesma forma que o Pai vivo me enviou, e eu vivo pelo Pai, quem se alimenta de mim viverá por mim. ” (Yochanan 6.53 a 57 BJC).
            Deste modo, o mandamento que ADONAI passou através de Mosheh a toda comunidade de Yisra’el [Israel], e consequentemente a todo aquele que deseja uma vida na presença do Pai, para que todos guardem Pessach, é entendido hoje como participar de Yeshua e tê-lo participando de nós. Isto não é um absurdo se entendermos que durante a digestão do alimento que ingerimos, este se torna parte do nosso corpo, como dizem por aí: “Você é aquilo que come”. Aquilo que ingeri, é digerido em meu sistema digestório e o que é útil ao meu corpo é jogado na corrente sanguínea para que seja levado e aproveitado por cada órgão. O que comi passa a fazer parte de mim.
            Mas a mesa de Pessach não é para qualquer um. E o Senhor é incisivo com Mosheh a este respeito.
            O primeiro grupo a respeito do qual lemos que não tem permissão de participar desta mesa é formado pelos estrangeiros. Muitas conclusões erradas são feitas a partir destes versículos tanto pelos opositores dos judeus como pelos próprios judeus, que ao ler versículos isolados acreditam que aqueles que não fazem parte do povo não podem comer deste cordeiro. Porém não é isto que o texto inteiro diz. No versículo 48 lido por nós no início, o Senhor indica que aqueles que desejam participar desta refeição solene tem este privilégio, mas antes precisam passar pela b’rit-milah, e que depois da mesma seriam considerados naturais da terra, ou seja parte do povo de Deus. Deixarei para falar deste elemento mais para frente, mas o que podemos perceber aqui é que Deus convidou a todos a esta mesa, mas não podemos participar de qualquer jeito. Assim sendo tal regulamento não é exclusivismo, ou seja, um grupo de pessoas que deixam sistematicamente outros de lado, mas um convite a um compromisso real, e este aspecto faltava no grupo dos estrangeiros.
            Naquela época era comum as migrações por diversos aspectos, guerra e seca são alguns exemplos. Assim, o povo judeu que estava indo para sua terra deveria permanecer na mesma, confiando em Deus, não importa o que enfrentassem. Mas receberiam muitos estrangeiros que enquanto as condições lhes fossem favoráveis estariam vivendo entre o povo, mas quando estas mudassem, não hesitariam em mudar-se novamente.
            Portanto, tirar os estrangeiros da mesa não é uma atitude de preconceito ou sentimento de superioridade, mas um real alerta mostrando que ter Yeshua em nossa vida não é algo momentâneo, é para sempre ou nunca. Não é enquanto meus interesses forem atingidos, mas uma decisão para toda a minha vida.
            Um segundo grupo que fica de fora da mesa de Pessach são os servos contratados. Em muitos aspectos este grupo se assemelha ao primeiro, mas vejo algumas diferenças muito pertinentes. Reparem em primeiro lugar que o texto bíblico faz uma distinção entre o escravo comprado com dinheiro e o servo contratado. O primeiro deveria ser circuncidado e passaria a pertencer ao povo, independentemente de sua condição social. O segundo não. Percebo neste grupo aquelas pessoas que estavam no meio do povo pelo dinheiro. Provavelmente não possuíam vinculo algum com o povo, e nenhum envolvimento com o mesmo, o importante é que ao final do período recebessem a quantia acertada.
            Na mesa de Yeshua hoje, muito servos assalariados procuram seu lugar. Evidentemente não estou falando literalmente, mas figuradamente. O assalariado é aquele que não possui vínculo com o povo de Deus. Procuram o seu salário, a sua benção. É mais do que o estrangeiro que vive entre o povo para desfrutar daquilo que Deus deu a todos, é aquele que se excluí de tudo e busca sua parte no final. Vejo que para o estrangeiro existe a opção de fazer parte do povo, mas para este grupo tal oferta não existe. A cura vem para muitas pessoas e muitos são alcançados com os milagres de Deus. Mas a presença do Senhor não vem junto com a cura, e não é representada pelo milagre. Muitos foram curados por Jesus, mas somente doze andaram diariamente com ele.
            O cordeiro não é para membros destes dois grupos. O cordeiro é para os circuncisos. Mas, afinal, o que é a circuncisão?
            É a remoção cirúrgica do prepúcio, uma operação equivalente a operação da fimose. Uma prática comum entre árabes e judeus como descendentes de Avraham [Abraão], estabelecida pelo próprio Deus, conforme registrado por Mosheh:

“Deus disse a Avraham: ‘Quanto a você, guarde minha aliança, você e seus descendentes depois de você, geração após geração. Esta é a minha aliança, que vocês devem guardar, entre mim e vocês, com seus descendentes depois de você: todo homem entre vocês deve ser circuncidado. Vocês devem ser circuncidados na carne de seu prepúcio; este será o sinal da aliança entre mim e vocês. Geração após geração, todo bebê do sexo masculino entre vocês com 8 dias de vida deve ser circuncidado, incluindo os escravos nascidos em sua casa e os comprados do estrangeiro, que não descendem de vocês. O escravo nascido em sua casa e o adquirido com seu dinheiro devem ser circuncidados; assim, minha aliança estará em sua carne como uma aliança eterna. Todo homem não circuncidado, que não deixar circuncidar a carne de seu prepúcio – esse será eliminado de seu povo, pois quebrou minha aliança’. ”
(B’reshit [Gênesis] 17.9 a 14 BJC)

            A circuncisão como sinal da aliança entre Deus e os descendentes de Avraham iniciou-se nesta ocasião e hoje é chamada pelos judeus de b’rit-milah, ou seja, pacto da circuncisão. No capítulo 17 de B’reshit [Gênesis], de onde extrai os versículos acima, Deus prometeu que faria tudo, e isto é um sinal da graça de Deus, onde Ele age em nós sem esperar nada em troca. Como um sinal de que aceitou e confiou em tais promessas, Avraham circuncidou-se e a todos os seus, e neste pacto existem alguns aspectos muito importante de serem destacados:

1)    A responsabilidade é do homem: Avraham decidiu que se circuncidaria, ele não foi forçado a isto.
Ninguém pode ser forçado a estabelecer um pacto com Deus. Ou você decide por tal aliança, ou estará fora da mesma. Não dá para alguém estabelece-la por você. Deste modo, ninguém possui uma aliança com Deus devido a sua família, ou líder religioso, ou qualquer outro motivo. Tudo é entre você e Deus.
Da mesma forma, tal aliança é praticada no seu dia a dia, não em ocasiões especiais. O cordeiro precisava ser comido dentro das casas, e não poderia ser tirado das mesmas. Assim, sua aliança com Deus começa dentro de seu lar, no convívio diário com os seus, na sua casa, não em templos.

2)    Demonstra a fé na Palavra de Deus: Avraham realizou a circuncisão porque confiou naquilo que o Senhor prometeu a Ele.
Deste modo a circuncisão não é o meio pelo qual alcançaremos as bênçãos do Senhor, mas uma prova da confiança que temos na Palavra de um Deus fiel. E esta fidelidade não é manifestada através daquilo que ele operará em nós, mas naquilo que já foi feito por Yeshua.

3)    Identificação com o povo de Deus: A circuncisão era o sinal na carne da aliança com Deus.
Certa vez, em uma sala de teologia, eu ensinava que, em Atos 16, Sha’ul [Paulo] circuncidou o jovem judeu Timóteo, quando este último manifestou seu desejo de acompanhar o apóstolo, para não escandalizar os judeus que viviam naquela área. Naquele instante um aluno me questionou como é que os judeus saberiam que Timóteo não era circuncidado. Tal pergunta me levou a pensar. Provavelmente a maioria das pessoas não veria a circuncisão de Timóteo.
Mais para frente na história da humanidade, existem relatos que, durante a 2ª Guerra Mundial, na grande perseguição sofrida pelos judeus nas mãos dos nazistas, muitos homens foram reconhecidos como judeus durante exames médicos onde sua circuncisão ficava aparente.
Deste modo podemos concluir que a maior parte das pessoas não irão nem notar a aliança que temos com Deus, mas tal aliança deve me tornar uma pessoa diferente. E esta diferença poderá se tornar visível para aqueles que se atentarem aos detalhes sua minha vida.

4)    Nos afasta das impurezas: estudos comprovam que a circuncisão evita o acumulo de sujeira e é comprovado que a incidência de doenças sexualmente transmissíveis em circuncidados é menor.
Espiritualmente, nossa aliança com Deus nos mantém afastados do pecado. Ela não nos impede de pecar, mas deixamos de pecar por conta de nossa aliança com Deus.

5)    As outras pessoas nem sempre entenderão: Tzipporah [Zípora], a esposa de Mosheh, o chamou de esposo sanguinário (Ex 4.25) após a circuncisão de seus filhos.
Após a cerimônia de circuncisão de meu filho, minha esposa passou a orar a Deus para que não tivesse outro menino de tão impactante tão experiência foi para ela.
Talvez o mesmo ocorra com você. Nem todas as pessoas entenderão sua aliança com o Eterno. E elas não precisam entender. Você será chamado de estranho, de exagerado, talvez até de radical, mas independentemente disso sua aliança é com Deus, não com o homem.

            Somente uma pessoa circuncidada poderá participar da mesa do cordeiro. Mas, da mesma forma que comentei no início desta mensagem, não estou defendendo a circuncisão física. Você não precisa procurar um mohel [aquele que realiza a circuncisão] ou um médico para realizar tal cirurgia, afinal Sha’ul já nos disse:

“Porque a circuncisão tem valor se vocês se você fizer o que a Torah [Lei] diz. Entretanto, se você for um transgressor da Torah, sua circuncisão torna-se incircuncisão! Portanto, se um homem incircunciso guarda as exigências justas da Torah, não será sua incircuncisão considerada circuncisão? Na verdade, o homem fisicamente incircunciso que obedece à Torah condenará você, que, apesar de ter passado pela b’rit-milah e ter a Torah escrita, transgride a Torah! Porque o judeu de verdade não é apenas o exteriormente judeu; a circuncisão não é apenas exterior e física. Ao contrário, o judeu de verdade é quem o é interiormente; e a verdadeira circuncisão é a do coração, espiritual, não literal; para que seu louvor não proceda dos homens, mas de Deus”
(Romanos 2.25 a 29 BJC)

            Deste modo, a aliança que precisamos ter com Deus para participar de sua mesa não é um sinal exterior ou um conjunto de práticas exteriores. Não é uma vida religiosa, ou a participação em rituais religiosos. A aliança é a atitude de nosso coração em relação a Deus. Tal mensagem não contradiz nem um pouco Mosheh, pois ele mesmo diz: “Portanto, circuncidem o prepúcio do seu coração; e não sejam mais teimosos! ” (D’varim [Deuteronômio] 10.16 BJC).
            Tal aliança nos leva à mesa de Pessach, e estar à mesa não é somente um convite, mas uma ordenança a toda a comunidade, ou seja, não é possível rejeitar esta mesa, não tem como rejeitarmos tal aliança e continarmos fazer parte da Igreja do Senhor.

            Portanto, que nossa decisão seja a de guardar a aliança que temos com o Senhor. Aliança de estar em Sua presença, de nos guardarmos para Ele. Aliança que nos convida a sentarmos nesta maravilhosa mesa e termos Yeshua participando de nossas vidas.

domingo, 18 de setembro de 2016

Onde está o prumo de sua vida?

“Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado. ”
(Ya’akov [Tiago] 4.17 BJC [Bíblia Judaica Completa])

Nesta mensagem, gostaria de convidá-lo a meditar um pouco em cima deste versículo. A carta de Ya’akov [Tiago], foi escrita pelo irmão de Yeshua [Jesus] (Gl 1.19) e é considerada o livro dos Provérbios da B’rit Hadashah [Novo Testamento].
Seu autor, nem sempre foi um talmid [discípulo] de Yeshua. Durante todo o tempo que Yeshua andou entre nós, seus irmãos não criam nele (Jo 7.5). O viam apenas como um mágico ou ilusionista, por conta dos sinais e maravilhas operados, e aconselhavam a Yeshua que fizesse estas obras em Y’hudah [Judéia] para que se tornasse conhecido pelo público (Jo 7.3 e 4).
Porém, após a morte e ressurreição do Mashiach [Messias], este teve um encontro com Ya’akov (1 Co 15.7), onde este último deixou de enxergar a Yeshua apenas como seu irmão de sangue, mas como o Ungido do Senhor. Tal entendimento mudou completamente a vida de Ya’akov, que se tornou o líder da Comunidade Messiânica de Yerushalayim [Jerusalém] e de acordo com Sha’ul [Paulo], juntamente com Kefa [Pedro] e Yochanan [João], Ya’akov era uma coluna da Comunidade Messiânica (Gl 2.9).
A tradição diz que Ya’akov tornou-se um homem de oração e que era estimado pelos judeus da sua comunidade, devido a santidade de sua vida e a aderência rígida à moralidade prática da Torah [Lei], sendo chamado de “o Justo” por estes. Após ter sido apedrejado pela ordem do sacerdote Anano (JOSEFO), a tradição ainda diz que ao prepararem o corpo de Ya’akov para ser sepultado, perceberam que seus joelhos eram grossos como os de um camelo, devido ao tempo que passava ajoelhado intercedendo pela Comunidade Messiânica.
A carta de Ya’akov foi o único livro da Bíblia escrito por este homem de Deus e nos convida a colocar em prática aquilo que aprendemos do Senhor.
E é exatamente neste contexto que Ya’akov escreve o versículo que lemos logo acima. Ele escreveu os primeiros 87 versículos de sua epístola ensinando como agir de acordo com a vontade do Eterno, e termina a primeira seção de sua carta exortando sobre o que devemos fazer com o que aprendemos.
Ele diz “qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer”. E esta expressão me chamou muito a atenção nas últimas semanas. O que mais me surpreendeu é observar que estamos, como seres humanos, cada vez mais distantes de agir de acordo com o que sabemos que é o correto. Muito pelo contrário, temos escolhido nossas ações apenas preocupados com o que irão pensar a nosso respeito, a assim a moda atual é a procura da aprovação de homens. Nesta tendência, pensamos muito bem antes de falar, antes de postar ou compartilhar um comentário nas redes sociais, pensamos antes de agir, porém nossa preocupação não é fazer ou deixar de fazer algo porque é certo ou errado, mas simplesmente porque outra pessoa concorda ou discorda de tal ato ou palavra.
E quando tiramos o prumo de nossa vida das mãos de Deus e da Sua Palavra e o entregamos à sociedade que está a nossa volta, seja esta composta de membros da mesma comunidade eclesiástica que pertencemos, ou vizinhança, colegas de emprego, familiares, é o primeiro passo para que nossos caminhos se desviem daquele que foi traçado por nosso Criador.
E nesta vida desfigurada nos sentimos desmotivados a praticar o bem e muitas vezes procuramos motivadores para que pratiquemos o mal. Talvez à primeira vista nos consideremos inocentes desta acusação, mas é através das pequenas coisas que podemos observar o quão danosa e real esta tendência é para nossas vidas.
Veja um exemplo: Vamos imaginar uma mulher chamada Joana. Ela percebeu que quando se levantava de madrugada para orar, atingia um patamar de comunhão com Deus muito maior do que possuía anteriormente. Deste modo passou a acordar todas as madrugadas para se colocar em oração e observou que mediante tal atitude recebia respostas de Deus, conseguia ver o Senhor agindo em sua vida a através dela e isto a motivava a continuar diariamente colocando seu despertador para tocar.
Certo dia esta mulher passou a desejar que todos aqueles que estavam ao seu redor experimentassem de tamanha comunhão com o Pai, e passou a incentivar a todos a levantarem-se também de madrugada para orar. Cada dia que passava, conversava com cada vez mais pessoas dizendo a elas que se desejassem tal contanto com o Criador precisavam agir da mesma forma que ela. Muitos aderiram a tal posicionamento, mas com o passar do tempo Joana percebeu que muitos também ignoraram seus conselhos e até mesmo aqueles que haviam assumido o mesmo compromisso que ela, deixaram esta pratica de lado.
Joana se sentiu sozinha e aquilo que fazia com prazer, pois sentia que era algo realmente de Deus, passou a ser feito como um peso, pois afinal, ninguém entendeu esta visão do Senhor. Por fim, toda aquela comunhão com Deus que havia adquirido inicialmente, foi sendo substituída por sentimentos de abandono e inutilidade até que Joana deixou de acordar nas madrugadas.
            Sentimentos como este se repetem naquele que foi curado após dar uma certa quantia de oferta e prega que para que você seja curado deve entregar a mesma oferta. Ou por aquele que comprou uma casa após determinado tempo de campanha e quer te convencer que você só comprará a sua casa se cumprir o mesmo propósito com Deus.
            Mas o que todos precisamos entender é que existem alguns princípios bíblicos onde o próprio Deus, através dos escritores de cada um dos livros da Bíblia, ensina a todos a colocar em prática. E existem práticas particulares dadas por Deus a alguns de nós que precisam ser colocadas em prática apenas por estes a quem foram entregues.
            Assim, se recebi uma estratégia da parte de Deus, seja orar pelas madrugadas, dar determinada quantia em oferta, fazer uma campanha, ou qualquer outro propósito que assumo com o Pai, preciso entender que isto é para mim. Posso até contar meu testemunho e este incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo, mas meu foco não deve estar no que os outros estão fazendo, mas naquilo que sei que Deus requereu de mim.
            Sendo assim o que mais deve nos motivar a continuar praticando o bem que conhecemos é saber que agindo assim estaremos agradando nosso Pai Celestial e cada vez mais parecidos com Seu Filho Yeshua.
            Mas além de corrigir nossa motivação à prática do bem, precisamos bloquear em nossas vidas tudo aquilo que nos incentiva a praticar o mal, mesmo aquilo que nós mesmos erigimos.
            Não é difícil encontrarmos em nós situações onde a prática do mal é mais prazerosa do que a do bem. E tal situação se agrava quando passamos a buscar tais prazeres. O fato é: o mal nos atrai. O próprio Ya’akov diz que “cada pessoa é tentada ao ser arrastada e atraída pelo engano de seu desejo” (Ya’akov 1.14 BJC). Mas também nos exorta dizendo: “submetam-se a Deus. Além disso, resistam ao Adversário, e ele fugirá de vocês. ” (Ya’akov 4.7 BJC).
            Muitos, porém, ao invés de submeterem-se ao conselho acima, desejam o mal, como todo ser humano, mas colocam como fonte de sua satisfação pessoal a prática do mesmo, e para não se sentirem constrangidos diante dos outros, passam a convencer aqueles que o cercam que tal atitude não é incorreta. Alguns vão até mais longe e cercam-se de pessoas que praticam as mesmas coisas, pensando que se todos estão fazendo o mesmo, não deve ser errado.
            É a respeito destas pessoas que Sha’ul escreve a Timóteo, seu talmid: “Porque vem o tempo em que as pessoas não terão paciência com o ensino sadio, mas proverão meios para satisfazer suas paixões e reunirão em torno de si mestres que dirão tudo que lhes faz as orelhas coçar. ” (2 Timóteo 4.3 BJC). Estes tempos chegaram e cada vez mais as pessoas têm reunido ensinadores de injustiça ao seu redor.
            Assim se me apaixonei por outra mulher e desejo deixar minha esposa procuro aqueles que dizem que tenho este direito. Me aproximo de pessoas que por diversos motivos já se divorciaram e casaram-se novamente, e já não me sinto tão culpado por abandonar minha família. E se a igreja que estou prega contra o divórcio, vou para uma que apoia, pois afinal, se o pastor ou a sociedade autorizar minhas ações, quem é Deus para questioná-las?
            Este exemplo pode ser expandido para cada uma das tentações que somos expostos diariamente: para que manter-se virgem até meu casamento se a sociedade já aboliu esta pratica? Para que falar sempre a verdade se mentir se tornou algo comum para até mesmo isentar-nos da responsabilidade de nossas ações? E diversos questionamentos, alguns até mesmo polêmicos, que a Bíblia ensina algo e a sociedade deseja que tomemos por normal agir contra estes ensinamentos.
            O fato é que não importa o tempo em que vivemos e nem o pensamento comum da sociedade atual, o que a Bíblia ensina continua valendo, independentemente do número de pessoas que concordam com ela. E o bem que devemos praticar é definido pelas Sagradas Escrituras.
            Como certa vez alguém disse: “O errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo. O certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo.”


Apeguemo-nos, pois, a tudo aquilo que a Palavra nos ensina, entregando o prumo de nossa vida nas mãos do Senhor, e colocando o agradar a Deus como nossa principal fonte de motivação para agir. 

domingo, 14 de junho de 2015

A cruz de Yeshua em minha vida

“Pois enquanto ainda estávamos sem esperança, nesse tempo exato o Messias morreu a favor dos ímpios. É raríssimo alguém entregar a vida em prol de uma pessoa justa, ainda que seja possível que por uma pessoa boa alguém tenha coragem de morrer. Deus, porém, demonstra seu amor por nós no fato de o Messias ter morrido a nosso favor enquanto ainda éramos pecadores. Portanto, pelo fato de agora sermos considerados justos mediante o sangue da morte decorrente do sacrifício, quanto mais seremos libertados da ira do juízo de Deus, por meio dele! Pois, se fomos reconciliados com Deus por meio da morte de seu Filho, enquanto éramos inimigos, quanto mais agora seremos libertados apenas no futuro, uma vez que fomos reconciliados! E não seremos libertados apenas no futuro, mas confiamos em Deus agora, pois ele agiu por intermédio de nosso Senhor Yeshua, o Messias, por meio de quem recebemos essa reconciliação. ”.
(Romanos 5.6 a 11 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Em nossa cultura ocidental, com todo sincretismo religioso e cultural, muitas vezes enxergamos a cruz apenas como um símbolo de uma religião ou a marca de uma igreja. Para muitos chega a ser um sinal ofensivo, para outros um símbolo tão comum que se passa até mesmo despercebido no meio de tantas informações que recebemos através de nossos sentidos.
            Mas a cruz é muito mais que o símbolo de uma determinada religião ou apenas mais uma informação que nos é passada. A cruz demonstra o amor de Deus por cada um de nós.
            Tal demonstração de amor deve gerar em nós algumas reflexões: de que modo somos afetados por este amor? Que tipo de escolhas temos diante dele? Como agir diante de tamanho amor? Nesta mensagem gostaria de convidá-lo a, juntamente comigo, refletir a respeito da cruz do Messias.
            Em primeiro lugar não consigo conceber a ideia de que não existe um Criador. Embora a comunidade de ateus e agnósticos esteja crescendo nos dias de hoje, quando olho para tudo o que existe: animais, plantas, planetas e estrelas, só consigo ver as mãos de Deus por traz de todas estas coisas. Sei que muitos zombam deste posicionamento, mas é difícil conceber a ideia do surgimento da vida como um mero acaso, quando a demonstração de tal fato exige um mecanismo complexo criado por um homem inteligente, como ocorre com o experimento de Miller.
            Sha’ul [Paulo] diz em sua carta aos romanos: “Desde a criação do Universo, [as] qualidades invisíveis [de Deus] – seu poder eterno e sua natureza divina – são claramente vistas, pois elas podem ser entendidas mediante as coisas que ele criou” (Romanos 1.20 BJC). Deste modo, em maior ou melhor escala, Deus é conhecido por todos, porém a maioria de nós rejeita ou já rejeitou tal conhecimento.
            A fonte de tal rejeição é a aversão ao fato de que se fomos criados por Deus, de que temos um proposito, um caminho a ser traçado, um alvo a ser alcançado. E não desejamos viver de acordo com as regras já estabelecidas. Queremos criar nossas próprias regras, viver do nosso jeito, e, do mesmo modo que as crianças fazem com seus pais, ficamos desafiando os limites que nos foram impostos, talvez inconscientemente esperando uma consequência, e quando esta não vem, nos afundamos cada vez mais no pecado, que nada mais é do que errar o alvo que foi estabelecido por Deus.
            Nesta postura de desafiar a Deus, de declarar independência a Ele e agir como se Deus não existisse ou simplesmente de ignorar tudo aquilo que é o alvo de Deus para nossas vidas, nos tornamos inimigos de Deus. Não é Ele que se torna nosso inimigo e se opões a nós; somos nós quem tomamos um posicionamento contrário ao Eterno, e tal posicionamento nos afasta daquele quem nos amou primeiro.
            Certa vez ouvi alguém argumentar que se Deus realmente nos ama, Ele permitiria que fizesse o que desejássemos para buscar a nossa felicidade. Tal pensamento não é de todo real. Realmente Deus nos ama e consequentemente deseja que estejamos em Sua presença eternamente. Porém Ele não irá nos obrigar a uma vida em Sua presença e nos deu direito de escolher entre estar ou não com Ele, e, para que pudéssemos fazer tal escolha, nosso Pai sinalizou o caminho que deveríamos traçar para que O encontrássemos, este é o nosso alvo.
            Mas na busca de nossos próprios interesses, abandonamos este caminho, andando cada vez mais para longe de Deus. E é neste momento que a maior prova do amor de Deus por nós foi feita. Longe dele, sem nenhuma atitude que pudesse contar em nosso favor, muito pelo contrário, agindo abertamente e conscientemente contra ao nosso Criador, Ele enviou Yeshua [Jesus] para morrer por nós, e desta maneira, mesmo sem nenhuma ação de nossa parte que conte a nosso favor, mediante tal sacrifício somos considerados justos por Deus e reconciliados com nosso Pai.
            Assim, antes da cruz de Yeshua, só tínhamos diante de nós o caminho escolhido pelo primeiro homem Adam [Adão] e traçado por toda a humanidade que nos levava cada vez mais para longe do Senhor. Após a mesma foi colocado diante de nós outro caminho, na realidade uma escolha: podemos continuar buscando nossos próprios interesses e sendo as pessoas que desejamos ser e caminhar para longe do Senhor, ou podemos nos render a tal amor e, direcionando-nos para Deus, buscar o alvo que foi estabelecido para nós.
            Esta escolha é o que denominamos conversão, pois é nesse momento que convertemos nossos caminhos para o caminho estabelecido por Deus. Isto significa que nos convertermos não é ingressarmos em uma determinada religião, antes disto, agirmos de acordo com a vontade do Senhor.
            Muitos usam a religião como desculpas para as vidas medíocres de desejam continuar vivendo, e o pior, tentam usar Deus e a Sua Palavra como desculpas. Não é raro encontrar pessoas dizendo que podem fazer qualquer coisa pois em Yeshua são livres. Mas converter nossos caminhos ao Senhor não significa adquirir liberdade. Conforme mencionei anteriormente, o sacrifício de Yeshua nos deu liberdade de escolher entre estar ou não com o Senhor. Após esta escolha não tenho mais liberdade de fazer o que desejo, preciso agir de acordo com o que escolhi.
            São minhas ações que colocarão em prática a minha escolha. Se dirigindo meu carro, pego a estrada na direção do Rio de Janeiro, não adianta somente desejar ir para São Paulo, meu destino será outra cidade. Quando percebo que estou na direção incorreta, preciso fazer um retorno para ir até o destino que procuro. Deste modo, não adianta escolher estar com Deus, frequentar uma igreja, participar de todos os rituais oferecidos pela mesma, mas continuar a agir diferente do padrão estabelecido pela Bíblia. Como mais uma vez Sha’ul diz: “Porque não são os meros ouvintes da Torah a quem Deus considera justos; antes, são os praticantes do que a Torah diz considerados justos à vista de Deus. ” (Romanos 2.13 BJC).
            Desde modo, quando, pela cruz, tenho contato com o amor do Senhor, e mediante tal amor tomo a decisão de mudar minha rota, tal mudança é estabelecida mediante a busca por ser uma pessoa diferente.

“Por isso, façam morrer as partes terrenas de sua natureza: imoralidade sexual, impureza, lascívia, desejos maus e ganancia (uma forma de idolatria). Por causa dessas coisas, a ira de Deus está vindo sobre os que lhe desobedecem. É verdade que vocês praticaram essas coisas em sua vida pregressa, mas, agora, livrem-se delas: ira, irritação, mesquinhez, calúnia e linguagem indecente. Nunca mintam uns aos outros, porque vocês já se despiram do velho ‘eu’, com suas formas de agir, e se revestiram do novo ‘eu’, que é continuamente renovado em conhecimento mais abrangente, cada vez mais perto do Criador. O novo ‘eu’ não dá margem para discriminação entre gentio e judeu, circunciso e incircunciso, estrangeiro, selvagem, escravo e livre, ao contrário, o Messias é tudo em todos. ”
(Colossenses 3.5 a 11 BJC)

            Não somos convidados a pertencer a um grupo religioso, mas a agir de modo diferente. O agir é superior à religião. Não podemos perder o foco: quem nos reconcilia com Deus é Yeshua, mas, uma vez reconciliados, passamos a viver uma vida diferente, uma vida que busca colocar em prática o padrão do Senhor para nós, e uma vez neste processo, passamos a congregar com outros que, assim como nós, decidiram converter seus caminhos a Deus, de modo que possamos nos auxiliar mutuamente a alcançar o alvo estabelecido pelo Eterno a cada um de nós. É por isto que o autor da carta aos Judeus messiânicos [Hebreus] diz: “E mantenhamos a atenção dada uns aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas ações; não negligenciemos nossas reuniões congregacionais, como fazem alguns; ao contrário, procuremos nos encorajar” (Judeus messiânicos 10.24 e 25 BJC).
            Uma vida sem mudança é o sinal de que não houve conversão, apenas emoção. É uma vida que continua caminhando longe do Senhor e para longe dEle.
            Mas, deixar de praticar o mal não é a única coisa que precisamos ao convertermos nossos caminhos ao Senhor. É preciso ir além disto: precisamos praticar o bem. Conforme aprendemos com Sha’ul: “Porque somos feitos por Deus, criados em união com o Messias Yeshua para a vida de boas ações já preparadas por Deus para serem realizadas por nós. ” (Efésios 2.10 BJC).
            Praticar o bem é um pré-requisito para vivermos a vida que nosso Senhor tem para nós. “A observância religiosa que Deus, o Pai, considera pura e irrepreensível é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar contaminar pelo mundo. ” (Ya’akov [Tiago] 1.27 BJC). “Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado. ” (Ya’akov 4.17 BJC).
            O melhor diagnostico que existe para nossa fé são as nossas ações. São elas que nos dizem se estamos com Deus apenas em palavras ou se verdadeiramente estamos com Deus. Nossas decisões e nossas ações devem ser regidas pela nossa decisão de estar com o Senhor.

            Portanto, saiba que o Senhor te ama a ponto de entregar Yeshua para morrer em seu lugar. Este sacrifício nos deu a oportunidade de escolher caminhar ao encontro de Deus ao invés de nosso antigo caminho que nos levava para longe dEle. Andar por este caminho implica sermos pessoas diferentes que reprimem seus maus desejos e buscam praticar as boas ações criadas por Deus para nós.

domingo, 7 de junho de 2015

O Temor do Senhor

“Venham, crianças, atentem para mim; eu as ensinarei a temer ADONAI. Quem de vocês tem prazer em viver? Quem deseja uma vida longa para ver coisas boas? [Se assim for, ] mantenham sua língua afastada do mal, e seu lábios, de conversas enganadoras. Desviem-se do mal e façam o bem; busquem a paz e sigam-na! Os olhos de ADONAI assistem os justos, e seus ouvidos estão abertos a seu clamor. Mas o rosto de ADONAI se opõe aos que praticam o mal, para exterminar-lhes a memória da face da terra”.
(Tehillim [Salmos] 34.12 a 17 (11 a 16) BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Escutamos muito a expressão: “temor do Senhor”, mas compreendemos muito pouco o que ela representa. Desta forma, gostaria de compartilhar um pouco a respeito do que tenho aprendido a respeito deste tema, esperando que o Senhor possa ministrar no coração de todos os que lerão esta mensagem.
            Nos versículos que coloquei acima, vemos David [Davi] se propondo a ensinar a seus leitores a temerem ao Senhor. Ele estava vivendo um momento muito difícil em sua vida, afinal Sha’ul [Saul] desejava mata-lo, e, sob a orientação de seu amigo Y’honatan [Jônatas], David fugiu e procurou ajuda de Akhish [Aquis], rei de Gat [Gate], que encarou a visita como agressiva. Para escapar da ira do rei, David se faz de louco, e consegue sair em segurança. Assim, ele escreve Tehillim [Salmo] 34, para louvar ao Senhor pelo livramento e incentivar a todos a viverem uma vida na presença de Deus.

“Experimentem, e veja que ADONAI é bom. Abençoados são os que nele se refugiam! Temam ADONAI vocês, separados dele, pois aos que o temem nada lhes falta. ”
(Tehillim 34.9 e 10 (10 e 11) BJC).

            David sabia o que era temer ao Senhor, e desejava que outras pessoas pudessem desfrutar daquilo que estava vivendo, assim além de incentivar a todos a experimentarem uma vida com Deus, ele se propõe, como vimos antes, a ensinar a todos a esta vida.
            Assim, primeiramente, o que significa temor? No hebraico, a palavra traduzida como temor é יראה (yir’ah), que além de temor, pode significar reverência moral, pavor. Porém, tratando-se do temor para com Deus, ele é visto como uma qualidade positiva: uma confiança reverente no Senhor, que acaba levando a uma espécie de ódio ao mal.
            De certo modo, temor significa medo, mas não um medo descontrolado, representa um profundo respeito. É um sentimento parecido com o que temos ao estarmos diante de uma autoridade, como um policial, por exemplo. Quando somos parados em uma blitz de trânsito, olhamos o policial, respeitamos a sua função e sabemos que se não estivermos dentro da lei ele poderá nos prejudicar. Chegamos a, inclusive, recear que ele encontre algo errado em nossos veículos. Não é um pavor incontrolável, ou uma fobia, mas um profundo respeito e um medo de ser encontrado uma falha em nós. Se possuímos a certeza de que está tudo correto conosco e com nosso automóvel, ficamos tranquilos.
            O mesmo ocorre por exemplo quando estamos fazendo uma prova na escola. Estamos sob o olhar de professores, ou aplicadores de prova. Se estamos resolvendo a mesma dentro das regras estabelecidas, ficamos tranquilos em relação à fiscalização que estamos sujeitos, mas se estamos colando, ou usando um material não autorizado, ficamos receosos de sermos pegos. Mais uma vez, este sentimento não é uma fobia, nunca vi ninguém sair correndo de um aplicador de prova, mas um respeito profundo por aquela função, aliado a um incomodo quando não estamos agindo de acordo com o esperado.
            A este sentimento denominamos temor, e aplicado ao Senhor ele possui o mesmo significado. Temer ao Senhor é respeitarmos ao Senhor e reconhecer quem é Deus e quem somos nós, é sabermos ficar no nosso lugar. Temer ao Senhor é saber qual é o lugar de Deus em nossas vidas, é um sentimento que permite que nos relacionemos adequadamente com nosso Criador.

“a sabedoria é, em primeiro lugar, o temor a ADONAI; todos os que vivem por ela adquirirão bom senso. ”
(Tehillim 111.10 BJC)

            O temor do Senhor dá início à sabedoria. Esta é a arte de viver, e existem três elementos importantes em nossa vida:







            Assim a sabedoria é saber viver bem com estes três elementos de nossas vidas. Preciso saber viver na presença de Deus, sabendo que ela é constante em minha vida, preciso saber viver bem com todos aqueles que estão ao meu lado, independente de qual seja o ambiente, e preciso saber viver bem comigo mesmo. Uma pessoa só pode ser considerada sábia se aprendeu a arte de viver nestes três fundamentos de nossas vidas.
            De acordo com a Bíblia tal arte de viver começa no temor do Senhor. E é por isso que David pergunta se temos prazer em viver, e se desejamos uma vida longa. E, como provavelmente todos respondem a estas perguntas de modo afirmativo, ele inicia o seu ensino de como podemos temer ao Senhor.
            Primeiramente somos alertados a “mantermos a língua afastada do mal e os lábios de conversas enganadoras” (Tehillim 34.14 (13) BJC). Note que o conselho é o mesmo que Ya’akov [Tiago] escreve séculos mais tarde:

“Alguém que se considera observante da religião e não controla sua língua está enganando a si mesmo, e sua observância não vale nada. ”.
(Ya’akov [Tiago] 1.26 BJC)

            Quem teme ao Senhor cuida daquilo que fala. Não fala tudo aquilo que pensa, mas pensa antes de falar. Nossas palavras podem destruir ou edificar alguém, depende do modo que as proferimos. Este é um princípio importante para aqueles que querem viver bem com o outro.
            Em segundo lugar, David nos ensina a “nos desviarmos do mal” (Tehillim 34.15 (14) BJC). O conselho da palavra não é que resistamos ao mal, mas nos desviarmos dele. Muitos querem bancar os fortes, ficar ao lado do mal e dizer que não serão afetados, mas esquecem dos ensinamentos de Sha’ul [Paulo]:

“Por isso, fuja das paixões da juventude”
(2 Timóteo 2.22 BJC)

            Temos a tendência a praticar o mal a cada dia de nossas vidas, e conviver com ele irá primeiramente cauterizar a nossa consciência (1 Tm 4.2). Isto significa que passamos a ver o mal como algo comum. Em segunda instancia, aquilo que julgamos comum passa a ser praticado por nós.
Não somos sectários, nem melhores do que os outros, mas “Não sejam enganados. ‘Más companhias estragam o bom caráter”. (1 Coríntios 15.33 BJC). Amamos as pessoas e consequentemente queremos estar com elas, mas não precisamos estar juntos enquanto praticam o mal.
            Se você conhece alguém com vício em bebida alcoólica, por exemplo, com certeza irá conversar com ela, e se relacionar muito bem com a mesma, mas não desejará estar com ela em um bar vendo-a passar dos limites e prejudicar a si mesma neste processo.
            Mas apenas se afastar do mal não é o suficiente, somos alertados a “fazer o bem” (Tehillim 34.15 (14) BJC).

“com os que invocam o Senhor com o coração puro, siga em busca da justiça, da fidelidade, do amor e da paz”.
(2 Timóteo 2.22 BJC)

“Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado. ”
(Ya’akov 4.17 BJC)

            Somos chamados para fazer o bem. Tudo o que temos no Senhor é somente mediante à Sua graça, mas fomos criados “para a vida de boas ações já preparadas por Deus para serem realizadas por nós” (Efésios 2.10 BJC). Assim, se não praticamos o bem, estamos pecando, ou seja, estamos fora errando o alvo estabelecido por Deus para nossas vidas.
            Deste modo, temer a Deus é aprender a viver em Sua presença e se relacionar com Ele diariamente, e através deste relacionamento, tratarmos aos outros e a nós mesmos de uma maneira digna. Aqueles que temem ao Senhor eram consideradas nos tempos bíblicos pessoas fiéis e confiáveis, pois o temor as levava a crer e agir segundo princípios morais (Ex 1.17,21; 18.21). Temer ao Senhor implica em guardar seus mandamentos (Dt 6.2).

            Temer a Deus é viver cada instante de nossas vidas sabendo que Ele está presente em nossos dias, e, mais do que um medo de ser encontrado em falta, está o desejo de desfrutar de tudo aquilo que o Senhor tem para aqueles que estão em Sua presença.