domingo, 24 de fevereiro de 2013

Santificação – A Bacia de Bronze



“ADONAI disse a Mosheh [Moisés]: ‘Faça uma bacia de bronze, com a base de bronze, para lavagem. Coloque-a entre a tenda do encontro e o altar, e ponha água nela. Aharon [Arão] e seus filhos lavarão as mãos e pés ali, quando entrarem na tenda do encontro – eles devem lavar-se com água para não morrerem. Também, quando se aproximarem do altar para ministrar pelo fogo uma oferta a ADONAI, eles devem lavar as mãos e pés, para não morrerem. Esta deve ser uma lei perpétua para eles em todas as gerações’.”
(Sh’mot [Êxodo] 30.17 – 21 BJC [Bíblia Judaica Completa])

“Fez a bacia de bronze e a base de bronze com os espelhos das mulheres que serviam à entrada da tenda do encontro.”
(Sh’mot 38.8 BJC)

            Nestes dois trechos lemos a respeito da Bacia de Bronze, um dos objetos que estavam no Tabernáculo construído pelo povo de Deus no deserto, após a libertação do cativeiro egípcio. No primeiro deles lemos a ordem do Senhor a Mosheh [Moisés] a respeito da construção da mesma e no segundo lemos a construção propriamente dita. Assim como o próprio tabernáculo e todos os outros utensílios, a bacia de bronze era uma cópia, ou sombra, de uma bacia existente nos céus (Hb 8.4 – 6). Isto não quer dizer que teremos necessariamente nos céus um tabernáculo com uma bacia de bronze e todos os demais utensílios, mas que a construção desta bacia de bronze tipificava uma verdade celestial que nosso Deus desejava implementar em meio ao seu povo e a todos nós.
            A bacia de bronze era um lugar de purificação, onde os sacerdotes se lavavam antes de entrarem na tenda e chegarem diante de Deus. A ordem do Senhor foi bem clara que eles deviam se lavar antes de entrar na tenda do encontro e quando se aproximarem do altar de holocausto para ministrar uma oferta ao Senhor.
            A Tenda do Encontro representa o encontro do homem com seu Deus, e o altar de holocausto nossa consagração ao Senhor. Deste modo para que possamos entrar na presença de Deus, precisamos nos purificar de todo o pecado e antes de apresentar qualquer tipo de oferta ao Senhor, precisamos olhar para nós mesmos e com humildade orarmos: “Examina-me, Deus, e conhece meu coração; testa-me, e conhece meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho danoso e guia-me pelo caminho eterno.” (Tehillim [Salmos] 139.23 e 24 BJC). Yeshua [Jesus] nos ensinou que “se você apresentar uma oferta no altar do templo e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta junto ao altar e faça as pazes com seu irmão. Então, volte e apresente sua oferta.” (Mattityahu [Mateus] 5.23 e 24 BJC). Se precisamos nos portar assim em relação ao nosso irmão, quanto mais em relação ao Criador de todas as coisas.
            Sh’mot [Êxodo] 29 nos ensina que quando os sacerdotes eram consagrados se banhavam com água. Depois disto quando iam ministrar ao Senhor lavavam suas mãos e pés. Isto nos leva a um raciocínio bastante interessante: cada um de nós que aceitamos o sacrifício de Yeshua em nosso lugar já foi declarado por ele como santo. Sha’ul [Paulo] escrevendo aos Coríntios diz que: “A comunidade messiânica de Deus [...] que consiste nos que foram separados por Yeshua, o Messias” (1 Coríntios 1.2 BJC), ou seja, cada um de nós já fomos feitos santos por Yeshua. Não importa o que as pessoas dizem a seu respeito, se você já entregou sua vida a Yeshua, você é santo.
            Mas o mesmo Sha’ul desenvolve este raciocínio dizendo: “Desse modo, considero uma regra, um tipo de “Torah” perversa, que, apesar de eu desejar fazer o que é bom, o mal está bem ali comigo! Porque, no eu interior, concordo totalmente com a Torah [Pentateuco, ensino, Lei] de Deus, mas nos meus membros, vejo uma “Torah” diferente, que batalha contra a Torah da minha mente, tornando-me prisioneiro da “Torah” do pecado que opera em meus membros. Que criatura miserável eu sou! Quem me salvará deste corpo sujeito à morte? Graças a Deus, ele o fará! Por intermédio de Yeshua, o Messias, nosso Senhor! Em resumo: com minha mente, sou escravo da Torah de Deus; mas em relação à minha velha natureza, sou escravo da “Torah” do pecado.” (Romanos 7.21 – 25 BJC).
            Podemos concluir através destes textos que mesmo tendo sidos santificados por Yeshua, nosso viver ainda não é totalmente santo. Assim, ao longo de nossa caminhada devemos lutar para que nosso caráter seja moldado de acordo com o padrão de Deus. É uma luta constante, que consome muita energia, mas uma batalha que deve pertencer ao nosso dia a dia, como mais uma vez Sha’ul diz: “Portanto, queridos amigos, por termos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que pode contaminar o corpo ou o espírito e esforcemo-nos para nos tornarmos completamente santos, por reverência a Deus.” (2 Coríntios 7,1 BJC). Esta busca pela santificação pode ser ilustrada com o aproximar-se da bacia de bronze, o local de purificação, de santificação.
            É interessante observamos que esta bacia é feita de puro bronze. O bronze na Bíblia lembra a purificação, símbolo da justiça, pedindo o julgamento do pecado ou o julgamento da impureza. Como nossa purificação foi feita por Yeshua, a Bacia de Bronze representa o próprio Yeshua, e a santificação é o processo que o Messias opera em nós quando nos chegamos até Ele.
            Nesta Bacia deveriam ser lavadas as mãos e os pés. Nossos pés representam nosso caminhar, onde temos andado. Lavar nossos pés representa a purificação de nossos caminhos, nos ensina que Yeshua deseja moldar nosso caminhar. Precisamos aprender a andar como Ele andou.
            Nossas mãos representa aquilo que fazemos, nosso serviço. Lavar nossas mãos representa a purificação de nossas ações, nos ensina que Yeshua deseja moldar o nosso agir. Precisamos aprender a agir como Ele agiria em nosso lugar.
            Outro ponto importante a observarmos é que a bacia de bronze foi feita com os espelhos das mulheres que serviam à entrada a tenda do encontro. O bronze era polido e passava a refletir como um espelho. Isto me lembra das palavras de Ya’akov [Tiago]: “Quem ouve a Palavra, mas não faz o que ela diz, é como uma pessoa que olha sua face em um espelho, observa-se nele, vai embora e imediatamente esquece da sua aparência.” (Ya’akov [Tiago] 1.23 e 24 BJC). A Bacia representa Yeshua, que é a própria Palavra de Deus. Quando lemos ou ouvimos a Palavra de Deus precisamos enxergar nossas vidas refletidas através dela. Quando nos olhamos em um espelho, uma das primeiras coisas que observamos é aquilo que está errado em nossa aparência. O mesmo devo ocorrer quando lemos a Bíblia, precisamos observar o que está errado em nosso agir. E isto não é para nos humilhar, mas para nos corrigir.
            Ultimo ponto interessante é que dentro da Bacia de Bronze existia água para fazer a purificação. Sabemos que “o Messias amou a comunidade messiânica e, de fato, entregou-se a favor dela, a fim de separá-la para Deus, como que purificando-a mediante a imersão na mikveh [banheira ou piscina com um influxo de água, usado no judaísmo ortodoxo até o dia de hoje para rituais de purificação]” (Efésios 5.25 e 26 BJC). A água como agente purificador representa a Palavra de Deus. O próprio Deus nos santifica através de Sua Palavra.
            Através da Bíblia, Deus não apenas aponta nossos erros, mas quando nos arrependemos deles e nos esforçamos para sermos diferentes, nosso Pai celestial usa da Bíblia para nos purificar. Ele age em nós, nos moldando de acordo com a Sua vontade (Jr 18.1 – 6).

“Considerem que a palavra de Deus é viva! Ela está atuante e é mais afiada que qualquer espada de dois gumes – corta até o ponto de junção da alma com o espírito, juntas e medulas, e julga as reflexões internas e intensões do coração.”
(Judeus messiânicos [Hebreus] 4.12 BJC)

            Através de Sua Palavra, quando nós nos entregamos totalmente diante do Senhor, Ele nos revela quais são nossas reais intensões. Ele nos limpa do pecado, mesmo quando este ainda está em nossa mente. E tudo isto através de Yeshua, a Palavra de Deus, a Água (Jo 7.37), a Bacia de Bronze. Tudo o que nós precisamos fazer é aproximarmo-nos dele com o coração sincero e arrependido, e verdadeiramente nos banharmos nesta água.

Uma das lendas (não bíblicas) a respeito de Abraão



Nosso Profeta Abraão era um jovem sábio. Desejava que as pessoas corrigissem suas crenças. Queria dizer a elas que Deus era maior do que os ídolos. Portanto, ele disse: "A lua é meu Senhor!" Os que adoravam a Vênus se viraram para ele e perguntaram: "Por que escolheste a lua por teu Senhor?" Abraão respondeu: "Vênus se pôs, assim não é o deus verdadeiro, o deus verdadeiro não deve se pôr." O tempo passou e a lua atravessou o céu e desapareceu. Depois de algum tempo o sol brilhou, então Abraão disse: "Eis o meu Senhor! Eis o Maior!" Algumas pessoas acreditaram em suas palavras e disseram entre si: "Talvez ele esteja certo porque o sol nos dá luz e calor." Quando o sol se pôs e escureceu de novo, Abraão olhou para o céu e disse: "Eu me afasto da adoração ao sol, pois ele se põe e o verdadeiro Deus não se põe! Então, adorarei a Deus, quem criou Vênus, a lua, o sol, a terra e todos nós!"

O Jovem Crente

Abraão disse: "Não temo os ídolos e não temo a Nimrod."
Estas suas palavras se propagaram pela cidade, assim, todo o povo soube que ele zombava dos ídolos. Quando Abraão completou 16 anos de idade, todo o povo da Babilônia soube que ele não adorava os ídolos e que zombava deles. Um dia, Azar, o avô de Abraão, o viu fabricando um ídolo mais bonito do que aqueles que ele fabricava. No começo, azar ficou contente, pois pensou que Abraão zelaria pelos ídolos no templo, mas, depois, ficou triste quando o viu fazendo o ídolo em pedaços.
Azar se irritou com Abraão, e disse a ele: "Abraão, por que quebraste este deus? Não temes a ira dos deuses?" Abraão educadamente respondeu: "Pai, por que adoraste o que não lhe ouve e nem lhe vê, tampouco pode beneficiá-lo afinal? Pai, não adoreis a Satã. Em verdade, Satã é desobediente para o Mais Misericordioso." Azar disse com ira: "Tu detestas meus deuses, Abraão? Se não desistires, apedrejar-te-ei, afasta-te de mim."
Abraão era um jovem educado, amava seu avô, assim, chamava-o: "Pai." Abraão saudou Azar antes de deixar seu lar, dizendo: "A paz esteja sobre ti. Orarei a meu Senhor para que te perdoe. Em verdade, Ele é o Mais Afetuoso para mim."
Abraão orou a Seu Senhor para que guiasse Azar a luz e a fé. Ele separou-se de seu povo para adorar Deus, O Único. As pessoas iam a seus templos continuamente. Curvavam-se aos ídolos e faziam oferendas, mas Abraão não se curvava aos ídolos e nem fazia oferendas a eles.

O Julgamento

Nimrod veio ao templo porque algo de muito grave tinha ocorrido. Ele temia por seu trono, portanto, ordenou que Abraão fosse detido e que fosse julgado no templo. O Juiz sentou-se junto a Nimrod no templo, que estava tomado pelo povo. Os soldados trouxeram o jovem Abraão. Fizeram-no ficar de pé diante de Nimrod e o Juiz. O julgamento se iniciou com as perguntas do Juiz.
Ele perguntou a Abraão: "Sabemos que tu zombas de nossos deuses. Também sabemos que não celebras a chegada da primavera como o povo da Babilônia faz. Então, dize a nós quem quebrou nossos deuses. Tu os quebraste, Abraão?" Abraão respondeu calmamente: "Não, o maior deles os quebrou. Pergunta, se ele puder responder." Todo o povo olhou para o ídolo maior, que carregava um machado em seu ombro. Eles sabiam que não podia responder.
O Juiz disse a Abraão: "Tu sabes que os deuses não podem falar e que não podem responder." Abraão perguntou (a todos): "Então por que adoras o que criastes com vossas próprias mãos? Por que adoras o que não pode prejudicar nem beneficiar a ninguém, nem falar ou receber vossas oferendas?"
Todos abaixaram suas cabeças. O juiz também. Perguntavam entre si: "Abraão está certo. Os deuses não deveriam ser feitos de pedra. Por que adoramos ídolos que não possuem vida tampouco alma?"
Os adivinhos estavam irritados com Abraão. Eles não queriam que o povo seguisse o caminho certo, pois seu poder chegaria ao fim. Assim, eles gritaram: "Não perdoem a Abraão! Ele destruiu os deuses sagrados! Não o perdoem! Destruiu nossos deuses que nos abençoavam e nos davam fertilidade!
Nimrod apoiou os adivinhos. Ele lembrou a profecia deles: "Uma pessoa nasceria e destruiria seu reinado." Enraivado, Nimrod disse: "Abraão cometeu um crime! Juiz, deves puni-lo!" O povo todo concordou com Nimrod. Então, ele disse: "Devemos proteger nossos deuses sagrados! Devemos punir Abraão lançando-o no fogo!"
O povo e mesmo Azar, o avô de Abraão, ficou contra Abraão. Poucas pessoas sentiram pena dele. Dentre elas estavam Sarah, prima de Abraão e Lot. Sarah era uma sábia jovem. Ela acreditou nas palavras de Abraão. Lot também era um homem sábio. Ele acreditava em Allah, o Deus Único, e na mensagem de Nosso Profeta Abraão (A.S.).
O Profeta Abraão (A.S.) foi aprisionado enquanto o povo juntava um monte de lenha para fazer uma grande fogueira para lançá-lo nela. Então, Nimrod quis discutir com Abraão sobre Allah, o Deus Único. Abraão foi levado ao palácio de Nimrod. Ele ficou em pé diante do Rei. Nem se curvou, tampouco se prostrou a ele. Nosso Profeta Abraão (A.S.) não temia ninguém senão Deus. Não adorava nada e ninguém exceto Deus, o Glorioso.
Nimrod perguntou com arrogância: "Abraão, quem é o deus que tu adoras?" O Profeta Abraão (A.S.) respondeu: "Eu adoro a Deus, quem dá a vida ao que está morto e faz morrer o que está vivo." De novo, de maneira arrogante Nimrod disse: "Eu também faço com que as pessoas vivam e as faço morrer!" Ele bateu palmas e ordenou a seus guardas: "Tragam-me dois prisioneiros: um que tenha sido sentenciado a prisão e um que tenha sido condenado à morte."
Os guardas trouxeram dois prisioneiros acorrentados. Nimrod ordenou a um guarda que portava uma espada: "Cortai a cabeça deste prisioneiro. Depois, libertai aquele que tinha sido condenado à morte." Nimrod se voltou para Abraão e perguntou: "Viste o que fiz. Dei a morte aquele que apenas tinha sido condenado à prisão e dei a vida a outro, que havia sido sentenciado à morte."

O Profeta Abraão (A.S.) não discutiu com Nimrod sobre esta questão, pois aquilo que o Rei tinha feito estava errado. Por esta razão, Abraão perguntou: "Eu adoro meu Senhor, que faz o sol nascer no oriente, podes acaso fazer com que nasça do ocidente?" Nimrod ficou surpreso com a pergunta de Abraão, ninguém jamais tinha feito semelhante pergunta a ele. Porém, Nimrod ficou calado e não foi capaz de responde-la.

Os Quatro Pássaros

De novo, Nimrod voltava a debater com Abraão sobre as questões da vida e da morte. E disse: "Eu posso dar vida e provocar a morte. Entretanto, teu Senhor não é capaz de fazê-lo. Tu apenas afirma isso." Abraão, posto novamente de pé diante do Rei pelos guardas, foi perguntado por Nimrod: "Tu não dizes que teu Senhor dá a vida e a morte? Vamos, demonstre isso!" O Profeta Abraão (A.S.) olhou para o céu e disse: "O poder de Meu Senhor está sobre todas as coisas!" Em seguida, Abraão (A.S.) ergueu suas mãos ao céu e disse: "Ó Senhor meu, mostra-me como ressuscitas os mortos." Deus, Nosso Senhor, respondeu: "Acaso, ainda não crês?" Abraão disse: "Sim, porém, faze isto, para a tranqüilidade de meu coração." Então Deus, o Altíssimo, ordenou a Abraão que pegasse quatro pássaros, que os sacrificasse e os cortasse, dividindo em quatro partes seus corpos e as colocasse sobre quatro montanhas.

Ninguém seria capaz de dar vida aquelas aves mortas, exceto Deus, que criou todas as coisas e dá vida ao homem, aos animais e as plantas. Nosso Profeta Abraão ficou numa das montanhas e gritou com toda sua voz: "Pássaros sacrificados venham a mim com a permissão de Deus!" Então, algo extraordinário aconteceu. As cabeças, as asas e o espírito das aves retornaram formando seus corpos. Os corações daquelas aves recomeçaram a pulsar. Suas asas começaram a bater. Então, as aves voaram alto no céu. Rapidamente elas pousaram aos pés de Abraão e ele se prostrou a Deus, o Criador Todo-Poderoso. Todavia, Nimrod não acreditou neste sinal e ordenou aos guardas que levassem Abraão (A.S.) para a prisão.

A Grande Fogueira

O povo da Babilônia possuía muito combustível, alcatrão e enxofre. Portanto, decidiram fazer a maior fogueira de seu país para castigar o Profeta Abraão (A.S.), que havia destruído seus deuses. Eles juntaram lenha fora da cidade por mais de um mês e derramaram alcatrão e combustível sobre ela. O dia de cumprir a punição de Abraão chegou, assim, o povo da Babilônia foi assistir sua execução. Os soldados de Nimrod trouxeram Abraão e em seguida os adivinhos chegaram e fizeram uma grande fogueira. A lenha se incendiou rápido por ter sido encharcada de alcatrão e óleo combustível. As chamas da fogueira tinham dezenas de metros de altura. O povo da babilônia recuou para que o fogo não os queimasse. Quanto a Abraão, olhava calmamente para a fogueira, pois acreditava em Deus e não temia ninguém senão Ele.

As mãos de Abraão estavam atadas. Os adivinhos achavam que ele temeria o fogo e pediria desculpas por ter destruído seus deuses. Entretanto, Abraão esperava com serenidade seu destino. Então, um problema surgiu, pois ninguém conseguia se aproximar daquela grande e furiosa fogueira. Os adivinhos perguntavam-se: "Como poderemos lança-lo na fogueira?" Eles se reuniram e pensaram num meio de resolver o problema. Um deles sugeriu uma idéia demoníaca: "Devemos colocá-lo numa catapulta." Os adivinhos fizeram um desenho de uma catapulta no chão. O desenho era satânico, pois a catapulta seria capaz de atirar Abraão no fogo à distância. Os trabalhadores começaram a construí-la. Quando já estava pronta, os soldados trouxeram Abraão e o puseram nela, mas ele continuava muito calmo.

As pessoas olhavam para aquele jovem. Estavam surpresas com sua paciência e firmeza. Naquele momento crítico um anjo veio a Abraão e perguntou: "Necessitas de alguma ajuda ?"Abraão não pensava em nada senão em Deus, o Glorioso. Apenas a Ele pediu por socorro. Ele rogou a Deus, o Grandioso e Todo-Poderoso, para que suprisse sua necessidade e disse ao anjo: "Eu não necessito de ninguém senão Deus, não pedirei a ninguém senão Ele para que me socorra em minha necessidade." Abraão era leal a Deus e acreditava Nele. Portanto, Deus, o Altíssimo, examinou sua fé e lealdade. Os soldados puxaram para trás as cordas da catapulta. Num instante, Abraão foi lançado no ar e impulsionado para o meio daquela grande fogueira.
Como Deus, o Glorioso, criou o fogo e lhe deu a capacidade de queimar, Ele também era capaz de retirar-lhe esta capacidade. Deus, o Glorioso, ordenou ao fogo: "Ó fogo, sê conforto e paz para Abraão." As labaredas continuaram crepitando mas, de modo extraordinário, não queimaram Abraão. O fogo não feriu Abraão. Apenas queimou as cordas com que os soldados o tinham amarrado. O local onde ele caiu se transformou num jardim florido, enquanto o fogo o rodeava. As labaredas continuavam ardendo no ar, mas eram conforto e paz para Abraão.
Deus, o Glorioso, testou Abraão. Ele conhecia sua fidelidade. Ele honrou-o, salvou-o do fogo e amparou-o contra seus inimigos. Nimrod esperou que o fogo se extinguisse. Queria saber o destino final de Abraão a fim de celebrar sua vitória sobre ele. A fogueira era muito grande, assim continuou ardendo por dias e noites. Então, gradualmente diminuiu e se apagou.
Nimrod veio até a fogueira para ver o que tinha acontecido a Abraão. Queria saber se ele tinha sido reduzido a cinzas ou não. Nimrod e o povo da Babilônia ficaram atônitos ao verem Abraão vivo. Eles compreenderam que o Senhor de Abraão era poderoso, Grande e soberano. Assim, deixaram que Abraão vivesse em paz.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Precisamos verdadeiramente cuidar de nossos pastores

Pastores Feridos


Pastores que abandonam o púlpito enfrentam o difícil caminho da auto-aceitação e do recomeço.
Por Marcelo Brasileiro



Desânimo, solidão, insegurança, medo e dúvida. Uma estranha combinação de sensações passou a atormentar José Nilton Lima Fernandes, hoje com 41 anos, a certa altura da vida. Pastor evangélico, ele chegou ao púlpito depois de uma longa vivência religiosa, que se confunde com a de sua trajetória. Criado numa igreja pentecostal, Nilton exerceu a liderança da mocidade já aos 16 anos, e logo sentiria o chamado – expressão que, no jargão evangélico, designa aquele momento em que o indivíduo percebe-se vocacionado por Deus para o ministério da Palavra. Mas foi numa denominação do ramo protestante histórico, a Igreja Presbiteriana Independente (IPI), na cidade de São Paulo, que ele se estabeleceu como pastor. Graduado em Direito, Teologia e Filosofia, tinha tudo para ser um excelente ministro do Evangelho, aliando a erudição ao conhecimento das Sagradas Escrituras. Contudo, ele chegou diante de uma encruzilhada. Passou a duvidar se valeria mesmo a pena ser um pastor evangélico. Afinal, a vida não seria melhor sem o tal “chamado pastoral”?
As razões para sua inquietação eram enormes. Ordenado pastor desde 1995, foi justamente na igreja que experimentou seus piores dissabores. Conheceu a intriga, lutou contra conchavos, desgastou-se para desmantelar o que chama de “estrutura de corrupção” dentro de uma das igrejas que pastoreou. Mas, no fim de tudo isso, percebeu que a luta fora inglória. José Nilton se enfraqueceu emocionalmente e viu o casamento ir por água abaixo.  Mesmo vencendo o braço-de-ferro para sanar a administração de sua igreja, perdeu o controle da vida. A mulher não foi capaz de suportar o que o ministério pastoral fez com ele. “Eu entrei num processo de morte. Adoeci e tive que procurar ajuda médica para me restabelecer”, conta. Com o fim do casamento, perdeu também a companhia permanente da filha pequena, uma das maiores dores de sua vida.
Foi preciso parar.  No fim de 2010, José Nilton protocolou uma carta à direção de sua igreja requisitando a “disponibilidade ativa”, uma licença concedida aos pastores da denominação. Passou todo o ano de 2011 longe das funções ministeriais. No período, foi exercer outras funções, como advogado e professor de escola pública e de seminário.  “Acho possível servir a Jesus, independentemente de ser pastor ou não”, raciocina, analisando a vida em perspectiva. “Não acredito mais que um ministério pastoral só possa ser exercido dentro da igreja, que o chamado se aplica apenas dentro do templo. Quebrei essa visão clerical”. Reconstruindo-se das cicatrizes, Nilton casou-se novamente. E, este ano retornou ao púlpito, assumindo o pastoreio de uma igreja na zona leste de São Paulo. Todavia, não descarta outro freio de arrumação. “Acho que a vida útil de um líder é de três anos”, raciocina. “É o período em que ele mantém toda a força e disposição. Depois, é bom que esse processo seja renovado”. É assim que ele pretende caminhar daqui para frente: sem fazer do pastorado o centro ou a razão da sua vida.
Encontrar o equilíbrio no ministério não é tarefa fácil. Que o digam os ex-pastores ou pastores afastados do púlpito que passam a exercer outras atividades ou profissões depois de um período servindo à igreja. Uma das maiores denominações pentecostais do país, a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), com seus 30 mil pastores filiados – entre homens e mulheres –, registra uma deserção de cerca de 70 pastores por mês desde o ano passado. Os números estão nas circulares da própria igreja. Não é gente que abandona a fé em Cristo, naturalmente; em sua maioria, os religiosos que pedem licença ou desligamento das atividades pastorais continuam vivendo sua vida cristã, como fez José Nilton no período em que esteve afastado do púlpito. É que as pressões espirituais e as demandas familiares e pessoais dos pastores, nem sempre supridas, constituem uma carga difícil de suportar ao longo doa anos. Some-se a isso os problemas enfrentados na própria igreja, as cobranças da liderança, a necessidade de administrar a obra sob o ponto de vista financeiro e – não raro – as disputas por poder e se terá uma ideia do conjunto de fatores que podem levar mesmo aquele abençoado homem de Deus a chutar tudo para o alto.
A própria IPI, onde José Nilton militou, embora muito menor que a Quadrangular – conta com cerca de 500 igrejas no país e 690 pastores registrados –, teria hoje algo em torno de 50 ministros licenciados, número registrado em relatório de 2009. Pode parecer pouco, mas representa quase dez por cento do corpo de pastores ativos. Caso se projete esse percentual à dimensão da já gigantesca Igreja Evangélica brasileira, com seus aproximadamente 40 milhões de fiéis, dá para estimar que a defecção dos púlpitos é mesmo numerosa. De acordo com números da Fundação Getúlio Vargas, o número de pastores evangélicos no país é cinco vezes maior do que a de padres católicos, que em 2006 era de 18,6 mil segundo o levantamento Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais. Porém, devido à informalidade da atividade pastoral no país, é certo que os números sejam bem maiores.
 
FERIDOS QUE FEREM
O chamado pastoral sempre foi o mais valorizado no segmento evangélico. Por essa razão, é de se estranhar quando alguém que se diz escolhido por Deus para apascentar suas ovelhas resolva abandonar esse caminho. Nos Estados Unidos, algumas pesquisas tentam explicar os principais motivos que levam os pastores a deixar de lado a tarefa que um dia abraçaram. Uma delas foi realizada pelo ministério LifeWay, que, por telefone, contatou mil pastores que exerciam liderança em suas comunidades eclesiásticas. E o resultado foi que, apesar de se sentirem privilegiados pelo cargo que ocupavam (item expresso por 98% dos entrevistados), mais da metade, ou 55%, afirmaram que se sentiam solitários em seus ministérios e concordavam com a afirmação “acho que é fácil ficar desanimado”. Curiosamente, foram os veteranos, com mais 65 anos, os menos desanimados. Já os dirigentes das megaigrejas foram os que mais reclamaram de problemas. De acordo com o presidente da área de pesquisas da Life Way, Ed Stetzer – que já pastoreou diversas igrejas –, a principal razão para o desânimo pode vir de expectativas irreais. “Líderes influenciados por uma mentalidade consumista cristã ferem todos os envolvidos”, aponta. “Precisamos muito menos de clientes e muito mais de cooperadores”, diz, em seu blog pessoal.
Outras pesquisas nos EUA vão além. O Instituto Francis Schaeffer, por exemplo, revelou que, no último ano, cerca de 1,5 mil pastores têm abandonado seus ministérios todos os meses por conta de desvios morais, esgotamento espiritual ou algum tipo de desavença na igreja. Numa pesquisa da entidade, 57% dos pastores ouvidos admitiram que deixariam suas igrejas locais, mesmo se fosse para um trabalho secular, caso tivessem oportunidade. E cerca de 70% afirmam sofrer depressão e admitem só ler a Bíblia quando preparam suas pregações. Do lado de cá do Equador, o nível de desistência também é elevado, ainda mais levando-se em conta as grandes expectativas apresentadas no início da caminhada pastoral pelos calouros dos seminários. “No começo do curso, percebemos que uma boa parte dos alunos possui um positivo encantamento pelo ministério. Mais adiante, já demonstram preocupação com alguns dilemas”, observa o diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, o pastor batista Lourenço Stélio Rega. Ele estima que 40% dos alunos que iniciam a faculdade de teologia desistem no meio do caminho. Os que chegam à ordenação, contudo, percebem que a luta será uma constante ao longo da vida ministerial – como, aliás, a própria Bíblia antecipa.
E, se é bom que o ministro seja alguém equilibrado, que viva no Espírito e não na carne, que governa bem a própria casa, seja marido de uma só mulher (ou vice-versa, já que, nos tempos do apóstolo Paulo não se praticava a ordenação feminina) e tantos outros requisitos, forçoso é reconhecer que muita gente fica pelo caminho pelos próprios erros. “O ministério é algo muito sério” lembra Gedimar de Araújo, pastor da Igreja Evangélica Ágape em Santo Antonio (ES) e líder nacional do Ministério de Apoio aos Pastores e Igrejas, o Mapi. “Se um médico, um advogado ou um contador erram, esse erro tem apenas implicação terrena. Mas, quando um ministro do Evangelho erra, isso pode ter implicações eternas.”
Desde que foi criado, há 20 anos, em Belo Horizonte (MG), como um braço do ministério Servindo Pastores e Líderes (Sepal), o Mapi já atendeu milhares de pastores pelo país. Dessa experiência, Gedimar traça quatro principais razões que podem ser cruciais para a desmotivação e o abandono do ministério. “Ativismo exagerado, que não deixa tempo para a família ou o descanso; vida moral vacilante, que abre espaço para a tentação na área sexual; feridas emocionais e conflitos não resolvidos; e desgaste com a liderança, enfrentando líderes autoritários e que não cooperam”, enumera. Para ele, é preciso que tanto os membros das igrejas quanto as lideranças denominacionais tenham um cuidado especial com os pastores. “Muitos sofrem feridas, como também, muitas vezes, chegam para o ministério já machucados. E, infelizmente, pastor ferido acaba ferindo”.
Quanto à responsabilidade do próprio pastor com o zelo ministerial, Gedimar é taxativo: “É melhor declinar do ministério do que fazê-lo de qualquer jeito ou por simples necessidade”. A rede de apoio oferecida pelo Mapi supre uma lacuna fundamental até mesmo entre os pastores – a do pastoreio. “É preciso criar em torno do ministro algumas estruturas protetoras. É muito bom que o líder conte com um grupo de outros pastores onde possa se abrir e compartilhar suas lutas; um mentor que possa ajudá-lo a crescer e acompanhamento para seu casamento e família e, por fim, ter companheiros com quem possa desenvolver amizades e relacionamentos saudáveis e sólidos”, enumera.
 
EXPECTATIVAS
Juracy Carlos Bahia, pastor e diretor-executivo da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), sediada no Rio de Janeiro, conhece bem o dilema dos colegas que, a certa altura do ministério, sentem-se questionados não só pelos outros, mas, sobretudo, por si mesmos. Ele lida com isso na prática e sabe que o preço acaba sendo caro demais. “Toda atividade que envolve vocação, como a do professor, a do médico ou a do pastor, é vista com muita expectativa. Quando se abandona esse caminho, é natural um sentimento de inadequação”. Para Bahia, o desencantamento com o ministério pastoral é fruto também do que entende como frustrações no contexto eclesiástico. Há pastores, por exemplo, que julgam não ter todo seu potencial intelectual utilizado pela comunidade. “Às vezes, o ministro acha que a igreja que pastoreia é pequena demais para seus projetos pessoais”, opina. Isso, acredita Bahia, estimula muitos a acumularem diversas funções, além das pastorais. “Eu defendo que os pastores atuem integralmente em seus ministérios. Porém, o que temos visto são pastores-advogados, pastores-professores, enfim, pastores que exercem outras profissões paralelas ao púlpito”, observa.
No entender do dirigente da OPBB, esse acúmulo de funções mina a energia e o potencial do obreiro para o serviço de Deus. A associação reúne aproximadamente dez mil pastores batistas e Bahia observa isso no seio da própria entidade: “Creio que metade deles sofra com a fuga das atividades pastorais para as seculares”. Contudo, ele acredita que deixar o ministério não é algo necessariamente negativo. “A pessoa pode ter se sentido vocacionada e, mais adiante na vida, por meio da experiência, das orações e interação com outros pastores, é perfeitamente possível chegar à conclusão que a interpretação que fez sobre seu chamado não foi adequada e sim emotiva”.
Quando, já na meia idade, casado e com dois filhos, ingressou no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), na capital pernambucana, Recife, Francisco das Chagas dos Santos parecia um menino de tanto entusiasmo. Nem mesmo as críticas de parentes para que buscasse uma colocação social que lhe desse mais status e dinheiro o desmotivou. “A igreja, para mim, é a melhor das oportunidades de buscar e conhecer meu Criador para que, pela graça, eu continue com firmeza a abrir espaço em meu coração para que ele cumpra sua vontade em mim, inclusive no ministério pastoral”, anotou em sua redação para o ingresso no SPN, em 1998. Ele formou-se no curso, foi ordenado pastor em 2003 e dirigiu igrejas nas cidades de Garanhuns e Saloá.
Hoje, aos 54 anos, Francisco trabalha como servidor público no Instituto Agronômico de Pernambuco. Ainda não curou todas as feridas e ressentimentos desde que, em 2010, entregou seu pedido de desligamento da denominação. Ele lamenta o tratamento recebido pelos seus superiores enquanto foi pastor. “Minha opinião sobre igreja não mudou. Nunca planejei um dia pedir licença ou despojamento do ministério. Mas entendo que somos o Corpo de Cristo, e, se uma unha dói, todos nós estamos doentes”, pondera. “Não é possível ser pastor sem pensar em restaurar vidas – e existem muitas vidas precisando de conserto, inclusive entre nós, pastores”.
A vida longe dos púlpitos ainda não foi totalmente sublimada e Francisco sabe bem que será constantemente indagado sobre sua decisão de deixar o ministério. “A impressão é que você deixou um desfalque, que adulterou ou algo parecido”, observa. Ele não considera voltar a pastorear pela denominação na qual se formou, porém não consegue deixar de imaginar-se como pastor. “Uma vez pastor, pastor para sempre”, recita, “muito embora as pessoas, em geral, acreditem que seja necessário um púlpito.”
 
 
Porta de saída
 
Pesquisa realizada nos Estados Unidos traçou um panorama dos problemas da atividade pastoral...
 
70% dos pastores admitem sofrer de depressão e estresse
80% deles sentem-se despreparados para o ministério
70% afirmam só ler a Bíblia quando precisam preparar seus sermões
40% já tiveram casos extraconjugais
30% reconhecem ter reduzido as próprias contribuições às igrejas após a crise financeira
 
... e avaliou as consequências disso:
 
1,5 mil pastores deixam o púlpito todos os meses
5 mil religiosos buscavam emprego secular no ano de 2009, mais do que o dobro do que ocorria em 2005
2 a 3 anos de ministério é o tempo médio em que os pastores deixam suas igrejas, sendo em direção a outras denominações ou não
 
Fontes: Barna Group, Christian Post, The Wall Street Journal, Instituto Francis A. Schaeffer e Instituto Jetro
 
 
Rebanho às avessas
 
A maioria dos pastores que se afastam de suas atividades ministeriais não abandona a fé em Cristo. Cada um deles, a seu modo, mantém sua vida espiritual e o relacionamento pessoal com Deus. Mas há quem saia do púlpito pela porta dos fundos, renegando as crenças defendidas com ardor durante tantos anos de atividade sacerdotal. Para estes – e, é bom que se diga, trata-se de uma opção nada recomendável –, existe a Freedom from Religion Foundation (“Fundação para o fim da religião”), entidade criada por ninguém menos que o mais famoso apologista do ateísmo da atualidade, o escritor britânico Richard Dawkins, autor do best-seller Deus, um delírio. Ele e um grupo de céticos lançaram o Projeto Clero, iniciativa que visa a apoiar ex-clérigos – pastores, padres, rabinos – no reinício da vida longe das funções religiosas. “Sacerdotes que perdem sua fé sofrem uma penalização dupla. Eles perdem seu emprego e, ao mesmo tempo, sua família e a vida que sempre tiveram”, argumenta Dawkins, no site do projeto. Não se tem notícia confiável de quantos ex-líderes aderiram ao Projeto Clero, mas parece óbvio que a ideia do refúgio ateu não é apenas abraçar sacerdotes cansados da vida religiosa, mas também engrossar o rebanho crescente daqueles que repudiam a possibilidade da existência de Deus.
 
 
Mudança difícil
 
Não foi uma escolha fácil. Quando o ex-pastor batista Osmar Guerra decidiu que seu lugar não era mais o púlpito, logo foi fustigado por olhares de decepção das pessoas que estavam ao seu redor e acreditavam em seu trabalho espiritual. Afinal, desde menino ele era o “pastorzinho” de sua igreja em Piracicaba, no interior paulista. Desinibido e articulado, o garoto, bem ensinado pelos pais na fé cristã, apresentava uma natural vocação para o pastorado. Por isso, foi natural sua decisão de matricular-se Faculdade Teológica Batista de São Paulo e, após os anos de estudo, assumir a função de pastor de adolescentes da Igreja Batista da Água Branca (IBAB), na capital paulista.
Começava ali uma promissora carreira ministerial. Osmar dividia seu trabalho entre as funções na igreja e as aulas de educação cristã, lecionadas no tradicional Colégio Batista. Tempos depois, o pastor transferiu-se para outra grande e prestigiada congregação, a Igreja Batista do Morumbi. Mas algo estava fora de sintonia, e Osmar sabia disso. Toda sua desenvoltura na oratória, sua capacidade de mobilização e seu espírito de liderança poderiam não ser, necessariamente, características de uma vocação pastoral. E, como dizem os jovens que ele tanto pastoreou, pintou uma dúvida: seu lugar era mesmo diante do rebanho?  “Eu era um excelente animador. Mas me faltava vocação, e fui percebendo isso cada vez mais”.
O novo caminho, ele sabia, não seria compreendido com facilidade pela família, pelos amigos e pelas ovelhas. Mas ele decidiu voltar a estudar, e escolheu a área de rádio e TV. E, mesmo ali, não escapou do apelido de “pastor”, aplicado pela turma. Quando conseguiu um estágio na TV Record, percebeu que ficava totalmente à vontade entre os cenários, as produções e os auditórios. Com seu talento natural, Osmar deslanchou, e o artista acabou suplantando o pastor. Depois de pedir demissão da igreja, em 2005, ele galgou posições na emissora e hoje é o produtor de um dos programas de maior sucesso da casa, O melhor do Brasil, apresentado pelo Rodrigo Faro.
“Durante muito tempo, fiquei em crise”, reconhece hoje, aos 31 anos. “Tive medo de tomar a decisão de deixar de ser pastor. Mas, hoje, sinto-me mais confiante e honesto comigo mesmo e perante os outros”, garante. Longe do púlpito, mas não de Jesus, Osmar Guerra continua participativo na sua igreja, a IBAB, onde toca e canta no louvor. De sua experiência, ele se acha no direito de aconselhar os mais jovens. “Defendo que, antes do seminário, as pessoas busquem formação em outras áreas, ainda mais quando são novas”, diz. Isso, segundo ele, pode abrir novas possibilidades se o indivíduo, por um motivo qualquer, sentir-se desconfortável no púlpito. Contudo, ele não descarta o valor de um chamado genuíno: “Se, mesmo assim, a vontade de se tornar um pastor continuar, isso é sinal de que o caminho pode ser esse mesmo.”


Batalha Espiritual



“Usem toda a armadura e as armas providas por Deus, para que sejam capazes de resistir às táticas enganosas do Adversário. Porque nós não lutamos contra seres humanos, mas contra os líderes, as autoridades e os poderes cósmicos que governam as trevas, contra as forças espirituais do mal na esfera celestial.”
(Efésios 6.11 e 12 BJC [Bíblia Judaica Completa])


            O mundo espiritual é tão ou até mesmo mais real do que o mundo material. A ignorância deste fato faz com que vivamos de maneira incompleta, pois do mesmo modo que anjos e demônios, como seres espirituais, influenciam o mundo natural, ou material, nós como habitantes deste mundo natural possuímos um espírito e, deste modo, influenciamos o mundo espiritual. Pertencemos a estas duas dimensões: a dimensão natural e a dimensão espiritual, por esta maneira podemos dizer que somos cidadãos celestiais que representamos o Rei dos reis neste mundo.
            Nos versículos apresentados logo acima, Sha’ul [Paulo] nos afirma a existência de outros seres que habitam a esfera celestial.
Adversário (ou diabo): do grego διαβολος (diabolos), esta palavra significa caluniador, que faz falsas acusações, que faz comentários maliciosos, e é a tradução grega da palavra hebraica satan, “adversário, oponente, rebelde”.
            Quando Yesha’yahu [Isaías] profetizava em referência ao rei da Babilônia ele fala sobre este Adversário:
“Seu orgulho foi derrubado até o sh’ol [o lugar dos mortos] com a música de suas liras, debaixo de você há um colchão de larvas, e sobre você, uma coberta de vermes.”
“Como você caiu dos céus, estrela da manhã, filho da alvorada? Como você foi derrubado ao chão, conquistador das nações? Você pensava consigo mesmo: ‘Escalarei os céus, elevarei meu trono acima das estrelas de Deus. Eu me sentarei no monte da Assembleia ao longe, no norte. Subirei além dos cumes das nuvens e me tornarei como o Altíssimo’.”
“Em vez disso, você será levado ao sh’ol, à mais completa profundeza da cova.”
(Yesha’yahu [Isaías] 14.11 – 15 BJC)
            De modo semelhante Deus falou pelo profeta Yechezk’el [Ezequiel] enquanto lamentava pelo rei de Tzor:
“Você pôs o selo sobre a perfeição; era cheio de sabedoria e perfeito em beleza. Estava no ‘Eden, o jardim de Deus, coberto com todos os tipos de pedras preciosas – sárdio, topázio, diamante, berilo, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda; seus pendentes e joias eram feitos de ouro, preparados no dia em que você foi criado. Você era um keruv [querubim], que protegia uma grande região; coloquei-o no santo monte de Deus. Você ia e vinha entre pedras de fogo. Era perfeito em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que a injustiça foi encontrada em você.”
“Quando seu comércio cresceu, você se tornou cheio de violência, e, dessa forma, pecou. Portanto, eu o lancei para fora, desonrado, da montanha de Deus. Eu o destruí, keruv protetor, dentre as pedras de fogo. Seu coração ficou orgulhoso por causa de sua beleza, e você corrompeu sua sabedoria por causa de seu esplendor. Contudo, eu o lancei ao chão; fiz de você um espetáculo diante dos reis. Por causa de seus muitos crimes no comércio desonesto, você profanou seus santuários. Portanto, fiz sair de você um fogo que o devorou; eu o reduzi a cinzas no chão à vista de todos os que o podiam ver. Todos ficarão espantados com você. Você é um objeto de terror e não existirá mais”.
(Yechezk’el [Ezequiel] 28.12 – 19 BJC)
            A Bíblia ensina a respeito de uma criatura que certa vez foi poderosa e bela, mas que em seu orgulho se rebelou contra Deus e tornou-se o oposto dele. Não é uma lenda, ou invenção dos judeus ou cristãos, pois o próprio Yeshua [Jesus] foi ao deserto para ser tentado por este Adversário (Mt 4.1). Nos dois primeiros capítulos do livro de Iyov [Jó] aprendemos que este ser se opõe a Deus e ao homem, inclusive de acordo com Revelação [Apocalipse] 12.9 ele é a “antiga serpente” que tentou Adão e Eva a desobedeceram ao Senhor (Gn 3). Como criatura, o diabo de modo algum é igual ao Criador; mas ainda assim é a fonte original de todo o pecado, mal e oposição a Deus. Tanto o Tanakh [Antigo Testamento] quanto a B’rit Hadashah [Novo Testamento] ensinam a existência do Adversário e de anjos (demônios) maus e rebeldes que o servem.
Sha’ul inclusive classifica alguns destes demônios:
Líderes (ou principados): do grego αρχη (arche), representa o primeiro lugar da hierarquia dos demônios, o reinado, magistrado.
Autoridades (ou potestades): do grego εξουσια (exousia), representa
o poder de reger ou governar (o poder de alguém de quem a vontade e as ordens devem ser obedecidas pelos outros).
Poderes cósmicos (ou dominadores): do grego κοσμοκρατωρ (kosmokrator), representa o senhor do mundo, príncipe desta era, o diabo e seus demônios.
            De acordo com Alfred Martin, Comentário Bíblico Moody, estas classificações são para conhecermos o fato que “Nas hostes de Satanás encontramos diferentes categorias. Não é possível fazer separações distintas entre os diversos tipos de inimigos aqui mencionados.”.
            O que podemos concluir deste texto é que Satanás, nosso adversário, possui um exército organizado sob seu comando. E é a este exército que nos opomos. De acordo com David H. Stern, Comentário Judaico do Novo Testamento: “Os crentes em Yeshua não estão lutando para forçar não cristãos a se converterem, mas para derrotar os líderes e poderes demoníacos segundo os métodos prescritos por Deus”.
            Desta forma não existe uma terceira opção: ou estamos com Deus ou com o Diabo, pois todo aquele que não aceitou o sacrifício de Yeshua vive em obediência a estes demônios (Ef 2.2). Isto nos coloca em meio a uma grande batalha onde de um lado nosso Adversário tenta nos destruir (1 Pe 5.8) e de outro colocamo-nos contra ele (Tg 4.7), sabendo que dependendo de nossas ações podemos dar ocasião para nosso inimigo agir (Ef 4.27). Se de um lado Satanás se opõe a Deus e a toda a sua criação, de outro o Senhor, através de sua Igreja, irá tornar sua sabedoria conhecida (Ef 4.10) àquele que corrompeu sua sabedoria (Ez 28.17).
            Mas não estamos sozinhos no meio desta guerra. Quando o exército de Aram resolveu sitiar Dotan para impedir que Elisha [Elizeu] continuasse revelando seus planos secretos na guerra contra Yisra’el [Israel] ficamos sabendo que “O servo do homem de Deus levantou-se de madrugada; ao sair, ele viu um exército com cavalos e carruagens cercando a cidade. Seu servo disse a ele: ‘Oh, meu senhor, isto é terrível! O que faremos? ’. Ele respondeu: ‘Não tenha medo – aqueles que estão conosco são mais numerosos do que aqueles que estão com eles! ’. Elisha orou: ‘ADONAI, peço-te que abras os seus olhos para que ele possa ver’. ADONAI abriu os olhos do jovem, e ele viu: ali, diante dele, por toda a volta de Elisha, as montanhas estavam cobertas de cavalos e carruagens de fogo.” (M’lakhim Bet [2 Reis] 6.15 – 17 BJC).
            Ao mesmo tempo em que os demônios se posicionam para guerrear, ADONAI-Tzva’ot, o Senhor dos Exércitos, envia seu exército de anjos para estar ao nosso redor nos livrando do inimigo (Sl 34.7). E por mais numeroso e poderoso que seja o exército demoníaco podemos ter a certeza que “aquele que está em vocês [em nós] é maior do que aquele que está no mundo” (1 Yochanan [1 João] 4.4 BJC), pois nosso Deus que ressuscitou Yeshua, o colocou sentado “à Sua direita no céu, muito acima de qualquer governante (αρχη), autoridade (εξουσια), poder (δυναμις), domínio (κυριοτης) ou qualquer outro nome que possa ser invocado no ‘olam hazeh [este mundo, esta era] ou no ‘olam haba [o mundo por vir, a era futura]” (Efésios 1.20 e 21 BJC). O Messias Yeshua está colocado sobre todos os demônios, Ele é superior a eles, e Ele está conosco para sempre (Mt 28.20).
            Quando o rei de Ashur sitiou Yerushalayim [Jerusalém], o rei Hizkiyahu [Ezequias] orou ao Senhor e “Naquela noite, o anjo de ADONAI saiu e feriu 185 mil homens no acampamento de Ashur. Na manhã seguinte, lá estavam eles, todos eles, cadáveres – mortos.” (M’lakhim Bet 19.35 BJC). Não importa quem se levanta contra nós, se permanecermos no Senhor podemos confiar que “a batalha não é de vocês [nossa], mas de Deus” (Divrei-Hayamim Bet [2 Crônicas] 20.15 BJC). E quando o poderoso ADONAI-Tzva’ot saí para guerrear nada pode lhe vencer.
            E mesmo quando o inimigo tenta contra nós secretamente e ficamos sem entender o que está acontecendo, podemos ouvir o mesmo que o homem celestial disse a Dani’el [Daniel]: “Não tema, Dani’el, pois desde o primeiro dia em que você decidiu compreender e humilhar-se diante do seu Deus, suas palavras foram ouvidas; e eu vim por causa do que você disse. O príncipe do reino da Pérsia impediu-me de vir por vinte e um dias, mas Mikha’el [Miguel], um dos príncipes notáveis, veio para me ajudar, para que eu não fosse mais necessário ali entre os reis da Pérsia.” (Dani’el [Daniel] 10.12 e 13 BJC). Nosso Deus que a tudo vê, envia seus anjos para sair ao nosso favor, assim como ocorreu com Dani’el.
            E este mesmo versículo nos ensina que o exército celestial também é organizado em hierarquias sob o comando do Senhor, e o próprio Deus manda cada um em sua função para nos auxiliar.
            Deste modo Batalha Espiritual é o nome que damos à guerra que ocorre no mundo espiritual declarada pelo Diabo contra os filhos de Deus na qual temos ao nosso lado os exércitos do Senhor. É uma batalha diária e constante da qual mesmo de modo inconsciente participamos, e, tendo isto em mente, precisamos nos posicionar dentro dela.
            Para isto a primeira coisa que precisamos saber é que só podemos ser fortes no poder do Senhor. Não temos força alguma em nós mesmos, e, se observamos a Palavra de Deus nem os próprios anjos, que são maiores que o homem (Hb 2.6 e 7 citando Sl 8.4 e 5), confiam em sua própria força. Podemos observar este fato quando comparamos Revelação [Apocalipse] 12.7 e 8, onde lemos que Mikha’el e seus anjos lutaram contra Satanás e o derrotaram, com Y’hudah [Judas] 9, onde o mesmo Mikha’el não fez acusação ofensiva contra Satanás, “mas disse: ‘ADONAI o repreenda! ’”.
            Em segundo lugar, precisamos seguir a orientação de Sha’ul aos Efésios de estarmos constantemente preparados para a batalha com a Armadura de Deus (Ef 6.10 a 18). Não podemos fazer “vista grossa” para aquilo que nos cerca. Precisamos estar protegidos na Armadura de Deus contra os constantes ataques do inimigo e preparados para agir de acordo com a orientação do Senhor, “ligados a seu forte poder!” (Efésios 6.10 BJC).
            Em terceiro, e último lugar, não podemos nos deixar esquecer que nossa batalha é contra forças espirituais do mal, presentes no mundo. O mal que existe em nosso derredor é semeado pelo inimigo. Deste modo as pessoas que nos cercam não são nossos adversários, mas alvos de nossa oração, amor e misericórdia.