“Venham,
crianças, atentem para mim; eu as ensinarei a temer ADONAI. Quem de vocês tem
prazer em viver? Quem deseja uma vida longa para ver coisas boas? [Se assim for,
] mantenham sua língua afastada do mal, e seu lábios, de conversas enganadoras.
Desviem-se do mal e façam o bem; busquem a paz e sigam-na! Os olhos de ADONAI
assistem os justos, e seus ouvidos estão abertos a seu clamor. Mas o rosto de
ADONAI se opõe aos que praticam o mal, para exterminar-lhes a memória da face
da terra”.
(Tehillim [Salmos]
34.12 a 17 (11 a 16) BJC [Bíblia Judaica Completa])
Escutamos muito a expressão: “temor do Senhor”, mas
compreendemos muito pouco o que ela representa. Desta forma, gostaria de
compartilhar um pouco a respeito do que tenho aprendido a respeito deste tema,
esperando que o Senhor possa ministrar no coração de todos os que lerão esta
mensagem.
Nos versículos que coloquei acima, vemos David [Davi] se
propondo a ensinar a seus leitores a temerem ao Senhor. Ele estava vivendo um
momento muito difícil em sua vida, afinal Sha’ul [Saul] desejava mata-lo, e,
sob a orientação de seu amigo Y’honatan [Jônatas], David fugiu e procurou ajuda
de Akhish [Aquis], rei de Gat [Gate], que encarou a visita como agressiva. Para
escapar da ira do rei, David se faz de louco, e consegue sair em segurança.
Assim, ele escreve Tehillim [Salmo] 34, para louvar ao Senhor pelo livramento e
incentivar a todos a viverem uma vida na presença de Deus.
“Experimentem,
e veja que ADONAI é bom. Abençoados são os que nele se refugiam! Temam ADONAI
vocês, separados dele, pois aos que o temem nada lhes falta. ”
(Tehillim 34.9 e 10 (10
e 11) BJC).
David sabia o que era temer ao Senhor, e desejava que
outras pessoas pudessem desfrutar daquilo que estava vivendo, assim além de
incentivar a todos a experimentarem uma vida com Deus, ele se propõe, como
vimos antes, a ensinar a todos a esta vida.
Assim, primeiramente, o que significa temor? No hebraico,
a palavra traduzida como temor é יראה (yir’ah), que além de temor,
pode significar reverência moral, pavor. Porém, tratando-se do temor para com
Deus, ele é visto como uma qualidade positiva: uma confiança reverente no
Senhor, que acaba levando a uma espécie de ódio ao mal.
De certo modo, temor significa medo, mas não um medo
descontrolado, representa um profundo respeito. É um sentimento parecido com o
que temos ao estarmos diante de uma autoridade, como um policial, por exemplo.
Quando somos parados em uma blitz de trânsito, olhamos o policial, respeitamos
a sua função e sabemos que se não estivermos dentro da lei ele poderá nos
prejudicar. Chegamos a, inclusive, recear que ele encontre algo errado em
nossos veículos. Não é um pavor incontrolável, ou uma fobia, mas um profundo
respeito e um medo de ser encontrado uma falha em nós. Se possuímos a certeza
de que está tudo correto conosco e com nosso automóvel, ficamos tranquilos.
O mesmo ocorre por exemplo quando estamos fazendo uma
prova na escola. Estamos sob o olhar de professores, ou aplicadores de prova.
Se estamos resolvendo a mesma dentro das regras estabelecidas, ficamos
tranquilos em relação à fiscalização que estamos sujeitos, mas se estamos
colando, ou usando um material não autorizado, ficamos receosos de sermos
pegos. Mais uma vez, este sentimento não é uma fobia, nunca vi ninguém sair
correndo de um aplicador de prova, mas um respeito profundo por aquela função,
aliado a um incomodo quando não estamos agindo de acordo com o esperado.
A este sentimento denominamos temor, e aplicado ao Senhor
ele possui o mesmo significado. Temer ao Senhor é respeitarmos ao Senhor e
reconhecer quem é Deus e quem somos nós, é sabermos ficar no nosso lugar. Temer
ao Senhor é saber qual é o lugar de Deus em nossas vidas, é um sentimento que
permite que nos relacionemos adequadamente com nosso Criador.
“a
sabedoria é, em primeiro lugar, o temor a ADONAI; todos os que vivem por ela
adquirirão bom senso. ”
(Tehillim 111.10 BJC)
O temor do Senhor dá início à sabedoria. Esta é a arte de
viver, e existem três elementos importantes em nossa vida:
Assim a sabedoria é saber viver bem com estes três
elementos de nossas vidas. Preciso saber viver na presença de Deus, sabendo que
ela é constante em minha vida, preciso saber viver bem com todos aqueles que
estão ao meu lado, independente de qual seja o ambiente, e preciso saber viver
bem comigo mesmo. Uma pessoa só pode ser considerada sábia se aprendeu a arte
de viver nestes três fundamentos de nossas vidas.
De acordo com a Bíblia tal arte de viver começa no temor
do Senhor. E é por isso que David pergunta se temos prazer em viver, e se
desejamos uma vida longa. E, como provavelmente todos respondem a estas
perguntas de modo afirmativo, ele inicia o seu ensino de como podemos temer ao
Senhor.
Primeiramente somos alertados a “mantermos a língua
afastada do mal e os lábios de conversas enganadoras” (Tehillim 34.14 (13)
BJC). Note que o conselho é o mesmo que Ya’akov [Tiago] escreve séculos mais
tarde:
“Alguém
que se considera observante da religião e não controla sua língua está
enganando a si mesmo, e sua observância não vale nada. ”.
(Ya’akov [Tiago] 1.26
BJC)
Quem teme ao Senhor cuida daquilo que fala. Não fala tudo
aquilo que pensa, mas pensa antes de falar. Nossas palavras podem destruir ou
edificar alguém, depende do modo que as proferimos. Este é um princípio
importante para aqueles que querem viver bem com o outro.
Em segundo lugar, David nos ensina a “nos desviarmos do
mal” (Tehillim 34.15 (14) BJC). O conselho da palavra não é que resistamos ao
mal, mas nos desviarmos dele. Muitos querem bancar os fortes, ficar ao lado do
mal e dizer que não serão afetados, mas esquecem dos ensinamentos de Sha’ul
[Paulo]:
“Por
isso, fuja das paixões da juventude”
(2 Timóteo 2.22 BJC)
Temos a tendência a praticar o mal a cada dia de nossas
vidas, e conviver com ele irá primeiramente cauterizar a nossa consciência (1
Tm 4.2). Isto significa que passamos a ver o mal como algo comum. Em segunda
instancia, aquilo que julgamos comum passa a ser praticado por nós.
Não
somos sectários, nem melhores do que os outros, mas “Não sejam enganados. ‘Más
companhias estragam o bom caráter”. (1 Coríntios 15.33 BJC). Amamos as pessoas
e consequentemente queremos estar com elas, mas não precisamos estar juntos
enquanto praticam o mal.
Se você conhece alguém com vício em bebida alcoólica, por
exemplo, com certeza irá conversar com ela, e se relacionar muito bem com a
mesma, mas não desejará estar com ela em um bar vendo-a passar dos limites e
prejudicar a si mesma neste processo.
Mas apenas se afastar do mal não é o suficiente, somos
alertados a “fazer o bem” (Tehillim 34.15 (14) BJC).
“com
os que invocam o Senhor com o coração puro, siga em busca da justiça, da
fidelidade, do amor e da paz”.
(2 Timóteo 2.22 BJC)
“Portanto,
qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado. ”
(Ya’akov 4.17 BJC)
Somos chamados para fazer o bem. Tudo o que temos no
Senhor é somente mediante à Sua graça, mas fomos criados “para a vida de boas
ações já preparadas por Deus para serem realizadas por nós” (Efésios 2.10 BJC).
Assim, se não praticamos o bem, estamos pecando, ou seja, estamos fora errando
o alvo estabelecido por Deus para nossas vidas.
Deste modo, temer a Deus é aprender a viver em Sua
presença e se relacionar com Ele diariamente, e através deste relacionamento,
tratarmos aos outros e a nós mesmos de uma maneira digna. Aqueles que temem ao
Senhor eram consideradas nos tempos bíblicos pessoas fiéis e confiáveis, pois o
temor as levava a crer e agir segundo princípios morais (Ex 1.17,21; 18.21).
Temer ao Senhor implica em guardar seus mandamentos (Dt 6.2).
Temer a Deus é viver cada instante de nossas vidas
sabendo que Ele está presente em nossos dias, e, mais do que um medo de ser
encontrado em falta, está o desejo de desfrutar de tudo aquilo que o Senhor tem
para aqueles que estão em Sua presença.
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