“Alegrem-se em sua esperança, sejam pacientes ao passar
por dificuldades e não se afastem da oração.”
(Romanos 12.12 BJC [Bíblia Judaica Completa])
Nesta mensagem gostaria de comentar
sobre algo que provavelmente atinge todos os seres humanos: o sofrimento. Creio
que toda pessoa já passou por um período difícil em sua vida, ou talvez esteja
passando por ele. E é interessante escutar o que muitos dizem por aí respeito
desta situação. Existem pessoas que usam a existência do sofrimento como prova
de que Deus não existe. Dizem estas pessoas que se Deus é realmente bom e é
todo-poderoso, impediria que o mal atingisse a humanidade. Estas pessoas,
biblicamente falando, estão completamente equivocadas a respeito do mal e do
caráter de Deus.
Outras pessoas convidam-nos a ter um
encontro com Deus prometendo que nunca mais sofreremos. Isto é outro erro, e
não importam quais sejam as intenções destas, estão pregando heresias,
conceitos que contradizem a Palavra de Deus.
O fato é que o mal atinge a todos. O
versículo que abri a mensagem pertence à carta que Sha’ul [Paulo] escreveu à
comunidade messiânica que se reunia em Roma. No primeiro versículo deste
capítulo, o vemos dizendo: “Eu os exorto, irmãos, tendo em vista as misericórdias
de Deus que...”. Nesta carta do apóstolo, ele ficou os primeiros onze capítulos
ensinando a respeito das verdades a respeito da salvação, e a partir do décimo
segundo capítulo, ele começa a mostrar que tipo de comportamento estas verdades
precisam produzir em quem as recebeu. E a respeito do mal vemos uma pequena
exortação no meio do versículo doze: “sejam pacientes ao passar por
dificuldades”.
É interessante observar esta
recomendação de Sha’ul. A palavra usada originalmente e traduzida por
dificuldades é θλιψις (thlipsis) uma palavra
grega que significa literalmente prensar, pressão, e, num sentido metafórico, opressão, aflição, tribulação, angústia, dilemas. Ela reflete fielmente o
sentimento que assola nosso coração ao passarmos por momentos dificeis, não
importam quais sejam eles: problemas familiares, fianceiros, doenças e tantos
outros. Ao passarmos por estas situações, nos sentimos pressionados por elas, um
aperto no peito. Observe que Sha’ul não está dirigindo-se a pessoas que estão
longe do Senhor, mas a seguidores do Messias. Isto indica que para Sha’ul,
passar por momentos de aflições é natural. E ao passar por estes momentos, os
leitores da epístola recebem um conselho: ser pacientes. Mais uma vez, este
termo originalmente é υπομενω (hupomeno) que significa
permanecer, ficar firme, não retirar-se, não fugir. Deste modo, podemos ouvir
Sha’ul nos dizendo, não fuja das tribulações, quando a dificuldade vier sobre
ti, permaneça em Deus.
Quando
falamos em passar por momentos difíceis, quase todos nos lembramos de Iyov
[Jó]. Este livro retrata o ser humano afligido pelo mal. E nos dois primeiros
capítulos de Iyov ficamos sabendo de uma reunião celestial onde o Adversário
pede permissão a Deus para derramar sobre Iyov o mal. Nenhum mal é derramado
sobre o justo pelo Senhor. Deus permite que o mal venha sobre nós, mas não o
derrama sobre nós. Este mal vem através de diversas fontes: a primeira narrada
em Iyov é o nosso Adversário, nosso Acusador. Este traz o mal sobre nós não
apenas pelo prazer de nos ver sofrer, mas para que através dele possa encontrar
falhas em nós. Nosso caráter é revelado quando passamos por dificuldades. Deus
nos conhece totalmente, mas nem o Diabo, nem nós mesmos, e muito menos aqueles
que nos rodeiam, nos conhecemos totalmente. Quando passamos por situações
adversas àquilo que está dentro de nós, muitas vezes escondido, é manifestado.
E esta é uma das razões do Senhor permitir que o mal venha sobre nós: trazer ao
nosso conhecimento o que verdadeiramente somos.
Outras
fontes do mal que nos assola são nossas próprias decisões, e as decisões
daqueles ao nosso lado. Tais decisões são frutos de nosso livre arbítrio, e
como tal não serão impedidas pelo Senhor. Se eu decidir trilhar um caminho que
trará tribulações sobre mim, por mais que não deseje esta situação, Deus irá
respeitar minha decisão. Ele alerta em Sua Palavra, e me ensina como proceder,
mas jamais irá agir no meu lugar, ou controlar minhas atitudes ou decisões.
Quando
Iyov passou pela aflição, quatro amigos foram ter com ele, e passaram a
procurar a causa do sofrimento. Elifaz em seus discursos mostra que o mal
assola o homem devido o pecado. Ele inicia sua conversa com Jó apontando que
mesmo que não esteja claro a nossos olhos, somos pecadores e este pecado traz
sobre nós adversidades. Mais adiante ele inclusive aponta os pecados de Jó que
em sua visão eram a causa de todo o mal: Jó era rico, pois exigia bens de seus
irmãos e não utilizou sua riqueza para fazer o bem. Este é o raciocínio
presente em muitas pessoas. Não é difícil encontramos alguém que associa uma
doença ou qualquer outra adversidade ao indício de que existe algum pecado,
conhecido ou não, presente na vida do afligido.
Bildad
[Bildade] em seus discursos apresenta a tradição humana. Ele apela às gerações
mais antigas, indicando que a opinião de uma pessoa não vale nada, se comparada
aos ensinos dos antepassados. Quando o homem passa por adversidades, não são
poucos aqueles que não desejam ouvi-lo, apenas acusa-lo. “As coisas são deste
modo mesmo”, dizem, “você não poderá nadar contra a correnteza”. Muitos semeiam
desesperança na vida daquele que está com dificuldades. Convencem que Deus está
distante do sofredor e nada poderá alterar está realidade.
Tzofar
[Zofar] em seus discursos condena Iyov por sua verbosidade, presunção e
pecaminosidade. Chega
inclusive a concluir que Jó está recebendo menos do que merece. Quantos
acabamos ouvindo isto, ao passar por momentos difíceis.
Finalmente Elihu [Eliú] após todos
se calarem declara que em vez de aprender com o seu sofrimento, Jó demonstra a
mesma atitude dos ímpios para com Deus, e esta é a razão pela qual ainda está
sofrendo aflição.
Diferente do ponto de vista dos
amigos de Iyov, quando a dificuldade vem sobre nós, não precisamos ficar
procurando o que fizemos para merecê-la. Nunca saberemos o que teria acontecido
se agíssemos diferente no passado. Deste
modo chega de trazer mais peso sobre nós do que o próprio mal já trouxe.
Dificuldade não é sinal de pecado, se fosse assim poderíamos dizer que Yeshua
[Jesus] foi um grande pecador. Semelhantemente não podemos focar nossa atenção
no que os homens dizem, mas atentar ao que Deus está dizendo. E ele é bem claro
ao ensinar que nossos problemas não perdoam pecados. Somente o sacrifício de
Yeshua perdoa nossos pecados. Outro erro
que cometemos é ficar procurando o que precisamos aprender com a situação que
enfrentamos. Precisamos aprender diariamente com o Senhor, através da Bíblia, a
revelação de Deus para nós. Eu aprendo com Ele e na hora da angustia aplico o
que aprendi.
Fugindo destes erros e tendo a
consciência que o sofrimento vem sobre todos, precisamos saber que a diferença
está em como encaramos nossa tribulação. Usá-la como uma oportunidade de
realizarmos aquilo que temos aprendido do Senhor, e através desta atitude
passamos a conhecer melhor nosso Deus.
No final do período de provas, Iyov
pode dizer ao Senhor:
“Eu sei que tu podes fazer todas as coisas,
que nenhum dos teus propósitos pode ser frustrado.
“[Tu perguntaste:] ‘Quem é este que esconde o conselho
sem ter entendimento?’.
Sim, eu falei sem entendimento,
de maravilhas muito além de mim, que eu não conhecia.
“[Tu disseste:] ‘Por favor, ouça, e eu falarei.
Farei perguntas e você me dará as respostas’ –
Eu tinha ouvido falar de ti com meus ouvidos,
mas agora os meus olhos te veem;
portanto, detesto [a mim mesmo]
e me arrependo no pó e na cinza”.
(Iyov [Jó] 42.2-6 BJC)
Iyov pode reconhecer que apesar de
suas dificuldades o Senhor estava ao seu lado. E desta maneira mesmo a mais
dura angustia pode ser superada. E ele nos ensina a procurar ao Senhor em todos
os momentos que enfrentamos, não com questionamentos, mas com confiança de que
é Ele quem nos dá forças para permanecermos, mantendo-nos firmes na fé no
Messias.
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