domingo, 14 de junho de 2015

A cruz de Yeshua em minha vida

“Pois enquanto ainda estávamos sem esperança, nesse tempo exato o Messias morreu a favor dos ímpios. É raríssimo alguém entregar a vida em prol de uma pessoa justa, ainda que seja possível que por uma pessoa boa alguém tenha coragem de morrer. Deus, porém, demonstra seu amor por nós no fato de o Messias ter morrido a nosso favor enquanto ainda éramos pecadores. Portanto, pelo fato de agora sermos considerados justos mediante o sangue da morte decorrente do sacrifício, quanto mais seremos libertados da ira do juízo de Deus, por meio dele! Pois, se fomos reconciliados com Deus por meio da morte de seu Filho, enquanto éramos inimigos, quanto mais agora seremos libertados apenas no futuro, uma vez que fomos reconciliados! E não seremos libertados apenas no futuro, mas confiamos em Deus agora, pois ele agiu por intermédio de nosso Senhor Yeshua, o Messias, por meio de quem recebemos essa reconciliação. ”.
(Romanos 5.6 a 11 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Em nossa cultura ocidental, com todo sincretismo religioso e cultural, muitas vezes enxergamos a cruz apenas como um símbolo de uma religião ou a marca de uma igreja. Para muitos chega a ser um sinal ofensivo, para outros um símbolo tão comum que se passa até mesmo despercebido no meio de tantas informações que recebemos através de nossos sentidos.
            Mas a cruz é muito mais que o símbolo de uma determinada religião ou apenas mais uma informação que nos é passada. A cruz demonstra o amor de Deus por cada um de nós.
            Tal demonstração de amor deve gerar em nós algumas reflexões: de que modo somos afetados por este amor? Que tipo de escolhas temos diante dele? Como agir diante de tamanho amor? Nesta mensagem gostaria de convidá-lo a, juntamente comigo, refletir a respeito da cruz do Messias.
            Em primeiro lugar não consigo conceber a ideia de que não existe um Criador. Embora a comunidade de ateus e agnósticos esteja crescendo nos dias de hoje, quando olho para tudo o que existe: animais, plantas, planetas e estrelas, só consigo ver as mãos de Deus por traz de todas estas coisas. Sei que muitos zombam deste posicionamento, mas é difícil conceber a ideia do surgimento da vida como um mero acaso, quando a demonstração de tal fato exige um mecanismo complexo criado por um homem inteligente, como ocorre com o experimento de Miller.
            Sha’ul [Paulo] diz em sua carta aos romanos: “Desde a criação do Universo, [as] qualidades invisíveis [de Deus] – seu poder eterno e sua natureza divina – são claramente vistas, pois elas podem ser entendidas mediante as coisas que ele criou” (Romanos 1.20 BJC). Deste modo, em maior ou melhor escala, Deus é conhecido por todos, porém a maioria de nós rejeita ou já rejeitou tal conhecimento.
            A fonte de tal rejeição é a aversão ao fato de que se fomos criados por Deus, de que temos um proposito, um caminho a ser traçado, um alvo a ser alcançado. E não desejamos viver de acordo com as regras já estabelecidas. Queremos criar nossas próprias regras, viver do nosso jeito, e, do mesmo modo que as crianças fazem com seus pais, ficamos desafiando os limites que nos foram impostos, talvez inconscientemente esperando uma consequência, e quando esta não vem, nos afundamos cada vez mais no pecado, que nada mais é do que errar o alvo que foi estabelecido por Deus.
            Nesta postura de desafiar a Deus, de declarar independência a Ele e agir como se Deus não existisse ou simplesmente de ignorar tudo aquilo que é o alvo de Deus para nossas vidas, nos tornamos inimigos de Deus. Não é Ele que se torna nosso inimigo e se opões a nós; somos nós quem tomamos um posicionamento contrário ao Eterno, e tal posicionamento nos afasta daquele quem nos amou primeiro.
            Certa vez ouvi alguém argumentar que se Deus realmente nos ama, Ele permitiria que fizesse o que desejássemos para buscar a nossa felicidade. Tal pensamento não é de todo real. Realmente Deus nos ama e consequentemente deseja que estejamos em Sua presença eternamente. Porém Ele não irá nos obrigar a uma vida em Sua presença e nos deu direito de escolher entre estar ou não com Ele, e, para que pudéssemos fazer tal escolha, nosso Pai sinalizou o caminho que deveríamos traçar para que O encontrássemos, este é o nosso alvo.
            Mas na busca de nossos próprios interesses, abandonamos este caminho, andando cada vez mais para longe de Deus. E é neste momento que a maior prova do amor de Deus por nós foi feita. Longe dele, sem nenhuma atitude que pudesse contar em nosso favor, muito pelo contrário, agindo abertamente e conscientemente contra ao nosso Criador, Ele enviou Yeshua [Jesus] para morrer por nós, e desta maneira, mesmo sem nenhuma ação de nossa parte que conte a nosso favor, mediante tal sacrifício somos considerados justos por Deus e reconciliados com nosso Pai.
            Assim, antes da cruz de Yeshua, só tínhamos diante de nós o caminho escolhido pelo primeiro homem Adam [Adão] e traçado por toda a humanidade que nos levava cada vez mais para longe do Senhor. Após a mesma foi colocado diante de nós outro caminho, na realidade uma escolha: podemos continuar buscando nossos próprios interesses e sendo as pessoas que desejamos ser e caminhar para longe do Senhor, ou podemos nos render a tal amor e, direcionando-nos para Deus, buscar o alvo que foi estabelecido para nós.
            Esta escolha é o que denominamos conversão, pois é nesse momento que convertemos nossos caminhos para o caminho estabelecido por Deus. Isto significa que nos convertermos não é ingressarmos em uma determinada religião, antes disto, agirmos de acordo com a vontade do Senhor.
            Muitos usam a religião como desculpas para as vidas medíocres de desejam continuar vivendo, e o pior, tentam usar Deus e a Sua Palavra como desculpas. Não é raro encontrar pessoas dizendo que podem fazer qualquer coisa pois em Yeshua são livres. Mas converter nossos caminhos ao Senhor não significa adquirir liberdade. Conforme mencionei anteriormente, o sacrifício de Yeshua nos deu liberdade de escolher entre estar ou não com o Senhor. Após esta escolha não tenho mais liberdade de fazer o que desejo, preciso agir de acordo com o que escolhi.
            São minhas ações que colocarão em prática a minha escolha. Se dirigindo meu carro, pego a estrada na direção do Rio de Janeiro, não adianta somente desejar ir para São Paulo, meu destino será outra cidade. Quando percebo que estou na direção incorreta, preciso fazer um retorno para ir até o destino que procuro. Deste modo, não adianta escolher estar com Deus, frequentar uma igreja, participar de todos os rituais oferecidos pela mesma, mas continuar a agir diferente do padrão estabelecido pela Bíblia. Como mais uma vez Sha’ul diz: “Porque não são os meros ouvintes da Torah a quem Deus considera justos; antes, são os praticantes do que a Torah diz considerados justos à vista de Deus. ” (Romanos 2.13 BJC).
            Desde modo, quando, pela cruz, tenho contato com o amor do Senhor, e mediante tal amor tomo a decisão de mudar minha rota, tal mudança é estabelecida mediante a busca por ser uma pessoa diferente.

“Por isso, façam morrer as partes terrenas de sua natureza: imoralidade sexual, impureza, lascívia, desejos maus e ganancia (uma forma de idolatria). Por causa dessas coisas, a ira de Deus está vindo sobre os que lhe desobedecem. É verdade que vocês praticaram essas coisas em sua vida pregressa, mas, agora, livrem-se delas: ira, irritação, mesquinhez, calúnia e linguagem indecente. Nunca mintam uns aos outros, porque vocês já se despiram do velho ‘eu’, com suas formas de agir, e se revestiram do novo ‘eu’, que é continuamente renovado em conhecimento mais abrangente, cada vez mais perto do Criador. O novo ‘eu’ não dá margem para discriminação entre gentio e judeu, circunciso e incircunciso, estrangeiro, selvagem, escravo e livre, ao contrário, o Messias é tudo em todos. ”
(Colossenses 3.5 a 11 BJC)

            Não somos convidados a pertencer a um grupo religioso, mas a agir de modo diferente. O agir é superior à religião. Não podemos perder o foco: quem nos reconcilia com Deus é Yeshua, mas, uma vez reconciliados, passamos a viver uma vida diferente, uma vida que busca colocar em prática o padrão do Senhor para nós, e uma vez neste processo, passamos a congregar com outros que, assim como nós, decidiram converter seus caminhos a Deus, de modo que possamos nos auxiliar mutuamente a alcançar o alvo estabelecido pelo Eterno a cada um de nós. É por isto que o autor da carta aos Judeus messiânicos [Hebreus] diz: “E mantenhamos a atenção dada uns aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas ações; não negligenciemos nossas reuniões congregacionais, como fazem alguns; ao contrário, procuremos nos encorajar” (Judeus messiânicos 10.24 e 25 BJC).
            Uma vida sem mudança é o sinal de que não houve conversão, apenas emoção. É uma vida que continua caminhando longe do Senhor e para longe dEle.
            Mas, deixar de praticar o mal não é a única coisa que precisamos ao convertermos nossos caminhos ao Senhor. É preciso ir além disto: precisamos praticar o bem. Conforme aprendemos com Sha’ul: “Porque somos feitos por Deus, criados em união com o Messias Yeshua para a vida de boas ações já preparadas por Deus para serem realizadas por nós. ” (Efésios 2.10 BJC).
            Praticar o bem é um pré-requisito para vivermos a vida que nosso Senhor tem para nós. “A observância religiosa que Deus, o Pai, considera pura e irrepreensível é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar contaminar pelo mundo. ” (Ya’akov [Tiago] 1.27 BJC). “Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado. ” (Ya’akov 4.17 BJC).
            O melhor diagnostico que existe para nossa fé são as nossas ações. São elas que nos dizem se estamos com Deus apenas em palavras ou se verdadeiramente estamos com Deus. Nossas decisões e nossas ações devem ser regidas pela nossa decisão de estar com o Senhor.

            Portanto, saiba que o Senhor te ama a ponto de entregar Yeshua para morrer em seu lugar. Este sacrifício nos deu a oportunidade de escolher caminhar ao encontro de Deus ao invés de nosso antigo caminho que nos levava para longe dEle. Andar por este caminho implica sermos pessoas diferentes que reprimem seus maus desejos e buscam praticar as boas ações criadas por Deus para nós.

domingo, 7 de junho de 2015

O Temor do Senhor

“Venham, crianças, atentem para mim; eu as ensinarei a temer ADONAI. Quem de vocês tem prazer em viver? Quem deseja uma vida longa para ver coisas boas? [Se assim for, ] mantenham sua língua afastada do mal, e seu lábios, de conversas enganadoras. Desviem-se do mal e façam o bem; busquem a paz e sigam-na! Os olhos de ADONAI assistem os justos, e seus ouvidos estão abertos a seu clamor. Mas o rosto de ADONAI se opõe aos que praticam o mal, para exterminar-lhes a memória da face da terra”.
(Tehillim [Salmos] 34.12 a 17 (11 a 16) BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Escutamos muito a expressão: “temor do Senhor”, mas compreendemos muito pouco o que ela representa. Desta forma, gostaria de compartilhar um pouco a respeito do que tenho aprendido a respeito deste tema, esperando que o Senhor possa ministrar no coração de todos os que lerão esta mensagem.
            Nos versículos que coloquei acima, vemos David [Davi] se propondo a ensinar a seus leitores a temerem ao Senhor. Ele estava vivendo um momento muito difícil em sua vida, afinal Sha’ul [Saul] desejava mata-lo, e, sob a orientação de seu amigo Y’honatan [Jônatas], David fugiu e procurou ajuda de Akhish [Aquis], rei de Gat [Gate], que encarou a visita como agressiva. Para escapar da ira do rei, David se faz de louco, e consegue sair em segurança. Assim, ele escreve Tehillim [Salmo] 34, para louvar ao Senhor pelo livramento e incentivar a todos a viverem uma vida na presença de Deus.

“Experimentem, e veja que ADONAI é bom. Abençoados são os que nele se refugiam! Temam ADONAI vocês, separados dele, pois aos que o temem nada lhes falta. ”
(Tehillim 34.9 e 10 (10 e 11) BJC).

            David sabia o que era temer ao Senhor, e desejava que outras pessoas pudessem desfrutar daquilo que estava vivendo, assim além de incentivar a todos a experimentarem uma vida com Deus, ele se propõe, como vimos antes, a ensinar a todos a esta vida.
            Assim, primeiramente, o que significa temor? No hebraico, a palavra traduzida como temor é יראה (yir’ah), que além de temor, pode significar reverência moral, pavor. Porém, tratando-se do temor para com Deus, ele é visto como uma qualidade positiva: uma confiança reverente no Senhor, que acaba levando a uma espécie de ódio ao mal.
            De certo modo, temor significa medo, mas não um medo descontrolado, representa um profundo respeito. É um sentimento parecido com o que temos ao estarmos diante de uma autoridade, como um policial, por exemplo. Quando somos parados em uma blitz de trânsito, olhamos o policial, respeitamos a sua função e sabemos que se não estivermos dentro da lei ele poderá nos prejudicar. Chegamos a, inclusive, recear que ele encontre algo errado em nossos veículos. Não é um pavor incontrolável, ou uma fobia, mas um profundo respeito e um medo de ser encontrado uma falha em nós. Se possuímos a certeza de que está tudo correto conosco e com nosso automóvel, ficamos tranquilos.
            O mesmo ocorre por exemplo quando estamos fazendo uma prova na escola. Estamos sob o olhar de professores, ou aplicadores de prova. Se estamos resolvendo a mesma dentro das regras estabelecidas, ficamos tranquilos em relação à fiscalização que estamos sujeitos, mas se estamos colando, ou usando um material não autorizado, ficamos receosos de sermos pegos. Mais uma vez, este sentimento não é uma fobia, nunca vi ninguém sair correndo de um aplicador de prova, mas um respeito profundo por aquela função, aliado a um incomodo quando não estamos agindo de acordo com o esperado.
            A este sentimento denominamos temor, e aplicado ao Senhor ele possui o mesmo significado. Temer ao Senhor é respeitarmos ao Senhor e reconhecer quem é Deus e quem somos nós, é sabermos ficar no nosso lugar. Temer ao Senhor é saber qual é o lugar de Deus em nossas vidas, é um sentimento que permite que nos relacionemos adequadamente com nosso Criador.

“a sabedoria é, em primeiro lugar, o temor a ADONAI; todos os que vivem por ela adquirirão bom senso. ”
(Tehillim 111.10 BJC)

            O temor do Senhor dá início à sabedoria. Esta é a arte de viver, e existem três elementos importantes em nossa vida:







            Assim a sabedoria é saber viver bem com estes três elementos de nossas vidas. Preciso saber viver na presença de Deus, sabendo que ela é constante em minha vida, preciso saber viver bem com todos aqueles que estão ao meu lado, independente de qual seja o ambiente, e preciso saber viver bem comigo mesmo. Uma pessoa só pode ser considerada sábia se aprendeu a arte de viver nestes três fundamentos de nossas vidas.
            De acordo com a Bíblia tal arte de viver começa no temor do Senhor. E é por isso que David pergunta se temos prazer em viver, e se desejamos uma vida longa. E, como provavelmente todos respondem a estas perguntas de modo afirmativo, ele inicia o seu ensino de como podemos temer ao Senhor.
            Primeiramente somos alertados a “mantermos a língua afastada do mal e os lábios de conversas enganadoras” (Tehillim 34.14 (13) BJC). Note que o conselho é o mesmo que Ya’akov [Tiago] escreve séculos mais tarde:

“Alguém que se considera observante da religião e não controla sua língua está enganando a si mesmo, e sua observância não vale nada. ”.
(Ya’akov [Tiago] 1.26 BJC)

            Quem teme ao Senhor cuida daquilo que fala. Não fala tudo aquilo que pensa, mas pensa antes de falar. Nossas palavras podem destruir ou edificar alguém, depende do modo que as proferimos. Este é um princípio importante para aqueles que querem viver bem com o outro.
            Em segundo lugar, David nos ensina a “nos desviarmos do mal” (Tehillim 34.15 (14) BJC). O conselho da palavra não é que resistamos ao mal, mas nos desviarmos dele. Muitos querem bancar os fortes, ficar ao lado do mal e dizer que não serão afetados, mas esquecem dos ensinamentos de Sha’ul [Paulo]:

“Por isso, fuja das paixões da juventude”
(2 Timóteo 2.22 BJC)

            Temos a tendência a praticar o mal a cada dia de nossas vidas, e conviver com ele irá primeiramente cauterizar a nossa consciência (1 Tm 4.2). Isto significa que passamos a ver o mal como algo comum. Em segunda instancia, aquilo que julgamos comum passa a ser praticado por nós.
Não somos sectários, nem melhores do que os outros, mas “Não sejam enganados. ‘Más companhias estragam o bom caráter”. (1 Coríntios 15.33 BJC). Amamos as pessoas e consequentemente queremos estar com elas, mas não precisamos estar juntos enquanto praticam o mal.
            Se você conhece alguém com vício em bebida alcoólica, por exemplo, com certeza irá conversar com ela, e se relacionar muito bem com a mesma, mas não desejará estar com ela em um bar vendo-a passar dos limites e prejudicar a si mesma neste processo.
            Mas apenas se afastar do mal não é o suficiente, somos alertados a “fazer o bem” (Tehillim 34.15 (14) BJC).

“com os que invocam o Senhor com o coração puro, siga em busca da justiça, da fidelidade, do amor e da paz”.
(2 Timóteo 2.22 BJC)

“Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado. ”
(Ya’akov 4.17 BJC)

            Somos chamados para fazer o bem. Tudo o que temos no Senhor é somente mediante à Sua graça, mas fomos criados “para a vida de boas ações já preparadas por Deus para serem realizadas por nós” (Efésios 2.10 BJC). Assim, se não praticamos o bem, estamos pecando, ou seja, estamos fora errando o alvo estabelecido por Deus para nossas vidas.
            Deste modo, temer a Deus é aprender a viver em Sua presença e se relacionar com Ele diariamente, e através deste relacionamento, tratarmos aos outros e a nós mesmos de uma maneira digna. Aqueles que temem ao Senhor eram consideradas nos tempos bíblicos pessoas fiéis e confiáveis, pois o temor as levava a crer e agir segundo princípios morais (Ex 1.17,21; 18.21). Temer ao Senhor implica em guardar seus mandamentos (Dt 6.2).

            Temer a Deus é viver cada instante de nossas vidas sabendo que Ele está presente em nossos dias, e, mais do que um medo de ser encontrado em falta, está o desejo de desfrutar de tudo aquilo que o Senhor tem para aqueles que estão em Sua presença.

domingo, 19 de abril de 2015

Você é o que adora

“Não a nós, ADONAI, não a nós, mas a teu nome seja a glória, por causa de tua graça e de tua verdade.”
“Por que as nações perguntam: ‘Onde está o Deus deles?’. Nosso Deus está no céu; faz o que lhe agrada.”
“Os ídolos deles são apenas prata e ouro, feito por mãos humanas. Têm boca, mas não podem falar; têm olhos, mas não podem ver; têm ouvidos, mas não podem ouvir; têm nariz, mas não podem cheirar; têm mãos, mas não podem sentir; têm pés, mas não podem andar; com sua garganta, não podem emitir som. Os povos que os fazem se tornarão como eles, juntamente com todos aqueles que neles confiam.”
“Yisra’el, confie em ADONAI! Ele é seu auxílio e escudo. Casa de Aharon, confie em ADONAI! Ele é seu auxílio e escudo. Vocês, que temem ADONAI, confiem em ADONAI. Ele é seu auxílio e escudo. ADONAI se lembra de nós e nos abençoará. Abençoará a casa de Yisra’el; abençoará a casa de Aharon; abençoará todos os que temem ADONAI, tanto grandes quanto pequenos.”
“Que ADONAI aumente o seu número, tanto de vocês quanto de seus filhos. Que vocês sejam abençoados por ADONAI, o criador do céu e da terra. O céu pertence a ADONAI, mas a terra ele deu à humanidade.”
“Os mortos não podem louvar ADONAI, nem aqueles que descem ao silêncio. Mas nós bendiremos ADONAI desde agora e para sempre. Halleluyah!”
(Tehillim [Salmos] 115 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            O salmo acima pertence ao grupo de salmos conhecidos como Halel [louvores] Egípcio, Tehillim [Salmos] 113 a 118, devido à sua associação com o livramento de Yisra’el [Israel] da servidão egípcia. Estes Tehillim são entoados em Pessach [Páscoa], louvando ao Senhor pelo grande livramento. Os últimos quatro, Tehillim 115 a 118, são chamados de o Grande Halel e entoados no Seder de Pessach após a refeição, entoados inclusive por Yeshua [Jesus] no final do último Seder ministrado por ele (Mt 26.29 e 30).
            O texto inicia atribuindo glória a Deus, e não aos homens. Glória no hebraico é כבוד (kabhodh) que literalmente representa peso. Quando o texto fala da glória dada ao Senhor, ele fala do peso que atribuímos a Deus, ou seja, a importância que Ele recebe em nossas vidas. Assim, o autor do salmo já inicia sua mensagem dizendo que a maior importância deve ser dada ao Eterno e não a nós mesmos. Isto não é simplesmente o mandamento de um deus egocêntrico que ordena que o consideremos importante, mas o concelho de um homem que experimentou a intimidade deste Deus. E este homem justifica a razão deste conselho: a graça e a verdade de Deus.
A graça (hesedh) é a benevolência, benignidade, misericórdia, bondade, fidelidade, amor e beneficência de Deus colocados em ação. É mais do que somente o favor imerecido que muitas vezes utilizamos para explicar tal palavra. É o fundamento para os atos do Senhor e seu caráter. O Salmo 136 é um ótimo exemplo disto, onde vemos que é a graça do Senhor que fez com que Ele agisse. E Ele faz porque assim o deseja, e não porque é obrigado, como muitas vezes nós agimos. Muitas vezes o bem que fazemos é devido a uma promessa que fizemos e precisamos cumprir, ou porque sabemos que precisamos agir deste modo. Mas nosso Deus é diferente, Ele age deste modo porque Ele é deste modo. O salmista, tendo experimentado tal característica do Senhor, pode dizer com propriedade que o melhor é confiarmos, darmos importância para um Deus como este, e não confiarmos em nossas próprias mãos.
Repare que confiança é fé, ou seja, em nossa vida com Deus dar glória, dar peso, confiar e ter fé acabam se misturando. E assim o primeiro versículo deste salmo é um alerta contra a fé em um falso deus, um deus procurado pelos homens, um deus que é visível e faz a vontade do homem. É neste sentido que “as nações” do versículo 2 perguntam: “Onde está o Deus deles?”. As nações procuram um deus que está sempre disposto a agradar seus seguidores, um deus que é na verdade um escravo. A humanidade deseja ser tratada como deus, e procura alguém que a sirva, que atenda aos seus caprichos. Muitos de nós queremos impor nossos desejos, nossas necessidades, e para isto estamos dispostos inclusive a adulterar o texto bíblico de modo que este defenda o nosso ponto de vista. Criamos um deus que nos agrada e assim muitos acabam se transformando, mesmo sem ter consciência disto, em henoteístas, ou seja, pessoas que acreditam em vários deuses, mas um possui qualidade suprema, como os habitantes do reino de Yisra’el [Israel] na época do profeta Eliyahu [Elias] que acreditavam no Senhor mas também serviam a Ba’al [Baal] para receberem o que desejavam (1 Rs 18).
Mas mesmo reconhecendo que o Criador é um Deus verdadeiro, se esculpimos um deus que está de acordo com nossos interesses somos idolatras, pois, conforme o próprio texto bíblico ensina, “Nosso Deus está no céu; faz o que lhe agrada.” Ele não pode ser manipulado por nós. Não importa se eu me agrado ou não com os seu agir, Ele vai agir de acordo com Sua vontade. Não importa se eu concordo com ou não com a Bíblia, ela continua sendo a Palavra de Deus, e qualquer tentativa de muda-la só me transforma num “estuprador” que “violenta” textos bíblicos para que eles satisfaçam o meu desejo, independente do seu propósito original.
Repare na descrição do salmista dos ídolos: têm boca, olhos, ouvidos, nariz, mãos, pés, garganta. Eles são criados de modo a terem a aparência do homem racional. Eles, por assim dizer, falam a nós tudo aquilo que desejamos ouvir; veem e se agradam daquilo que mostramos em nosso viver; ouvem e concordar com tudo o que falamos; cheiram e se agradar do cheiro real de nossas vidas, muitas vezes podres por dentro; tocam-nos com suas mãos, nos sentem e nos acariciam mostrando que aceitam tudo aquilo que fazemos; andam e nos guiam pelo caminho que desejamos traçar. Esculpimos deuses que nos mostram que podemos ser e fazer tudo o que realmente queremos, mas no lugar de sermos aceitos verdadeiramente, nos transformamos nestas esculturas: não podemos falar com Deus, ver a Deus, ouvir o que Ele tem a nos dizer, sentir o seu bom cheiro, toca-lo, senti-lo e muito menos caminhar com Ele. E ao invés de estarmos diante de nosso Deus, estamos diante de um espelho e enxergamos a nós mesmos como deuses, numa autoidolatria, pois acreditamos que somos melhores do que os demais, e que sabemos mais do que todos, e que não devemos nada a ninguém. E isto é o que mais nos afasta da Presença Divina.
Contra este sentimento o salmo nos ensina a confiarmos no Senhor. O verbo confiar, no original hebraico batah, literalmente é correr em busca de refúgio. E observe que o convite a esta corrida é a Yisra’el, a Casa de Aharon [Aarão] e a todos os temem ADONAI [o Senhor]. Vemos neste convite que “nenhuma descendência física (Yisra’el) e nenhuma ordenação sacerdotal (casa de Aharon) é suficiente para uma pessoa pertencer a este último grupo (todos os que temem ADONAI), que adora a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.24).” (SHEDD, Russel P. Bíblia Shedd, São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 882).
E, da mesma forma que já conversamos antes, a confiança no Senhor, não é simplesmente o fruto de um mandamento, mas um concelho daquele que já desfrutou de tudo o que o Senhor é: auxílio, escudo, aquele que se lembra de nós e nos abençoa. Não é confiar para buscar os benefícios de um deus/escravo, mas a confiança em um Deus que já nos abençoou. É interessante notar que inclusive a palavra bênção no hebraico é barakh, que significa ajoelhar-se, sugerindo o dobrar do joelho durante a benção. Este dobrar mostra uma sujeição, um reconhecimento de autoridade. Deste modo ser abençoado não significa simplesmente ser premiado com aquilo que desejo, mas um reconhecimento de quem verdadeiramente é Deus, e uma sujeição à Sua vontade, e esta vontade, colocada em prática em minha vida, é que irá me beneficiar.
Por muito tempo justificamos nossa má conduta dizendo que na sociedade em que vivemos é difícil agir de acordo com a Palavra. Realmente é difícil, mas não é impossível. Tudo é uma questão de prioridades, de importância, de peso. Se me preocupo primeiramente com a maneira que desejo me sentir, com a turma que desejo andar, com a música que desejo ouvir, criarei um ídolo para mim e me tornarei como ele.
Não quero fazer a famosa distinção entre música secular e música gospel, pois acredito que esta não corresponda a atualidade. O fato é que quem compõe músicas coloca nas mesmas o que ele sente, e estes sentimentos são gerados em nossos corações ao ouvirmos. Assim, quando ouvimos uma música que fala de depressão, nos sentimos deprimidos, quando ouvimos uma música que fala de violência, ficamos violentos. E isto ocorre também com filmes, com livros, e assim por diante com as informações que recebemos de diversas mídias. O sentimento que estava no coração dos autores é gerado dentro de nós. Isto mostra os cuidados que precisamos ter com aquilo que assistimos e ouvimos, e, infelizmente, hoje em dia este cuidado não é só observar se o escritor/compositor se converteu ou não, até porque somente Deus pode dizer se alguém realmente converteu os seus caminhos ao Senhor. Vemos diversos cantores “gospel” incentivar em suas músicas somente o pedir para Deus e um relacionamento baseado em lucro pessoal, o ser melhor que os outros, e diversos outros tipos de sentimentos destrutivos. O cuidado é analisar realmente o tipo de mensagem e de sentimento que está por trás daquilo que assistimos e ouvimos e baseado nesta análise, a decisão: isto é para mim?
Semelhantemente preciso tomar cuidado com o tipo de lugar que tenho frequentado, e com quem tenho andado. Isto não é para se tornar uma acepção de pessoas, mas um convite para que eu seja o homem/mulher que Deus realmente criou, com ações condizentes com a de um filho de Deus, e não a pessoa que eu me torno para ser aceito em determinada turma. Assim, se um lugar é estabelecido para que as pessoas se prostituam, não é um lugar para mim, se um lugar é estabelecido para que os bons costumes não sejam praticados, não é um lugar para mim. Muitos dizem terem liberdade para escolher aonde ir, e isto de certa forma é uma verdade. Nosso Messias nos libertou, e deste modo temos liberdade de escolha entre estar com Deus e não estar com Deus. As minhas decisões tomadas diante desta liberdade definirão que deus realmente escolhi: o verdadeiro Deus, ou qualquer um outro.
E não se engane, somos mais fortes que o sistema. Recentemente li uma matéria que me chamou muita atenção. Embora não goste de novelas li alguma coisa a respeito de uma recente novela da Rede Globo que mostrava basicamente a má conduta governando. Esta emissora é conhecida por ditar moda entre o povo brasileiro, porém esta novela teve um alto índice de rejeição primeiramente pelos evangélicos que a boicotaram e por diversas famílias brasileiras que preferiram uma programação mais familiar oferecida por outras emissoras. Com baixíssimos níveis de audiência, o roteiro da novela foi alterado para que a mesma não fosse cancelada.
Assim não preciso me corromper para ser como o sistema, posso permanecer em Deus e ser a diferença. Só temos uma oportunidade de viver, e com isto apenas uma oportunidade de escolher louvar ao Senhor com nossa vida. Temos diante de nós uma escolha, e temos a oportunidade de escolher conquistada por Yeshua, e a força para escolher mediante o Ruach HaKodesh [Espírito Santo]. Mas ninguém irá escolher por nós, somente eu poderei dizer a que deus eu estou disposto a servir, e mais do que uma frase dita em um dia em que minhas emoções foram tocadas, esta escolha é feita a cada dia mediante as minhas atitudes.

“Não a nós, ADONAI, não a nós, mas a teu nome seja a glória” é a oração sincera de alguém que já fez a sua escolha. A escolha de quebrar o espelho que está a sua frente e o ídolo que está ao nosso lado para servir o verdadeiro Deus.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Importância do Ensino da Torah

“Todo o povo se reuniu de comum acordo no espaço aberto diante do portão da Água e pediu a ‘Ezra, o mestre da Torah, para trazer o pergaminho da Torah de Mosheh, que ADONAI entregara a Yisra’el. ‘Ezra, o kohen, levou a Torah diante da assembleia, que constituía em homens, mulheres e todas as crianças com idade suficiente para entender. Era o primeiro dia do sétimo mês. De frente para o espaço aberto diante do portão da Água, ele leu para os homens, as mulheres e as crianças capazes de entender desde a manhã até o meio-dia; e todo o povo prestou atenção [à leitura] do pergaminho da Torah. ‘Ezra, o mestre da Torah, estava em uma plataforma de madeira, feita com esse propósito; ao lado direito dele, estavam Mattityah, Shema, ‘Anayah, Uriyah, Hilkiyah e Ma’aseiyah; e à sua esquerda, P’dayah, Misha’el, Malkiyah, Hashum, Hashbadanah, Z’kharyah e Meshulam. ‘Ezra abriu o pergaminho onde todo o povo pudesse vê-lo, pois ele estava em um nível mais alto que todo o povo; quando ele abriu, todo o povo se pôs em pé. ‘Ezra bendisse ADONAI, o grande Deus, e todo o povo respondeu: ‘Amen, Amen!’, enquanto eles levantavam as mãos, abaixavam a cabeça e se prostavam diante de ADONAI, com o rosto em terra. Os l’vi’im Yeshua, Bani, Sherevyah, Yamin, ‘Akuv, Shabtai, Hodiyah, Ma’aseiyah, K’lita, Azaryah, Yozavad, Hanan e P’layah explicavam a Torah ao povo, enquanto o povo permanecia em seu lugar. Eles leram com clareza o pergaminho, a Torah de Deus, traduziram-na e fizeram o povo entender o que era lido.”
“Nechemyah, o tirshata, ‘Ezra, o kohen e mestre da Torah, e os l’vi’im que ensinavam o povo disseram: ‘Consagrem-se hoje a ADONAI, seu Deus; não lamentem nem chorem’. Pois o povo chorou quando ouviu as palavras da Torah. Então ele lhes disse: ‘Vão, alimentem-se bem, tomem bebidas doces e enviem porções de comida a quem não tiver provisão, pois hoje é um dia consagrado ao nosso Senhor. Não fiquem tristes, pois a alegria de ADONAI é a sua força’. Desse modo, os l’vi’im acalmaram o povo, pois disseram: ‘Estejam calmos, pois hoje é um dia sagrado; não fiquem tristes’. Em seguida, o povo partiu para comer, beber, enviar porções e celebrar, pois haviam entendido as palavras que lhes tinham sido comunicadas.”
(Nechemyah [Neemias] 8.1-12 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            A passagem acima narra um evento ímpar na história do povo de Yisra’el [Israel], um divisor de águas na história dos israelitas, onde enxergamos o Eterno agir entre Seu povo, para aproximá-los do propósito que desde o princípio traçou para eles, a partir do chamado de Avram [Abrão], que posteriormente teve seu nome mudado para Avraham [Abraão]. Todo este grande mover começou com a leitura e a explicação da Torah [ensino, Lei, Pentateuco], feita pelo kohen [sacerdote] ‘Ezra e os l’vi’im [levitas] e gerou uma transformação tão grande entre todos os israelitas, mudanças que trataremos mais adiante, que gostaria de dedicar esta meditação a responsabilidade que todo aquele que intenta estar diante do Criador possui de conhecer os Seus ensinamentos.
            Originalmente os livros de ‘Ezra [Esdras] e Nechemyah [Neemias] constituíam apenas uma obra que narra o retorno do povo de Yisra’el do cativeiro babilônico. O livro de ‘Ezra nos ensina que, em aproximadamente 539 A.E.C. [Antes da Era Comum], Koresh [Ciro], rei da Pérsia, promulgou um decreto permitindo que o povo de Yisra’el retornasse a Yerushalayim [Jerusalém] a fim de reconstruir o Templo destruído anos antes por N’vukhadnetzar [Nabucodonosor] (Ed 1.1-4). Em meio a uma grande oposição, esta obra foi concluída, entre 539 e 516 A.E.C., sob a orientação de Z’rubavel [Zorobabel] e dos profetas Hagai [Ageu] e Z’kharyah [Zacarias] (Ed 3 a 6; Ag; Zc).
            Após a reconstrução do Segundo Templo, entre 485 e 474 A.E.C, ocorreu o grande livramento narrado em Ester, até que, em aproximadamente 459 A.E.C, o kohen ‘Ezra vai a Yerushalayim a fim de ensinar ao povo a Torah (Ed 7 a 10). Anos mais tarde, em 445 A.E.C., Nechemyah vai a Yerushalayim a fim de reconstruir os muros da cidade (Ne 1 a 7).
            Desde modo, no início da passagem lida no início desta meditação, encontramos um povo escolhido pelo Senhor, que ansiava cumprir os propósitos do Eterno, mas que carregavam dentro de si os costumes, a cultura e o modo de vida que os 70 anos que ficaram sob o domínio babilônico havia impostos a eles. Muitos estavam casados com estrangeiras, muitos nem sequer conheciam o que a Torah falava, eles nem falam mais hebraico, a língua em que a Torah foi escrita.
            Assim, mais do que um propósito humano, vejo que era um desejo divino que a Torah fosse mais uma vez ensinada, a fim de que o povo tivesse mais uma oportunidade de conhecer o seu Deus, e relacionar-se adequadamente com Ele. Assim começa a leitura pública promovida por ‘Ezra, o kohen, e Nechemyah, o tirshata, [tirsata], o governador.
            Existem diversos aspectos nesta passagem que gostaria de ressaltar, a fim de extrair verdades muitas vezes não percebidas durante uma leitura rápida.
            O primeiro aspecto é o quando esta leitura ocorreu. O texto é claro ao dizer que foi no começo do sétimo mês (Ne 7.73 (8.1)), e que “era o primeiro dia do mês” (Ne 8.2). Ora, o sétimo mês no calendário bíblico é o mês de Tishrê, e exatamente este dia é o dia do toque do shofar [trombetas] (Vayikra [Levítico] 23.23 a 25), hoje conhecido como Rosh Hashaná, a cabeça do ano judaico. As trombetas são símbolos de testemunho, relacionadas com o reajuntamento e o arrependimento de Yisra’el (Is 18.3, 27.13 e Jl 2.1-3.21), e o toque do shofar marca o início de um dos períodos mais sagrados para todos os judeus com o Rosh Hashaná no dia 1 de Tishrê, Yom Kipur, o Dia do Perdão, no dia 10 de Tishrê e Sucot, a Festa das Cabanas (Tabernáculos) no dia 15 de Tishrê. Desta forma, o dia de tal reunião de leitura não foi um acaso, mas uma data escolhida nos céus para marcar o início de um novo tempo a todos os israelitas, um dia descrito pela Torah como uma “santa convocação” (Lv 23.24).
            Vejo, através disto, que nosso Senhor é um Deus de recomeços. Ele sempre nos chama a recomeçarmos nossa vida ao Seu lado. Através de Sua Torah, sempre nos convida a uma vida consagrada, uma vida vivida debaixo do entendimento que temos sobre nossas cabeças o nosso Criador, e inclusive sobre o nosso pensar devemos entroniza-lo. Este é o significado do Kipa, que utilizamos, mas mais do que uma vestimenta, precisamos deste entendimento.
            O texto continua dizendo que “todo o povo se ajuntou como um só homem” (Ne 8.1). Mais uma vez é um indicio da maneira como o Senhor deseja atuar: entre o Seu povo. Isto me ensina que nosso crescimento deve ser em unidade, sem que uma determinada pessoa acabe se sobressaindo sobre os demais. Muitos adquirem conhecimento apenas para parecerem importantes, para estarem à frente de um povo, mas é apenas o Eterno quem deve realmente aparecer. Um p’rushim [fariseu] chamado Sha’ul [Paulo], anos mais tarde, ensinou que a tarefa de qualquer um que obteve algum entendimento é “preparar o povo de Deus para a obra de edificar o corpo do Messias, até que todos cheguemos à unidade implicada pelo confiança e pelo conhecimento do Filho de Deus, e à plena virilidade, segundo o padrão de maturidade estabelecido pela perfeição do Messias.” (Efésios 4.12 e 13 BJC).
            Crescer como um corpo é crescer uniformemente. Em um corpo saudável não é apenas a mão que cresce, nem só a perna, ou a cabeça. Mas cada membro ou órgão de nosso corpo cresce juntamente com todos os outros de modo sincronizado e proporcional. Assim deve ser o povo de Deus: precisamos crescer em unidade, aprender a viver para o Senhor uns com os outros e amadurecermos o nosso comportamento de modo sincronizado, assim nenhum de nós irá parecer superior aos demais, mas como um só corpo seremos capazes de realizar a vontade de nosso Deus, de modo que apenas Ele apareça.
            Observe que ‘Ezra é descrito como mestre da Torah [escriba] (Ne 8.1,4,9) e como kohen [sacerdote] (Ne 8.2,9). Como kohen ele era responsável pela preservação dos pergaminhos da Torah e de tudo aquilo que pertencia ao Senhor. Como mestre da Torah ele era responsável por copia-la em novos pergaminhos a fim de difundir entre todo o povo a Lei do Senhor e substituir os manuscritos afetados pelo tempo. Ele foi o responsável por preservar e ensinar a Palavra de Deus. A Torah foi lida e explicada durante aproximadamente seis horas por dia em 23 dias (Ne 8.3,18,9.1-3) começando em Rosh Hashaná e terminando somente em Simchat Torah. Ele só foi capaz de realizar tal obra, pois primeiramente “dedicava o coração ao estudo e à prática da Torah de ADONAI e ao ensino a Yisra’el de suas leis e regras.” (‘Ezra 7.10 BJC). Ele não agiu em seu próprio interesse, não realizou sua própria vontade, mas da mesma forma que estudava a Torah de coração, obedeceu ao decreto do Senhor de ler publicamente a Lei (Dt 31.9-11).
            Observe que ‘Ezra não estava sozinho nesta empreitada, vemos que treze homens “estavam de pé junto a ele” (Ne 8.4) sobre um púlpito de madeira. Não eram homens quaisquer, mas líderes das famílias israelitas. Naquele momento estavam todos em unidade declarando a importância do que estava sendo lido. Todos entendiam o que mais tarde Sha’ul expressou nas palavras: “Faça tudo o que puder para se apresentar a Deus como alguém digno de aprovação, um trabalhador que não precisa se envergonhar, porque anda retamente na Palavra da Verdade.” (2 Timóteo 2.15 BJC) e refletiram os serviços concedidos por Yeshua [Jesus] para preparar o povo, conforme outra vez Sha’ul ensina: “Além do mais, ele concedeu algumas pessoas como emissários, algumas como profetas, outras como proclamadores das boas-novas, e outras como pastores e mestres.” (Efésios 4.11 BJC). Isto nos ensina que todos os serviços (dons) concedidos por Yeshua devem agir em unidade no ensino da Palavra de Deus, devem falar a mesma linguagem.
            Não adianta o ensino sem uma vida condizente com a mensagem. Muitas de nossas crianças escutam de nossos lábios e dos mestres da Torah nas salas específicas para elas a Palavra do Senhor. Mas nada disso fará diferença se nós, pais, não formos exemplos em nossos lares. Não agirmos em conformidade com a Palavra. Não vamos acertar sempre, mas o que nos impede de pedir perdão quando errarmos? Não vamos ter respostas para todos os questionamentos, mas o que nos impede de procurarmos junto com eles o esclarecimento das dúvidas?
            Quando Sha’ul fala a respeito dos cinco ministérios em Efésios 4.11 ele não está dizendo que a responsabilidade é apenas da liderança da Comunidade Messiânica, mas nos mostrando que somos responsáveis por todos aqueles que nos olham como portadores de autoridade, incluindo nossos filhos.
            A Torah não foi apenas lida por ‘Ezra. O texto declara que treze l’vi’im “explicavam a Torah ao povo” (Nechemyah 8.7 BJC), “Eles leram com clareza o pergaminho, a Torah de Deus, traduziram-na e fizeram o povo entender o que era lido.” (Nechemyah 8.8 BJC). Não foi apenas uma leitura, mas uma aula, um ensinamento profundo das verdades bíblicas. Eles estavam traduzindo a Torah do hebraico, que não era mais falado pelo povo, para o Aramaico, a língua que todos apenderam durante o cativeiro babilônico, e retornou de lá falando. Com certeza não tratava-se apenas de uma tradução simultânea, mas de uma explicação do significado daquelas palavras e de uma contextualização a uma cultura a muito esquecida.
            Para isto existiam diversos professores, o que muito provavelmente dividiu o povo em grupos, a melhor maneira de aprendermos a Palavra. Numa grande reunião apenas ouvimos, mas o completo aprendizado ocorre quando não apenas ouvimos, mas participamos com nossas perguntas e comentários, e isto somente é possível através de pequenos grupos de estudo.
            Após a leitura e explicação vimos que “todo o povo chorou quando ouviu as palavras da Torah” (Nechemyah 8.9 BJC). Ao ser confrontado pela Palavra, o povo se entristeceu. O que para muitos parece um sinal positivo, foi visto por Nechemyah e ‘Ezra como algo que deveria parar. A orientação dada por eles ao povo foi para não chorarem, ou seja, a emoção deveria ser deixada de lado para que o pleno entendimento da Palavra gerasse frutos.
            É relativamente fácil tocar a emoção de um povo. Um vídeo, algumas palavras bonitas, uma música bem tocada, pode levar nossas emoções e fazer-nos aceitar determinados fatos. Um bom orador consegue te convencer de qualquer coisa. Mas não era este o propósito da leitura da Torah e certamente não é este o propósito do Senhor nos dias de hoje. Embora somos seres emocionais nossa emoção muda constantemente, deste modo não podemos confiar nas mesmas para algo tão importante quanto o ensino da Torah. Mosheh em D’varim diz: “Não façam nada da maneira que fazemos aqui hoje, onde cada um faz o que lhe parece melhor;” (D’varim 12.8 BJC). Isto é o fruto de nossas emoções: cada um faz o que sentir de fazer, o que acha que é a vontade de Deus.
            Mas se deixarmos nossas emoções de lados e abrirmos nossa mente e o nosso coração às verdades do Senhor declaradas em Sua Palavra entenderemos que “hoje é um dia consagrado ao nosso Senhor. Não fiquem tristes, pois a alegria de ADONAI é a sua força.” (Nechemyah 8.10 BJC). Observe que não é a nossa alegria, mas a alegria do Senhor. Assim quando através das Escrituras nos esforçamos para alegrar nosso Deus, é que somos um povo forte.
            A leitura da Torah, conforme mencionamos acima, começou em Rosh Hashaná. Embora o texto não afirme isto, pelo tempo que o povo ficou lendo diariamente as Escrituras ela passou por Yom Kipur, que marca o arrependimento e a expiação do povo de Yisra’el e chegou até Sucot.
            A primeira consequência deste tempo em que a Palavra do Senhor foi ensinada foi a restauração de Sucot (Ne 8.13-18). O Tanakh [Antigo Testamento] declara que desde os tempos de Yeshua [Josué], aproximadamente 1420 A.E.C. não se festejava esta data conforme o ordenado. Sucot é uma festa profética, pois lembra o reajuntamento e a restauração de Yisra’el sob o Reino Messiânico. É através do Ensino da Palavra que somos estabelecidos no Reino do Messias.
            Logo após Sucot temos a festa de Simchat Torah. Embora esta data não seja ordenada nas páginas das Escrituras, é uma grande festa, onde os judeus se alegram pela Torah dançando os rolos da Lei em seus braços. Esta alegria pelo ensinamento trazido pela Palavra do Senhor gera em nossos corações o verdadeiro arrependimento, não um simples remorso.
            O arrependimento genuíno é uma mudança de pensamento, gerada pelo ensino da Lei, uma mudança de sentimento, gerada pelo Ruach Hakodesh [Espírito Santo] em nosso interior, e uma mudança de atitude, gerada pela nossa decisão de nos adequarmos à Palavra do Senhor (Ne 9.1-3).
            O Ensino da Palavra produz em nós um pleno conhecimento de Deus, e somente os lábios daqueles que conhecem ao Senhor conseguem louvá-lo verdadeiramente. Deste modo o ensino da Palavra produz como consequência o louvor genuíno (Ne 9.4-37). Não podemos louvar quem não conhecemos, e a falta deste conhecimento muitas vezes tem produzido um louvor com falsidade.
            Após isto, o ensino levou ao povo a reestabelecer a aliança que tinham com Deus (Ne 9.38-10.39). Com corações arrependidos e um conhecimento do Senhor eles assumiram o compromisso de viver para o Senhor. “Eles verdadeiramente são o povo de Deus porque estão dispostos a agir como tal.” (HOUSE, Paul. Teologia do Antigo Testamento, p. 655).
            E somente depois de tudo isto é que o trabalho de Nechemyah, a reconstrução dos muros de Yerushalayim, foi dedicado ao Senhor (Ne 12.27-43). A obra de Deus não pode ser feita da forma que queremos, nem fazer aquilo que desejamos. Só podemos realizar a obra do Senhor se estamos debaixo de Sua Palavra.
            E por fim, o ensino da Torah trouxe a restauração do serviço no Templo (Ne 12.44-47). É o ensino da Palavra que irá restaurar nosso culto ao Senhor. O alvo de todo culto é o Senhor e não o homem. Deus é quem precisa ser cultuado em nossas vidas, nossas famílias e nossas reuniões. Passamos tempo demais tentando agradar a homens para atrair seguidores, conquistar fiéis e preencher os bancos vazios de nossos salões. Deus é quem precisa ser agradado quando nos reunimos em Seu nome.
            Como todas estas coisas surgiram após a leitura e o ensino da Torah promovida por ‘Ezra e pelos l’vi’im podemos concluir que não existe crescimento espiritual nem vida com Deus sem um aprendizado verdadeiro de Sua Palavra.

            Que este aprendizado seja nosso objetivo neste dia, e a cada dia de nossas vidas.