sábado, 27 de dezembro de 2014

Ser conhecido por Deus

“Cuidado com os falsos profetas! Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos famintos! Vocês os reconhecerão pelo fruto. Pode alguém colher uvas de espinheiros ou figos de plantas espinhosas? Semelhantemente, toda árvore saudável produz bom fruto, mas a árvore doente produz fruto mau. A árvore saudável não pode dar fruto mau, nem a árvore doente produzir fruto bom. Toda árvore que não produz fruto bom é cortada e lançada ao fogo! Assim, vocês os reconhecerão pelo fruto.”
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor! ’ entrará no Reino do Céu, mas apenas quem faz o que meu Pai celestial deseja. Naquele dia, muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor! Não profetizamos em seu nome? Em seu nome não expulsamos demônios? Não realizamos muitos milagres em seu nome? ’ Então eu lhes direi na cara: ‘Nunca os conheci! Afastem-se de mim, praticantes do que é contra a lei! ’.”
(Mattityahu [Mateus] 7.15 a 23 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Entre os capítulos 5 e 7 das boas-novas sobre Yeshua [Jesus], o Messias, contadas por Mattityahu [Mateus], lemos diversos ensinos de Yeshua a seus talmidim [discípulos], ditos sobre um monte, chamados por muitos de “O Sermão do Monte” ou “O Sermão da Montanha”. Nestes ensinos vemos nosso Mestre interpretar a Torah [Ensino, Lei, Pentateuco] como era o costume de diversos Rabis [Mestres] naquele tempo.
            Os versículos que lemos acima se encontram no final desta seção e servirão como base daquilo que desejo transmitir a você, onde procuraremos responder a nós mesmos a pergunta: “Deus nos conhece?”.
            É muito interessante notar que nos primeiros versículos (15 a 20), Yeshua está tratando dos falsos profetas, pessoas que tentarão aproveitar-se da fé dos seguidores do Messias para benefício próprio. Em uma curta mensagem que me lembra da mensagem do profeta Yechezk’el [Ezequiel] aos pastores de Yisra’el [Israel] (Yechezk’el 34), que se alimentam a si mesmos ao invés de alimentar o rebanho, Yeshua diz que os reconheceremos pelo fruto, ou seja, por aquilo que realmente produzem. Em segunda instância, nosso Mestre continua o mesmo discurso nos mostrando que assim como podemos conhecer as pessoas por aquilo que elas fazem, nosso Pai conhece aqueles que fazem o que Ele deseja.
            Talvez para aqueles que pouco conhecem da Bíblia, esta pareça ser uma declaração de um deus autoritário e manipulador, porém ao analisarmos todo o sermão chegamos a conclusão que fazer o que o Senhor deseja significa promover o bem, a justiça e viver plenamente independentemente das diversidades, buscando o que há de melhor em nosso interior.
            Desta forma, gostaria mais uma vez, fazer com que você responda a si mesmo: Será que Deus te conhece? Você é o tipo de pessoa com quem Deus andaria? Após responder a estas perguntas, tente dizer a si mesmo o porquê de sua afirmação ou negação.
            Normalmente nossos motivos são baseados naquilo que fazemos, porém observe no texto que muitos tentarão provar que são conhecidos por meio de suas obras: profetizar, expulsar demônios e realizar milagres, mas a resposta do Senhor será a mesma: “Nunca os conheci!”. Deste modo, podemos até levar as pessoas que nos rodeiam a possuírem uma falsa impressão daquilo que somos, através de ações, mas nosso Deus conhece quem realmente somos, ou seja, o fruto que é gerado em nós.

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, humildade, autocontrole. Não existe nada na Torah contra essas coisas.”
(Gálatas 5.22 e 23 BJC)

            Algo muito importante e conhecido neste texto é que Sha’ul [Paulo] diz o fruto do Espírito, não os frutos do Espírito. Sendo assim só existe um fruto evidenciado por nove características. Todas aparecem juntas. Há quem diga que o fruto do Espírito é o amor, somente ele, e a alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, humildade e autocontrole são características deste amor. Sem defender uma ou outra opinião, o fato é que este fruto não é gerado através de esforços próprios, mas cresce de forma natural a partir do momento que decidimos viver pelo Espírito, deixando de lado tudo o que nos afasta do alvo estabelecido por Deus.
            Sendo assim, nosso Deus está interessado em quem realmente somos, e não apenas no que fazemos. E aquilo que somos é avaliado mediante o:
Amor: é uma ligação, uma decisão de colocar o outro acima de si mesmo, deixando muitas vezes seus interesses de lado, para promover o bem. Yeshua exemplifica o mandamento “ame o seu próximo como a si mesmo” (Vayikra [Levítico] 19.18) contando a parábola que conhecemos como a do “Bom Samaritano” onde um homem de Shomron [Samaria] ao avistar um ferido desviou de seu caminho para cuidar do mesmo, e pagou uma hospedaria para que este pudesse se recuperar (Lc 10.30-37).
Alegria: onde está a tua alegria? A alegria como fruto do Espírito é aquela que vem do Senhor. Ou seja, não depende das circunstancias que estou vivendo. Evidentemente, posso até me abater momentaneamente por aquilo que acontece ao meu redor, mas não fico nesta situação, pois sei que ao meu lado tenho um Deus maior que tudo.
Paz: Do mesmo modo que a alegria, é o “shalom [paz, tranquilidade, segurança, bem-estar, saúde, contentamento, sucesso, conforto, plenitude e integridade] de Deus, que ultrapassa todo entendimento” (Filipenses 4.7 BJC). Mesmo tendo motivos para estar preocupados, estaremos em paz.
Paciência: Saber contar até dez. Dar uma outra chance. Saber esperar.
Afabilidade: contrário de grosseria. É uma brandura no tato, uma delicadeza. Ser amável, procurar agradar.
Bondade: Praticar o bem. “Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a se fazer e não faz, comete pecado.” (Ya’akov [Tiago] 4.17 BJC). Desta forma, não praticar o bem é pecado.
Fidelidade: ser fiel, mesmo que isto esteja fora de moda. Aquele que cumpre o que se obriga. Lealdade.
Humildade: É uma demonstração de respeito ao outro. Ser modesto.
Autocontrole: Aprender a se controlar. Não da para culparmos nosso gênio.
            Este é fruto do Espírito, e são estas características que o Senhor procura em nós. É interessante notar que ao descrever os dons do Espírito em 1 Coríntios 12, Sha’ul cita nove dons. Vejo isto como um sinal do equilíbrio que precisamos ter em nossas vidas entre os dons espirituais e o fruto do Espírito, e um alerta ao que deve ser o nosso alvo: precisamos nos preocupar mais com o fruto do Espírito em nós do que com os dons espirituais. É mais importante aquilo que somos do que aquilo que fazemos. Nossas ações devem ser fundamentadas no que realmente somos.

“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se assentará no trono glorioso. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ‘ovelhas’ à sua direita, e os ‘bodes’, à esquerda.”
“Então o Rei dirá aos que estiverem à direita: ‘Venham, benditos de meu Pai, recebam sua herança, o Reino preparado para vocês desde a criação do mundo! Porque eu tive fome, e vocês me deram comida; tive sede, e me deram algo para beber; fui estrangeiro, e me trataram como alguém convidado; necessitei de roupas, e vocês as providenciaram; estive doente, e cuidaram de mim; estive preso, e me visitaram’. Então as pessoas que realizaram a vontade de Deus responderão: ‘Senhor, quando o vimos com fome e o alimentamos, ou com sede e lhe demos algo para beber? Quando o vimos como estrangeiro e o recebemos, ou necessitado de roupas e lhe demos o que vestir? Quando o vimos doente ou preso e fomos visita-lo? ’. O Rei lhes responderá: ‘Eu lhes digo que todas as vezes que vocês fizeram essas coisas a algum destes meus irmãos menos destacados, o fizeram a mim’.”
“Então ele também dirá aos que estiverem à esquerda: ‘Afastem-se de mim, malditos! Vão para o fogo preparado para o Adversário e seus anjos! Porque tive fome, e vocês não me deram comida; tive sede, e não me deram nada para beber; fui estrangeiro, e vocês não me receberam; necessitei de roupas, e não me deram nenhuma; estive doente e preso, e não me visitaram’. Então eles também responderão: ‘Senhor, quando o vimos com fome, sede, estrangeiro ou necessitado de roupas, doente ou preso, e não ajudamos? ’. Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: todas as vezes que vocês se recusaram a fazê-lo a estas pessoas menos destacadas, também se recusaram a fazê-lo por mim’. Eles irão para o castigo eterno, mas os que fizeram o que Deus deseja irão para a vida eterna”.
(Mattityahu 25.31 a 46 BJC)

            Repare que Yeshua relaciona o dar de comer, de beber, de vestir, o visitar com realizar o que Deus deseja, e perceba que são atitudes daqueles que possuem o fruto do Espírito. É interessante notar também que tais obras foram realizadas de modo natural, não forçado ou religioso, pois foram feitas às pessoas menos destacadas, àqueles que ninguém vai notar. Inclusive o grupo daqueles que fizeram a vontade do Pai, não sabia que estava fazendo-a.
            Deste modo enquanto muitos se esforçam para fazer uma obra e serem aceitos por Deus, criando uma religião de ajuda ao próximo, e até mesmo possuem uma coleção de boas ações como se fossem medalhas de escoteiros, outros procuram ficar em evidência ajudando aqueles que atraem atenção. Mas para Deus nada disso importa.
            A vontade do Senhor é que sejamos seres humanos genuínos, que movidos pelo fruto do Espírito promovamos o bem a todos que cruzarem nosso caminho. A falta de ação indica que há algo errado em nosso interior, e é esta mudança que precisamos buscar.

            Qual é a sua preocupação maior: seu ministério ou as vidas? Suas realizações ou a verdadeira obra de Deus? Quanto você está disposto a deixar Deus fazer através de você? Estaria disposto a largar tudo?

sábado, 29 de novembro de 2014

Centralizando Deus em seu lar

“Pois ADONAI, seu Deus, anda pelo seu acampamento para resgatá-los da mão dos seus inimigos. Portanto, seu acampamento deve ser um lugar sagrado.”
(D’varim [Deuteronômio] 23.15(14) BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Falar sobre família é um dos meus assuntos favoritos e, longe de pensar que domino todo assunto, a cada vez que preciso falar sobre este tema reflito sobre a maneira que tenho encarado e principalmente agido em minha casa.
            É inegável que foi Deus quem criou a família, afinal ao narrar a criação de todas as coisas, no primeiro capítulo de Gênesis, a Bíblia relata: “Portanto, Deus criou a humanidade à sua imagem; à imagem de Deus ele os criou: criou-os macho e fêmea.” (B’reshit [Gênesis] 1.27 BJC). O Criador não fez apenas o homem e apenas em um segundo momento, como se mudasse de planos, decidiu fazer a mulher. Ele sempre intencionou criar o casal, haja visto que fez o homem com um órgão reprodutor. Deste modo, o nosso Deus está sempre atento para a nossa família, e está sempre presente.
            No versículo que lemos no início desta mensagem, em meio a inúmeras instruções em relação à higiene que deveria existir dentro do acampamento dos filhos de Israel no deserto, após o Êxodo, o Senhor fala que andava pelo mesmo e, portanto, os israelitas deveriam encara-lo como um lugar sagrado, ou seja, inviolável, respeitável.
            Nosso acampamento é a nossa casa, onde habitamos com nossa família, e, da mesma forma que fazia em meio ao povo de Israel no deserto, o Senhor caminha em nosso lar, a questão é: o que tem sido o alvo de nossa atenção?


Este talvez tem sido o maior desafio para nossa vida em família na presença de Deus: desligar-nos de tudo aquilo que é supérfluo para nos conectar naquilo que realmente é importante. Embora a febre de nossos tempos, e inclusive o tema do vídeo, apontem o alvo desnecessário de nossas atenções como os celulares e tablets, não são apenas eles quem têm roubado nosso tempo e energia daquilo que realmente é digno deles.
            Temos dedicado tanto atenção ao nosso emprego, trazendo para casa as inquietações e preocupações de nosso ambiente profissional que mal temos tempo para nossos filhos. Definimos como a fonte do nosso relaxamento um tempo a frente de uma televisão vendo um filme, seriado ou a um telejornal que nem percebemos como é relaxante ouvir nossos filhos gargalharem, e, principalmente, participar desta alegria. Colocamos como prioridades em nossas vidas o nosso ministério, nossos contatos do facebook ou do whatsapp, nossos jogos eletrônicos, e nos ocupamos com tanta coisa, mas por dentro estamos vazios, pois no fundo nada disso realmente importa. Aquilo que importa tem ficado de lado, nosso Deus e nossa família, e são eles quem darão sentido a nós mesmos, afinal quem nasceu para estar sozinho? Já nascemos ligados a alguém.



            Deste modo a primeira reflexão que faço e incentivo você a fazer juntamente comigo é: qual tem sido a venda sobre os seus olhos que o tem impedido de ver aqueles que realmente importam?
            Esta cegueira acaba se intensificando quando falamos da presença de Deus em nosso lar, afinal vivemos em um mundo dualista, que separa o espiritual do material, e acabamos influenciados a viver hora em um universo secular, hora em um universo eclesiástico. “A secularização é um fenômeno, que nasce com a modernidade, que é a afirmação da racionalidade humana e Deus está fora da equação, Deus não faz parte do que vai explicar o mundo, a realidade a vida. Deus não é considerado. Mundo secular é um mundo em que Deus não é necessário, ou não é evocado ou invocado para explicar.” (Ed Rene Kivitz).
Muitos consideram esta definição algo totalmente contrário àquilo que vivem, pois, “como pode alguém deixar Deus de fora de sua vida?”, pensam.  Mas lembrar de Deus apenas uma vez por semana ao visitarmos uma igreja, não significa trazer Deus para dentro de nossas vidas.
Agora, se em nosso dia a dia não somos capazes de enxergar nossa própria família em meio a tantos problemas e afazeres, o que dirá de enxergar a Deus? Sabemos que Ele está sempre presente em nossas vidas (Mt 28.20), mas não temos dado nenhuma real atenção, fora nos minutos antes de comer uma refeição ou dormir quando elevamos nossos pensamentos em oração a Deus.
            Temos vivido uma vida de religiosidade, esperando conquistar o favor do Senhor mediante aquilo que fazemos, assim quando nos perguntam: “Como atrair a presença de Deus para nossa casa?” nossa resposta normalmente se relaciona a um jejum, uma campanha de oração, a entrega de uma oferta especial, quando na verdade nossa resposta deveria ser: “Ele já está presente e deseja se relacionar comigo.”. Assim a vida de quem deseja a presença de Deus em seu lar, antes de ser uma vida de entrega e sacrifício, é uma vida de busca por um real relacionamento com Deus, e este começa com um relacionamento com o outro.

“Se afirmarmos que temos comunhão com ele [Deus], mas andamos nas trevas, mentimos e não vivemos na verdade. Se, porém, estivermos andando na luz, como ele está na luz, temos, então, comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Yeshua [Jesus] nos purifica de todo pecado.”
(1 Yochanan [1 João] 1.6,7 BJC)

            Assim nosso relacionamento com Deus é o reflexo de nosso relacionamento com aqueles que estão ao nosso lado, começando com nossa família. Um relacionamento de qualidade com os nossos, atrairá a presença de Deus, afinal Yeshua disse que “sempre que dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou com eles” (Mattityahu [Mateus] 18.20 BJC).
            Relacionar-nos com Deus e com o nosso próximo significa termos uma ligação com eles, que envolve convivência, comunicação e atitudes.
            Não existe relacionamento quando não convivemos. Assim precisamos deixar de lado nossas ocupações e preocupações para passarmos um tempo de qualidade com nossa família. Isto significa não simplesmente estar por um tempo em um mesmo ambiente, mas, além disto, manter uma comunicação. Comunicar vem do latim “communicare” que significa partilhar, participar algo, tornar comum. Não é simplesmente dizer uma informação qualquer, mas abrir o seu coração, olho no olho, e tornar o outro participante de sua vida.
            A vida familiar só existe com um relacionamento entre todos, com um participando da vida do outro não apenas em palavras, mas em suas atitudes, e é nestas últimas que o amor precisa transparecer. Para isto todos os envolvidos precisam cultivar laços de confiança, respeito e harmonia. O verbo cultivar não foi usado por acaso, pois o processo é realmente igual ao de o cultivo de uma árvore frutífera: precisamos plantá-la, zelar pelo seu crescimento regando e adubando a terra, para depois de tudo desfrutar de seus frutos. E eu preciso fazer isto em minha família, independente de qual tem sido a postura dos outros, afinal conforme disse Antoine de Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
            Após criar e cuidar diariamente deste relacionamento, podemos convidar nosso Deus a fazer parte dele. É evidente que Deus já estará presente, mas o convite e para que nós mesmos nos atentemos para esta santa presença. Podemos seguir a orientação de Sha’ul [Paulo]: “continuem cheios do Espírito – cantam salmos, hinos e canções espirituais uns para os outros; cantem ao Senhor e lhe façam música no coração; deem sempre graças a Deus, o Pai, por todas as coisas em nome de nosso Senhor Yeshua, o Messias.” (Efésios 5.18-20 BJC).
            Deste modo eu passo a me relacionar com o outro sabendo que Deus está no meio deste relacionamento, não fica apenas no intelecto, mas minhas ações demonstram este entendimento. A partir daí eu me reúno com minha família para orar, para cultuar a Deus, compartilhar a Palavra. Quantas vezes temos feito isto nas últimas semanas?
            O Tabernáculo construído por Mosheh [Moisés] no deserto é uma figura disto. Esta tenda representava a presença de Deus habitando em meio às famílias dos israelitas que acampavam ao seu redor.



            Todo o acampamento enxergava que Deus estava entronizado em seu meio. Esta deve ser a nossa visão quando estamos em nosso lar, junto com nossa família: Deus está conosco. Este conhecimento precisa gerar em nós um comportamento. Nossa vida não é, e não deve ser, independente do Senhor.
            Precisamos dessecularizar as nossas vidas, trazendo de volta a participação do Senhor em todos os seus âmbitos, começando pela nossa casa.

            Assim, como posso trazer a presença de Deus para minha família? Tratando-a como morada de Deus entre os meus.

domingo, 14 de setembro de 2014

A missão de todo seguidor de Yeshua [Jesus]

“Yeshua [Jesus] enviou os doze com as seguintes instruções: ‘Não entrem no território dos goyim [não judeus], nem entre em qualquer cidade de Shomron [Samaria]; em vez disso, vão às ovelhas perdidas da casa de Yisra’el [Israel]. Por onde forem, proclamem esta mensagem: ‘O Reino do Céu está próximo’, curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem afligidos por tzara’at [lepra], expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, portanto deem sem pedir pagamento. Não levem dinheiro nos cintos, nem ouro extra, nem sandálias, nem bordão – deve-se dar ao trabalhador o que ele necessitar.”
(Mattityahu [Mateus] 10.5 a 10 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Yeshua [Jesus] pronunciou estas palavras aos seus doze talmidim [discípulos] ao enviá-los para realizar uma missão. Esta missão continua válida para todos os seguidores do Messias, afinal, assim como Kefa [Pedro] reconheceu na casa de Cornélio, sabemos que “Deus é imparcial” (Atos 10.34 BJC). Yeshua não faz distinção de pessoas, escolhendo umas para promover o Reino e outras para somente desfrutar deste Reino. Todos os seguidores do Messias têm o privilégio de desfrutar e o dever de promover o Reino do Céu. Promover este reino é “nada mais do que colocar todas as coisas e, acima de tudo, todos os povos da terra sob o domínio e liderança de Jesus Cristo” (SNYDER, Howard A. A comunidade do Rei. São Paulo: ABU Editora, 2004, p. 12). Precisamos verdadeiramente entender que o chamado de Yeshua é para nós mesmos, e que este chamado precisa ser cumprido em nossos dias.
            É interessante notar que neste primeiro momento os talmidim deveriam se preocupar apenas com as ovelhas de Yisra’el [Israel]. Isto mostra que a primeira missão que recebemos do Senhor deve ser cumprida em nossa família. É mais fácil se preocupar com aqueles que estão distantes, com quem não convivemos e desta maneira não conhecermos as falhas de caráter, as hipocrisias do dia a dia, que nos mostram que também temos nossas próprias falhas de caráter e hipocrisias do dia a dia. Porém nosso ministério começa dentro de nossos próprios lares. Deus pode tranquilamente levantar alguém para ser pastor em seu lugar, para ser um diácono em seu lugar, um evangelista em seu lugar. Agora, como é que Deus irá levantar um pai em seu lugar? Um marido em seu lugar?
Em uma pesquisa feita com 1050 pastores norte-americanos revelou que 38% são divorciados ou estão em processo de divórcio (Caiafarsa. Raio-X dos Pastores Protestantes. Disponível em <http://caiafarsa.wordpress.com/raio-x-dos-pastores-protestantes/>, Acesso em 14/09/2014). É algo a se pensar. Temos dedicado tanta energia à nossa família quanto aos demais? Isso não quer dizer que nossa família é mais importante que as demais pessoas, mas que a obra de Deus precisa começar dentro de nossa casa. Afinal, conforme disse Sha’ul [Paulo] a Timóteo, “se alguém não provê às necessidades dos próprios parentes, e especialmente às da própria família, desonrou a fé e é pior que o incrédulo” (1 Timóteo 5.8 BJC).
Embora a missão do Senhor para nós comece entre os nossos, ela não deve terminar aí. O Messias Yeshua ordena: “Portanto, vão e façam talmidim entre as pessoas de todas as nações, imergindo-as na realidade do Pai, do Filho e do Ruach HaKodesh, ensinando-as a obedecer a tudo o que lhes ordenei.” (Mattityahu 28.19 e 20 BJC).
O verbo ir (vão) na passagem está no particípio passivo aoristo que representa uma ação simples, sem indicar o momento da ação. Ou seja, a instrução é que em todo o tempo e por onde andarmos estaremos fazendo talmidim. E deste modo seremos “testemunhas em Yerushalayim [Jerusalém], em toda região de Y’hudah [Judá] e Shomron, na verdade até os confins da terra!” (Atos 1.8 BJC). Vejo Yerushalayim representando nossa família, Y’hudah aqueles que estão próximos de nós que nos damos bem e Shomron aqueles que estão próximos de nós e que não nos damos bem. Assim, começamos nosso chamado em nossos próprios lares, continuamos entre nossa família e expandimos para alcançar a todos aqueles que estão ao nosso lado, nossos próximos, e desta maneira testemunharemos as boas-novas sobre Yeshua “até os confins da terra”.
Depois de saber entre quem iremos fazer a obra do Senhor, Yeshua continua sua instrução dizendo que obra devemos realizar. A primeira delas é proclamar a mensagem: “O Reino do Céu está próximo”. A proclamação da mensagem do Reino é o ensinamento que todas as coisas estão sujeitas ao Senhor. É mostrar principalmente através de nossas atitudes que o Senhor reina sobre tudo e que o Seu amor é derramado sobre a vida de todo ser humano. E como é que isto deve ser feito? O próprio Yeshua nos ensina: curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem afligidos por tzara’at e expulsem demônios. Tais ensinamentos precisam ser compreendidos tanto literal quanto figuradamente.
Curar os enfermos representa tanto realmente ajudar aquele que está passando por um momento de enfermidade quanto auxiliar aquele que está fraco, visto que a palavra usada por Yeshua significa estar debilitado em qualquer sentido – adoentado, impotente, doente, fragilizado. Isto implica em visitar aquele que está enfermo, apoiar aquele que está fragilizado, ser a cura na vida dos afligidos. Sua palavra pode curar, seus abraços consolar, seus gestos aliviar a dor. Nós somos instrumentos de cura para os doentes de corpo, alma e espírito que estão ao nosso lado.
Ressuscitar os mortos não implica somente em trazer os que morreram de volta a vida. Vai além disto, nos indicando que somos instrumentos para reavivar sonhos mortos pelas circunstâncias adversas da vida, trazer vida, trazer animo, para os que já desistiram de viver.
Purificar os afligidos por tzara’at mostra a preocupação com aqueles que foram marginalizados em nossa sociedade. Os leprosos nos tempos de Yeshua eram colocados fora de suas cidades e quando alguém se aproximava, eram obrigados a gritar: “Somos leprosos”, para afastarem todos aqueles que se aproximarem. Todo aquele que tocava em um leproso era considerado ritualmente impuro. Para purificar os afligidos por tzara’at precisamos deixar de lado nossos preconceitos. Pegar toda a veste de santidade que colocamos sobre nós mesmos, nos considerando melhores, mais aceitáveis diante de Deus, mais justos, e deixar tudo isto de lado, para alcançar aqueles por quem nosso Messias Yeshua derramou seu precioso sangue.
A missão que o Senhor confiou a cada um de nós precisa ser cumprida verdadeiramente se importando com pessoas.
Um terceiro aspecto muito importante nesta missão está nas palavras de Yeshua que declaram: “Vocês receberam de graça, portanto deem sem pedir pagamento.”. Muitos tentam vender as bênçãos do Senhor: cobram por curas, pedem ofertas e mais ofertas em troca da prosperidade, vi há alguns dias um pastor pedindo a seus ouvintes que dessem o valor de seu aluguel para que Deus lhes concedesse a casa própria. Não consigo ver nenhuma dessas pessoas como verdadeiros seguidores de Yeshua, e, mesmo soando extremamente forte, não consigo classifica-los de outro modo além de ladrões. A mensagem do Reino, a cura para as doenças, a ressurreição dos mortos, a purificação das tzara’at devem ser de graça, assim como foi gratuito tudo aquilo que recebemos do Pai.
Entregar de graça implica não somente a questão de não vender, mas também de não esperar nada em troca. Não esperar ser ouvido, não esperar um agradecimento, não cobrar que a pessoa passe a seguir a Yeshua apenas por seu gesto. Precisamos confiar que a obra é do Senhor e que somos apenas instrumentos em Suas poderosas mãos. Assim, Ele irá nos usar da maneira que desejar e continuará a agir na vida daqueles que estão ao nosso lado de acordo com a Sua sabedoria.
            O quarto e último aspecto que desejo abordar no chamado que recebemos de Yeshua é: “Não levem dinheiro nos cintos, nem ouro extra, nem sandálias, nem bordão – deve-se dar ao trabalhador o que ele necessitar.”. Vejo isto como um alerta a não confiarmos em nossas próprias forças, ou em nossa capacidade. Mas acima disto buscar a capacitação do Senhor, que distribui a cada um de nós dons espirituais para cumprir com excelência o chamado.

“Existem diferentes tipos de dons, mas o mesmo Espírito os concede. Há também diversas formas de servir, mas o mesmo Senhor é servido. Existem vários modos de atuar, mas o mesmo Deus os faz ativos em todos. Além disso, a cada pessoa é concedida uma manifestação particular do Espírito para o bem comum.”
“Não são todos emissários, são? Nem todos são profetas, mestres, realizadores de milagres, são? Nem todos têm dons de curar, nem todos falam em línguas, nem todos as interpretam, não é mesmo? Procurem com empenho os melhores dons. No entanto, eu lhes mostrarei agora o melhor caminho. Posso falar as línguas dos homens, até dos anjos, mas se me faltar amor, tornei-me apenas metal que soa ou címbalo que retine”.
(1 Coríntios 12.4 a 7; 12.29 a 13.1 BJC).

            Só seremos capazes de cumprir o chamado de Yeshua a cada um de nós se buscarmos a capacitação do Senhor que vem através dos dons espirituais. Cada um desses dons é a manifestação da graça do Senhor sobre as nossas vidas. E o principal dom, de acordo com a Palavra, é o amor. Nosso principal chamado será cumprido através do amor de Deus em nossos corações.

            Assim, todos temos uma missão que deve ser cumprida em nossa família e entre aqueles que estão perto de nós. Tal missão consiste na pregação do Evangelho e no cuidar das pessoas, tudo através dos dons espirituais e do amor, que precisa reger toda a obra.

Os Talentos que temos recebido

“Porque ele também será como um homem que deixa sua casa por um pouco de tempo e confia suas posses aos servos. A um, deu cinco talentos [o equivalente ao salário de cem anos]; a outro, dois; e a outro, um – a cada um de acordo com sua capacidade. E, então, partiu. O que havia recebido cinco talentos imediatamente saiu, investiu-os, e obteve outros cinco. Também o que recebera dois talentos ganhou mais dois. Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro do senhor.”
“Depois de um longo tempo, o senhor dos escravos voltou e acertou contas com eles. O que tinha recebido cinco talentos se aproximou trazendo os outros cinco e disse: ‘O senhor me confiou cinco talentos; veja, obtive outros cinco’. Seu senhor lhe disse: ‘Excelente! Você é um servo bom e confiável! Foi fiel em relação a uma quantia pequena, portanto porei sob seus cuidados uma grande quantia. Venha e participe da alegria do seu senhor! ’. Também o que recebeu dois talentos se aproximou e disse: ‘O senhor me confiou dois talentos; veja, ganhei mais dois’. Seu senhor lhe disse: ‘Excelente! Você é um servo bom e confiável! Foi fiel em relação a uma quanti pequena, portanto porei sob seus cuidados uma grande quantia. Venha e participe da alegria do seu senhor! ’.”
“Entretanto, o que tinha recebido um talento se aproximou e disse: ‘Eu sabia que o senhor é um homem severo, que colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Tive medo, saí e fui esconder seu talento no chão. Veja, tome o que lhe pertence’. O senhor respondeu: ‘Servo perverso e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei e junto onde não semeei? Então deveria ter deixado meu dinheiro com os banqueiros, para que, quando voltasse, pelo menos o recebesse de volta com juros. Tirem dele o talento e deem-no ao que tem dez. Pois quem possui algo, mais lhe será dado, e terá mais que o suficiente; mas quem não tem nada, até o que tem lhe será tirado. E lancem nas trevas esse servo inútil, onde as pessoas lamentarão e rangerão os dentes’.”
(Mattityahu [Mateus] 25.14-30 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Estamos começando mais um ano, e geralmente todos nós aproveitamos os inícios para refletir sobre o passado e fazer promessas para o futuro. Não são poucas pessoas que decidem marcar seu casamento, sua dieta, a mudança de casa, de postura em datas como esta. Comecei este ano com uma proposta diferente dos anteriores, ao invés de estabelecer metas para o novo ano, passei a buscar do Senhor qual é o Seu propósito para a minha vida, e com isto veio a minha memória a passagem que transcrevi acima conhecida como a Parábola dos Talentos.
            Às vezes passamos tanto tempo buscando o novo de Deus em cada área de nossas vidas que acabamos deixando de lado tudo aquilo que já recebemos de Deus. Queremos receber mais, sendo que não valorizamos o que já possuímos. Nestes primeiros dias de ano novo o Senhor tem falado muito comigo a respeito desta passagem e creio que falará contigo também.
            O primeiro elemento que encontramos nesta parábola, logo no versículo 14 é que o homem deixou sua casa e suas posses nas mãos de seus servos. O homem da história talvez possuísse uma grande case e muitas riquezas, mas nada disso se compara a totalidade da Terra e as riquezas encontradas nela. E quem é o dono de tudo isto? É o Senhor dos Exércitos. David em Tehillim [Salmo] 24 diz: “A terra é de ADONAI, com tudo o que há nela, o mundo e os que ali vivem”.
            Deste modo tudo o que podemos ver, tudo o que possuímos, o que desejamos, tudo isto pertence ao Senhor. Todas as pessoas e os animais pertencem ao Deus Criador. Gastamos tanto tempo e energia para aumentar nossos bens e nos esquecemos de que nada disso é nosso. É evidente que vou trabalhar, mas terei a consciência de que quem irá me sustentar é Deus.
            E esse Deus, tipificado na parábola pelo senhor, confia aquilo que é dele a cada um de nós. Observe na passagem que o Senhor não dá porções iguais a seus servos, antes, ele distribui “a cada um de acordo com sua capacidade” (Mt 25.15). Isto derruba todo ciúme e inveja. Se eu não possuo determinado bem não é sinal de falta de fé ou de pecado, é simplesmente a vontade de Deus, que me entregou bens de acordo com minha capacidade. E o que é mais importante nesta parábola é o ensinamento que um dia todos seremos cobrados mediante aquilo que nos foi entregue.
            O que você tem feito com aquilo que o Senhor confiou a você? Esta é uma pergunta que precisamos responder nós mesmos neste momento. Você tem desfrutado sabiamente daquilo que Deus colocou em suas mãos ou tem desperdiçado? E Deus confiou a você elementos mais importantes que os bens materiais que tanto enchem nossos olhos, ele tem entregado a cada um a nossa vida, nossos dons e nossa família.
            A Bíblia diz que Shlomoh [Salomão] foi o homem mais sábio que andou pela Terra. Ele escreveu o livro de Kohelet [Eclesiastes] no fim de sua vida terrena, onde procurou discursar sobre o sentido da vida. Sendo um dos maiores reis do reino unificado de Israel ele teve tudo aquilo que muitos de nós sonhamos: casas, riquezas, mulheres, festas e mais festas e olhando para tudo isto concluiu que sem Deus em nossa vida tudo o mais se torna inútil.
O propósito de nossa vida é a presença de Deus, só Ele pode preencher o vazio existencial que possuímos dentro de nós mesmos. Você um dia será cobrado por todos os momentos que usufruiu do folego de vida, e assim, o que você tem feito com sua vida?
A Bíblia declara que o Ruach HaKodesh [Espírito Santo] derramou sobre cada um de nós que recebemos a Yeshua [Jesus] como Messias e Salvador dons espirituais. Destes também prestaremos conta.
Os dons não são presentes do Senhor para nós mesmos, mas presentes para a comunidade messiânica confiados a nós. Isto significa que o dom que recebi do Senhor é para ser utilizado na vida dos meus irmãos. Entendi que, com raríssimas exceções, Deus não irá usar os dons que recebi em mim mesmo. Por exemplo: Ele não utilizará o dom de cura que me entregou para que eu imponha as mãos por mim mesmo e receba a cura; Ele não usará o dom de Ensino que me entregou para ensinar a mim mesmo; não utilizará o dom de profecia que recebi do Senhor para profetizar sobre mim. Não estou de forma alguma colocando limites no poder do Senhor, Ele é Deus e opera do modo que desejar. Estou mostrando que quando permitimos a Deus utilizar os dons que colocou sobre nós em nossos irmãos e reconhecemos que do mesmo modo utilizará os dons colocados sobre nossos irmãos em nós, passamos a realmente pertencer ao corpo do Messias Yeshua.
E falando do atuar de Deus através de nós, o que diremos a respeito de nossa família? Nosso relacionamento familiar também será cobrado naquele dia. Muitas vezes nos preocupamos exclusivamente com nós mesmos e com nossos interesses e tratamos nossa família como um meio de obtermos o que queremos. Assim encontramos muitos lares destruídos, irmãos que mal se conhecem, pais e filhos que não se entendem.
A responsabilidade de construir um verdadeiro lar é sua, principalmente se você é o único de sua casa que conhece ao Senhor. Esta construção deve ser feita com muito joelho no chão, muita oração. Mas a oração não deve ser uma transferência de responsabilidade para o Senhor, mas a busca pela presença de Deus em nós mesmos e a Sua capacitação para fazermos diferença entre os nossos.
Com a presença e a capacitação do Senhor, podemos semear na vida dos nossos. Se formos rabugentos e briguentos, é isto que colheremos. Precisamos ser amáveis, compreensivos, pacientes. Precisamos ser Deus na vida dos nossos, ou seja, agir como Deus agiria em nosso lugar. Chega de ficar condenando e nos afastando das pessoas. Precisamos ser os braços do Senhor para abraçar, as mãos do Senhor para acariciar, os ouvidos do Senhor para ouvir. Afinal, somos ou não membros do corpo do Messias?
E precisamos ser isto tudo dentro de nossos lares. Certa vez ouvi o testemunho de um homem que recebendo visitas em sua casa ouviu sua campainha tocar. Ao atender a porta, deparou-se com duas pequenas meninas pedindo alguma coisa para comer. Prontamente colocou as duas para dentro e, como estava servindo sorvete para seus convidados, além de separar mantimentos para as duas levarem, serviu-lhes uma taça de sorvete caprichada a cada uma delas. Depois de saborearem aquela sobremesa deliciosa, o homem as levou para a porta para que ambas pudessem voltar para casa. Durante o trajeto ao portão, a menor das meninas ficava o tempo todo de mão dada com ele, cochichando algo à irmã. Ao se despedir das duas, a pequenina lhe perguntou: “Você é Yeshua?”.
É um maravilhoso privilégio para nós sermos confundidos com nosso Senhor. Isto não significa que temos o poder que Ele tem, ou que merecemos a adoração que só Ele merece. Significa que as pessoas verão em nós as mesmas atitudes do Messias Yeshua. Sua família precisa enxerga-las em você.

A cada momento de nossas vidas precisamos analisar nossas atitudes e valores, e após está análise, posicionarmo-nos como bons administradores dos talentos que o Senhor tem nos entregue. Lembre-se que aquele que é fiel no pouco, será confiado o muito, e participará da alegria do Senhor.

domingo, 31 de agosto de 2014

Conhecimento do Senhor – buscando para transmitir

“Quando, enfim, toda aquela geração tinha se juntado aos seus antepassados, levantou-se outra geração que não conhecia ADONAI, nem as obras que ele tinha feito em favo de Yisra’el [Israel].”
(Shof’tim [Juízes] 2.10 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Durante a última semana tenho pensado muito a respeito do que estou gerando em meus filhos. Lembrei-me deste versículo e de uma mensagem pregada pelo pastor Ed Rene Kivitz sobre as descendências do povo de Yisra’el [Israel] e passei a meditar sobre o conhecimento do Senhor que possuo e o conhecimento que tenho transmitido a todos aqueles que estão ao meu lado.
            Considero este um assunto de suma importância, visto que o próprio Tanakh [Antigo Testamento] menciona que foi a falta do conhecimento de Deus nas novas gerações que fez com que o povo de Yisra’el abandonasse ao Deus Vivo e adorasse a falsos ídolos. Diante deste pensamento, gostaria de ressaltar um dos textos mais tristes em toda a Bíblia que ocorreu durante a época dos juízes em Yisra’el.

“Havia um homem das montanhas de Efrayim [Efraim] chamado Mikhay’hu [Micaías – traduzido por Mica nas Bíblias em português]. Ele disse à sua mãe: ‘Sabe aquelas 1.100 peças de prata que foram tiradas de você – pelas quais você pronunciou uma maldição e me falou a respeito? Pois bem, o dinheiro está comigo. Eu o peguei”. Sua mãe lhe disse: ‘Que ADONAI o abençoe, meu filho’. Quando ele devolveu as 1.100 peças de prata para sua mãe, ela declarou: ‘Solenemente, eu dedico este dinheiro a ADONAI, para que meu filho faça uma imagem esculpida e a revista de prata. Portanto, agora eu o estou devolvendo a você'. Ele, porém, devolveu o dinheiro à sua mãe, e ela tomou 200 peças de prata e deu-as ao ourives, que fez uma imagem esculpida, revestida de prata, a qual foi colocada na casa de Mikhay’hu. Esse homem, Mikhah [Mica], possuía uma casa de Deus; então ele fez uma veste ritual e deuses domésticos e consagrou um de seus filhos, o qual se tornou seu kohen [sacerdote]. Naquele tempo, não havia rei em Yisra’el; um homem simplesmente fazia o que pensava estar certo.”.
“Havia um jovem de Beit-Lechem [Belém], em Y’hudah [Judá], da família de Y’hudah, que era um levi [levita]. Ele habitava em Beit-Lechem, mas deixou aquela cidade para encontrar outro lugar para viver; e veio para as regiões de Efrayim, onde acabou tomando o caminho da casa de Mikhah. Mikhah lhe perguntou: ‘De onde você está vindo? ’. Ele respondeu: ‘Eu sou um levi de Beit-Lechem, em Y’hudah, e estou procurando um lugar para viver’. Mikhah respondeu: ‘Fique comigo, e seja um pai e um kohen para mim; eu darei a você 10 peças de prata por ano, além de roupa e comida’. Então o levi foi e concordou em ficar com aquele homem; o jovem tornou-se como um de seus filhos. Depois que Mikhah consagrou o levi, o jovem tornou-se seu kohen e ficou ali na casa de Mikhah. Mikhah declarou: ‘Agora sei que ADONAI me tratará bem, porque tenho um levi por kohen.”
(Shof’tim 17.1 a 13 BJC)

            Este é o primeiro dos cinco capítulos mais trágicos do livro dos Shof’tim [Juízes] em que praticamente em todos lemos o texto: “Naquele tempo, não havia rei em Yisra’el; um homem simplesmente fazia o que pensava estar certo.” Estes capítulos (Shof’tim 17 a 21) narram a degradação na vida do povo de Yisra’el quando a geração daqueles que conheciam ao Senhor deu lugar a uma nova geração sem este conhecimento.
            Observe o exemplo de Mikhay’hu narrado no texto acima. O texto mostra que de algum modo ele estava com o dinheiro roubado de sua mãe. Embora esta tradução não deixe isto muito claro, mas a Bíblia a Mensagem deixa bem explicito: “Na verdade o dinheiro está comigo. Eu o roubei. Mas agora estou devolvendo.”. (Jz 17.2). Provavelmente por temer a maldição pronunciada por sua mãe, um algo que na época era levado muito a sério, ele resolveu devolver o dinheiro. A mãe deste, cujo nome não é mencionado em parte alguma, louva ao Senhor pela devolução. Observe por este ato, que não era uma família de pagãos, mas pessoas com algum conhecimento de Deus.
            Como uma forma de agradecer ao Senhor pelo dinheiro recuperado, esta mulher mandou construir um ídolo para colocar em seu santuário particular, o que contrariava totalmente o segundo mandamento: “Não faça para você nenhuma imagem esculpida ou qualquer tipo de representação do que há em cima no céu, nem sobre a terra ou na água embaixo da linha da cosa.” (Sh’mot [Êxodo] 20.4 BJC). Definitivamente, ela pertencia a esta nova geração de israelitas que não conheciam ao verdadeiro Deus. Sabia que existia um Deus vivo, mas nada a respeito deste Deus.
            Seu filho Mikhay’hu teve um comportamento semelhante, convidando um levi [levita] para ser seu kohen [sacerdote] e acreditando que devido a este sacerdócio obteria o favor de Deus.
            Vejo nestes dois exemplos algumas características daqueles que apenas sabem da existência de Deus, mas não conhecem a Ele. A primeira delas é a tentativa de produzir um deus de acordo com seus interesses. Este é o real sentido da idolatria. Observe no texto que esta família não voltou suas costas a Deus, não tinham um posicionamento de rebelião, pareciam até pessoas sinceras, mas mesmo nesta sinceridade feriram um dos principais mandamentos dados por Deus ao povo de Yisra’el. Quantos a partir de então criam diariamente deuses. E isto não está diferente em nossos dias. Falsos deuses estão sendo pregados em muitos púlpitos, pregações onde até mesmo a Bíblia é usada, mas que têm muito pouco, às vezes até mesmo nada, do verdadeiro Deus. Crer e seguir a Deus implica um verdadeiro conhecimento deste, que é obtido através das Escrituras Sagradas mediante o Ruach HaKodesh [Espírito Santo] a um coração quebrantado diante do Senhor, disposto a abandonar tudo aquilo que possui dentro de si mesmo que esta em desacordo com o Senhor. Qualquer outro posicionamento irá produzir a nós um deus que pode até se parecer com o verdadeiro, mas no fundo não passa de um ídolo. Uma geração que não conhece a Deus é uma geração que esculpe um deus de acordo com a sua própria visão.
            A segunda característica que vejo no texto é a tentativa de transformar a vida com Deus em um sistema religioso e acreditar que este sistema pode promover a vida com Deus. Mikhah contratou um levi, alguém que pertencia à tribo escolhida pelo Senhor para servir como kohanim [sacerdotes], e acreditou que apenas porque seu santuário funcionaria de modo semelhante ao Tabernáculo construído por Mosheh [Moisés] receberia o favor do Senhor. A humanidade precisa entender que religião é uma criação humana. Deus não inventou a religião, Ele criou o homem para se relacionar com seu Criador.
            Muitos têm transferido sua responsabilidade de se relacionar com o Pai para um líder religioso qualquer. Desejam alguém que ore por eles, que fale a eles a respeito de Deus, alguém que se consagre para que eles recebam o favor do Senhor. Mas estas mesmas pessoas não oram, não procuram o conhecimento de Deus, e nem estão dispostos a se consagrarem. É mais fácil eleger um sacerdote para assumir todas estas responsabilidades. Se eu acredito que Deus irá se relacionar com alguém e através deste relacionamento eu obterei algo da parte dEle, então eu acredito em um ídolo, não no Deus verdadeiro. E há algo agravante nisto tudo: sempre encontraremos homens dispostos a servir como sacerdotes de nossos ídolos, homens que pedirão dinheiro em troca de curas, ofertas em troca de prosperidade, homens que violentarão os textos bíblicos para gerar mensagens agradáveis a nossos ouvidos. “Porque vem o tempo em que as pessoas não terão paciência com o ensino sadio, mas proverão meios para satisfazer suas paixões e reunirão em torno de si mestres que dirão tudo que lhes faz as orelhas coçar. Sim, as pessoas se recusarão a ouvir a verdade e se voltarão para os mitos.” (2 Timóteo 4.3 e 4 BJC). Uma geração que não conhece a Deus é uma geração que busca seus interesses através da religião.
            Mikhah encontrou um levi, mas não um levi qualquer. Mais a frente o relado de Shof’tim diz: “Eles levantaram para si o ídolo, e Jônatas, filho de Gérson, neto de Moisés, e seus filhos foram sacerdotes da tribo de Dã até que o povo foi para o exílio.” (Jz 18.30 NVI [Nova Versão Internacional]). A tribo de Dan [Dã] aparece neste versículo, pois no capítulo 18 os vemos roubando o ídolo de Mikhah e chamando o levi contratado por ele. O que me chama atenção é quem era o levita: o neto de Mosheh. É certo que em muitas traduções deste versículo encontramos o nome M’nasheh [Manassés] de acordo com o texto Massorético, porém M’nasheh não era levi, Mosheh sim. O doutor Russell P. Shedd comenta que a versão do texto que diz Manassés “segue a emenda introduzida no texto hebraico mudando já, de há muitos séculos, o nome de Moisés (pai de Gérson, Êx 2.21,22) para Manassés. As consoantes msh são as de Moisés, preservadas nas versões mais antigas (e.g., a Septuaginta). A letra n (tornando o nome de Moisés para Manassés) foi acrescentada, provavelmente, para relacionar este levita idólatra com o mau rei de Israel (2 Rs 21) e evitar qualquer sugestão de Moisés.” (SHEDD, Russel P. Bíblia Shedd, 2.ed. ver. e atual. no Brasil. São Paulo: Vida Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. p. 374).
            E este fato, aliado a história de Mikhay’hu e sua família, me levou a refletir. A que geração nós pertencemos? Somos aqueles que conhecem a Deus ou apenas a um ídolo? Que geração nós temos formado?
            Mosheh, indiscutivelmente, foi um grande homem de Deus, pois a Torah declara: “A partir deste momento, não se levantou em Yisra’el nenhum profeta semelhante a Mosheh, a quem ADONAI conheceu face a face.” (D’varim [Deuteronômio] 34.10 BJC). Mas como todo ser humano ele possuía algumas falhas e uma delas é em relação a sua família. Mosheh não conseguiu ensinar plenamente quem era o Senhor a eles, uma prova disto é que ele demorou a circuncidar seus filhos e, durante a circuncisão, Tzipporah [Zípora] diz: “Você é para mim um noivo sanguinário!” (Sh’mot 4.25 BJC). Vejo nestas declarações que ele serviu realmente a Deus, mas não teve a preocupação de ensinar estes princípios a sua esposa e a seus filhos. Esta falta de instrução gerou o kohen Y’honatan, contratado por Mikhah.
            Diante disto, a primeira preocupação que precisamos ter é a de conhecer ao Senhor. Conhecer não significa saber que Ele existe. “Você crê que ‘Deus é um’? Que vantagem há nisso? Os demônios creem nisso também – esse pensamento os faz tremer de medo!” (Ya’akov [Tiago] 2.19 BJC). Conhecer significa se relacionar com este Deus, procurando estabelecer os Seus gloriosos princípios sobre nossas vidas. É colocar em prática aquilo que aprendemos do Senhor. Para isto, precisamos estudar as Escrituras, atentos para tudo aquilo que há em nós em desacordo com a Mensagem, e dispostos a mudar.
            Conhecer a Deus significa ter uma vida de oração onde nos submetemos à vontade e a soberania do Pai. É na oração que colocamos diante do Senhor a nossa vontade e nossas necessidades, mas acima disto que dizemos: “tua vontade seja feita na terra como no céu.” (Mattityahu [Mateus] 6.10 BJC). É a vontade de Deus não a minha. É na oração que nos submetemos e declaramos que, acima de nossas vontades, desejamos e confiamos na vontade de Deus.
            Conhecer a Deus significa também jejuarmos pedindo a Deus que converta nosso coração aos seus propósitos. “É esse tipo de jejum que desejo, um dia apenas para a pessoa se humilhar? Deve a pessoa pendurar a cabeça como um junco e se derramar sobre panos de saco e jogar cinzas sobre si? É isso que vocês chamam de jejum, o dia para agradar a ADONAI? Eis o tipo de jejum que desejo – liberte os aprisionados injustamente, desprenda as correias dos presos, deixe os oprimidos seguirem livres, quebre todo jugo, partilhe sua comida com o faminto, leve o pobre desabrigado para sua casa, vista o nu quando você o vir, cumpra o dever para com seus parentes” (Yesha’yahu [Isaías] 58.5 a 7 BJC). Isto é jejuar, me submeter à vontade do Senhor ao ponto de me tornar um promotor de Sua justiça e de Sua vontade por onde ando.
            “Que nós conheçamos, que nos esforcemos para conhecer ADONAI.” (Hoshe’a [Oseias] 6.3 BJC)
            E a partir do momento em que passo a conhecer ao Senhor, e este conhecimento é um processo gradativo que durara por toda a eternidade, preciso começar a transmiti-lo. Gerar na vida daqueles que me cercam o conhecimento do Senhor. Alguns recebem um conhecimento da parte de Deus, mas o retém para si, outros transmitem apenas fragmentos daquilo que aprendeu. Tais atitudes geram uma nova geração que não conhece ao Senhor. O conhecimento do Senhor precisa ser gerado juntamente com nossos descendentes, e descendentes em todos os âmbitos de nossas vidas.
            O primeiro âmbito que desejo ressaltar é em nossas famílias. Que tipo de deus nossas mulheres ou maridos têm conhecido através de nossas vidas? Que tipo de deus nossos filhos têm conhecido através de nós? Eles conhecem o Deus verdadeiro ou apenas um ídolo que moldamos de acordo com nossos próprios interesses?
            Precisamos ensinar aos nossos as Palavras do Senhor. “Estas palavras, que ordeno a você hoje, estarão no seu coração; ensine-as com cuidado a seus filhos. Fale a respeito delas ao sentar-se em casa, ao viajar pela estrada, ao deitar-se e levantar-se.” (D’varim 6.6 e 7 BJC). Ensinar é falar e viver de acordo com estes ensinamentos. Educar não é apontar o caminho, mas caminhar juntos, de mãos dadas.
            O segundo âmbito a ressaltar aqui é em relação aos nossos liderados. Liderar alguém é chama-lo para caminhar com você, afinal, é isto que o Mestre Yeshua [Jesus] fez com seus talmidim [discípulos]. Liderar não é mandar, é treinar um sucessor. Afinal somos líderes ou donos da visão?
            Muitos agem como se fossem insubstituíveis, e, talvez com medo de perder o valor, vivem como se fossem os únicos capazes de realizar uma obra. Mas não podemos continuar assim, afinal qual de nós é imortal ou ilimitado. É preciso deixar que os sucessores apareçam, é preciso treiná-los, traze-los para perto de nós com o propósito de andar conosco e aprender tudo aquilo que já aprendemos do Senhor. “Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Sha’ul [Paulo]? Apenas servos por meio de quem vocês vieram a confiar, por meio de um de nós ou de outro. Eu plantei a semente, Apolo a regou, mas foi Deus quem a fez crescer. Portanto, nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que faz crescer – quem planta e quem rega são o mesmo.” (1 Coríntios 3.5 a 7 BJC).

            Assim, que nos esforcemos, de acordo com a palavra proferida pelo profeta Hoshe’a [Oseias], para conhecer ao Senhor, estando disposto a transmitir todo este conhecimento para todos aqueles a quem o Senhor colocou ao nosso lado.

domingo, 24 de agosto de 2014

Eu, porém, vos digo.

“Não pensem que vim abolir a Torah [ensino, Lei, Pentateuco] ou os Profetas. Não vim abolir, mas completar. Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud [menor letra do alfabeto hebraico] ou um traço da Torah passará – não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido. Portanto, quem desobedecer à menor dessas mitzvot [ordens, mandamentos] e ensinar outras pessoas a agirem da mesma forma será chamado ‘menor’ no Reino do Céu. Pois eu lhes digo: a menos que sua justiça seja muito maior que a dos mestres da Torah e dos p’rushim [fariseus], vocês não entrarão no Reino do Céu”.
(Mattityahu [Mateus] 5.17 a 20 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Estas são palavras de Yeshua [Jesus] ditas em cima de um monte a todos os seus talmidim [discípulos] e as multidões que o seguiam; foram proferidas durante o que conhecemos hoje como o Sermão do Monte narrados por Mattityahu [Mateus] e Lucas enquanto escreviam as boas-novas sobre Yeshua [Evangelho]. É um sermão relativamente longo, ocupando três dos vinte e oito capítulos do evangelho de Mattityahu, e gostaria de me ater a uma parte desta mensagem contida entre os versículos 21 e 48 do quinto capítulo deste evangelho onde Yeshua cita oito textos do Tanakh e fornece a sua interpretação a respeito dos mesmos.
            Embora fora desta seção, os versículos transcritos no início desta mensagem fornecem um bom pano de fundo para o que iremos tratar: em momento algum Yeshua está dizendo que a Torah ou sequer parte da mesma está ultrapassada. Muito pelo contrário, ele está incentivando seus ouvintes a valorizarem e a obedecerem às Palavras do Senhor gravadas nas Escrituras. Estes mesmos versículos, na tradução feita por Eugene Peterson dizem: “Não pensem, nem por um instante, que eu vim anular as Escrituras – a Lei de Deus ou os Profetas. Não estou aqui para anular, mas para cumprir. Estou reposicionando as coisas, ajuntando-as no quadro geral, para que fiquem no devido lugar. A Lei de Deus é mais real e duradoura que as estrelas do céu e que o chão debaixo dos nossos pés. Depois que as estrelas desaparecerem e a terra for consumida pelo fogo, a Lei de Deus ainda estará viva e operante. Se alguém considerar de pouca importância mesmo o menor item na Lei de Deus, estará diminuindo apenas a si mesmo.” (Mt 5.17-19 – A Mensagem).
            Em seguida Yeshua começa a citar o Tanakh e a interpretá-lo, utilizando a forma: “Foi dito..., mas eu lhes digo...”. Esta fórmula é muito relevante diante do contexto em que Yeshua e seus ouvintes viviam. Entre os séculos II e I a.C., após a revolta dos Macabeus, houve um reavivamento espiritual em Yerushalayim [Jerusalém], principalmente com a restauração do Templo de Yisra’el [Israel]. Diversos grupos israelitas se formaram, cada um com interpretações diferentes a respeito da Torah. Entre estes grupos conhecemos os fariseus, os saduceus, os essênios, e alguns outros. As interpretações dadas eram muitas vezes conflitantes e cada grupo se considerava os detentores do verdadeiro sentido da Lei.
            Assim, nos tempos de Yeshua, o povo estava acostumado a ver os debates entre os diversos grupos israelitas, com suas interpretações únicas. Quando Yeshua inicia esta seção em seu discurso ele levou os seus ouvintes a refletir sobre o que está sendo observado pelos mesmos: a tradição humana ou a Palavra de Deus. Esta reflexão é de muito valor hoje, quando observamos diversas pessoas utilizarem a Bíblia para defender o seu posicionamento, escolhendo para isto versículos isolados das Escrituras, que fora do contexto criam o pretexto necessário para colocarem a sua própria vontade acima da vontade de Deus. Assim, respondamos a nós mesmos duas perguntas. A primeira é: a quem temos ouvido, a Deus ou aos homens? E a segunda, e não menos importante: temos usado a Bíblia para ouvir ao Senhor falando ou para justificar nossos desejos e ações?
            Yeshua “veio completar nossa compreensão da Torá e os Profetas para que possamos tentar de modo mais eficiente ser e fazer o que eles dizem que devemos ser e fazer.” (STERN, David H., Comentário Judaico do Novo Testamento: Didática Paulista; Belo Horizonte: Editora Atos, 2008, p. 51). Ele veio para tornar pleno o significado da Torah.
            Este entendimento completo da vontade do Senhor tira a importância da prática legalista dos mandamentos do Senhor, como se tal prática nos tornaria merecedores de algo da parte de Deus. A Torah é boa, pois ela aponta para o propósito do Senhor em minha vida, e, conforme aprendemos nas palavras de Yeshua, tal propósito implica naquilo que verdadeiramente sou, não simplesmente no que faço.
            Assim, ouvimos o Mestre Yeshua dizendo: “Vocês ouviram o que foi dito aos nossos pais: ‘Não assassine’, e quem cometer assassinato estará sujeito a julgamento. Mas eu lhes digo: quem demonstrar ira contra seu irmão estará sujeito a julgamento.” (Mattityahu 5.21 e 22 BJC) e “Vocês ouviram o que foi dito aos nossos pais: ‘Não adultere’. Mas eu lhes digo: o homem que até mesmo olhar para uma mulher desejando-a ardentemente já cometeu adultério com ela no coração.” (Mattityahu 5.27 e 28 BJC). Ou seja, não importa se eu nunca tirar a vida de um ser humano, se simplesmente, em minha ira, desejar que alguém morra, já sou um assassino. Não importa se nunca me deitar com uma mulher que não seja minha esposa, se estes pensamentos estão em minha mente, eu já sou adultero. O Pai olha para quem eu sou, e não simplesmente para as obras de minhas mãos, visto que as mesmas apenas refletem meu caráter.
            Dito isto, é necessário que lembremos que não somos perfeitos. A Bíblia nos ensina que somos pecadores: “porque todos pecaram e não são capazes de merecer o louvor de Deus” (Romanos 3.23 BJC) e ainda “Se afirmamos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se reconhecemos nossos pecados, então, por ser digno de confiança e justo, ele nos perdoará e nos purificará de toda injustiça.” (1 Yochanan [1 João] 1.8 e 9 BJC). Assim, a vida de um seguidor do Messias Yeshua é uma vida onde através da Palavra enxergamos as falhas em nosso caráter, através de nossa vida com Deus desejamos nos livrar das mesmas e a partir de então lutamos contra nós mesmos para deixa-las para traz. Tudo isto tendo a consciência que a graça do Senhor está sobre mim, para me perdoar e gerar transformação. É isto que podemos chamar de Novo Nascimento. Assim, o Novo Nascimento é uma nova vida que eu tenho no Messias Yeshua em relação a viver sabendo que tenho sobre mim a graça de Deus. Nesta vida vou errar, mas sei que Yeshua está sobre mim para me perdoar e me levantar.
            Embora imperfeitos, a perfeição deve ser a busca sincera em todos os seguidores de Yeshua. “Portanto, sejam perfeitos, como o Pai celestial de vocês é perfeito.” (Mattityahu 5.48 BJC), ou, em outra versão do mesmo versículo: “Resumindo, o que quero dizer é cresçam! Vocês são súditos do Reino; tratem de viver como tais. Assumam sua identidade, criada por Deus.” (A Mensagem). E não usar a Bíblia para esconder nossas falhas, e justificar nossos pecados. “Você não pode usar a cobertura da lei para mascarar uma falha moral.” (Mateus 5.32 – A Mensagem).

            O sermão “eu, porém, vos digo” de Yeshua aponta para a busca de uma nova vida com Deus. Uma vida transformada pela ação do Ruach-HaKodesh [Espírito Sato]. Uma verdadeira nova criatura, com novos valores, novos pensamentos e novos sentimentos. Uma vida que sabe que está na presença do Senhor a cada instante de seus dias, e se preocupa mais em ser agradável aos olhos desse Deus, do que aos homens. Os homens conhecem apenas a nossas ações, mas Deus conhece o nosso interior.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A obra do Senhor em nosso cotidiano

“Desse modo, o muro foi concluído no vigésimo quinto dia do mês de elul, em cinquenta e dois dias. Quando todos os nossos inimigos ouviram a respeito disso e as nações vizinhas ficaram com medo, a autoestima de nossos inimigos enfraqueceu fortemente, pois eles perceberam que essa obra tinha sido realizada pelo nosso Deus.”
(Nechemyah [Neemias] 6.15 e 16 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            O relato de Nechemyah [Neemias] mostra a história de um homem que a princípio não apresenta uma vida tão espiritual quanto a maior parte dos homens encontrados na Bíblia. Não encontramos nenhuma profecia proferida por ele. Ele não era sacerdote, e não encontramos alguma passagem que mostra o Senhor falando diretamente com Nechemyah. Ele foi um governador de Yerushalayim [Jerusalém], e foi o responsável pela reconstrução dos muros da cidade após o retorno do exílio babilônico em aproximadamente 520 a.C. Uma função aparentemente secular, como o dia a dia da maior parte dos seres humanos, cumprida por um homem comum, como praticamente todos nós nos sentimos em nossa vida rotineira, mas após a obra ter sido concluída, as Escrituras dizem que as pessoas reconheceram que foi realizada por Deus.
            Esta declaração me chama muito a atenção, afinal, assim como Nechemyah e milhões de outros homens e mulheres neste país e no mundo, tenho um trabalho secular e sonho em realiza-lo com excelência, de modo que as pessoas conheçam a Deus através de meus atos. Assim gostaria de fazer uma breve análise daquilo que a Bíblia fala sobre este homem, para que, juntamente com você que está lendo esta mensagem, possamos agir em nosso cotidiano da mesma forma que Nechemyah. Todos possuímos uma obra confiada por Deus a nós a ser realizada, e para esta realização não precisamos deixar nossos compromissos diários de lado. Nechemyah possuía uma grande obra de Deus para realizar, mas sua realização ocorreu de modo comum, sem a espiritualização que muitas vezes esperamos de uma obra divina. E é para uma obra como esta que fomos comissionados pelo nosso Mestre.
            O livro de Nechemyah começa relatando a notícia que o autor do livro, que recebe seu nome, recebeu sobre a aflição vivida pelo povo judeu que retornara do cativeiro babilônico para a Terra Prometida. Após ouvir a notícia, Nechemyah diz “sentei-me e chorei; lamentei por vários dias, jejuando e orando diante do Deus do céu.” (Ne 1.4 BJC). Deste modo, não foi apenas mais uma noticia ruim recebida por ele; é como se ele mesmo estivesse passando pela aflição. Isto é compaixão, uma dor causada pelo mal alheio. A dor de Nechemyah foi tamanha que o mesmo ficou visivelmente abatido, até o rei Artach’shashta [Artaxerxes] notou seu semblante triste (Ne 2.1 e 2).
            É interessante notar que Nechemyah não tinha uma ligação muito forte com a cidade de Yerushalayim para justificar este abatimento. É claro que era a capital de sua terra natal, embora ele provavelmente nasceu no cativeiro, e aparentemente não possuía nenhuma intensão de retornar para a terra de seus antepassados, visto que o decreto de Ciro que permitia os judeus retornar a sua terra foi promulgado aproximadamente 90 anos antes desta história, e Nechemyah se encontrava como copeiro do rei da Pérsia.
            Assim a preocupação demonstrada por Nechemyah nos mostra o interesse que ele tinha nas necessidades dos outros, não em suas próprias. E esta é uma característica rara nos nossos dias, como também o deveria ser nos tempos do construtor. Nossa sociedade faz de nós seres individualistas: temos a nossa própria vida, os nossos próprios problemas, e consideramos que a vida e os problemas daqueles que nos cercam, não devem ser alvos de nosso interesse. Muitas vezes isto não reflete nosso desinteresse, mas nosso medo de deixarmos o individual e passarmos ao coletivo. Um verdadeiro receio de verdadeiramente vivermos em uma comunidade, o verdadeiro sentido da palavra Igreja, a comunidade Messiânica. Este é o primeiro elemento que observo na história de Nechemyah: a busca pela vida em comunidade.
            Muitas vezes ouvimos que precisamos nos abrir, precisamos procurar conselhos, partilhar nossas dificuldades. Isto tudo é verdade. Mas a partir do momento que aprendermos a verdadeiramente nos interessarmos nas aflições dos outros, automaticamente passaremos a ser procurados. E isto não engloba apenas nosso ambiente eclesiástico, mas nossa vida familiar, vizinhança e inclusive em nosso ambiente profissional. Você realmente se interessa naqueles que te cercam? Você demonstra através de suas atitudes que o dia a dia de sua esposa, as brincadeiras de seus filhos, as necessidades daqueles que cruzam o seu caminho a cada dia, são realmente interessantes para você? Ou será que, assim como muitos, você age como se tudo isto que acontece ao seu lado a cada dia de sua vida é apenas mais um elemento que não relação alguma contigo? Boa parte da obra que o Senhor coloca em suas mãos é realizada pelo Ruach HaKodesh [Espírito Santo], através de nós, na vida daqueles que nos cercam. Se eu quero ser usado por Deus, preciso primeiramente notar que tenho alguém ao meu lado que possui necessidades, e que Deus deseja supri-las através de minha vida.
            Observe que o interesse de Nechemyah ia além da simples reconstrução dos muros de Yerushalayim. Ele se preocupava com as pessoas. Praticamente por todo o capítulo 5 deste livro, o vemos promovendo a justiça social.
            O interesse de Nechemyah fez com que o rei permitisse que ele partisse para Yerushalayim, com o propósito de reconstruir os muros da cidade. Após levantar os recursos necessários ele partiu. Ao chegar, depois de uma viagem de aproximadamente 1600 km que durou cerca de 4 a 5 meses, ele não iniciou rapidamente o trabalho, antes saiu para inspecionar a situação dos muros (Ne 2.11-16). Notamos com isto que sua atitude não foi precipitada. Ele primeiro conheceu o problema, analisou o que precisava ser feito, e chegou à conclusão de como proceder.
Temos nossos próprios temperamentos. Alguns são mais introspectivos e analíticos, outros extrovertidos e práticos. Mas acima disto, precisamos entender o que precisa ser feito, antes de começar a agir. Afinal, afobação só traz problemas. Este é o segundo elemento que observo neste livro: o conhecimento da obra a ser realizada. Junto com este conhecimento vem o preparo. Eu me interesso nas pessoas, descubro o que é preciso ser feito e me preparo para agir. Este preparo inclui o conhecimento da Palavra do Senhor, oração, interseção e jejum.
Quando a obra começou, a Bíblia mostra que se levantaram opositores: Sanvalat [Sambalate], Toviyah [Tobias], os árabes, os ‘amonim [amonitas] e os ashdodim [asdoditas] não apenas ficaram irados com o início das obras como também tentaram desestimular os trabalhadores (Ne 3.33-4.6 (4.1-12)). Nechemyah não deixou que a oposição atrapalhasse a obra que o Senhor lhe confiara. Pelo contrário, ele continuou a obra, montou guarda para prevenir ataques e mais tarde, quando seus inimigos subornaram Sh’ma’yah [Semaías] para incentivar Nechemyah a se esconder dentro do Templo do Senhor, o que entraria em desacordo com a Palavra de Deus, ele recusou salvar a sua vida desta forma (Ne 6.10-14). Estas atitudes me mostram mais alguns elementos que precisamos observar: a perseverança mesmo em meio às oposições, o posicionamento em vigiar e a preocupação em ser prudente.
Muitos vão se levantar enquanto estivermos trabalhando. Alguns irão simplesmente tentar nos desestimular a permanecermos no propósito que fizemos. Outros irão além e tentarão nos difamar, perseguir. Somente nós podemos decidir se eles terão sucesso nesta oposição. Ao enfrentar esta situação Nechemyah dedicava toda a sua energia ao trabalho (Ne 5.16). Não dava ouvidos ao que estavam falando e não se preocupava em argumentar com aqueles que se opunham a obra do Senhor. Será que estamos preocupados com a obra do Senhor ou com aquilo que pensam de nós? É interessante que os inimigos de Nechemyah anos antes desejavam ajudar na obra de reconstrução do Templo, pois também adoravam ao Deus de Yisra’el [Israel], mas foram impedidos por Z’rubavel [Zorobabel] (Ed 4.1-3), e esta postura fez com que suas intenções em relação à obra mudassem.
Nem sempre aqueles que se oporão ao que você vai fazer são inimigos declarados. Muitos serão amigos que virão com a melhor das intensões com conselhos, procurando realmente ajudar. Alguns irão inclusive nos incentivar a sairmos do centro da vontade do Senhor. E é diante disto que precisamos estar alertas, conhecendo realmente o plano do Senhor e a Sua Palavra, para não perdermos os Seus propósitos.

Acima de todas estas coisas encontramos o último elemento que aparece constante durante todo o relato: a confiança em Deus. Mesmo com a melhor das intenções jamais conseguiremos agir com nossas próprias forças. Precisamos reconhecer que temos acima de nós um Deus que nos fortalece, nos consola e nos capacita a realizar tudo aquilo que nos confiou. Ele nos chamou e é Ele quem realizará a obra em nós, através de nós e apesar de nós.