sábado, 29 de novembro de 2014

Centralizando Deus em seu lar

“Pois ADONAI, seu Deus, anda pelo seu acampamento para resgatá-los da mão dos seus inimigos. Portanto, seu acampamento deve ser um lugar sagrado.”
(D’varim [Deuteronômio] 23.15(14) BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Falar sobre família é um dos meus assuntos favoritos e, longe de pensar que domino todo assunto, a cada vez que preciso falar sobre este tema reflito sobre a maneira que tenho encarado e principalmente agido em minha casa.
            É inegável que foi Deus quem criou a família, afinal ao narrar a criação de todas as coisas, no primeiro capítulo de Gênesis, a Bíblia relata: “Portanto, Deus criou a humanidade à sua imagem; à imagem de Deus ele os criou: criou-os macho e fêmea.” (B’reshit [Gênesis] 1.27 BJC). O Criador não fez apenas o homem e apenas em um segundo momento, como se mudasse de planos, decidiu fazer a mulher. Ele sempre intencionou criar o casal, haja visto que fez o homem com um órgão reprodutor. Deste modo, o nosso Deus está sempre atento para a nossa família, e está sempre presente.
            No versículo que lemos no início desta mensagem, em meio a inúmeras instruções em relação à higiene que deveria existir dentro do acampamento dos filhos de Israel no deserto, após o Êxodo, o Senhor fala que andava pelo mesmo e, portanto, os israelitas deveriam encara-lo como um lugar sagrado, ou seja, inviolável, respeitável.
            Nosso acampamento é a nossa casa, onde habitamos com nossa família, e, da mesma forma que fazia em meio ao povo de Israel no deserto, o Senhor caminha em nosso lar, a questão é: o que tem sido o alvo de nossa atenção?


Este talvez tem sido o maior desafio para nossa vida em família na presença de Deus: desligar-nos de tudo aquilo que é supérfluo para nos conectar naquilo que realmente é importante. Embora a febre de nossos tempos, e inclusive o tema do vídeo, apontem o alvo desnecessário de nossas atenções como os celulares e tablets, não são apenas eles quem têm roubado nosso tempo e energia daquilo que realmente é digno deles.
            Temos dedicado tanto atenção ao nosso emprego, trazendo para casa as inquietações e preocupações de nosso ambiente profissional que mal temos tempo para nossos filhos. Definimos como a fonte do nosso relaxamento um tempo a frente de uma televisão vendo um filme, seriado ou a um telejornal que nem percebemos como é relaxante ouvir nossos filhos gargalharem, e, principalmente, participar desta alegria. Colocamos como prioridades em nossas vidas o nosso ministério, nossos contatos do facebook ou do whatsapp, nossos jogos eletrônicos, e nos ocupamos com tanta coisa, mas por dentro estamos vazios, pois no fundo nada disso realmente importa. Aquilo que importa tem ficado de lado, nosso Deus e nossa família, e são eles quem darão sentido a nós mesmos, afinal quem nasceu para estar sozinho? Já nascemos ligados a alguém.



            Deste modo a primeira reflexão que faço e incentivo você a fazer juntamente comigo é: qual tem sido a venda sobre os seus olhos que o tem impedido de ver aqueles que realmente importam?
            Esta cegueira acaba se intensificando quando falamos da presença de Deus em nosso lar, afinal vivemos em um mundo dualista, que separa o espiritual do material, e acabamos influenciados a viver hora em um universo secular, hora em um universo eclesiástico. “A secularização é um fenômeno, que nasce com a modernidade, que é a afirmação da racionalidade humana e Deus está fora da equação, Deus não faz parte do que vai explicar o mundo, a realidade a vida. Deus não é considerado. Mundo secular é um mundo em que Deus não é necessário, ou não é evocado ou invocado para explicar.” (Ed Rene Kivitz).
Muitos consideram esta definição algo totalmente contrário àquilo que vivem, pois, “como pode alguém deixar Deus de fora de sua vida?”, pensam.  Mas lembrar de Deus apenas uma vez por semana ao visitarmos uma igreja, não significa trazer Deus para dentro de nossas vidas.
Agora, se em nosso dia a dia não somos capazes de enxergar nossa própria família em meio a tantos problemas e afazeres, o que dirá de enxergar a Deus? Sabemos que Ele está sempre presente em nossas vidas (Mt 28.20), mas não temos dado nenhuma real atenção, fora nos minutos antes de comer uma refeição ou dormir quando elevamos nossos pensamentos em oração a Deus.
            Temos vivido uma vida de religiosidade, esperando conquistar o favor do Senhor mediante aquilo que fazemos, assim quando nos perguntam: “Como atrair a presença de Deus para nossa casa?” nossa resposta normalmente se relaciona a um jejum, uma campanha de oração, a entrega de uma oferta especial, quando na verdade nossa resposta deveria ser: “Ele já está presente e deseja se relacionar comigo.”. Assim a vida de quem deseja a presença de Deus em seu lar, antes de ser uma vida de entrega e sacrifício, é uma vida de busca por um real relacionamento com Deus, e este começa com um relacionamento com o outro.

“Se afirmarmos que temos comunhão com ele [Deus], mas andamos nas trevas, mentimos e não vivemos na verdade. Se, porém, estivermos andando na luz, como ele está na luz, temos, então, comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Yeshua [Jesus] nos purifica de todo pecado.”
(1 Yochanan [1 João] 1.6,7 BJC)

            Assim nosso relacionamento com Deus é o reflexo de nosso relacionamento com aqueles que estão ao nosso lado, começando com nossa família. Um relacionamento de qualidade com os nossos, atrairá a presença de Deus, afinal Yeshua disse que “sempre que dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou com eles” (Mattityahu [Mateus] 18.20 BJC).
            Relacionar-nos com Deus e com o nosso próximo significa termos uma ligação com eles, que envolve convivência, comunicação e atitudes.
            Não existe relacionamento quando não convivemos. Assim precisamos deixar de lado nossas ocupações e preocupações para passarmos um tempo de qualidade com nossa família. Isto significa não simplesmente estar por um tempo em um mesmo ambiente, mas, além disto, manter uma comunicação. Comunicar vem do latim “communicare” que significa partilhar, participar algo, tornar comum. Não é simplesmente dizer uma informação qualquer, mas abrir o seu coração, olho no olho, e tornar o outro participante de sua vida.
            A vida familiar só existe com um relacionamento entre todos, com um participando da vida do outro não apenas em palavras, mas em suas atitudes, e é nestas últimas que o amor precisa transparecer. Para isto todos os envolvidos precisam cultivar laços de confiança, respeito e harmonia. O verbo cultivar não foi usado por acaso, pois o processo é realmente igual ao de o cultivo de uma árvore frutífera: precisamos plantá-la, zelar pelo seu crescimento regando e adubando a terra, para depois de tudo desfrutar de seus frutos. E eu preciso fazer isto em minha família, independente de qual tem sido a postura dos outros, afinal conforme disse Antoine de Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
            Após criar e cuidar diariamente deste relacionamento, podemos convidar nosso Deus a fazer parte dele. É evidente que Deus já estará presente, mas o convite e para que nós mesmos nos atentemos para esta santa presença. Podemos seguir a orientação de Sha’ul [Paulo]: “continuem cheios do Espírito – cantam salmos, hinos e canções espirituais uns para os outros; cantem ao Senhor e lhe façam música no coração; deem sempre graças a Deus, o Pai, por todas as coisas em nome de nosso Senhor Yeshua, o Messias.” (Efésios 5.18-20 BJC).
            Deste modo eu passo a me relacionar com o outro sabendo que Deus está no meio deste relacionamento, não fica apenas no intelecto, mas minhas ações demonstram este entendimento. A partir daí eu me reúno com minha família para orar, para cultuar a Deus, compartilhar a Palavra. Quantas vezes temos feito isto nas últimas semanas?
            O Tabernáculo construído por Mosheh [Moisés] no deserto é uma figura disto. Esta tenda representava a presença de Deus habitando em meio às famílias dos israelitas que acampavam ao seu redor.



            Todo o acampamento enxergava que Deus estava entronizado em seu meio. Esta deve ser a nossa visão quando estamos em nosso lar, junto com nossa família: Deus está conosco. Este conhecimento precisa gerar em nós um comportamento. Nossa vida não é, e não deve ser, independente do Senhor.
            Precisamos dessecularizar as nossas vidas, trazendo de volta a participação do Senhor em todos os seus âmbitos, começando pela nossa casa.

            Assim, como posso trazer a presença de Deus para minha família? Tratando-a como morada de Deus entre os meus.