“Então
Adonai disse: ‘Uma vez que essas pessoas se aproximam de mim com palavras
vazias, e a honra que me conferem não é verdadeira; pois, de fato, mantêm o
coração longe de mim, e o ‘temor de mim’ é apenas uma mitzvah [ordem, mandamento, princípio geral para a vida, boas
ações] de origem humana – portanto, continuarei atordoando essas pessoas com
coisas espantosas e maravilhosas, até que a ‘sabedoria’ dos ‘sábios’ se
desvaneça, e o ‘discernimento’ de seus ‘entendidos’ seja ocultado’.”.
(Yesha’yahu [Isaías]
29. 13 e 14 BJC [Bíblia Judaica Completa]).
Gosto muito de falar sobre adoração
e considero este um tema fundamental para todos que desejam aproximar-se do
Criador. Sempre que penso a respeito deste assunto, lembro-me de quando tinha
aproximadamente 10 anos de idade e frequentava a “salinha dos juniores” com o
professor João Maria. Naquele tempo comecei a aprender a adorar com ele colocando
todas as crianças ajoelhadas e com seu violão ministrando uma canção, ensinando-nos
a nos derramar diante do Senhor. Aprendi que, figuradamente, a adoração é estar
no colo de Deus, envolvido em Seus braços, acariciando a Sua barba.
Hoje, com meus 32 anos e abençoado
com dois filhos maravilhosos, ao contemplar esta cena, lembro-me de quando pego
meu filho de três anos no colo. Ele tem o costume de olhar para mim e contornar
meu rosto com suas mãozinhas. Passa a mão na minha testa, meus olhos, meu
bigode e minha barba. Certa vez, após ele contornar meu rosto como o de
costume, eu o peguei contornando o seu próprio rosto e dizendo que quando
crescer terá uma barba e um bigode igual ao pai.
Quando penso em adoração diante de
toda esta cena consigo entender o profeta Yesha’yahu [Isaías] em passagens como
a que abri esta mensagem. Quando me coloco em adoração ao Senhor, contemplo
suas características e passo a deseja-las em mim. Passo a buscar o caráter de
Deus, a santidade do Senhor, e isso passa a fazer parte de todas as áreas de
minha vida. A adoração verdadeira do Criador abrange todo o aspecto da vida da
pessoa.
Eugene Peterson em sua tradução da
Bíblia escreve o texto acima da seguinte maneira: “O Senhor disse: ‘Esse povo
faz um grande show, dizendo as coisas certas, mas o coração deles não está nem
aí para o que dizem. Fazem de conta que me adoram, mas é tudo encenação. ’”
(Isaías 29.13 A Mensagem). Desta maneira fica claro que adoração é muito mais
que um conjunto de ações praticadas mecanicamente. Não é um show, uma canção, nem
tampouco palavras proferidas. Adoração implica em apresentar-se integralmente
ao Senhor. A palavra traduzida por coração no original é לב (leb)
que
representa não apenas o coração, mas a mente humana, e figuradamente representa
nossos desejos ou vontades mais intimas. É disso que o Senhor esta falando
através da boca do profeta, a busca pela intimidade com o Senhor através de
nossa vida.
Yesha’yahu trata de uma nação que
embora continuasse praticando os rituais da Torah [ensino, Lei do Senhor, o
Pentateuco], mantinha sua vida distante do Criador. Ele inclusive se aprofunda
neste assunto no primeiro capítulo do livro que leva seu nome:
“Ouçam
o que ADONAI diz, governantes de S’dom! Ouça a Torah de Deus, povo de ‘Amorah! ‘Por que são oferecidos a mim todos
aqueles sacrifícios? ’, pergunta ADONAI. ‘Estou farto de ofertas queimadas de
carneiros e da gordura de animais engordados! Não me agrado do sangue de
touros, cordeiros e bodes! Sim, vocês comparecem à minha presença; mas quem
pediu que pisoteassem meus pátios? Parem de trazer ofertas de grãos inúteis!
Elas são como incenso repugnante para mim! Rosh-Hodesh
[início do mês lunar], shabbat
[sábado], convocações solenes – não suporto a perversidade das suas
assembleias! Tudo em mim odeia seus Rosh-Hodesh
e seus festivais; eles são um fardo para mim – estou cansado de suportá-los!
Quando estenderem as mãos, esconderei meus olhos de vocês; não importa quanto
orem, não serão ouvidos, pois suas mãos estão cobertas de sangue. Lavem-se!
Afastem seu mau procedimento da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a
fazer o bem! Procurem a justiça, aliviem os oprimidos, defendam os órfãos,
pleiteiem pela viúva. ’”.
(Yesha’yahu 1.10 – 17
BJC)
A mensagem é pesada. O próprio Deus
está falando que culto sem vida com Ele é inútil e desprezível. E esta vida com
Deus deve ser uma vida completa em Sua presença: corpo, alma e espírito diante
do Criador. Não consigo olhar este texto sem pensar em Iyov [Jó]. O Tanakh
[Antigo Testamento] ensina que o Eterno ao olhar para Iyov diz: “Você reparou
em meu servo Iyov, pois não há ninguém como ele na terra, um homem
irrepreensível e reto, que teme a Deus e se afasta do mal?” (Iyov 1.8 BJC). O
próprio Deus testemunha a respeito de Iyov, enquanto ao se dirigir para o povo
de Y’hudah [Judá] nos tempos de Yesha’yahu diz: “Quem te chamou à minha
presença?”.
Isto me leva a refletir que tipo de
vida com Deus eu tenho tido. É tolice de minha parte acreditar que o fato de
frequentar a igreja, dar meu dízimo, levantar as mãos e cantar durante o louvor
produza um relacionamento com Deus. O próprio Sha’ul [Paulo] diz que todos
estes costumes “[...] têm aparência de sabedoria, com suas observâncias
religiosas autoimpostas, falsa humildade e ascetismo, mas não têm valor algum
refrear as pessoas de agir de acordo com a velha natureza.” (Colossenses 2.23
BJC). Yeshua [Jesus] nos ensina que muitos chegaram diante dEle apontando tudo
aquilo que realizaram e ouvirão de Sua boca: “Afastem-se de mim!” (Mt 7.21-23).
Adoração verdadeira é uma vida
diante do Senhor. É uma constante auto avaliação, seguida de uma tomada de
decisão: quero parecer com meu Pai. É um relacionamento diário com o Criador,
comparado por Sha’ul como um relacionamento entre um casal (Ef 5.25-33).
Não adianta eu simplesmente morar
debaixo de um mesmo teto que minha esposa. Não adianta somente prover o seu
sustento, dar presentes. Eu preciso ter um tempo de qualidade com ela, um tempo
onde estou realmente e integralmente presente. Naquele momento minha única
preocupação é ela, não as contas ou afazeres. Com o passar do tempo a presença
dela começa a me mudar. Passo a me interessar pelo que ela se interessa,
rejeitar em mim aquilo que a desagrada. Tudo em busca de um relacionamento cada
vez mais intenso.
Assim começa um relacionamento de
qualidade com Deus. Eu deixo de lado os afazeres de meu dia a dia e me coloco
diante do Senhor. Naquele momento não estou preocupado com o cheque que preciso
cobrir, nem em pedir ao Eterno uma benção necessária. Somente desfruto a sua
presença. Com o tempo este relacionamento ira gerar em mim mudança:
primeiramente uma mudança interior onde passo a desejar ser diferente. Clamo:
“Examina-me, Deus, e conhece meu coração; testa-me, e conhece meus pensamentos.
Vê se há em mim algum caminho danoso e guia-me pelo caminho eterno.” (Tehillim
[Salmos] 139. 23 e 34 BJC). Busco a ter em mim o caráter de Yeshua, que
demonstrou o proceder do homem criado por Deus.
Depois disto começa uma mudança
exterior: minhas atitudes passam a ser diferentes. Passo a me preocupar com
aquilo que Deus verdadeiramente se preocupa: pessoas. E me dedico mais a elas
do que a mim mesmo.
Gastamos muita energia com nós mesmos e nenhuma com nosso
próximo. Corremos atrás do sustento dia após dia, e muitas vezes na igreja
queremos estabelecer aquilo que nos faz bem. Brigamos pela visão que “Deus nos
deu” e esquecemos que “a observância religiosa que Deus, o Pai, considera pura
e irrepreensível é [...] cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e
não se deixar contaminar pelo mundo.” (Ya’akov [Tiago] 1.27 BJC).
Que possamos a nos tornar
verdadeiros adoradores: homens e mulheres que compreendem que precisam possuir
o caráter de Yeshua, e se esforçam para isto, e que se preocupam com aqueles a
quem nosso Senhor se preocupa.
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