“Mas
agora, à parte da Torah [Ensino, Lei,
Pentateuco], o jeito de Deus de tornar as pessoas justas à sua vista foi
esclarecido – ainda que a Torah e os
Profetas também testemunhem a respeito dele –: trata-se da justiça que procede
de Deus, mediante a fidelidade de Yeshua, o Messias, para todos os que confiam.
Não há diferença se alguém é judeu ou gentio, porque todos pecaram e não são
capazes de merecer o louvor de Deus. Mediante a graça divina, sem merecê-la,
todos recebem a condição de serem considerados justos diante dele, por meio do
ato que nos redime de nossa escravização ao pecado, realizado pelo Messias
Yeshua. Deus ofereceu Yeshua como kapparah
[satisfação, expiação, propiciação] pelo pecado, mediante sua fidelidade no
tocante ao sangue da sua morte sacrificial. Isto vindicou a justiça de Deus;
porque, em sua tolerância, não havia passado por cima [sem punir nem redimir]
os pecados que as pessoas cometeram no passado; e ela vindica sua justiça na
era presente ao demonstrar que ele é justo e também aquele que torna pessoas
justas por causa da fidelidade de Yeshua.”
(Romanos 3.21-26 BJC [Bíblia
Judaica Completa])
Podemos definir como expiação a obra
realizada por Yeshua em sua vida e morte para obter nossa salvação. Para
compreendermos esta obra, precisamos nos lembrar de duas características de
Deus inseparáveis: Seu amor e Sua justiça.
É inegável o amor de nosso Deus por
nós. João 3.16 diz que foi devido ao grande amor de Deus que este enviou
Yeshua. Romanos 5.8 diz que este amor fez com que Yeshua viesse morrer em nosso
lugar, sendo nós ainda pecadores. Mas foi a justiça de Deus que requereu a
vinda de Yeshua. Devido a esta justiça, estávamos mortos pelos nossos pecados
(Ef 2.1), mortos não apenas como impossibilitados de nos livrar da situação de
pecadores, mas também condenados devido ao pecado que praticamos (Rm 6.23).
Se devido o amor para conosco Deus
ignorasse nosso pecado, Ele não seria melhor que juízes corruptos que inocentam
os réus tendo em vista aquilo que recebeu.
Quando penso no amor e na justiça de
Deus em ação lembro-me de uma parábola:
“Era uma
vez um rei que era forte, corajoso e tinha todas as outras boas qualidades. Ele
governava seu país com justiça, amava seu povo e era amado por ele. Por essa razão, não havia crime em seu reinado -
até que, um dia, descobriu-se que havia um ladrão solto na terra.
Sabendo que
a conduta criminosa se multiplicaria, a menos que tomasse posição firme contra
ela, o rei decretou que, quando pego, o ladrão receberia vinte chicotadas. Contudo, os roubos continuaram. Ele
aumentou o castigo para quarenta chicotadas, na esperança de evitar outros crimes, mas foi em
vão. Finalmente, ele anunciou que o
criminoso seria castigado com sessenta chicotadas, sabendo que ninguém no país
poderia sobreviver às sessenta chicotadas, exceto ele. No final, o ladrão foi pego: era a mãe do rei.
O rei
viu-se diante de um dilema. Ele amava sua mãe mais do que qualquer pessoa no mundo,
mas a justiça exigia que o castigo fosse cumprido. Além disso, se seus súditos vissem que era possível cometer um
crime e não ser castigado por ele, a
ordem social, no final, estaria completamente destruída. Ao mesmo tempo, ele
sabia que, se tivesse de sujeitar sua própria mãe a um castigo que iria matá-la, o amor do povo se converteria em
revolta e ódio para com um homem
sem compaixão e afeto comum, e ele seria incapaz de governar. Toda a nação se perguntava o que ele iria fazer.
Chegou o
dia de aplicar o castigo imposto. O rei montou uma plataforma na praça central
da capital, e o açoitador do rei assumiu seu lugar. Então, a mãe do rei, frágil
e tremula, foi apresentada. Ao ver seu filho, o rei, ela desabou a chorar. "Estou... tão arrependida... do que
fiz!", ela lamentou, entre soluços. Então, recompondo-se, a mulher arqueada e de cabelos
brancos seguiu em direção ao chicote.
As pessoas
levaram um susto quando o açoitador levantou seu braço musculoso com o chicote
de couro na mão. Assim que o chicote estava
prestes a descer com força sobre as costas expostas da mulher que havia dado à luz o rei, o rei gritou:
"Pare!" O braço ficou suspenso no ar e o chicote veio abaixo sem força. O rei
levantou-se de seu assento, tirou seu manto, andou em direção ao chicote, abraçou a mãe e, com seu
corpo protegendo a mãe e com as
costas expostas para o açoitador, ordenou-lhe: “Execute a sentença!" As
sessenta chicotadas foram dadas nas costas do rei.”.
Quando nosso Deus nos viu pecadores,
a sua justiça decretou sobre nós a nossa culpa, e junto com a mesma veio a
sentença: a morte (Gn 2.16 e 17), sendo esta não a morte física, mas o
afastamento completo da presença de Deus. Ao mesmo tempo em que sua justiça nos
condenava, o amor de Deus fez com que Ele decidisse pagar esta pena em nosso
lugar.
Esta obra pode ser descrita em dois
aspectos.
O primeiro deles refere-se ao
sofrimento de Yeshua por nós, chamado de obediência passiva. Neste podemos
entender que “Deus fez desse homem sem pecado a oferta pelo pecado – a nosso
favor –, para que unidos a ele possamos participar de forma plena da justiça de
Deus.” (2 Coríntios 5.21 BJC). Ao morrer na estaca de execução, Yeshua estava
levando sobre si todos os nossos pecados, estava assumindo a culpa por cada um
deles mesmo não tendo cometido nenhum. E tendo assumido esta culpa, ele se
sujeitou a ira de Deus. Este é o sentido da propiciação, um sacrifício que
recebe a ira de Deus até o fim e, uma vez realizado, muda a ira de Deus para
conosco em favor.
Se a expiação promovida por Yeshua
apenas tivesse este aspecto, após a mesma seriamos como Adão e Eva logo após a
sua criação, sem pecado, porém tendo a comunhão com Deus assegurada para sempre
após a obediência perfeita durante certo período de tempo. E é aí que entra o
segundo aspecto da expiação: Yeshua viveu uma vida de obediência perfeita a fim
de obter retidão para nós, a obediência ativa. “Em outras palavras: da mesma
forma que por meio de uma ofensa todas as pessoas incorreram na condenação,
também é por meio de um ato de justiça que todas as pessoas são consideradas
justas. Também se, por meio da desobediência de um homem, muitos foram feitos
pecadores, da mesma forma, por meio da obediência de outro homem, muitos foram
feitos justos.” (Romanos 5.18 e 19 BJC).
É por isto que classificamos a
expiação como obra realizada por Yeshua em sua vida e morte. Ele viveu uma vida
de obediência perfeita que será atribuída a nós e em sua morte levou nossos
pecados sobre si. Por isto que Sha’ul [Paulo] diz: “Porque vocês foram
libertados pela graça, por meio da confiança, e mesmo esta não é sua
realização, mas um presente de Deus. Vocês não foram libertos por suas ações;
portanto, não têm de que se gloriar.” (Efésios 2.8 e 9 BJC).
E ao morrer Yeshua declara: “Está
consumado!” (Jo 19.30), ou seja, tudo foi concluído. E embora tenha sido um
penoso trabalho, Yesha’yahu [Isaías] declara que ele ficou satisfeito com este
(Is 53.11). O trabalho é de Yeshua, a obra é dele, nosso papel é confiar, ter
fé e se posicionar debaixo de tão maravilhosa obra redentora.
Após sua morte, sabemos que Ele
ressuscitou.
“Contudo,
as palavras ‘creditadas em sua conta’ não foram escritas apenas para ele. Elas
foram escritas também para nós, que com certeza temos a conta creditada, porque
confiamos naquele que ressuscitou Yeshua, nosso Senhor, dentre os mortos –
Yeshua, que foi entregue à morte por causa de nossas ofensas e ressuscitado à
vida a fim de nos tornar justos.”
(Romanos 4.23-25 BJC)
Na ressurreição Deus estava dizendo
ao Messias: “Eu aprovo o que você fez e você encontra agora favor aos meus
olhos.”. Se Yeshua tivesse permanecido naquele túmulo, poderíamos duvidar se a
obra realizada realmente era divina e se foi aceita. Mas sua ressurreição nos
assegura que tudo o que foi feito era verdadeiramente a vontade do Pai (Lc
22.42), e quando declara: “Está consumado!” nos assegura que mais uma vez a vontade
de nosso Deus prevaleceu.
Mais do que isto, sua ressurreição
nos garante que Deus nos ressuscitará, pois Yeshua é as primícias entre os
mortos (I Co 15.20), ou seja, o primeiro que foi ressuscitado, e após ele
seremos todos nós (I Co 6.14, 2 Co 4.14). Ressuscitados com corpos glorificados
(I Co 15.50-54) para estarmos na presença de Deus eternamente.
Hoje Yeshua se encontra nos céus, à
destra de Deus (Mc 16.19). Yochanan [João] nos ensina: “Meus filhos,
escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar,
temos Yeshua, o Messias, o Tzaddik
[pessoa justa], que intercede por nossa causa junto ao Pai. Ele é também a kapparah pelos nossos pecados – e não
apenas pelos nossos, mas também pelos do mundo todo.” (1 Yochanan [1 João] 2.1
e 2 BJC).
Deste modo, se
aceitarmos o sacrifício vicário de Yeshua, e com base nesta fé nos
posicionarmos, teremos não apenas o perdão pelos nossos pecados, mas a
atribuição de toda obediência praticada por ele em sua vida terrena. Junto de
tudo isto, a garantia de ressuscitarmos com Ele para vivermos diante de Deus
para todo sempre.
Nosso Senhor, nosso Messias, nosso
único Intercessor junto ao Pai, Yeshua.
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