domingo, 28 de abril de 2013

Sefirat HaOmer – A Contagem do Omer

O povo judeu era um povo essencialmente agrícola, ou seja, obtinham o seu sustento dos frutos da terra. Eles aravam, plantavam e cultivavam e confiavam na benção do Senhor sobre toda a sua plantação. Assim sendo viam o sucesso da colheita como sinal da mão do Senhor atuando em seu favor. Devido a isto uma característica desenvolvida pelo povo era alegrar-se na presença do Senhor com as primícias de sua colheita.
            Existiam dois momentos importantes no ano agrícola do antigo Israel: a colheita da cevada e a colheita do trigo e cada uma destas datas ficaram marcadas por festividades perante o Eterno. A primeira festividade era a Festa das Primícias que acontecia três dias depois do Pesach [Páscoa] e era marcada pela entrega de um feixe de cevada.

“ADONAI disse a Mosheh [Moisés]: ‘Fale ao povo de Yisra’el [Israel]: ‘Depois de entrarem na terra que dou a vocês e colherem os grãos maduros, tragam um feixe de primícias da colheita ao kohen [sacerdote]. Ele moverá o feixe diante de ADONAI, para que vocês sejam aceitos; o kohen o moverá no dia seguinte ao shabbat [sábado]. No dia em que moverem o feixe, ofereçam um cordeiro sem defeito, de 1 ano, como oferta queimada a ADONAI. A oferta de grãos será de 4 litros de farinha pura amassada com azeite de oliva, uma oferta feita pelo fogo para ADONAI como aroma fragrante; a oferta de bebida será de vinho, 1 litro. Não comam pão, grão seco ou grão verde até o dia em que levarem uma oferta para seu Deus; este é um regulamento permanente por todas as suas gerações, não importa onde vocês vivam.’”
(Vayikra [Levítico] 23.9-14 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            Este primeiro momento me faz refletir a respeito da alegria no Senhor por tudo aquilo que temos recebido. Temos a tendência de exigirmos cada vez mais, e não nos contentamos com aquilo que temos. Antes de recebermos mais, precisamos primeiramente nos contentar com o que já recebemos. A primeira colheita realizada era a colheita da cevada, que geralmente era usada como ração animal. Ou seja, eles estavam festejando por algo que receberam de Deus que não era exatamente o que precisavam para o seu próprio sustento. E assim mesmo eram gratos.
            É um sentimento semelhante a este que vemos em Sha’ul [Paulo] quando escreve aos filipenses: “[...] aprendi a me contentar independentemente das circunstâncias. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter mais que o suficiente – em tudo e de todas as formas aprendi o segredo de estar bem alimentado, com fome, ter abundância, ou passar necessidade. Posso todas essas coisas naquele que me dá poder.” (Filipenses 4.11-13 BJC). Isto não significa que devemos ficar felizes em meio à dificuldade, mas permanecermos firmes no Senhor, sabendo que é Ele quem nos dá forças para enfrentarmos qualquer dificuldade que nos atinja.
            Observe que a indicação do Senhor é que antes de ofertarem ao Senhor, eles não poderiam comer o pão ou os grãos. Isto pode ser comparado a nossa gratidão diária. Não temos o direito de desfrutar de nada sem um coração grato ao Senhor. Precisamos aprender com David [Davi] que escreve: “Bendirei ADONAI o tempo todo; Seu louvor estará sempre em meus lábios.” (Tehillim [Salmos] 34.2(1) BJC).
            Após esta oferta inicia-se o período conhecido como Sefirat HaOmer, a Contagem do Omer, onde os filhos de Yisra’el contam 50 dias até o início de Shavu’ot, a segunda destas festividades.

“Desde o dia seguinte ao dia de descanso – isto é, desde o dia em que levarem o feixe para ser movido – contem sete semanas completas, até o dia seguinte à sétima semana; contém cinquenta dias; e então apresentem uma nova oferta de grãos a ADONAI.”
(Vayikra 23.15-16 BJC)

            Se na primeira festividade pensamos a respeito do sentimento de gratidão, vejo neste período a confiança na provisão do Senhor. O trigo ainda não havia sido colhido. Eles olhavam para os campos e viam sua plantação crescendo, mas sabiam que a qualquer momento poderia vir sobre ela pragas, ou alguma tempestade e destruir tudo. Porém, ao invés de dar lugar a preocupação e a ansiedade, eles contavam os dias até a próxima oportunidade de, entrando na presença do Senhor, agradecer ao Deus Todo-poderoso pela colheita.
            Era uma contagem profética, pois mesmo sem terem colhido, já planejavam entregar parte da mesma ao Senhor.
            Isto nos leva a sondarmos nosso coração. Será que temos tal confiança no Senhor? Será que podemos firmar com Deus um propósito e confiarmos que Ele mesmo nos capacitará a cumprir o assumido? Deus é fiel e tudo aquilo que prometeu ira se cumprir em nossas vidas.
            Após estes 50 dias de contagem, chega a segunda festividade.

 “Levem pão de seus lares para o movimento – dois pães feitos com 4 litros de farinha pura, assados com fermento – como primícias para ADONAI. Com os pães, apresentem sete cordeiros de 1 ano sem defeito, um novilho e dois carneiros; esses constituirão a oferta queimada para ADONAI com seus grãos e oferta de bebida, uma oferta feita pelo fogo, como um aroma fragrante para ADONAI. Ofereçam um bode, como oferta pelo pecado, e dois cordeiros de 1 ano, como sacrifício de ofertas de paz. O kohen o moverá com o pão das primícias como oferta movida perante ADONAI, com os dois cordeiros; esses serão sagrados a ADONAI para o kohen. No mesmo dia, façam uma convocação sagrada; não realizem nenhum tipo de trabalho comum; este é um regulamento permanente por todas as suas gerações, não importa onde vocês vivam.”
(Vayikra 23.17-21 BJC)

            A festa do Shavu’ot, ou festa das semanas marca a colheita do trigo, que era o alimento humano básico. Esta festa, conhecida também pelo nome grego de Pentecostes reunia mais uma vez os judeus de toda a parte no templo para agradecerem a Deus pelo cumprimento de suas promessas.
            Para o judeu de hoje, Shavu’ot também se comemora a outorga da Torah [Lei, Pentateuco]. E isto mais uma vez nos leva a algumas reflexões muito importantes.
            Observe que diferente das ofertas da Festa das Primícias, nesta segunda festa temos uma oferta pelo pecado e uma oferta de paz. Aliada à recordação da outorga da Torah, podemos aprender que para que a melhor maneira de desfrutar de tudo o que o Senhor tem para nós é através de uma vida com o coração quebrantado diante de Deus.
            Todos somos pecadores. Este é um fato pregado por toda a Bíblia. A diferença está em como lidamos com isto. Alguns preferem ignorar ou simplesmente continuar vivendo e praticando tudo o que sempre fez. O que Deus espera de nós, é o reconhecimento do pecado praticado e de nossas limitações, o clamor pelo perdão e a busca por uma vida de acordo com os preceitos entregues por Ele. É evidente que com nossas próprias forças jamais seremos capazes de uma vida integra, mas precisamos sinceramente desejar esta vida e buscar no Ruach HaKodesh [Espírito Santo] capacitação para sermos a cada dia mais parecidos com o que Deus planejou para nós, sabendo que “o caminho da retidão é como a luz da aurora, reluzindo cada vez mais até o amanhecer completo.” (Mishlei [Provérbios] 4.18 BJC).
            Esta busca genuína gera em nós o fruto do Espírito, conforme Sha’ul escreve aos romanos: “Sabemos que, até agora, toda a criação geme, como se sentisse dores de parto; e não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente enquanto continuamos esperando com ardor para sermos feitos filhos – isto é, termos o corpo redimido e libertado.” (Romanos 8.22 e 23 BJC).
            Deste modo, nossa vida é uma contagem do Omer. Ele começa com o Pesach, a morte do cordeiro pascal, seguida pelas primícias. Neste momento lembramo-nos do Messias que derramou seu sangue para que a morte não tivesse domínio sobre nós, mas no terceiro dia ressuscitou como as primícias de todos.

“Entretanto a verdade é que o Messias ressuscitou dos mortos, as primícias dentre os mortos. Pois a morte procedeu de um homem, e também a ressurreição dentre os mortos proveio de um homem. Em conexão com a morte de Adam [Adão], todos morrem; então, em conexão com o Messias, todos serão vivificados. No entanto, cada um em sua ordem: o Messias é as primícias; a seguir os que pertencem ao Messias, no tempo de sua vinda; então, na culminação, quando ele entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter dado fim a todo governo, sim, a toda autoridade e poder.”
(1 Coríntions 15.20-24 BJC)

E a partir do momento que nos entregamos ao Messias, contamos os dias para a remição e libertação de nosso corpo. Neste processo de frutificação precisamos ter a consciência que ao mesmo tempo em que o próprio Deus irá nos sustentar, provendo a nós o que necessitamos, devemos abençoar aos nossos irmãos com aquilo que o Senhor tem nos entregue e principalmente sem nos esquecer dos dons e do fruto do Espírito, plantados em nossas vidas para sustentar aqueles que nos cercam.

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