quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A obra do Senhor em nosso cotidiano

“Desse modo, o muro foi concluído no vigésimo quinto dia do mês de elul, em cinquenta e dois dias. Quando todos os nossos inimigos ouviram a respeito disso e as nações vizinhas ficaram com medo, a autoestima de nossos inimigos enfraqueceu fortemente, pois eles perceberam que essa obra tinha sido realizada pelo nosso Deus.”
(Nechemyah [Neemias] 6.15 e 16 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            O relato de Nechemyah [Neemias] mostra a história de um homem que a princípio não apresenta uma vida tão espiritual quanto a maior parte dos homens encontrados na Bíblia. Não encontramos nenhuma profecia proferida por ele. Ele não era sacerdote, e não encontramos alguma passagem que mostra o Senhor falando diretamente com Nechemyah. Ele foi um governador de Yerushalayim [Jerusalém], e foi o responsável pela reconstrução dos muros da cidade após o retorno do exílio babilônico em aproximadamente 520 a.C. Uma função aparentemente secular, como o dia a dia da maior parte dos seres humanos, cumprida por um homem comum, como praticamente todos nós nos sentimos em nossa vida rotineira, mas após a obra ter sido concluída, as Escrituras dizem que as pessoas reconheceram que foi realizada por Deus.
            Esta declaração me chama muito a atenção, afinal, assim como Nechemyah e milhões de outros homens e mulheres neste país e no mundo, tenho um trabalho secular e sonho em realiza-lo com excelência, de modo que as pessoas conheçam a Deus através de meus atos. Assim gostaria de fazer uma breve análise daquilo que a Bíblia fala sobre este homem, para que, juntamente com você que está lendo esta mensagem, possamos agir em nosso cotidiano da mesma forma que Nechemyah. Todos possuímos uma obra confiada por Deus a nós a ser realizada, e para esta realização não precisamos deixar nossos compromissos diários de lado. Nechemyah possuía uma grande obra de Deus para realizar, mas sua realização ocorreu de modo comum, sem a espiritualização que muitas vezes esperamos de uma obra divina. E é para uma obra como esta que fomos comissionados pelo nosso Mestre.
            O livro de Nechemyah começa relatando a notícia que o autor do livro, que recebe seu nome, recebeu sobre a aflição vivida pelo povo judeu que retornara do cativeiro babilônico para a Terra Prometida. Após ouvir a notícia, Nechemyah diz “sentei-me e chorei; lamentei por vários dias, jejuando e orando diante do Deus do céu.” (Ne 1.4 BJC). Deste modo, não foi apenas mais uma noticia ruim recebida por ele; é como se ele mesmo estivesse passando pela aflição. Isto é compaixão, uma dor causada pelo mal alheio. A dor de Nechemyah foi tamanha que o mesmo ficou visivelmente abatido, até o rei Artach’shashta [Artaxerxes] notou seu semblante triste (Ne 2.1 e 2).
            É interessante notar que Nechemyah não tinha uma ligação muito forte com a cidade de Yerushalayim para justificar este abatimento. É claro que era a capital de sua terra natal, embora ele provavelmente nasceu no cativeiro, e aparentemente não possuía nenhuma intensão de retornar para a terra de seus antepassados, visto que o decreto de Ciro que permitia os judeus retornar a sua terra foi promulgado aproximadamente 90 anos antes desta história, e Nechemyah se encontrava como copeiro do rei da Pérsia.
            Assim a preocupação demonstrada por Nechemyah nos mostra o interesse que ele tinha nas necessidades dos outros, não em suas próprias. E esta é uma característica rara nos nossos dias, como também o deveria ser nos tempos do construtor. Nossa sociedade faz de nós seres individualistas: temos a nossa própria vida, os nossos próprios problemas, e consideramos que a vida e os problemas daqueles que nos cercam, não devem ser alvos de nosso interesse. Muitas vezes isto não reflete nosso desinteresse, mas nosso medo de deixarmos o individual e passarmos ao coletivo. Um verdadeiro receio de verdadeiramente vivermos em uma comunidade, o verdadeiro sentido da palavra Igreja, a comunidade Messiânica. Este é o primeiro elemento que observo na história de Nechemyah: a busca pela vida em comunidade.
            Muitas vezes ouvimos que precisamos nos abrir, precisamos procurar conselhos, partilhar nossas dificuldades. Isto tudo é verdade. Mas a partir do momento que aprendermos a verdadeiramente nos interessarmos nas aflições dos outros, automaticamente passaremos a ser procurados. E isto não engloba apenas nosso ambiente eclesiástico, mas nossa vida familiar, vizinhança e inclusive em nosso ambiente profissional. Você realmente se interessa naqueles que te cercam? Você demonstra através de suas atitudes que o dia a dia de sua esposa, as brincadeiras de seus filhos, as necessidades daqueles que cruzam o seu caminho a cada dia, são realmente interessantes para você? Ou será que, assim como muitos, você age como se tudo isto que acontece ao seu lado a cada dia de sua vida é apenas mais um elemento que não relação alguma contigo? Boa parte da obra que o Senhor coloca em suas mãos é realizada pelo Ruach HaKodesh [Espírito Santo], através de nós, na vida daqueles que nos cercam. Se eu quero ser usado por Deus, preciso primeiramente notar que tenho alguém ao meu lado que possui necessidades, e que Deus deseja supri-las através de minha vida.
            Observe que o interesse de Nechemyah ia além da simples reconstrução dos muros de Yerushalayim. Ele se preocupava com as pessoas. Praticamente por todo o capítulo 5 deste livro, o vemos promovendo a justiça social.
            O interesse de Nechemyah fez com que o rei permitisse que ele partisse para Yerushalayim, com o propósito de reconstruir os muros da cidade. Após levantar os recursos necessários ele partiu. Ao chegar, depois de uma viagem de aproximadamente 1600 km que durou cerca de 4 a 5 meses, ele não iniciou rapidamente o trabalho, antes saiu para inspecionar a situação dos muros (Ne 2.11-16). Notamos com isto que sua atitude não foi precipitada. Ele primeiro conheceu o problema, analisou o que precisava ser feito, e chegou à conclusão de como proceder.
Temos nossos próprios temperamentos. Alguns são mais introspectivos e analíticos, outros extrovertidos e práticos. Mas acima disto, precisamos entender o que precisa ser feito, antes de começar a agir. Afinal, afobação só traz problemas. Este é o segundo elemento que observo neste livro: o conhecimento da obra a ser realizada. Junto com este conhecimento vem o preparo. Eu me interesso nas pessoas, descubro o que é preciso ser feito e me preparo para agir. Este preparo inclui o conhecimento da Palavra do Senhor, oração, interseção e jejum.
Quando a obra começou, a Bíblia mostra que se levantaram opositores: Sanvalat [Sambalate], Toviyah [Tobias], os árabes, os ‘amonim [amonitas] e os ashdodim [asdoditas] não apenas ficaram irados com o início das obras como também tentaram desestimular os trabalhadores (Ne 3.33-4.6 (4.1-12)). Nechemyah não deixou que a oposição atrapalhasse a obra que o Senhor lhe confiara. Pelo contrário, ele continuou a obra, montou guarda para prevenir ataques e mais tarde, quando seus inimigos subornaram Sh’ma’yah [Semaías] para incentivar Nechemyah a se esconder dentro do Templo do Senhor, o que entraria em desacordo com a Palavra de Deus, ele recusou salvar a sua vida desta forma (Ne 6.10-14). Estas atitudes me mostram mais alguns elementos que precisamos observar: a perseverança mesmo em meio às oposições, o posicionamento em vigiar e a preocupação em ser prudente.
Muitos vão se levantar enquanto estivermos trabalhando. Alguns irão simplesmente tentar nos desestimular a permanecermos no propósito que fizemos. Outros irão além e tentarão nos difamar, perseguir. Somente nós podemos decidir se eles terão sucesso nesta oposição. Ao enfrentar esta situação Nechemyah dedicava toda a sua energia ao trabalho (Ne 5.16). Não dava ouvidos ao que estavam falando e não se preocupava em argumentar com aqueles que se opunham a obra do Senhor. Será que estamos preocupados com a obra do Senhor ou com aquilo que pensam de nós? É interessante que os inimigos de Nechemyah anos antes desejavam ajudar na obra de reconstrução do Templo, pois também adoravam ao Deus de Yisra’el [Israel], mas foram impedidos por Z’rubavel [Zorobabel] (Ed 4.1-3), e esta postura fez com que suas intenções em relação à obra mudassem.
Nem sempre aqueles que se oporão ao que você vai fazer são inimigos declarados. Muitos serão amigos que virão com a melhor das intensões com conselhos, procurando realmente ajudar. Alguns irão inclusive nos incentivar a sairmos do centro da vontade do Senhor. E é diante disto que precisamos estar alertas, conhecendo realmente o plano do Senhor e a Sua Palavra, para não perdermos os Seus propósitos.

Acima de todas estas coisas encontramos o último elemento que aparece constante durante todo o relato: a confiança em Deus. Mesmo com a melhor das intenções jamais conseguiremos agir com nossas próprias forças. Precisamos reconhecer que temos acima de nós um Deus que nos fortalece, nos consola e nos capacita a realizar tudo aquilo que nos confiou. Ele nos chamou e é Ele quem realizará a obra em nós, através de nós e apesar de nós.

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