“Desse
modo, o muro foi concluído no vigésimo quinto dia do mês de elul, em cinquenta e dois dias. Quando
todos os nossos inimigos ouviram a respeito disso e as nações vizinhas ficaram
com medo, a autoestima de nossos inimigos enfraqueceu fortemente, pois eles
perceberam que essa obra tinha sido realizada pelo nosso Deus.”
(Nechemyah [Neemias]
6.15 e 16 BJC [Bíblia Judaica Completa])
O relato de Nechemyah [Neemias] mostra a história de um
homem que a princípio não apresenta uma vida tão espiritual quanto a maior
parte dos homens encontrados na Bíblia. Não encontramos nenhuma profecia
proferida por ele. Ele não era sacerdote, e não encontramos alguma passagem que
mostra o Senhor falando diretamente com Nechemyah. Ele foi um governador de
Yerushalayim [Jerusalém], e foi o responsável pela reconstrução dos muros da
cidade após o retorno do exílio babilônico em aproximadamente 520 a.C. Uma
função aparentemente secular, como o dia a dia da maior parte dos seres
humanos, cumprida por um homem comum, como praticamente todos nós nos sentimos
em nossa vida rotineira, mas após a obra ter sido concluída, as Escrituras
dizem que as pessoas reconheceram que foi realizada por Deus.
Esta declaração me chama muito a atenção, afinal, assim
como Nechemyah e milhões de outros homens e mulheres neste país e no mundo,
tenho um trabalho secular e sonho em realiza-lo com excelência, de modo que as
pessoas conheçam a Deus através de meus atos. Assim gostaria de fazer uma breve
análise daquilo que a Bíblia fala sobre este homem, para que, juntamente com
você que está lendo esta mensagem, possamos agir em nosso cotidiano da mesma
forma que Nechemyah. Todos possuímos uma obra confiada por Deus a nós a ser
realizada, e para esta realização não precisamos deixar nossos compromissos
diários de lado. Nechemyah possuía uma grande obra de Deus para realizar, mas
sua realização ocorreu de modo comum, sem a espiritualização que muitas vezes
esperamos de uma obra divina. E é para uma obra como esta que fomos
comissionados pelo nosso Mestre.
O livro de Nechemyah começa relatando a notícia que o
autor do livro, que recebe seu nome, recebeu sobre a aflição vivida pelo povo
judeu que retornara do cativeiro babilônico para a Terra Prometida. Após ouvir
a notícia, Nechemyah diz “sentei-me e chorei; lamentei por vários dias,
jejuando e orando diante do Deus do céu.” (Ne 1.4 BJC). Deste modo, não foi
apenas mais uma noticia ruim recebida por ele; é como se ele mesmo estivesse
passando pela aflição. Isto é compaixão, uma dor causada pelo mal alheio. A dor
de Nechemyah foi tamanha que o mesmo ficou visivelmente abatido, até o rei
Artach’shashta [Artaxerxes] notou seu semblante triste (Ne 2.1 e 2).
É interessante notar que Nechemyah não tinha uma ligação
muito forte com a cidade de Yerushalayim para justificar este abatimento. É
claro que era a capital de sua terra natal, embora ele provavelmente nasceu no
cativeiro, e aparentemente não possuía nenhuma intensão de retornar para a
terra de seus antepassados, visto que o decreto de Ciro que permitia os judeus retornar
a sua terra foi promulgado aproximadamente 90 anos antes desta história, e
Nechemyah se encontrava como copeiro do rei da Pérsia.
Assim a preocupação demonstrada por Nechemyah nos mostra
o interesse que ele tinha nas necessidades dos outros, não em suas próprias. E
esta é uma característica rara nos nossos dias, como também o deveria ser nos
tempos do construtor. Nossa sociedade faz de nós seres individualistas: temos a
nossa própria vida, os nossos próprios problemas, e consideramos que a vida e
os problemas daqueles que nos cercam, não devem ser alvos de nosso interesse.
Muitas vezes isto não reflete nosso desinteresse, mas nosso medo de deixarmos o
individual e passarmos ao coletivo. Um verdadeiro receio de verdadeiramente
vivermos em uma comunidade, o verdadeiro sentido da palavra Igreja, a
comunidade Messiânica. Este é o primeiro elemento que observo na história de
Nechemyah: a busca pela vida em
comunidade.
Muitas vezes ouvimos que precisamos nos abrir, precisamos
procurar conselhos, partilhar nossas dificuldades. Isto tudo é verdade. Mas a
partir do momento que aprendermos a verdadeiramente nos interessarmos nas
aflições dos outros, automaticamente passaremos a ser procurados. E isto não
engloba apenas nosso ambiente eclesiástico, mas nossa vida familiar, vizinhança
e inclusive em nosso ambiente profissional. Você realmente se interessa
naqueles que te cercam? Você demonstra através de suas atitudes que o dia a dia
de sua esposa, as brincadeiras de seus filhos, as necessidades daqueles que
cruzam o seu caminho a cada dia, são realmente interessantes para você? Ou será
que, assim como muitos, você age como se tudo isto que acontece ao seu lado a
cada dia de sua vida é apenas mais um elemento que não relação alguma contigo? Boa
parte da obra que o Senhor coloca em suas mãos é realizada pelo Ruach HaKodesh [Espírito Santo], através
de nós, na vida daqueles que nos cercam. Se eu quero ser usado por Deus,
preciso primeiramente notar que tenho alguém ao meu lado que possui
necessidades, e que Deus deseja supri-las através de minha vida.
Observe que o interesse de Nechemyah ia além da simples
reconstrução dos muros de Yerushalayim. Ele se preocupava com as pessoas. Praticamente
por todo o capítulo 5 deste livro, o vemos promovendo a justiça social.
O interesse de Nechemyah fez com que o rei permitisse que
ele partisse para Yerushalayim, com o propósito de reconstruir os muros da
cidade. Após levantar os recursos necessários ele partiu. Ao chegar, depois de
uma viagem de aproximadamente 1600 km que durou cerca de 4 a 5 meses, ele não
iniciou rapidamente o trabalho, antes saiu para inspecionar a situação dos
muros (Ne 2.11-16). Notamos com isto que sua atitude não foi precipitada. Ele
primeiro conheceu o problema, analisou o que precisava ser feito, e chegou à
conclusão de como proceder.
Temos
nossos próprios temperamentos. Alguns são mais introspectivos e analíticos,
outros extrovertidos e práticos. Mas acima disto, precisamos entender o que
precisa ser feito, antes de começar a agir. Afinal, afobação só traz problemas.
Este é o segundo elemento que observo neste livro: o conhecimento da obra a ser realizada. Junto com este conhecimento
vem o preparo. Eu me interesso nas pessoas, descubro o que é preciso ser feito
e me preparo para agir. Este preparo inclui o conhecimento da Palavra do
Senhor, oração, interseção e jejum.
Quando
a obra começou, a Bíblia mostra que se levantaram opositores: Sanvalat
[Sambalate], Toviyah [Tobias], os árabes, os ‘amonim [amonitas] e os ashdodim
[asdoditas] não apenas ficaram irados com o início das obras como também
tentaram desestimular os trabalhadores (Ne 3.33-4.6 (4.1-12)). Nechemyah não
deixou que a oposição atrapalhasse a obra que o Senhor lhe confiara. Pelo
contrário, ele continuou a obra, montou guarda para prevenir ataques e mais
tarde, quando seus inimigos subornaram Sh’ma’yah [Semaías] para incentivar
Nechemyah a se esconder dentro do Templo do Senhor, o que entraria em desacordo
com a Palavra de Deus, ele recusou salvar a sua vida desta forma (Ne 6.10-14).
Estas atitudes me mostram mais alguns elementos que precisamos observar: a perseverança mesmo em meio às oposições,
o posicionamento em vigiar e a preocupação em ser prudente.
Muitos
vão se levantar enquanto estivermos trabalhando. Alguns irão simplesmente
tentar nos desestimular a permanecermos no propósito que fizemos. Outros irão
além e tentarão nos difamar, perseguir. Somente nós podemos decidir se eles
terão sucesso nesta oposição. Ao enfrentar esta situação Nechemyah dedicava toda a sua energia ao trabalho
(Ne 5.16). Não dava ouvidos ao que estavam falando e não se preocupava em
argumentar com aqueles que se opunham a obra do Senhor. Será que estamos
preocupados com a obra do Senhor ou com aquilo que pensam de nós? É
interessante que os inimigos de Nechemyah anos antes desejavam ajudar na obra
de reconstrução do Templo, pois também adoravam ao Deus de Yisra’el [Israel],
mas foram impedidos por Z’rubavel [Zorobabel] (Ed 4.1-3), e esta postura fez
com que suas intenções em relação à obra mudassem.
Nem
sempre aqueles que se oporão ao que você vai fazer são inimigos declarados.
Muitos serão amigos que virão com a melhor das intensões com conselhos,
procurando realmente ajudar. Alguns irão inclusive nos incentivar a sairmos do
centro da vontade do Senhor. E é diante disto que precisamos estar alertas,
conhecendo realmente o plano do Senhor e a Sua Palavra, para não perdermos os
Seus propósitos.
Acima
de todas estas coisas encontramos o último elemento que aparece constante
durante todo o relato: a confiança em
Deus. Mesmo com a melhor das intenções jamais conseguiremos agir com nossas
próprias forças. Precisamos reconhecer que temos acima de nós um Deus que nos fortalece,
nos consola e nos capacita a realizar tudo aquilo que nos confiou. Ele nos
chamou e é Ele quem realizará a obra em nós, através de nós e apesar de nós.
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