sábado, 26 de fevereiro de 2011

Paixões

“O que causa disputas e lutas entre vocês? Não são os desejos guerreando em seu interior? Vocês desejam coisas que não têm; matam e invejam, mas não conseguem obtê-las. Então vocês lutam e disputam. O motivo pelo qual vocês não têm é que não oram! Ou vocês oram e não recebem, por orarem com a motivação errada: a pretensão de saciar os próprios desejos.”
“Esposas infiéis! Vocês não sabem que amar o mundo é odiar a Deus? Quem escolhe ser amigo do mundo transforma-se em inimigo de Deus! Ou vocês supõem que a Escritura fala em vão ao afirmar que há um espírito entre nós que cobiça com intensidade? Mas a graça que ele nos concede é maior, por isso a Escritura diz: ‘Deus se opõe aos arrogantes, mas dá graça aos humildes’
“Portanto, submetam-se a Deus. Além disso, resistam ao Adversário, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Limpem as mãos pecadores; purifiquem o coração, vocês que tem mente dividida! Gemam, lamentem-se e solucem. Que seu riso se transforme em lamento e sua alegria, em tristeza! Humilhem-se perante o Senhor, e ele os exaltará.”
“Irmãos, parem de falar mal uns dos outros! Quem fala contra um irmão ou julga seu irmão, fala contra a Torah e julga a Torah. E, se você julgar a Torah, não é praticante dela, mas seu juiz. Há apenas um Doador da Torah; ele também é o Juiz, com poder para salvar e destruir. Quem você pensa que é para julgar outro ser humano?”
“Agora ouçam, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos para a cidade tal, faremos negócios e ganharemos dinheiro lá durante um ano! ’. Vocês nem mesmos sabem se estarão vivos amanhã! Porque todos são uma neblina que aparece por um pouco e depois se dissipa. Em vez disso, vocês deveriam dizer: ‘Se Adonai quiser que aconteça’, viveremos para fazer isto ou aquilo. Contudo, agora, vocês se gloriam de sua arrogância. E toda vanglória é maligna. Portanto, qualquer um que saiba a coisa certa a fazer e não faz, comete pecado.”
(Ya’akov [Tiago] 4:1 ao 17 NTJ)

            Nesta semana quero conversar com vocês a respeito deste capitulo da carta de Ya’akov [Tiago] as doze tribos na Diáspora. Ya’akov foi um dos primeiros lideres da Comunidade Messiânica, conhecido como o Justo, e, de acordo com o historiado Flávio Josefo, passava uma grande parte do dia orando. A carta de Ya’akov é conhecida como o livro de Provérbios do Novo Testamento, por apresentar o lado prático do Evangelho.
            No capítulo que apresentei no inicio deste texto, Ya’akov está falando sobre paixões, mas, ao contrário do que muitos acham, a paixão não é um sentimento gostoso que surge em nosso coração. A paixão pode ser definida como fanatismo, cegueira, um sentimento que se sobrepõem a lucidez, que ultrapassa os limites da lógica. A paixão de modo algum é um sentimento que devemos culivar dentro de nós, pois, de acordo com Ya’akov, é a paixão que causa guerras, contendas e divisões. E este é o tema desta mensagem.
            A primeira paixão que encontramos neste texto é a Paixão pelo seu prazer, por seu bem estar. Este é um sentimento muito comum nos dias de hoje e que não pode ser confundido com a realização de nossos sonhos. Uma coisa, por exemplo,  é você sonhar com sua casa própria e batalhar para comprá-la. Outra bem diferente é você ficar fanático pela compra de sua casa ao ponto de fazer qualquer coisa para obtê-la. Uma pessoa com esta paixão dentro de si pensa: “Eu tenho o direito de obter, e vou conseguir não importa o que tenha que fazer”. Ela deixa de se importar com os outros, e a única coisa que enxerga é ela mesma.
            Quando a paixão pelo prazer domina nossa vida, ela traz outros sentimentos tão nocivos quanto ela. A cobiça, que nada mais é que o desejo daquilo que os outros têm, a inveja, que pode ser descrita como o desgosto pelo bem e felicidade dos outros, e o desejo de matar, que não implica somente em tirar literalmente a vida, mas qualquer tipo de desejo de minar a alegria de viver das pessoas. Palavras matam mais que qualquer outro tipo de arma.
            Aqueles que alimentam sua paixão pelo prazer, não receberão nada de Deus. Veja o exemplo de Yeshua [Jesus] o Messias: “Apesar de ele viver na forma de Deus, não considerou a igualdade com Deus algo a ser mantido pela força.” (Fp 2:6 NTJ). Ele não pensou em si mesmo, mas entregou-se por todos nós.
            A segunda paixão que encontramos é a Paixão pelo mundo, por aquilo que não pertence a Deus.  Um sentimento que constantemente bate a nossa porta geralmente desejando uma identificação com aqueles que nos cercam. Não queremos parecer diferentes dos nossos colegas de trabalho, de escola, de nossos vizinhos e por aí vai. E para afugentar esta diferença começamos a nos vestir como eles, nos portar como eles, falar como eles, frequentar os mesmos lugares e ouvir as mesmas músicas. Ya’akov é bem claro ao dizer que aqueles buscam a amizade com o mundo, encontra inimizade com Deus.
            Veja o que veste, será que Deus sairia com você vestido deste jeito? Saiba aquilo que está cantando, estas letras estão atraindo ou afastando a presença de Deus? Escolha onde anda, se Deus não está com você, então não é lugar para você. Ouvi certa vez uma história bem interessante de uma senhora cristã, que era constantemente convidada por seus filhos para sair com eles. Um da ela concordou em ir ao cinema e ao chegar aproveitando que o filme não havia começado, ajoelhou-se para orar. Seus filhos constrangidos lhe disseram que o cinema não era lugar para orar, ao que ela prontamente respondeu, se não é lugar para buscar a Deus, não é lugar para ela estar.
            Você tem o direito de escolher com quem anda, mas Deus não irá dividir você com o mundo. Não é Deus quem deve se adaptar ao seu estilo de vida, é seu estilo de vida que deve se adaptar a Deus. “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (Sl 1:1).
            A terceira paixão que Ya’akov explora neste texto é a Paixão pelo controle. Esta paixão traz a nós a necessidade de fazer planos pessoais, confiando que nós conseguiremos realizar tudo aquilo que planejamos. Esta paixão é a confiança em si mesmo, nas sua própria força.
            Quando lemos que devemos falar em cada plano “se Deus quizer”, não estamos sendo ensinados a falar um jargão tão comum nos nossos dias, mas a deixar que Deus assuma o controle de nossas vidas.
            Mas como é que podemos nos livrar de tais sentimentos tão comuns a todos, e que têm aprisionado a muitos? Encontramos respostas a esta questão no mesmo trecho da carta de Ya’akov que lemos no início.
            Primeiramente devemos no submeter a Deus. Isto significa procurar em primeiro lugar a vontade de Deus, que sabemos ser boa, agradável e perfeita (Rm 12:2). Nos preocuparmos em realizar a vontade de Deus é o primeiro passo para nos livrarmos das paixões.
            Em seguida devemos resistir ao Adversário. Ele é o semeador das paixões. Dele vem as contendas e discórdias. Resistir a ele significa não ceder aquilo que ele lança sobre nós.
            Com isto seremos capazes de nos aproximarmos de Deus. Isto implica deixar para traz todo costume mundano. Quando nos aproximamos de Deus passamos a ser parecidos com ele, e diferentes de quem nos cerca. Isto significa sermos luz.
            Porém a aproximação de Deus não é algo que podemos fazer de qualquer jeito. Somos ensinados a limparmos as nossas mãos e purificarmos nosso coração. Nossas mãos são responsáveis por praticamente todas as nossas ações e nossos corações são vistos como a fonte de nossos sentimentos. Deste modo, a instrução que recebemos é limparmos as nossas ações, ou seja, nos esforçarmos com a ajuda do Ruach HaKodesh, Espírito de Deus, a agir com retidão. Purificar nossos corações é purificar nossos sentimentos, lutar contra tudo o que é impuro e está dentro de nós. Uma luta que só poderá ser vencida com a ajuda do Ruach HaKodesh.
            Por fim, só poderemos vencer as paixões com um sentimento de humildade. Reconhecermos que somos sujeitos ao pecado, e que erramos. Reconhecer que Deus está falando conosco, que isto que está lendo é para você e não para aquele irmão que você está pensando neste momento. Reconhecer nosso erro e ter humildade para buscar de Deus o perdão e a forma correta de viver é um passo fundamental para nos livrarmos das paixões que constantemente estão querendo nos aprisionar.

Shabat Shalom!

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