“À
medida que se aproximam dele, a pedra viva rejeitada pelas pessoas, mas
escolhida por Deus e preciosa para ele, vocês mesmos, como pedras vivas, estão
sendo utilizados na edificação de uma casa espiritual para serem kohanim [sacerdotes] separados para Deus
a fim de oferecerem sacrifícios espirituais aceitáveis a ele por intermédio de
Yeshua, o Messias.”.
(1 Kefa [1 Pedro] 2.4
e 5)
A palavra “igreja” nos dias de hoje possui um grande
leque de significados que, na maioria dos casos, não reflete a verdadeira
realidade que está por traz do termo. Não é incomum dizermos que estamos indo à
igreja, associando o edifício onde cultuamos o nosso Deus com Sua igreja.
Outros, numa tentativa de espiritualizar a expressão, dizem que individualmente
somos a igreja do Messias. Ou seja, eu sou a Igreja, você é a Igreja, e assim
por diante.
Porém, por mais usadas que estas formas sejam não
refletem fielmente o significado da palavra igreja. A palavra igreja vem do
grego ekklesia que pode ser traduzida
como “assembleia” ou “congregação” do povo de Deus. Deste modo, embora seja o
significado mais comum, a palavra igreja na Bíblia jamais se referia a um
prédio ou local de adoração. E tanto o significado do termo, quanto os
versículos que Kefa [Pedro] escreveu em sua primeira carta nos mostram que
individualmente não somos a igreja, mas quando nos juntamos em nome de Yeshua,
o Messias (Mt 18.20), formamos Sua Igreja.
As implicações desta verdade em nós são tremendas, e
sobre elas gostaria de discorrer nesta mensagem.
O primeiro ponto a nos atentarmos é o início do versículo
4 de 1 Kefa 2. Kefa nos diz que somos transformados em pedras vivas “à medida
que nos aproximamos dele, a pedra viva rejeitada pelas pessoas”. O pronome
‘dele’ usado por Kefa refere-se ao Messias, em uma ideia que tem início em 1
Kefa 1.19. Kefa, utilizando Yesha‘yahu [Isaías] 28.16 e Tehillim [Salmos]
118.22, compara o Messias com a pedra colocada pelo Senhor como alicerce
daqueles que nele confiam e como padrão para seu povo. Embora muitos o
rejeitaram, todos aqueles que se firmarem no Messias prevalecerão sobre seus
inimigos e adentrarão pelas portas da justiça, abrigando-se no refúgio do
Senhor.
Deste modo, o primeiro passo para que façamos parte da
comunidade messiânica é nos aproximarmos de Yeshua, o Messias. Sem ele não
teremos de forma alguma aceso ao Pai. Não receberemos a libertação do pecado,
nem a salvação do decreto de morte que o pecado nos trouxe.
Esta aproximação não significa simplesmente frequentar
cultos religiosos, andar com aqueles que receberam ao Messias, ou simplesmente
atuar de algum modo no culto religioso fazendo parte do dia a dia da Igreja.
Kefa nos ensina que aquele que deseja aproximar-se do Messias deve livrar-se “de
toda maldade e de todo engano, hipocrisia, inveja e de todas as formas de
maldizer as pessoas”. Também aconselha que todos sejam “como recém-nascidos,
sedentos do puro leite da Palavra; para que por meio dele, cresçam para a
libertação.” (1 Kefa 2.1 e 2). Isto define a verdadeira conversão aos caminhos
determinados pelo Messias, nosso caminho ao Pai (Jo 14.6). Sem uma conversão
genuína, que implica o arrependimento e o real desejo da santificação, seremos
apenas frequentadores de cultos, jamais faremos parte da Igreja do Messias
Yeshua.
Ao nos aproximarmos verdadeiramente da Pedra Viva, Kefa
nos ensina que nos tornamos pedras vivas utilizadas na edificação de uma casa
espiritual. Isto indica que o propósito principal do Eterno é que todos aqueles
que aceitaram Yeshua como o Messias atuem em unidade. Formem um só corpo.
Estabeleçam conjuntamente a vontade do Senhor na Terra. E isto inclui nossas
próprias famílias.
Se você tem o privilégio de viver em um lar em que no
mínimo outra pessoa seja também uma pedra viva, então pelo menos vocês dois
formam a igreja do Senhor em sua casa. Um dos grandes erros do cristianismo foi
deixar de cultuar a Deus em seus lares e transmitires o culto para locais
específicos. Passamos a fazer distinção entre a casa de Deus e nossas casas, e
muitas vezes, através de nossas atitudes, expulsamos o Senhor de nossos lares.
Hoje precisamos entender que se o Senhor alcançou, juntamente conosco, alguns
de nossa casa, temos o privilégio e o dever de cultuarmos em nosso lar. A
família é a célula da Igreja e quando o Senhor for verdadeiramente cultuado em
nosso lar, nosso culto público ao Senhor terá muito mais vida.
O segundo ponto a nos atermos é que somente formaremos a
verdadeira Igreja messiânica quando estivermos em união com nossos irmãos. A
respeito desta união Jesus orou no fim de seu ministério terreno:
“Oro
não apenas por eles [os discípulos], mas também por aqueles que confiarão em
mim, por causa da palavra deles, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás
unido a mim, e eu, a ti. Oro para que eles também estejam unidos a nós, para
que o mundo creia que tu me enviaste.”
(Yochanan [João] 17.20
e 21 BJC)
A união entre Jesus e o Pai é algo tremendo e ao mesmo
tempo incompreensível à mente humana. A Bíblia nos ensina que temos apenas um
Deus, e que este único Deus se manifesta em três pessoas: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. A doutrina da Trindade é uma das mais antigas do cristianismo,
e talvez a mais difícil de compreender. Isto porque nosso Deus é infinito, ou
seja, ilimitado, e nunca seremos capazes de compreender plenamente ao Senhor,
nem de conhecê-lo totalmente, pois possuímos intelecto limitado. Para
compreendermos o texto de Yochanan precisamos apenas pensar na união do Messias
Yeshua ao Soberano Criador, nosso Pai. Uma forma de ilustrar a unidade da
Trindade é através de uma analogia utilizada por Basílio de Cesaréia, um dos
pais capadócios. Nesta, comparamos Deus com o Sol. Deus Pai seria o Sol
propriamente dito, Deus Filho seria a luz que é gerada pelo Sol, e Deus
Espirito Santo seria o calor que procede do Sol. Esta analogia falha ao
identificar cada membro da Trindade com uma substância diferente, enquanto o
Pai, o Filho e o Espírito Santo são consubstanciais. Não possuímos três deuses,
temos apenas um Deus com três relacionamentos distintos entre si. A analogia
acaba sendo útil para entendermos sua ação conjunta. Da mesma forma que não é
possível ver o Sol sem observar sua luz, nem receber seu calor, não é possível
olhar para o Pai se não for através de Yeshua, mediante o Espírito Santo em
nós.
Este trabalhar em unidade, encontrado na Trindade,
precisa ser encontrado na igreja. Precisamos estar em tal unidade que não seja possível
ver a obra realizada por um de nós, sem enxergar todo o corpo em cooperação. É
como o nosso próprio corpo. Embora estejamos acostumados a estudar na escola
cada órgão separadamente dos demais, todos atuam em unidade de forma que o
trabalhar do pulmão não seria possível sem o coração. Se um deles resolvesse
parar de trabalhar impediria os demais de trabalhar.
Nossa unidade deve refletir a união de Yeshua com o Pai.
Nossas personalidades se mantêm, não são de forma alguma anuladas, mas passamos
a atuar como uma só igreja. E quando as pessoas olham para nós enxergam a
Igreja do Messias, e assim, de acordo com a oração de Yeshua, o mundo
reconhecerá que o Pai o enviou. Nossa unidade leva às pessoas a glorificarem a
Deus.
O exemplo de Kefa, nos comparando a pedras vivas para a
edificação de uma casa espiritual, contem outro ingrediente importante nesta
conversa. Se eu construo uma parede de tijolos, por exemplo, e depois de
construída retiro um tijolo do meio os outros ao redor dele acabam suportando
um peso maior. E se continuo a retirar mais e mais tijolos daquela parede o
processo vai se multiplicando e afetando os tijolos mais próximos aos buracos,
ocorrendo gradualmente o aumento do vão. E numa parede de alvenaria estrutural
tal processo comprometerá a estrutura de toda edificação.
Quando estamos juntos, além de trabalharmos em união,
servidos de apoios uns aos outros. Temos uma responsabilidade vinda de Deus
sobre nós de dar suporte a nossos irmãos. Estar juntos, andar com eles, alegrar
com os que se alegram, chorar com os que choram (Rm 12.15). Somos chamados para
exortar, consolar, edificar a todos aqueles que o Senhor colocou ao nosso
redor. Quando nos omitimos desta responsabilidade, deixamos um buraco na parede
e todos aqueles que estão ao nosso redor acabam ficando sobrecarregados devido
a nossa ausência. Com o tempo a brecha que abrimos começa a crescer até o
processo compromete a estrutura de toda igreja.
Sem unidade não há igreja. Deste modo, quem não está em perfeita
união primeiramente com Deus e consequentemente com seus irmãos não faz parte deste
edifício, não faz parte da Igreja. Isto se resume no que Martinho Lutero
chamava dos dois únicos sacramentos da Igreja: o batismo e a ceia do Senhor. De
acordo com Lutero, rejeitar o batismo e deliberadamente negligenciar a ceia do
Senhor podia levar à perda da comunhão com Deus. Hoje não os vemos como
sacramentos, pois não produzem a graça. São rituais simbólicos que nos trazem à
memoria a essência de nosso chamado por Deus.
No batismo declaramos publicamente nosso arrependimento.
De acordo com os anabatistas ele é um sinal e símbolo da conversão. No batismo
declaramos que fomos sepultados com Yeshua e nele ressurgimos (Cl 2.12). O
batismo é a “indagação de uma boa consciência para com Deus” (1 Pe 3.21). Ele é
a declaração publica de nossa união ao Messias, pois “se alguém estiver unido
ao Messias, é uma nova criação – a antiga já passou; vejam: o que há agora é
diferente e novo!” (2 Co 5.17 BJC). Deste modo se não há novidade de vida não
estamos com Yeshua, e se há, não há nada que nos impeça o batismo. Por isto é
inconcebível alguém que recebeu ao Messias que decidiu não se batizar.
O segundo ritual simbólico praticado por nós é a Ceia do
Senhor. Nela lembramos a morte e a ressurreição de Yeshua. Celebramos o
sacrifício do Messias pelas nossas vidas, através do qual recebemos a salvação
e o acesso ao Pai. A ceia também nos traz a memória que fazemos parte de um
mesmo corpo. Sha’ul [Paulo] nos ensina em 1 Coríntios 11.29 que precisamos
discernir o corpo do Senhor, ou seja, compreender nosso papel e desempenha-lo
com excelência.
O Senhor não escolheu pessoas, Ele escolheu uma Igreja.
Quando entendermos este chamado e nos posicionarmos nele nada ira conseguir se
opor a nós.
Para a Sua Igreja o Senhor prometeu que manteria os olhos
abertos e os ouvidos atentos à oração (2 Cr 7.15). Também a ela, o Senhor
prometeu perdoar os pecados e sarar a sua terra, quando se unirem em humildade,
oração, busca e arrependimento (2 Cr 7.14).
Para a Igreja do Senhor em união, é a promessa que Yeshua
estará no seu meio (Mt 18.20). Em relação à união de Seu povo que o Senhor
declara que as portas do inferno não prevalecerão a eles (Mt 16.18).
O chamado do Senhor implica em unidade. Se estabelecer no
corpo em arrependimento e disposição a pertencer ao corpo é o posicionamento
esperado. Qualquer outro posicionamento nos mantém fora do proposito de nosso
Deus.
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