domingo, 27 de janeiro de 2013

Intimidade para Caminhar



“Depois disso, Yeshua apareceu outra vez aos talmidim [discípulos], à margem do lago de Tiberíades. Foi assim que aconteceu: Shim‘on Kefa e T’oma (seu nome significa “gêmeo”) estavam com Natan’el, de Kanah da Galil, os filhos de Zavdai, e dois outros talmidim. Shim‘on Kefa lhes disse: “Vou pescar”. E eles disseram: “Vamos com você”. Eles foram e entraram no barco, mas naquela noite não pegaram nada. Contudo, assim que o dia amanhecia, Yeshua estava na praia, mas os talmidim não sabiam que era ele. Disse-lhes: “Vocês não têm nada para comer?”. “Não”, eles responderam. Ele lhes disse: “Lancem a rede a estibordo e vocês pegarão alguns”. Então eles lançaram a rede, e havia tantos peixes que não conseguiram puxar a rede para dentro do barco. O talmid [discípulo] a quem Yeshua amava disse a Kefa: “É o Senhor!”. Shim‘on Kefa, ouvindo-o dizer isso, vestiu o casaco, pois o havia tirado para trabalhar, e se lançou no lago. Mas os outros talmidim seguiram no barco, arrastando a rede cheia de peixes, pois estavam a cerca de noventa metros da praia. Quando desembarcaram, viram ali uma fogueira com brasas, um peixe sobre ela e um pouco de pão. Yeshua lhes disse: “Tragam alguns peixes que vocês acabaram de pescar”. Shim‘on Kefa entrou no barco e arrastou a rede para a praia. Ela estava cheia: 153 peixes, e, embora fossem muitos, a rede não se rompeu. Yeshua lhes disse: “Venham comer”. Nenhum dos talmidim tinha coragem de lhe perguntar: “Quem é você?”, pois sabiam que era o Senhor. Yeshua se aproximou, pegou o pão, e o deu a eles, e fez o mesmo com o peixe. Esta foi a terceira vez que Yeshua apareceu aos talmidim, depois de ter ressuscitado dos mortos.”
(Yochanan [João] 21.1 – 14 BJC [Bíblia Judaica Completa])

            É maravilhoso ler este relato de Yeshua que somente é apresentado por Yochanan [João], o discípulo amado. Sabemos que nosso Senhor morreu em uma cruz para nos salvar do decreto de morte que estava sobre nós. Mas a morte não foi capaz de vencê-lo, depois de três dias o Pai o ressuscitou. Depois de ressurreto esta era a terceira aparição para os seus discípulos. A primeira foi quando apareceu a eles quando, estando T’oma ausente, os dez encontravam-se reunidos a portas trancadas. A segunda, estando T’oma presente, ocorreu uma semana após a primeira. E agora Yeshua aparece novamente aos seus.
            A Bíblia não diz quanto tempo passou-se entre a segunda e a terceira aparição do Messias ressurreto, mas pela circunstancia que encontramos os discípulos creio que foi um tempo considerável, pois embora já soubessem da ressurreição de Yeshua, pois ele próprio já esteve duas vezes com eles, estavam sem saber o que fazer e resolveram voltar a sua atividade antiga: pescar.
            Durante nossa vida passamos por momentos difíceis. Quando estas dificuldades aparecem, mesmo crendo em Deus, mesmo sabendo de tudo aquilo que Ele já fez por nós, não conseguimos vê-lo atuando naquele momento. Não perdemos nossa fé, mas não conseguimos sentir o Senhor. É na hora da dificuldade que nossa intimidade com o Senhor faz toda a diferença.
            Acho muito curiosa a situação que Kefa [Pedro] e os demais discípulos encontravam-se. Yeshua havia ressuscitado e isto era um fato. Nenhum deles duvidava disto. Todos se encontravam extremamente alegres, pois viram seu Senhor que vencera a morte (Jo 20.20). Com certeza isto fez com que a fé de cada um deles estivesse sólida. Ela foi duramente provada durante os três dias que Yeshua permaneceu no tumulo, mas agora que o tumulo estava vazio e Yeshua novamente entre eles, a fé venceu a prova. A questão que se iniciou era o que eles iriam fazer a partir de agora. Talvez não se sentissem capazes de cumprir seus chamados. Talvez nem mais lembrassem que haviam recebido um chamado do Senhor. Talvez até mesmo estivessem todos se sentindo abandonados por aquele a quem seguiram por três anos. Numa total falta de compreensão, ficaram desanimados e decidiram voltar a viver do mesmo modo que estavam antes do encontro com Yeshua.
            Sabemos que o Senhor sempre está conosco (Mt 28.20), mas muitas vezes queremos que esta realidade signifique que jamais passaremos por problemas. Muito pelo contrário, com nosso Senhor ao nosso lado, podemos ouvi-lo dizer: “Neste mundo, vocês terão aflições. Mas sejam fortes! Eu venci o mundo!” (Jo 16.33 BJC). Porém, durante os períodos difíceis que vivemos, parece que não conseguimos ouvir nosso Mestre nos guiar e consolar. Parece até que não conseguimos nem ao menos vê-lo perto de nós. E com nossa fé cambaleando e o desanimo se alojando em nossos corações, acabamos agindo como os apóstolos, e desistimos de nossa vida em Cristo.
            Isto não quer dizer que estamos desviados. Mas deixamos de lado tudo àquilo que o Senhor entregou em nossas mãos para conquistar todas as coisas com nossas próprias forças. Deixamos de lado tudo o que nosso Messias conquistou por nós, e voltamos a andar nosso próprio caminho. E algo mais terrível acontece conosco, deixamos de reconhecer ao nosso Senhor.
            Foi exatamente isto que aconteceu com Kefa e seus companheiros. O texto bíblico diz que, enquanto todos estavam pescando, Yeshua estava na praia esperando por eles, mas eles não o reconheceram. Mesmo após a ordem do Messias de lançar a rede e observarem que, mesmo que durante a noite não pegaram nada, sob esta ordem a rede estava cheia, não conseguiram nem ao menos reconhecer aquele que já ordenara isto antes (Lc 5.1 – 11).
            Nosso Senhor jamais nos abandona. Ele nunca deixa de trabalhar em nós e a nosso favor. Porém, quando passamos a confiar em nossa própria força perdemos nossa visão espiritual e deixamos de ver este trabalhar. Agindo sob nossa própria força, nem mesmo conseguimos ter progresso naquilo que planejamos, pois tudo o que alcançamos vem de nosso Criador.
            Mas em meio aos discípulos encontramos alguém que reconheceu Yeshua, seu nome era Yochanan. A tradição diz que ele era o mais jovem dos doze discípulos, e talvez devido a isto fosse o que mais se aproximou do Mestre. Durante a última ceia ele quem apoiou a cabeça sobre o peito de Yeshua (Jo 13.33) e esteve presente até mesmo na crucificação (Jo 19.26). Enquanto muitos fugiam ele permaneceu ao lado do Messias Yeshua. E foi esta intimidade que possibilitou Yochanan a dizer a seus companheiros: “É o Senhor!”, e desta forma mudar completamente o rumo daquela história.
            É nossa intimidade com Deus, o desejo de estar junto com Ele em todas as situações, o profundo amor ao Pai em nossos corações que nos permitem ver o Senhor em todo o tempo. Que abre nossos olhos para enxergar a poderosa mão do Eterno cuidando de cada detalhe de nosso viver.
            Foi um amor como este que possibilitou Abraão ser transformado de um fabricante de ídolos no patriarca de uma grande nação. Foi uma intimidade como este que transformou Jacó de um traiçoeiro em aquele conhecido pelo nome de Deus. Foi o desejo de estar com o Senhor que fez com que Davi deixasse de ser um pastor fugitivo para se tornar o grande rei de Israel. É um profundo amor ardendo em nosso coração que nos faz mais que vencedores (Rm 8.37).
            Terminando a passagem podemos observar dois elementos importantes. O primeiro deles é que a intimidade de Yochanan possibilitou não apenas que ele reconhecesse Yeshua, mas que pudesse abrir os olhos dos discípulos através de sua revelação.        Sua busca pelo Senhor abrirá os olhos daqueles que estão ao seu redor.
            O segundo elemento é que, embora Yeshua pediu que lançassem a rede, ele já tinha pão e peixe na praia. O que o Senhor pede de nós não é para Ele próprio, mas para nós mesmos. E, da mesma forma que o Mestre entregou do seu próprio pão e do seu peixe aos discípulos, ele fará o mesmo conosco quando nos posicionarmos: dará da sua porção para nós.

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