terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Decepcionado

“Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca. Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos. Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos. Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos.”
(Salmo 119:4 a 7)

            Gosto muito do salmo 119. Ele é o capítulo mais longo da Bíblia com 176 versículos e fala sobre a Palavra do Senhor. Os três versículos que quero conversar com vocês hoje falam sobre o conflito que há no coração e na mente de homem ao entrar em contato com as Leis do Senhor, e este é o tema desta mensagem.
            Ao criar ao mundo e a humanidade o Senhor estabeleceu decretos e ordenanças, entregou leis e mandamentos ao homem que continuam valendo até os dias de hoje. É difícil, por exemplo, você imaginar que alguém possa ter uma vida plena com Deus se tudo esta baseado em mentiras, sendo que o ensinamento do Senhor é “não mentir”. 
Porém, ao termos contato com estes mandamentos, acabamos com o mesmo pensamento que o salmista nos primeiros versículos da passagem que abre esta mensagem. Olhamos para estas ordenanças do Senhor e nos esforçamos para cumprir religiosamente todos eles. Acabamos transferindo todo o nosso relacionamento com Deus na prática destes preceitos, e a nossa vida diante de Deus se transforma numa religiosidade diária.
Esta é uma tendência do ser humano. A maioria de nós é muito boa em cumprir ordens. Acaba sendo uma vida de certo modo até mesmo mais fácil, pois ao encararmos nossa vida com Deus como o cumprimento ao pé da letra de cada um dos mandamentos estamos transferindo toda a nossa responsabilidade ao Senhor, afinal fizemos exatamente o que Ele mandou. E gradualmente passamos a acreditar que nossa salvação e que tudo aquilo que desejamos alcançar em Deus serão conquistados através daquilo que fazemos, o que é uma grande mentira.
 Como o apóstolo Sha’ul [Paulo] escreve aos romanos: “Portanto, pelo fato de sermos considerados justos diante de Deus por causa de nossa confiança, continuamos a ter shalom [paz] com Deus por meio de nosso Senhor Yeshua, o Messias. Também por meio dele, e com base em nossa confiança, obtivemos acesso à sua graça, na qual permanecemos; dessa forma, alegremo-nos com a esperança de experimentar a glória de Deus.” (Romanos 5: 1 e 2 NTJ). O que estamos lendo nesta passagem é que tanto a nossa salvação, quanto todas as bênçãos que esperamos do Senhor serão alcançadas mediante a nossa confiança [fé] na obra do Messias.
Quando nos distanciamos desta visão acabamos, usando as palavras do salmista, envergonhados. A palavra que o salmista usa no hebraico é buwsh que pode ser traduzida como sentir vergonha, ser envergonhado, embaraçado, desapontado. A tradução deste versículo na Nova Versão Internacional (NVI) diz: “Então eu não ficaria decepcionado ao considerar todos os teus mandamentos”.
Um homem que vive debaixo da lei, ou seja, achando que será justificado por aquilo que ele está fazendo, chega a conclusão que é muito difícil cumprir toda a lei. Percebe que por mais que ele se esforce, suas transgressões à lei divina são em maior número que aquilo que conseguiu cumprir. Esta conclusão produz neste homem o sentimento de decepção. Uma decepção consigo mesmo diante de sua falta da capacidade de observar todos os mandamentos.
Se nossa vida com Deus for fundamentada em deveres, obrigações, na famosa religiosidade, ela será uma vida de decepções, pois a cada dia descobriremos que não conseguimos cumprir tudo aquilo que impomos a nós mesmos.
Sabendo que isto é uma tendência do ser humano, como é que podemos nos prevenir? O remédio contra esta decepção é a firmeza de nossos passos. E o que significa isto?
Se nossos passos estão firmes, não tem como eles se desviarem. O que o salmista procura como remédio contra sua decepção é uma forma de não se desviar da lei do Senhor, e, esta forma que ele encontra, é o entendimento dos mandamentos do Senhor.
Quando compreendemos a Lei do Senhor, tudo passa a ter um novo sentido, e o cumprimento destes preceitos passa a ter uma razão. A compreensão dos mandamentos do Senhor leva a um melhor entendimento da natureza divina, o que nos dá mais razões para louvar e ter uma vida de intimidade com Deus. Afinal só louvamos e temos intimidade com aquilo que conhecemos.
Em momento algum Deus criou mandamentos para que o seu cumprimento nos salvasse. Desde os tempos de Abraão a salvação vinha exclusivamente do Senhor, pois está escrito “Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça.” (Gênesis 15:9). Mas isto não significa que o Senhor aboliu toda a lei que Ele próprio entregou ao homem. Conforme o próprio Messias Yeshua disse: “Não pensem que vim abolir a Torah [Lei] ou os Profetas. Não vim abolir, mas completar. Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud ou um traço da Torah passará – não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido.” (Mattityahu [Mateus] 5:17 e 18 NJT).
E o completamento da Lei feito por Yeshua é o entendimento do que está escrito. E como podemos alcançar este entendimento? Buscando a face do Senhor. Através de uma vida de intimidade com Deus, lendo e meditando na Palavra, orando, passando tempo na presença de Deus nossos olhos são abertos (Sl 119:18) e somos capazes de contemplar a maravilha que é a Lei do Senhor. Somos capazes de entender e com este entendimento cumprir tudo aquilo que o Senhor decretou.
A Lei não irá nos levar a Deus, mas a vida de intimidade com o Senhor trará sobre nós o cumprimento de tudo aquilo que está escrito.

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